Poema: No
verdô da minha idade
Patativa do Assaré
No verdô da minha idade
mode acalentá meu choro
minha vovó de bondade
falava em grandes tesôro
era história de reinado
prencesa, prinspe incantado
com feiticêra e condão
essas história ingraçada
tá selada e carimbada
dentro do meu coração.
mode acalentá meu choro
minha vovó de bondade
falava em grandes tesôro
era história de reinado
prencesa, prinspe incantado
com feiticêra e condão
essas história ingraçada
tá selada e carimbada
dentro do meu coração.
[...]
Mas porém eu sinto e vejo
que a grande sodade minha
não é só de história e bejo
da querida vovozinha
demanhazinha bem cedo
sodade dos meu brinquedo
meu bodoque e meu bornó
o meu cavalo de pau
meu pinhão, meu berimbau
e a minha carça cotó.
que a grande sodade minha
não é só de história e bejo
da querida vovozinha
demanhazinha bem cedo
sodade dos meu brinquedo
meu bodoque e meu bornó
o meu cavalo de pau
meu pinhão, meu berimbau
e a minha carça cotó.
Patativa do Assaré. Digo e não peço perdão. São Paulo: Escrituras Editora, 2001. p. 15.
Entendendo o poema:
01 – Nesse poema, o eu
lírico faz uma descrição de sua infância (“No verdô da minha idade”), numa
linguagem regional e coloquial, própria da fala popular, nordestina.
a)
O que significa, no contexto, a palavra
verdô?
É uma corruptela de verdor, ou seja, idade verde, imatura, infantil.
b)
Que sentido tem a palavra mode (da expressão
“pra mode”) no verso “mode acalentá meu choro”?
A palavra mode tem o sentido de finalidade.
c)
Destaque palavras que representam a linguagem
coloquial e que não estejam grafadas e/ou acentuadas de acordo com a norma
padrão. Levante hipóteses: Por que elas são grafadas dessa forma?
As palavras são: acalentá, tesôro, históra, prencesa, prinspe,
incantado, feiticêra, ingraçada, sodade, bejo, demanhazinha, bornô, carça. São
grafadas dessa forma porque há interesse de aproximar a fala e a escrita, ou
seja, o poema é um registro da poesia oral.
02 – Releia os versos e
observe as concordâncias nominal e verbal:
“Essas história ingraçada
tá selada e carimbada
dentro do meu coração.”
tá selada e carimbada
dentro do meu coração.”
a)
Como ficariam esses versos se fossem
reescritos na língua padrão?
Essas histórias engraçadas estão seladas e carimbadas dentro do meu
coração.
b)
Observe que, nesses versos, apenas o pronome
essas está no plural. Levante hipóteses: Em termos de comunicação, é necessário
que todas as palavras dessa expressão estejam no plural? Por quê?
Não. Colocando-se o primeiro termo – pronome – no plural, já se
deduz que são várias histórias, e não apenas uma.
c)
Levante hipóteses: Por que ocorre esse
fenômeno na fala?
Ocorre o suprimento por economia linguística.
03 – No prefácio do livro
Digo e não peço segredo, de Patativa do Assaré, Luiz Tadeu Feitosa escreve:
“Como se verá aqui, sua linguagem ‘matuta’ é apenas uma opção porque o pássaro
que se nos apresenta aqui é liberto. Leu Camões, Castro Alves, Olavo Bilac,
José de Alencar, Machado de Assis e outros apenas para saber e provar que
‘poderia fazer igual a eles todos’. ‘E eu sou’, diz Patativa”.
a)
Deduza: Por que o poeta optou por essa
linguagem “matuta”, ou seja, pela cultura popular e não erudita?
Porque tem consciência da importância de se preservar e registrar a
linguagem do povo, além de valorizar costumes e cenários da cultura nordestina.
b)
O poema é construído em redondilha maior. Na
sua opinião, por que Patativa optou por essa métrica?
Porque tanto a redondilha menor quanto a maior são métricas que
fazem parte da tradição da poesia popular oral, desde a época dos trovadores.
c)
No excerto do Prefácio, lido na página
anterior (fora de si), quando comparado aos escritores brasileiros, Patativa
diz: “E eu sou”. Discuta com seus colegas sobre a contribuição da obra do poeta
no cenário brasileiro.
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Resgate e imortalização da
poesia oral, popular nordestina.
Obrigada pela ajuda 💟
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