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sábado, 27 de janeiro de 2024

CRÔNICA: VITÓRIA NOSSA - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Crônica: Vitória nossa

               Clarice Lispector

O que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia?

Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não se entende porque não queremos ser tolos.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilk6Dm8JbXiJAqqCL30X8nTPuNbpxdsC1Hdi6ts23ZFjTGqbgCEzZsJJ8k0x19CHMaAUI2if35gxg2H1d6pigVqjzZlqJ-NRjNT56MPp3_-zNsBxC1u7cAv-QDO3XI_ris5uhV4GoG4hwlesEYeXEsQS8cDmsmDwEnRKC1fhI4tKSCS8CmOciGfykvuYE/s320/tempo.jpg


Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos, nem aos outros.
Não temos nenhuma alegria que tenha sido catalogada.
Temos construído catedrais e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e talvez sem consolo.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro que por amor diga: teu medo.
Temos organizado associações de pavor sorridente, onde se serve a bebida com soda.
Temos procurado salvar-nos, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de amor e de ódio.
Temos mantido em segredo a nossa morte.
Temos feito arte por não sabermos como é a outra coisa.
Temos disfarçado com amor nossa indiferença, disfarçado nossa indiferença com a angústia, disfarçando com o pequeno medo o grande medo maior.
Não temos adorado, por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo”, e assim não chorarmos antes de apagar a luz.
Temos tido a certeza de que eu também e vocês todos também, e por isso todos sem saber se amam.
Temos sorrido em público do que não sorrimos quando ficamos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.

E a tudo isso temos considerado a vitória nossa de cada dia...

Entendendo o texto

 01. O que a crônica "Vitória Nossa" de Clarice Lispector destaca como algo que consideramos vitória em nosso cotidiano?

A crônica destaca que consideramos vitória o que temos feito de nós mesmos, especialmente a capacidade de não sermos tolos, acumular seguranças, evitar ser ingênuos e não nos entregarmos completamente.

02. Segundo a crônica, qual é a razão pela qual evitamos cair de joelhos diante do primeiro que, por amor, nos diz "teu medo"?

Evitamos cair de joelhos diante do primeiro que por amor nos diz "teu medo" por medo de nos entregarmos completamente, o que seria o começo de uma vida larga e talvez sem consolo.

03. Quais são algumas das coisas que temos feito para evitar reconhecer a verdadeira natureza de nossos sentimentos, como o amor e o ódio?

Temos evitado usar as palavras "amor" e "salvação" para não reconhecer a contextura de amor e ódio, além de disfarçar a indiferença com angústia e o medo maior com pequenos medos.

04. De acordo com a crônica, por que construímos catedrais, mas ficamos do lado de fora temendo que se tornem armadilhas?

Construímos catedrais, mas ficamos do lado de fora porque tememos que as catedrais que nós mesmos construímos se tornem armadilhas, representando o receio de nos entregarmos completamente.

05. Como a crônica aborda a relação entre a arte e a falta de conhecimento sobre "a outra coisa"?

A crônica destaca que temos feito arte porque não sabemos como é "a outra coisa", sugerindo que a criação artística é uma forma de lidar com a incerteza sobre aspectos desconhecidos da vida.

06. Qual é a atitude destacada na crônica em relação à morte, e por que isso é mencionado como algo que temos mantido em segredo?

A crônica destaca que temos mantido em segredo a nossa morte, indicando uma relutância em encarar ou reconhecer a inevitabilidade da morte, possivelmente como uma forma de evitar confrontar a própria vulnerabilidade.

07. Como a crônica aborda a ideia de reconhecer a inocência, especialmente em relação ao uso da palavra "salvação"?

A crônica menciona que evitamos usar a palavra "salvação" para não nos envergonharmos de ser inocentes, sugerindo uma relutância em aceitar ou reconhecer a simplicidade e pureza, preferindo manter uma postura mais mesquinha e sensata.




terça-feira, 2 de janeiro de 2024

CONTO: OS BICHOS DA MINHA CASA - FRAGMENTO - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Conto: Os bichos da minha casa – Fragmento

            Clarice Lispector.

        Antes de começar, quero que vocês saibam que meu nome é Clarice. E vocês, como se chamam? Digam baixinho o nome de vocês e o meu coração vai ouvir.

        Peço que leiam esta história até o fim. Vou contar umas coisas: minha casa tem bichos naturais. Bichos naturais são aqueles que a gente não convidou nem comprou. Por exemplo, nunca convidei uma barata para lanchar comigo.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd-JUAIweP12IrfO96wxAqIKmFwpBMQul2XhH7i3KF2t6aepaEKvidTH-AThC1SAYWZb8ytvK5zTNNhF19g4cA9h7cc8RnMkNPHO7InnNRdHAvjgXkSYtgtHQ3CFsYaTvN-714S9Kiv1Wm1NcXl2eOZfMHgC5nhvd8T3ACTlSkitNhUZzy4-72MADzJC0/s1600/INSETINHOS.jpg


        Minha casa tem muitos bichos naturais, menos ratos, graças a Deus, porque tenho medo e nojo deles. Quase todas as mães têm medo de rato. Os pais não: até gostam porque se divertem caçando e matando esse bicho que detesto. Vocês têm pena de rato? Eu tenho porque não é um bicho bom pra gente amar e fazer carinho. Vocês fariam carinho num rato? Vai ver vocês nem tem medo e em muitas coisas são mais corajosos do que eu.

        Tenho um amigo que, quando era menino, criou um rato branco. Fiquei com tanto nojo que só quero apertar a mão de meu amigo quando passar o susto. Seu rato era, na verdade, uma rata e se chamava Maria de Fátima.

        Maria de Fátima morreu de um modo horrivelzinho (eu digo horrivelzinho porque no fundo estou bem contente): um gato comeu ela com a rapidez com que comemos um sanduíche

        Como eu ia dizendo, os bichos naturais de minha casa não foram convidados. Apareceram assim, sem mais nem menos.

        Por exemplo: tenho baratas. E são baratas muito feias e muito velhas que não fazem bem a ninguém. Pelo contrário, elas até roem a minha roupa que está no armário. [...]

        Barata é outro bicho que me causa pena. Ninguém gosta dela, e todos querem matá-la. Às vezes o pai da criança corre pela casa toda com um chinelo na mão, até pegar uma e bate com o chinelo em cima até ela morrer. Tenho pena das baratas porque ninguém tem vontade de ser bom com elas. Elas só são amadas por outras baratas. Não tenho culpa: quem mandou elas virem? Eu só convido os bichos que eu gosto. E, é claro, convido gente grande e gente pequena.

        Sabem de uma coisa? Resolvi agora mesmo convidar meninos e meninas para me visitarem em casa. Vou ficar tão feliz que darei a cada criança uma fatia de bolo, uma bebida bem gostosa, e um beijo na testa.

        Outro bicho natural de minha casa é... adivinhem! Adivinharam? Se não adivinharam não faz mal, eu digo a vocês. O outro bicho natural de minha casa é a lagartixa pequena. São engraçadas e não fazem mal nenhum. Pelo contrário: elas adoram comer moscas. E mosquitos, e assim limpam minha casa toda. [...]

        O que eu não entendo é o paladar horrível que a lagartixa tem por moscas e mosquitos. Mas é claro: como não sou lagartixa, não gosto de coisas que ela gosta, nem ela gosta de coisas que eu gosto. [...]

        Agora vou falar de bichos convidados, igual ao meu convite para vocês. Às vezes não basta convidar: tem-se que comprar.

        Por exemplo, convidei dois coelhos para morar com a gente e paguei um dinheiro ao dono deles. Coelho tem uma história muito secreta, quero dizer, com muitos segredos.

        Eu até já contei a história de um coelho num livro para gente pequena e para gente grande. Meu livro sobre coelhos se chama assim: O Mistério do Coelho Pensante. Gosto muito de escrever histórias para crianças e gente grande. Fico muito contente quando os grandes e os pequenos gostam do que escrevi.

        Se vocês gostam de escrever ou desenhar ou dançar ou cantar, façam porque é ótimo: enquanto a gente brinca assim, não se sente mais sozinha, e fica de coração quente.

Clarice Lispector. A mulher que matou os peixes. 13. Ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. (Fragmento adaptado).

Fonte: Coleção Desafio Língua Portuguesa – 5° ano – Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Roberta Vaiano – 1ª edição – São Paulo, 2021 – Moderna – p. MP090-MP093.

Entendendo o conto:

01 – Leia três vezes as palavras do quadro abaixo para aprimorar sua leitura.

Horrivelzinho – sozinha – contrário – segredos – lagartixa – rapidez – carinho – sanduiche – secreta – engraçadas – chinelo – corajosos.

a)   Leia em voz alta estas palavras, observando as letras destacadas.

Lagartixa – chinelo – sanduiche.

·        O que essas palavras têm em comum?

Tem o mesmo som produzidos por x e ch.

·        O que elas têm de diferente?

A maneira de escrever. Apesar de terem o mesmo som na pronúncia.

b)   Agora, observe a escrita destas palavras, observando as letras destacadas.

Chinelo – sanduiche – sozinha.

·        O que essas palavras têm em comum?

Elas possuem duas letras para representar um único som.

c)   Volte ao quadro acima em negrito e circule outras palavras com dígrafos formados com a letra h na escrita.

Horrivelzinho, carinho.

02 – Logo no início do texto, percebe-se a intenção da narradora de estabelecer um diálogo com o leitor. Copie um trecho que comprove essa afirmação.

      “E vocês, como se chamam?”.

·        Em sua opinião, qual é a importância desse recurso para a construção do texto?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O recurso garante o envolvimento do leitor, que é convocado a partilhar dos pensamentos e dos sentimentos da narradora.

03 – A narradora afirma que gosta de escrever para crianças e gente grande. Para quem você acha que ela escreveu essa história? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Escreveu para criança, pelo jeito como escreve e pela maneira como procura se aproximar dos leitores.

04 – Nesse texto, a narradora conta para o leitor a diferença entre ter bichos naturais e bichos convidados.

a)   Pinte de azul os bichos naturais e de verde os bichos convidados.

Ratobaratacachorrogatopassarinhopulgacoelhohamsterformigalagartixa.

b)   Explique a diferença entre esses tipos de bicho.

Bicho naturais é o “que a gente não convidou nem comprou”; bichos convidados é o que se adquire por vontade própria.

c)   Você tem ou conhece alguém que tenha bichos convidados? Conte sobre eles.

Resposta pessoal do aluno.

05 – Ratos e baratas provocam na narradora três sensações: medo, nojo e pena. Como ela explica essas sensações contraditórias?

      Ela sente pena, porque o rato “não é um bicho bom para a gente amar e fazer carinho”; quanto à barata, “ninguém gosta dela, e todos querem matá-la.

06 – Qual a vantagem, segundo o texto, de se ter lagartixa em casa?

      Elas são engraçadas e não fazem mal nenhum, e limpam minha casa toda comendo as moscas e mosquitos.

07 – Por que você acha que a narradora convidou dois coelhos para morar com ela?

      Resposta pessoal do aluno.

 

domingo, 5 de novembro de 2023

CRÔNICA: QUANDO EU NÃO SEI ONDE GUARDEI UM PAPEL ... CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Crônica: Quando eu não sei onde guardei um papel...

              Clarice Lispector

        Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjvkrKQ42O06i_iMKo3P9XX6aNzInrmnkCvGHig2JtRXnlrU0RWNj1qCoCSq3oja4ULZc3BfGUVAuZlxzoNzX-NY8jVVyFBzJLKDJ5PlVwVqUTMiKviDMySiUKzHeFXia0_r-YQ8BJHFxfxUyNVeeCBVnEuQoEXuVmYZGwl4-tu0obLQBVmEQX6YgYW7o/s320/PAPEL.jpg 


        E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida.

        Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.

        Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.

        "Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido.

        No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.

Clarice Lispector  A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é o dilema central explorado na crônica de Clarice Lispector?

      O dilema central na crônica é a reflexão sobre como seria a vida e as ações da autora se ela fosse verdadeiramente ela mesma, sem as influências e convenções sociais que moldam seu comportamento.

02 – Qual é o efeito da frase "se eu fosse eu" na busca pelo papel importante?

      A frase "se eu fosse eu" causa um constrangimento e uma pausa na busca pelo papel, levando a autora a pensar e sentir mais profundamente sobre sua identidade e como suas ações seriam diferentes se ela fosse mais autêntica.

03 – Por que a autora menciona que algumas pessoas, ao se tornarem verdadeiramente elas mesmas, mudam completamente de vida?

      A autora menciona isso para enfatizar como a autenticidade pode levar a mudanças significativas na vida de alguém, destacando o poder da autenticidade na transformação pessoal.

04 – Como a autora acredita que as pessoas reagiriam se ela fosse verdadeiramente ela mesma?

      A autora sugere que, se ela fosse verdadeiramente ela mesma, as pessoas não a reconheceriam na rua, possivelmente devido a mudanças em sua fisionomia ou comportamento.

05 – Que sentimentos a autora acredita que experimentaria se fosse verdadeiramente ela mesma?

      A autora acredita que experimentaria tanto a dor do mundo, que ela aprendeu a não sentir, quanto momentos de êxtase e alegria pura e legítima.

06 – Por que a autora afirma que "se eu fosse eu" representa o maior perigo de viver?

      A autora sugere que a ideia de ser verdadeiramente ela mesma representa um perigo porque significaria entrar no desconhecido e desafiar as convenções sociais que moldam a vida das pessoas.

07 – Como a autora prevê que a experiência de ser verdadeiramente ela mesma afetaria sua relação com o mundo?

      A autora prevê que, após as primeiras "loucuras" iniciais, a experiência de ser verdadeiramente ela mesma levaria a uma compreensão mais profunda do mundo, permitindo-lhe sentir tanto a dor do mundo quanto alegria pura e legítima.

 

 

sexta-feira, 4 de março de 2022

CRÔNICA: IRMÃOS - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Crônica: IRMÃOS

            Clarice Lispector

        -- Mas agora vamos brincar de outra coisa. Quero saber se o senhor é inteligente. Este quadro é concreto ou abstrato?

        -- Abstrato.

        -- Pois o senhor é burro. É concreto: fui eu que pintei, e pintei nele meus sentimentos e meus sentimentos são concretos.

        -- É, mas você não é todo concreto.

        -- Sou sim!

        -- Não é! Você não é todo concreto porque seu medo não é concreto. Você não é completamente concreto, só um pouco.

        -- Eu sou um gênio e acho que tudo é concreto.

Clarice Lispector. Para não esquecer. 3. ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 74.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 7ª Série – 2ª edição - Atual Editora -1998 – p. 262-3.

Entendendo a crônica:

01 – No texto, a conjunção "mas" foi empregada duas vezes. Localize essas duas situações e responda:

a)   Com que finalidade, provavelmente, a personagem que é a primeira a falar emprega essa conjunção no início texto?

Para mudar de assunto, abandonando o que estava sendo abordado anteriormente.

b)   Na frase: "É, mas você não é todo concreto", que ideia a conjunção "mas" exprime?

Oposição.

02 – Que afirmação relativa à palavra "pois", na frase: "Pois o senhor é burro", é correta?

a)   Ela pode ser substituída por "porque", pois expressa justificativa, explicação.

b)   Ela pode ser substituída por "logo", pois expressa conclusão.

c)   Ela quer dizer "diante disso, nesse caso, então, pois então".

03 – Leia estes dois trechos do texto:

"Você não é todo concreto porque seu medo não é concreto."

"É concreto: fui eu que pintei"

a)   No primeiro trecho, que ideia a conjunção destacada expressa?

Causa.

b)   Entre a oração "É concreto" e a oração "fui eu que pintei", há uma conjunção implícita. Qual é essa conjunção e que valor ela tem nesse contexto?

Porque – valor de causa.

04 – Identifique no texto:

a)    Uma oração iniciada por uma conjunção coordenativa que expressa a ideia de adição.

Eu sou um gênio e acho que tudo é concreto.

b)    Uma frase na qual uma conjunção estabelece a ideia de exclusão entre duas palavras.

Este quadro é concreto ou abstrato?

 

quarta-feira, 2 de março de 2022

MINI TEXTO: HORA DO MARINHEIRO PARTIR - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Mini texto: Hora do marinheiro partir

                Clarice Lispector

        -- Você compreende, não é, mamãe, que eu não posso gostar de você a vida inteira.

Para não esquecer. São Paulo: Siciliano, 1992. p. 46.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 7ª Série – 2ª edição - Atual Editora -1998 – p. 88-9.

Entendendo o mini texto:

01 – O corpo do texto é formado por uma única fala de uma personagem. Em que tipo de discurso essa fala é apresentada?

      No discurso direto.

02 – Quem você acha que é o locutor dessa fala?

      Uma criança (provavelmente um menino) ou um adolescente.

03 – Justifique o título do texto.

      O título dá a entender que o filho já pensa no relacionamento com outras mulheres ou com outras pessoas, ou sair de casa.

04 – Agora compare a fala da personagem a esta outra forma, em discurso indireto:

        “Ele disse à mãe que ela compreendia, mas ele não podia gostar dela a vida inteira.”

a)   Na passagem do discurso direto para o discurso indireto, que alterações sofreram os verbos compreender e poder quanto ao tempo?

Passaram do presente ao pretérito imperfeito do indicativo: compreendia e podia.

b)   E os pronomes?

O pronome você foi substituído por ela e o pronome eu por ele.

c)   Que verbo novo foi utilizado para introduzir a fala do locutor?

O verbo dizer.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

CONTO: O BÚFALO (FRAGMENTO) - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

Conto: O búfalo (Fragmento)

           Clarice Lispector

        Mas era primavera. Até o leão lambeu a testa glabra da leoa. Os dois animais louros. A mulher desviou os olhos da jaula, onde só o cheiro quente lembrava a carnificina que ela viera buscar no Jardim Zoológico. Depois o leão passeou enjubado e tranquilo, e a leoa lentamente reconstituiu sobre as patas estendidas a cabeça de uma esfinge. "Mas isso é amor, é amor de novo", revoltou-se a mulher tentando encontrar-se com o próprio ódio mas era primavera e dois leões se tinham amado. Com os punhos nos bolsos do casaco, olhou em torno de si, rodeada pelas jaulas, enjaulada pelas jaulas fechadas. Continuou a andar. [...]

              LISPECTOR, Clarice. O búfalo. Laços de família. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990. p. 177.

                                    Fonte: Linguagens e suas tecnologias – Volume I – 1° ano – SEDUC – Thelma de Carvalho Guimarães – p. 32-3.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado da palavra glabra?

      Significa sem pelos.

02 – A conjunção mas estabelece contraste entre ideias. Considere as atitudes e emoções da mulher e responda: nesse fragmento, a qual elemento se contrapõe a estação da primavera, introduzida por mas em duas passagens do trecho?

      A primavera contrapõe-se ao ódio que a mulher está sentindo, ou está tentando sentir.

03 – Que tipo de conflito a personagem parece estar vivendo: familiar, amoroso, existencial ou de outra natureza? Justifique sua resposta com base no próprio texto.

      Provavelmente o conflito está relacionado a questões amorosas, visto que a personagem se sente incomodada pelo fato de os leões estarem demonstrando afeto, e isso faz com que o seu ódio se torne ainda mais acentuado.

04 – Qual fonema consonantal aparece repetidamente na descrição dos leões? Dê exemplos que justifiquem sua resposta.

      O fonema /l/: leão, lambeu, glabra, leoa, louros, lentamente.

05 – No contexto, a quais sensações ou noções poderíamos relacionar esse som? Marque as alternativas cabíveis.

  Umidade.

b)   Seriedade.

c)   Sensualidade.

d)   Amargura.

e)   Timidez.

f)    Calor.

06 – Em qual outra parte do parágrafo ocorre uma repetição de sons? Nesse caso, que efeito de sentido a repetição produz?

      Outra repetição ocorre em: “rodeada pelas jaulas, enjaulada pelas jaulas fechadas”. Nesse caso, o efeito produzido é intensificar a sensação de aprisionamento da mulher, que se sentia confinada entre as jaulas dos animais.

07 – Você diria que os sons das palavras ajudam a construir os sentidos nessa parte inicial do conto? Por quê?

      Sim, porque os sons ajudam a comunicar ao leitor, de forma intensa, as sensações vivenciadas pela personagem – primeiro, a sensualidade e a languidez das cenas de amor entre os leões; depois, a sensação de confinamento gerada pelos conflitos internos da personagem.

 

domingo, 10 de outubro de 2021

CONTO: AMOR(FRAGMENTO) - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 CONTO:AMOR(FRAGMENTO)

             Clarice Lispector

  Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.

Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.

Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.

LISPECTOR, Clarice. Laços de Família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 19. Fragmento.

 Entendendo o texto

01.No trecho “... deformando o novo saco de tricô,...” (ℓ. 2), a palavra destacada tem o mesmo sentido do verbo

    A) amassar.

    B) enfeiar.

    C) estragar.

    D) sujar.

    E) transformar.

 02. Que retrata a narrativa do Conto?

       Retrata a vida de uma pessoa que experimenta no cotidiano uma epifania que a conduz à refletir sobre si mesma e sobre o mundo.

03. Dentro deste tipo textual há que narrador?

      A) narrador-personagem.

      B) narrador-observador.

      C) narrador-onisciente.

 04. É um conto com narração na terceira pessoa. O narrador tem acesso a quê?

       O narrador onisciente tem acesso a emoções, sentimentos e monólogos da protagonista.    

 05. Em que momento é considerada a “hora perigosa” para Ana?

        Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se.


quinta-feira, 19 de novembro de 2020

CONTO: A REPARTIÇÃO DOS PÃES - CLARICE LISPECTOR - COM GABARITO

 Conto: A Repartição dos Pães        

               Clarice Lispector

Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos. Ninguém ali me queria, eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal, fechá-la na mão dura, onde eu o amarfanhava como a um lenço. À espera do almoço, bebíamos sem prazer, à saúde do ressentimento: amanhã já seria domingo. Não é com você que eu quero, dizia nosso olhar sem umidade, e soprávamos devagar a fumaça do cigarro seco. A avareza de não repartir o sábado, ia pouco a pouco roendo e avançando como ferrugem, até que qualquer alegria seria um insulto à alegria maior.

Só a dona da casa não parecia economizar o sábado para usá-lo numa quinta de noite. Ela, no entanto, cujo coração já conhecera outros sábados. Como pudera esquecer que se quer mais e mais? Não se impacientava sequer com o grupo heterogêneo, sonhador e resignado que na sua casa só esperava como pela hora do primeiro trem partir, qualquer trem – menos ficar naquela estação vazia, menos ter que refrear o cavalo que correria de coração batendo para outros, outros cavalos.

Passamos afinal à sala para um almoço que não tinha a bênção da fome. E foi quando surpreendidos deparamos com a mesa. Não podia ser para nós…

Era uma mesa para homens de boa-vontade. Quem seria o conviva realmente esperado e que não viera? Mas éramos nós mesmos. Então aquela mulher dava o melhor não importava a quem? E lavava contente os pés do primeiro estrangeiro. Constrangidos, olhávamos.

A mesa fora coberta por uma solene abundância. Sobre a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs vermelhas, enormes cenouras amarelas, redondos tomates de pele quase estalando, chuchus de um verde líquido, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e calmas, maxixes eriçados como porcos-espinhos, pepinos que se fechavam duros sobre a própria carne aquosa, pimentões ocos e avermelhados que ardiam nos olhos – tudo emaranhado em barbas e barbas úmidas de milho, ruivas como junto de uma boca. E os bagos de uva. As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes importava esmagadas por quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar. Sábado era de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro chegasse.

Junto do prato de cada mal-convidado, a mulher que lavava pés de estranhos pusera – mesmo sem nos eleger, mesmo sem nos amar – um ramo de trigo ou um cacho de rabanetes ardentes ou uma talhada vermelha de melancia com seus alegres caroços. Tudo cortado pela acidez espanhola que se adivinhava nos limões verdes. Nas bilhas estava o leite, como se tivesse atravessado com as cabras o deserto dos penhascos. Vinho, quase negro de tão pisado, estremecia em vasilhas de barro. Tudo diante de nós. Tudo limpo do retorcido desejo humano. ‘Tudo como é, não como quiséramos. Só existindo, e todo. Assim como existe um campo. Assim como as montanhas. Assim como homens e mulheres, e não nós, os ávidos. Assim como um sábado. Assim como apenas existe. Existe.

Em nome de nada, era hora de comer. Em nome de ninguém, era bom. Sem nenhum sonho. E nós pouco a pouco a par do dia, pouco a pouco anonimizados, crescendo, maiores, à altura da vida possível. Então, como fidalgos camponeses, aceitamos a mesa.

Não havia holocausto: aquilo tudo queria tanto ser comido quanto nós queríamos comê-lo. Nada guardando para o dia seguinte, ali mesmo ofereci o que eu sentia àquilo que me fazia sentir. Era um viver que eu não pagara de antemão com o sofrimento da espera, fome que nasce quando a boca já está perto da comida. Porque agora estávamos com fome, fome inteira que abrigava o todo e as migalhas. Quem bebia vinho, com os olhos tornava conta do leite. Quem lento bebeu o leite, sentiu o vinho que o outro bebia. Lá fora Deus nas acácias. Que existiam. Comíamos. Como quem dá água ao cavalo. A carne trinchada foi distribuída. A cordialidade era rude e rural. Ninguém falou mal de ninguém porque ninguém falou bem de ninguém. Era reunião de colheita, e fez-se trégua. Comíamos. Como uma horda de seres vivos, cobríamos gradualmente a terra. Ocupados como quem lavra a existência, e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre, e come. Comi com a honestidade de quem não engana o que come: comi aquela comida e não o seu nome. Nunca Deus foi tão tomado pelo que Ele é. A comida dizia rude, feliz, austera: come, come e reparte. Aquilo tudo me pertencia, aquela era a mesa de meu pai. Comi sem ternura, comi sem a paixão da piedade. E sem me oferecer à esperança. Comi sem saudade nenhuma. E eu bem valia aquela comida. Porque nem sempre posso ser a guarda de meu irmão, e não posso mais ser a minha guarda, ah não me quero mais. E não quero formar a vida porque a existência já existe. Existe como um chão onde nós todos avançamos. Sem uma palavra de amor. Sem uma palavra. Mas teu prazer entende o meu. Nós somos fortes e nós comemos.

Pão é amor entre estranhos.

ENTENDENDO O CONTO

1)   Qual é a tipologia predominante no conto:

a)   Narrativa.

b)   Argumentativa.

c)   Descritiva.

 2)   Qual a temática do conto?

                  Um almoço por obrigação.

3)   Quais personagens fazem parte dessa narrativa?

Os convidados e a dona da casa.

4)   Qual o cenário em que se desenrola a história?

         Era um sábado e as pessoas convidados para o almoço estavam ali por obrigação.

5)   Descreva o que “era uma mesa para os homens de boa-vontade”.

A mesa fora coberta por uma solene abundância. Sobre a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs vermelhas, enormes cenouras amarelas, redondos tomates de pele quase estalando, chuchus de um verde líquido, abacaxis malignos na sua selvageria, laranjas alaranjadas e calmas, maxixes eriçados como porcos-espinhos, pepinos que se fechavam duros sobre a própria carne aquosa, pimentões ocos e avermelhados que ardiam nos olhos – tudo emaranhado em barbas e barbas úmidas de milho, ruivas como junto de uma boca. E os bagos de uva. As mais roxas das uvas pretas e que mal podiam esperar pelo instante de serem esmagadas. E não lhes importava esmagadas por quem. Os tomates eram redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar. Sábado era de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro chegasse.

6)   Em que passagem do texto ocorre o clímax, ou seja, o momento que surpreende a todos?

Quando os convidados passam para a sala do almoço e se deparam com uma mesa coberta por uma solene abundância.

7)   No conto o narrador participa da história ou simplesmente conta a história estando fora dela? Qual o nome dado a esse tipo de narrador?

Sim, o narrador participa da história.

Narrador-personagem.

8)   Do ponto de vista da norma culta, a única substituição/mudança que poderia ser feita, sem alteração de valor semântico e linguístico, seria:

a)   “ali mesmo ofereci o que eu sentia àquilo que me fazia sentir” = ali mesmo ofereci o que eu sentia àquilo que fazia-me sentir.

b)   “Tudo cortado pela acidez espanhola que se adivinhava nos limões verdes” = Tudo cortado pela acidez espanhola que adivinhava-se nos limões verdes.

c)   “Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos”. = Mas cada um de nós gostava demais de sábado para o gastar com quem não queríamos.

d)   “Só a dona da casa não parecida economizar o sábado para usá-lo numa quinta de noite”. = Só a dona da casa não parecia economizar o sábado para usá-lo numa quinta de noite”.

e)   “Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, a gastá-lo mal”. = Quanto a meu sábado – que fora da janela se balançava em acácias e sombras – eu preferia, do que gastá-lo mal.

9) No início o narrador relata de uma forma como se não conhecesse a mulher que "lava o pé de qualquer estrangeiro", porém ao final do conto relata qual o grau de parentesco com ela. Qual era?

     Ela era sua mãe.

10) E em uma simples frase o narrador deixa isso bem claro: "A cordialidade era rude e rural". As analogias são feitas à quê? 

      À Santa Ceia como: o dia de sábado como hospitaleiro e dos homens.