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sábado, 27 de janeiro de 2024

CRÔNICA: CASAS AMÁVEIS - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Crônica: Casas amáveis

                   Cecília Meireles

    VOCÊS ME DIRÃO QUE AS casas antigas têm ratos, goteiras, portas e janelas empenadas, trincos que não correm, encanamentos que não funcionam. Mas não acontece o mesmo com tantos apartamentos novinhos em folha?

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkdVnFqdRk8na30pl3wv5v8n50A0GZUU34jixb8EgTfp80WCWgt2PjVXSwLksnyfH2jGq9jIuY34L6Xd60bpS0fCmhz1sdev7BimEQ-NsA5WJv2hjU9TzDH4TnSjWynK-gE0Fu5cQ1kQZE2AXBPvMPl83DN2nQMeUV6EAnaJ2G0FiCb8AsOk3Ghky5fFg/s320/casa_bh.jpg


    Agora, o que nenhum arranha-céu poderá ter, e as casas antigas tinham, é esse ar humano, esse modo comunicativo, essa expressão de gentileza que enchiam de mensagens amáveis as ruas de outrora.
    Havia o feitio da casa: os chalés, com aquelas rendas de madeira pelo telhado, pelas varandas, eram uma festa, uma alegria, um vestido de noiva, uma árvore de Natal.
    As casas de platibanda expunham todos os seus disparates felizes: jarros e compoteiras lá no alto, moças recostadas em brasões, pássaros de asas abertas, painéis com datas e monogramas em relevos de ouro. Tudo isso queria dizer alguma coisa: as fachadas esforçavam-se por falar. E ouvia-se a sua linguagem com enternecimento. Mas, hoje, quem se detém a olhar para rosas esculpidas, acentos, estrelas, cupidos, esfinges, cariátides? Eram recordações mediterrâneas, orientais: mitologia, paganismo, saudade. (Que quer dizer saudade? E para que e o que recordar?)
    Os jardins tinham suas deusas, seus anões; possuíam mesmo bosques, onde morariam ecos e oráculos; e pequenas cascatas, pequenas grutas com um pouco d'água para os peixinhos. Possuíam canteiros de flores obscuras - violetas, amores-perfeitos - para serem vistas só de perto, carinhosamente, uma por uma, de cor em cor. (Hoje, estes ventos grandiosos apagam tudo.)
E, lá dentro, as casas tinham corredores crepusculares, porões úmidos, habitados por certos fantasmas domésticos, que de vez em quando se faziam lembrar, com seus pálidos sopros, seus transparentes calcanhares, suas algemas de escravidão.
    As famílias abrigavam cortejos de mortos.
E havia as clarab
oias. Luz como aquela? Nem a do luar! - uma suavidade de cinza e marfim, a maciez da seda, o fulgor da opala. As casas eram o retrato de seus proprietários. Sabia-se logo de suas virtudes e defeitos. Retratos expostos ao público: nem sempre simpáticos, mas geralmente fiéis.
    Agora, os andaimes sobem, para os arranha-céus vitoriosos, frios e monótonos, tão seguros de sua utilidade que não podem suspeitar da sua ausência de gentileza.
    Qualquer dia, também desaparecerão essas últimas casas coloridas que exibem a todos os passantes suas ingênuas alegrias íntimas - flores de papel, abajures encarnados, colchas de franjas - e sujas risonhas proprietárias têm sempre um Y no nome, Yara, Nancy, Jeny... Ah! Não veremos mais essas palavras, em diagonal, por cima das janelas, de cortininhas arregaçadas, com um gatinho dormindo no peitoril.
Afinal, tudo serão arranha-céus. (Ninguém mais quer ser como é: todos querem ser como os outros são.)
    E eis que as ruas ficarão profundamente tristes, sem a graça, o encanto, a surpresa das casas que vão sendo derrubadas. Casas suntuosas ou modestas, mas expressivas, comunicantes. Casas amáveis.

Entendendo o texto

01. Qual é o tema central abordado na crônica "Casas amáveis" de Cecília Meireles?

a) As goteiras em casas antigas.
b) A arquitetura de casas antigas.
c) A falta de comunicação em arranha-céus.
d) A gentileza e comunicação das casas antigas.

   02. Quem é o narrador da crônica "Casas amáveis"?

        a) Um arquiteto.
        b) Um observador externo.
        c) A própria Cecília Meireles.
        d) Um morador de arranha-céu.

   03. Segundo a crônica, o que as casas antigas têm que os arranha-céus não podem ter?

       a) Goteiras.
       b) Ar humano e gentileza.
       c) Portas e janelas empenadas.
       d) Corredores crepusculares.

   04. O que as fachadas das casas antigas tentavam fazer?

       a) Falar com enternecimento.
       b) Manter a privacidade dos moradores.
       c) Esconder suas imperfeições.
       d) Impressionar com a modernidade.

     05. Quais elementos decorativos eram comuns nas casas antigas mencionadas na crônica?

         a) Gatos e cachorros.
         b) Rosas esculpidas, estrelas, e cupidos.
         c) Pássaros de asas abertas.
         d) Árvores de Natal.

   06. O que os jardins das casas antigas possuíam?

         a) Chafarizes e esculturas.
         b) Deuses e deusas.
         c) Paredes de pedra.
         d) Piscinas.

   07.  Segundo a crônica, qual é a característica das casas que as torna um retrato de seus proprietários?

         a) As goteiras.
         b) As fachadas decoradas.
         c) As claraboias.
         d) Os corredores crepusculares.

  08. O que a crônica menciona sobre os arranha-céus em comparação com as casas antigas?

         a) São mais seguros.
         b) São mais coloridos.
         c) São mais frios e monótonos.
         d) São mais expressivos.

  09. Como as casas coloridas mencionadas na crônica expressam suas alegrias íntimas?

         a) Flores de papel e abajures encarnados.
         b) Piscinas e jardins.
         c) Claraboias e corredores crepusculares.
         d) Fachadas decoradas com datas e monogramas.

 10. Qual é a previsão da autora para o futuro das ruas mencionadas na crônica?

         a) Ficarão profundamente tristes sem as casas antigas.
         b) Serão mais movimentadas com os arranha-céus.
         c) Manterão sua graça e encanto.
         d) Terão mais casas coloridas.

 

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

POEMA: LEMBRANÇA RURAL - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 POEMA: LEMBRANÇA RURAL

               Cecília Meireles

Chão verde e mole. Cheiros de selva. Babas de lodo.
A encosta barrenta aceita o frio, toda nua.
Carros de bois, falas ao vento, braços, foices.
Os passarinhos bebem do céu pingos de chuva.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjA9sZkl9l_Cf_g5LpIXjvUh27lhYH05pLZHimmZTq3qrIcMU8y-Noh5VVvCI05qs-hneQguUZUtj_r7ENnmFNFNdw_U8fc-JHvV_6FY5ToNQqoww_ctw_iPHOXyCVuhT6oUK1rAZVhQUa9HLPWv_rxFfnNb2aahWwNAdR425Zt3jnTHpjzpWcwIp4QIiw/s320/PAISAGEM-CAMPESTRE.jpg



Casebres caindo, na erma tarde; Nem existem
na história do mundo. Sentam-se à porta as mães descalças.
É tão profundo, o campo, que ninguém chega a ver que é triste.
A roupa da noite esconde tudo, quando passa...

Flores molhadas. Última abelha. Nuvens gordas.
Vestidos vermelhos, muito longe, dançam nas cercas.
Cigarra escondida, ensaiando na sombra rumores de bronze.
Debaixo da ponte, a água suspira, presa...

Vontade de ficar neste sossego toda a vida:
bom para ver de frente os olhos turvos das palavras,
para andar à toa, falando sozinha,
enquanto as formigas caminham nas árvores...

Cecília Meireles. Fonte: http://vita-gotasdepoesia.blogspot.com/2010/12/lembranca-rural.html

Entendendo o texto

01. Como o poema descreve o chão na primeira estrofe?

a) Seco e rachado.

b) Verde e mole.

c) Pedregoso e duro.

d) Arenoso e quente.

    02. O que aceita o frio na encosta barrenta?

         a) Árvores altas.

         b) Crianças brincando.

         c) Plantas rasteiras.

         d) Toda nudez.

    03.Quem se senta à porta dos casebres na erma tarde?

a) Agricultores.

b) Crianças.

c) Mães descalças.

d) Pássaros.

   04. Como o poema caracteriza o campo em relação à sua tristeza?

         a) Aberto e alegre.

         b) Profundo e triste, mas escondido pela noite.

         c) Vasto e solitário.

         d) Colorido e vibrante.

  05. O que as nuvens gordas fazem no poema?

        a) Chovem pingos de chuva.

        b) Dançam nas cercas.

        c) Encobrem o céu.

        d) Protegem os casebres.

  06. Quem está escondida, ensaiando rumores de bronze na sombra?

        a) Uma abelha.

        b) Uma cigarra.

        c) Uma criança.

        d) Uma mãe.

 07. O que a água faz debaixo da ponte no poema?

       a) Flui livremente.

       b) Suspira, presa.

       c) Enrosca-se em raízes.

       d) Desce em cachoeira.

08. Qual é a vontade expressa no último verso do poema?

         a) Voltar para casa.

         b) Mudar-se para a cidade.

         c) Ficar no sossego rural toda a vida.

         d) Explorar novos horizontes

 09. O que é bom para ver de frente, segundo o poema?

         a) O sol se pondo.

         b) Os olhos turvos das palavras.

         c) O movimento das nuvens.

         d) Os passarinhos bebendo do céu.

10. O que fazem as formigas nas árvores, de acordo com o poema?

         a) Constroem ninhos.

         b) Caçam insetos.

         c) Caminham.

         d) Voam.

 11. Vamos  a análise dos trechos grifados no poema "Lembrança Rural" de Cecília Meireles:

         a.   "Chão verde e mole."

          Figura de Linguagem: Metáfora

          Explicação: A expressão "Chão verde e mole" compara o chão a algo verde e mole, usando uma metáfora para descrever suas características.

         b.   "Babas de lodo."

           Figura de Linguagem: Catacrese

           Explicação: O uso da palavra "babas" para descrever o lodo é uma catacrese, uma vez que "babas" normalmente se refere à saliva, mas é usada aqui para transmitir a viscosidade do lodo.

         c.   "A encosta barrenta aceita o frio, toda nua."

          Figura de Linguagem: Personificação

         Explicação: A personificação ocorre ao atribuir à encosta a capacidade de aceitar o frio e estar "toda nua", conferindo características humanas a um elemento não humano.

        d.   "Os passarinhos bebem do céu pingos de chuva."

          Figura de Linguagem: Prosopopeia (ou personificação)

          Explicação: A prosopopeia ou personificação acontece quando os passarinhos são personificados ao "beberem do céu pingos de chuva", atribuindo-lhes a ação de beber.

       e.   "É tão profundo, o campo, que ninguém chega a ver que é triste."

          Figura de Linguagem: Metáfora

          Explicação: A metáfora aqui compara a profundidade do campo à tristeza, sugerindo que a tristeza é tão profunda que nem é perceptível à primeira vista.

       f.     "A roupa da noite esconde tudo, quando passa..."

          Figura de Linguagem: Prosopopeia (ou personificação)

          Explicação: A personificação ocorre ao atribuir à noite a capacidade de "esconder tudo", como se a noite fosse uma entidade consciente.

       g.   "Cigarra escondida, ensaiando na sombra rumores de bronze."

          Figura de Linguagem: Personificação

     Explicação: A personificação é utilizada ao descrever a cigarra como "ensaiando na sombra rumores de bronze", atribuindo-lhe características humanas e artísticas.

 

 

 

 

 

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

POEMA: O LAGARTO MEDROSO - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Poema: O lagarto medroso

               Cecília Meireles

O lagarto parece uma folha
verde e amarela.
E reside entre as folhas, o tanque
e a escada de pedra.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQH1hciSnrxHbA5-rDG3ICwWf_qPn3OutX74eODfE0uaWzh1W9fh3B4oI_WSoAzaABSvJNPPOopeOqvQ1yRcw-9GFVulJi_QUq0WNCukgB_awT512UvR64bqv8FMLXcXKMKwz7OouTCv4It58sWRCkA37Q-bdU03MBqbbYP5ZFSendl1vWPhvS1FEUKH0/w224-h162/LAGARTO.jpg


De repente sai da folhagem,
depressa, depressa
olha o sol, mira as nuvens e corre
por cima da pedra.
Bebe o sol, bebe o dia parado,
sua forma tão quieta,
não se sabe se é bicho, se é folha
caída na pedra.
Quando alguém se aproxima,

— oh! Que sombra é aquela? —
o lagarto logo se esconde
entre folhas e pedra.

Mas, no abrigo, levanta a cabeça
assustada e esperta:
que gigantes são esses que passam
pela escada de pedra?
Assim vive, cheio de medo,
intimidado e alerta,
o lagarto (de que todos gostam)
entre as folhas, o tanque e a pedra.

Cuidadoso e curioso,
o lagarto observa.
E não vê que os gigantes sorriem
para ele, da pedra.
Assim vive, cheio de medo,
intimidado e alerta,
o lagarto (de que todos gostam)
entre as folhas, o tanque e a pedra.

Entendendo o texto

01. Como o lagarto é descrito visualmente no poema "O lagarto medroso"?

a) Como um animal veloz e audacioso.

b) Como uma folha verde e amarela.

c) Como um ser gigante e imponente.

d) Como uma sombra fugaz entre as pedras.

   02. Onde o lagarto reside no poema?

         a) Nas nuvens.

         b) Sem tanque.

         c) Na escada de pedra.

         d) Entre as estrelas.

  03. Como o lagarto reage quando alguém se aproxima?

        a) Corre para longe.

        b) Esconde-se entre as folhas e a pedra.

        c) Fica imóvel como se fosse uma folha.

        d) Ataca o intruso.

 04. Como o poema caracteriza a atitude dos gigantes em relação ao lagarto?

        a) Como hostis e ameaçadores.

        b) Como indiferentes e desinteressados.

         c) Como cuidadosos e curiosos.

         d) Como temerosos e medrosos.

   05. O que o lagarto faz quando alguém se aproxima e ele se esconde?

         a) Fica adornado.

         b) Levanta a cabeça assustada e espera.

         c) Continua escondido sem se mover.

         d) Ataca o intruso.

   06. Como o lagarto se comporta em relação aos gigantes que passam pela escada de pedra?

         a) Fica imóvel e assustado.

         b) Corre para longe.

         c) Observar-os cuidadosamente.

         d) Ataca-os para se proteger.

  07. O que o poema destaca sobre o estado emocional do lagarto?

         a) Tranquilidade e confiança.

         b) Medo e alerta.

         c) Despreocupação e indiferença.

         d) Agressividade e coragem.

  08. Qual é o elemento que faz o lagarto se esconder entre as folhas e a pedra?

        a) Ó sol.

        b) Uma sombra.

        c) As nuvens.

        d) Uma chuva.

09. Qual é a principal emoção transmitida ao lagarto ao longo do poema?

      a) Alegria.

      b) Curiosidade.

      c) Medo.

      d) Surpresa.

10.  O que o lagarto faz quando se sente intimidado e alerta?

      a) Ataca os intrusos.

      b) Corre para longe.

      c) Esconde-se entre as folhas e a pedra.

      d) Observa os gigantes com indiferença.

 

 


domingo, 12 de junho de 2022

POESIA: A MENINA E A ESTÁTUA - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poesia: A MENINA E A ESTÁTUA

            Cecília Meireles


A menina que brincar com a estátua da fonte,

que é uma criança nua, em cuja cabeça os passarinhos

pousam, depois do banho,

antes de voarem para longe.

 

A menina, com muita precaução,

Toca o braço da estátua,

e fala com ela essas coisas com outro sentido

que as crianças dizem umas as outras,

ou aos objetos com que conversam,

ou a si mesmas, quando estão sozinhas.

 

A menina insiste com a estátua,

Convida-a a descer do plinto,

Passa o dedo pelos seus pés de bronze,

Examinando-os e persuadindo-a.

 

E diante de tal silêncio,

fica séria e preocupada,

mira a estátua de perto,

como a um pequeno deus misterioso,

caminha de costas, mirando-a,

e fica de longe a mirá-la,

por um momento prolongado e respeitoso.

 

Fonte: Língua portuguesa – Palavras – Hermínio Geraldo Sargentim – 5ª série – IBEP – 1ª edição, São Paulo, 2002. p. 147-9.

Entendendo a poesia:

01 – A menina quer brincar com a estátua.

a)   Onde se localiza a estátua?

Localiza-se numa fonte.

b)   Como era ela?

Era uma criança nua.

02 – Os passarinhos pousavam na cabeça de quem?

      Na cabeça da estátua.

03 – Ao aproximar-se da estátua, a menina revela cautela. Que frase do texto informa isso?

      “... com muita preocupação, / toca o braço da estátua.”

04 – De que matéria é feita a estátua?

      É feita de bronze.

05 – Ao falar com a estátua, a menina a trata de que maneira?

      Como se a estátua fosse uma pessoa.

06 – Em relação aos versos:

“E fala com ela essas coisas com outro sentido

que as crianças dizem umas às outras,”

Podemos fazer que afirmativa sobre as conversas das crianças?

      As conversas das crianças são orientadas pela imaginação.

07 – Embora a menina insista, a estátua não fala. Diante disso, qual foi a reação da menina?

      Ela ficou séria e preocupada.

08 – Em certo momento, a menina manteve em relação à estátua uma atitude de respeito. Transcreva os versos que comprovam isso.

      “Mira a estátua de perto, / como a um pequeno deus misterioso”.

09 – Se você fosse o autor do texto e quisesse reproduzir a conversa que a menina manteve com a estátua, como seria? Reproduza-a.

      Resposta pessoal do aluno.

 

 

sexta-feira, 22 de abril de 2022

POESIA: PANORAMA - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poesia: Panorama  

                  Cecília Meireles

Em cima, é a lua,

no meio, é a nuvem,

embaixo, é o mar.

Sem asa nenhuma,

sem vela nenhuma,

para me salvar.

 

Ao longe, são noites,

de perto, são noites,

quem se há de chamar?

Já dormiram todos,

não acordam outros...

Água. Vento. Luar.

 

O trilho da terra

para onde é que leva,

luz do meu olhar?

Que abismos aéreos

de reinos aéreos

para visitar!

 

Na beira do mundo,

do sono do mundo

me quero livrar.

E em cima - é a lua.

no meio – é a nuvem.

e embaixo – é o mar.

Obra poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987. p. 199-200.

Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 5ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 248.

Entendendo a poesia:

01 – Na 1ª estrofe, é feita referência a três espaços diferentes, por meio de substantivos e expressões adverbiais. Que advérbio ou expressão adverbial corresponde ao substantivo:

a)   Lua?

Em cima.

b)   Nuvem?

No meio.

c)   Mar?

Embaixo.

02 – Na 2ª estrofe, há duas expressões adverbiais e dois advérbios. Identifique-os e classifique-os.

      Ao longe e de perto: locuções adverbiais de lugar; Já: advérbio de tempo; Não: advérbio de negação.

03 – A poesia fala de coisas vagas ou indefinidas, como noite, nuvem, vento. Faça um levantamento do tipo de pronome que há no texto e verifique por que eles contribuem para criar essa atmosfera.

      Há no texto três pronomes indefinidos (nenhuma, todos, outros) e um interrogativo (quem), que contribuem para criar uma atmosfera de coisas vagas e imprecisas.

04 – O último verso da 2ª estrofe, apresenta três elementos naturais (água, vento e luar) que mantêm relação com os espaços mencionados na questão 1. Qual desses elementos corresponde a:

a)   Em cima?

Luar.

b)   No meio?

Vento.

c)   Embaixo?

Água.

 

 

POEMA: INSCRIÇÃO NA AREIA - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Poema: Inscrição na Areia

             Cecília Meireles

O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?

O meu amor não tem
importância nenhuma.

In: Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1977. p. 154.

Fonte: Livro – PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 5ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 188.

Entendendo o poema:

01 – Há, no poema, um pronome interrogativo e um pronome indefinido repetidos duas vezes. Identifique-os.

      Quem e nenhuma, respectivamente.

02 – Na sua opinião, o eu lírico desse poema tem a intenção de revelar ou ocultar a identidade de seu amor?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Ela faz um jogo de revelar e ocultar o seu amor.

03 – Os pronomes indefinidos e interrogativos contribuem para essa finalidade? Por quê?

      Sim, pois os dois indefinem, contribuindo para criar o jogo de revelar e esconder.

 

sábado, 12 de março de 2022

RELATO: OS LIVROS E SUAS VOZES -CECÍLIA MEIRELES/ A LÍNGUA ABSOLVIDA - ELIAS CANETTI - COM GABARITO

 Relato: OS LIVROS E SUAS VOZES

            Cecília Meireles 

Texto I

        Se há uma pessoa que possa, a qualquer momento, arrancar da sua infância uma recordação maravilhosa, essa pessoa sou eu. [...]

        Tudo quanto, naquele tempo, vi, ouvi, toquei, senti, perdura em mim com uma intensidade poética inextinguível. Não saberia dizer quais foram as minhas impressões maiores. Seria a que recebi dos adultos tão variados em suas ocupações e em seus aspectos? Das outras crianças? Dos objetos? Do ambiente? Da natureza? [...]

        Recordo céus estrelados, chuva nas flores, frutas maduras, casas fechadas, estátuas, negros, aleijados, bichos, suínos, realejos, cores de tapete, bacia de anil, nervuras de tábuas, vidros de remédio, o limo dos tanques, a noite em cima das árvores, o mundo visto através de um prisma de lustre, o encontro com o eco, essa música matinal dos sabiás, lagartixas pelos muros, enterros, borboletas, o carnaval, retratos de álbum, o uivo dos cães, o cheiro do doce de goiaba, todos os tipos populares, a pajem que me contava com a maior convicção histórias do Saci e da Mula-sem-cabeça (que ela conhecia pessoalmente); minha avó que me cantava rimances e me ensinava parlendas... [...]

        Mais tarde [...] os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano. Foi ainda nessa área que apareceram um dia os meus próprios livros, que não são mais do que o desenrolar natural de uma vida encantada com todas as coisas [...]

        Sempre gostei muito de livros e, além dos livros escolares, li os de histórias infantis, e os de adultos: mas estes não me pareciam tão interessantes, a não ser, talvez, Os Três Mosqueteiros, numa edição monumental, muito ilustrada, que fora de meu avô. Aquilo era uma história que não acabava nunca; e acho que esse era o seu principal encanto para mim. Descobri o Dicionário, uma das invenções mais simples e mais formidáveis e também achei que era um livro maravilhoso, por muitas razões.

        [...] Quando eu ainda não sabia ler, brincava com livros e imaginava-os cheios de vozes, contando o mundo. 

Cecília Meireles. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1997. p.58-61.

 Texto II – A língua absolvida

                Elias Canetti

        Alguns meses depois de meu ingresso na escola, aconteceu algo solene e excitante que determinou toda a minha vida futura. Meu pai me trouxe um livro. Levou-me para um quarto dos fundos, onde as crianças costumavam dormir, e o explicou para mim. Tratava-se de “The Arabian Nights”, “As Mil e Uma Noites”, numa edição para crianças. Na capa havia uma ilustração colorida, creio que de Aladim com a lâmpada maravilhosa. Falou-me, de forma animadora e séria, de como era lindo ler. Leu-me uma das histórias: tão bela como esta seriam também as outras do livro. Agora eu deveria tentar lê-las, e à noite eu lhe contaria o que havia lido. Quando eu acabasse de ler este livro, ele me traria outro. Não precisou dizê-lo duas vezes, e, embora na escola começasse a aprender a ler, logo me atirei sobre o maravilhoso livro, e todas as noites tinha algo para contar. Ele cumpriu sua promessa, sempre havia um novo livro e não tive que interromper minha leitura um dia sequer.

        Era uma série para crianças e todos os livros tinham o mesmo formato; se diferenciavam pela ilustração colorida na capa. As letras tinham o mesmo tamanho em todos os volumes e era como se continuasse a ler sempre o mesmo livro. Como série, nunca houve outra igual. Lembro-me de todos os títulos. Depois da Mil e uma noites vieram os Contos Grimm, Robinson Crusoé, As viagens de Gulliver, Contos de Shakespeare, Dom Quixote, Dante, Guilherme Tell.

Elias Canetti. A língua absolvida. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 50.

Fonte: Livro- PORTUGUÊS: Linguagens – Willian R. Cereja/Thereza C. Magalhães – 6ª Série – 2ª edição - Atual Editora – 2002 – p. 181-4.

Entendendo os relatos:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Inextinguível: que não se extingue, não se apaga.

·        Limo: lodo.

·        Pajem: babá, criada, acompanhante.

·        Prisma: cristal que decompõe a luz.

·        Rimance: o mesmo que romance, poética popular.

02 – Os dois textos são exemplos de relato, um gênero textual em que os autores narram experiências pessoais vividas no passado.

a)   Em que pessoa são narrados os textos: em 1ª ou em 3ª pessoa? Comprove sua resposta com alguns exemplos.

Em 1ª pessoa, conforme mostram as formas verbais vi, ouvi, toquei e os pronomes mim, me, etc.

b)   Dos três itens que seguem, qual é o que melhor traduz o assunto desses relatos?

·        Recordações da infância.

·        O poder transformador dos livros.

·        A descoberta dos livros e da leitura na infância.

c)   Que palavras dos textos comprovam que os relatos são fruto da memória e não da imaginação?

Recordação, recordo (texto I); lembro-me (texto II).

03 – A autora do texto I, n 3° parágrafo, cita várias recordações de sua infância: algumas são de coisas concretas, outras de coisas abstratas.

a)   Cite três dessas coisas concretas.

Céus, chuva, frutas, casas, etc.

b)   Quais são as recordações de coisas abstratas?

São as histórias, as parlendas e os romances que ouvia da pajem e da avó.

04 – Os adultos desempenharam um importante papel na vida dos dois escritores quando crianças.

a)   Quem são os adultos citados no texto I?

A pajem e a avó.

b)   E no texto II?

O pai.

c)   O que os adultos fizeram de importante para essas crianças?

Iniciaram essas crianças no mundo da leitura e da literatura.

d)   Por que essa iniciativa foi importante para a escolha profissional que essas crianças iriam fazer mais tarde?

Porque mais tarde se tornaram escritores.

05 – Releia estes fragmentos dos textos:

        “[...] estes não me pareciam tão interessantes, a não ser, talvez, Os Três Mosqueteiros, numa edição monumental, muito ilustrada [...]”.

        “As Mil e Uma Noites”, numa edição para crianças. Na capa havia uma ilustração colorida”.

        O que os livros oferecidos às crianças tinham em comum, o que as atraía neles?

      O fato de serem bem-ilustrados; por isso, atraíam também como objetos.

06 – Os dois textos tratam de viagens, embora não de forma explícita.

a)   Que tipo de viagem os autores, quando crianças, faziam pelos livros?

Eles faziam uma viagem pela fantasia e pela imaginação, estimulados pelos livros.

b)   Que tipo de viagem os autores fazem agora, já adultos?

Agora viajam pela memória, recordando a infância e a iniciação à leitura.