domingo, 26 de junho de 2022

TEXTO(FRAGMENTO): A NOVA E A VELHA ÁFRICA - GEOFFREY PARRINGER - COM GABARITO

 Texto: A NOVA E A VELHA ÁFRICA

        “Há sempre algo de novo em África”, disse o escritor romano Plínio. O aparecimento de novos Estados africanos nas últimas décadas origina frequentemente notícias de primeira página nos jornais, mas as tradições deste continente são tão antigas como quaisquer outras, e algumas das mais remotas formas de vida humana foram recentemente descobertas no vale do Grande Rift, na África Oriental. Existem ainda sobreviventes das raças de pigmeus e bosquímanos, povos dos mais antigos da história humana. E, por detrás das modernas doutrinas políticas, há inúmeros mitos e lendas que constituem parte fundamental da maneira de pensar das populações africanas.

        A África é um vasto continente, que se divide naturalmente em duas partes principais. O chamado Norte de África, que se estende do Egipto a Marrocos, e da foz do Nilo até à Etiópia, pertence na sua maior parte ao mundo mediterrânico e tem como religiões básicas o Cristianismo e o Islamismo, que determinam mentalidades e histórias próprias. O deserto do Saara e as florestas tropicais formavam uma barreira intransponível aos europeus, que procuravam conhecer o resto da África, até que os portugueses, na saga dos descobrimentos, contornaram o cabo da Boa Esperança, no final do século XV.

        [...]

        As mitologias grega e indiana são apoiadas por vasta literatura, nascida de tradições orais preservadas em livros, escritos ao longo dos séculos. Para se ficar a conhece-las, é suficiente ler essas obras. No estudo da mitologia africana surge logo à partida um obstáculo de monta: não há livros antigos. Há incontáveis histórias, já que todas as raças africanas adoram conta-las, mas que nunca foram passadas ao papel até aos tempos modernos. E mesmo as coleções hoje existentes estão incompletas.

        [...]

        Como a arte era a única “escrita” conhecida em toda a África Tropical, foi usada para interpretar a vida em todos os seus aspectos. Foi aplicada na vida religiosa, que aliás não se dissociava de outras facetas da vida, para dar significado e função espiritual a objetos destinados em cerimónias ou mesmo em ritos individuais. Foi usada para ilustrar provérbios e para expressar a sabedoria popular. Deste modo, a arte africana proporciona uma espécie de literatura sacra, realçando a beleza e a solenidade da face do homem. É profundamente expressiva e, no entanto, modesta. Não existem grandes templos desafiando os céus, pois a falta de pedras macias e a inexistência de explosivos para quebrar as rochas graníticas eram realidades inelutáveis. A arte africana preocupa-se com a vida humana: os rostos e imagens retratam a natureza do homem e as suas atividades. O homem e a mulher como um casal, às vezes como gémeos, indicam o núcleo da família africana; mesmo quando a poligamia é prática corrente, o casal continua a ser a unidade básica. A interdependência entre o homem e a mulher é fielmente retratada, tanto na escultura como na mitologia.

Geoffrey Parringer. África; Biblioteca dos grandes mitos e lendas universais. Trad. Raul de Sousa Machado. Lisboa: Verbo, 1987. p. 7-9.

          Fonte: Português em outras palavras – 8ª série – Maria Sílvia Gonçalves – ed. Scipione – São Paulo, 2002. 4ª edição. p. 50-2.

Entendendo o texto:

01 – Qual a grande contradição atual do continente africano?

      A convivência simultânea do antigo (mitos, lendas, maneiras de pensar) com o moderno (novas doutrinas políticas).

02 – Que descobertas recentes obrigaram o mundo ocidental a repensar seu preconceito contra a África?

      As mais remotas formas de vida humana foram encontradas em escavações na África.

03 – Veja a frase: “Por ser uma sociedade ágrafa, a África não pôde preservar suas tradições”. Você concorda com essa afirmação? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não, uma vez que, mesmo não tendo escrita, a cultura africana preservou-se por meio da oralidade ou da arte.     

04 – Qual o papel da arte na cultura africana?

      A arte tornou possível a interpretação da vida africana em todos os seus aspectos.

05 – O que o caráter humanístico da arte africana nos revela sobre esse povo?

      A beleza, a grandeza do africano está na sua simplicidade e religiosidade.

06 – “Traduza” a palavra poligamia a partir dos radicais gregos que a compõem.

      Poli = muitos; gamia = casamento.

07 – O que os adjetivos intransponível e inelutável têm em comum? O que poderia facilitar a compreensão do significado dessas palavras?

      Ambos têm prefixo in-, indicando negação, e sufixo –vel, indicando possibilidade de praticar ou sofrer uma ação. Detendo-nos no radical, poderíamos entender as palavras como: intransponível = o que não pode ser transposto; inelutável = aquilo contra o que não se pode lutar.

08 – Encontre no texto uma palavra cujo plural não segue a orientação geral e não aparece no final. Procure descobrir como essa palavra se formou para entender o plural diferente.

        A palavra quaisquer tem plural em seu interior e não no final porque é formada pelo pronome qual (que faz plural quais), seguido do verbo querer conjugado no presente do indicativo.

09 – Você já trabalhou com textos expositivos nas séries anteriores. Já sabe, portanto, que determinadas construções são comuns nesse tipo de texto. É o caso de frases formadas com o verbo haver, empregado com o sentido de existir, e com verbos na voz passiva. Identifique no texto frases em que isso ocorre e explique em seu caderno as razões do emprego desse tipo de construção.

      “... há inúmeros mitos e lendas que constituem...”; “Há incontáveis histórias ...”; “Foi usada para interpretar a vida”; “Foi aplicada na vida religiosa ...”.

      Nos textos expositivos, costumam-se afirmar fatos sem atribuí-los a um sujeito gramatical, como se eles tivessem vida própria. Daí o emprego constante do verbo haver, no sentido de existir. O emprego do sujeito paciente, na voz passiva, também se justifica pelo fato de não se julgar importante citar o agente da ação, frequentemente omitido nesse tipo de construção sintática.

10 – O trecho do livro “África” que você leu foi traduzido em Portugal.

a)   Identifique nele uma construção típica da sintaxe lusitana.

“Para se ficar a conhece-las, é suficiente ler essas obras”.

b)   Reescreva-a de forma abrasileirada.

No Brasil, seria mais comum dizer-se: Para que se possa conhece-las, é suficiente ler essas obras.

11 – Você conhece palavras pertencentes ao português de Portugal que não são aqui utilizadas ou que no português do Brasil têm outro significado? Cite algumas, se souber.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Bicha no lugar de fila; Autocarro no lugar de ônibus; Autogolo que para nós é gol contra; Pastilhas elásticas é chiclete; Rebuçado é pirulito; Capachinho é peruca e Papai Natal é Papai-Noel.

REPORTAGEM: DOIS PRINCÍPIOS BÁSICOS (FRAGMENTO) - FOLHA DE S.PAULO - COM GABARITO

 Reportagem: Dois princípios básicos (fragmento)

Texto 1

        O Brasil teve uma das maiores expansões da rede escolar em todo o mundo, mas a massificação do ensino reduziu drasticamente a qualidade das escolas e os salários dos professores. Diante das necessidades, o país ainda investe pouco em educação. As taxas de repetência são as maiores do mundo. No entanto, o maior problema é a ineficiência dos recursos empregados.

        [...]

País desperdiça recursos para a educação. In: Folha de S. Paulo, 31 jul. 1994. Especial A-8.

Texto 2

        De cada cem alunos que se matriculam na 1ª série de uma escola de 1° grau, apenas 12 chegam ao terceiro colegial e seis sobrevivem como alunos até o curso superior. O prêmio que espera essa meia dúzia de bravos que conseguiu avançar, a despeito de obstáculos sociais, econômicos e pedagógicos, não será um recompensador curso de engenharia, medicina ou odontologia numa boa universidade do governo. O mais certo é que desses seis sobreviventes apenas dois cheguem a frequentar o curso que desejam numa universidade federal ou estatal conceituada.

A máquina que cospe crianças. In: Veja, 20 nov. 1991. p. 46.

        Fonte: Português em outras palavras – 8ª série – Maria Sílvia Gonçalves – ed. Scipione – São Paulo, 2002. 4ª edição. p. 17-8.

Entendendo a reportagem:

01 – De quantos períodos é formado o parágrafo do texto 1? Eles são simples ou compostos?

      O parágrafo é formado por quatro períodos: o primeiro é composto; os demais são simples.

02 – Como é feita a articulação entre as orações? E entre os períodos?

      No primeiro período, é a conjunção mas que faz a articulação entre as orações. Existem pontos finais separando os períodos e o último começa com a locução conjuntiva no entanto.

03 – Que processo de composição foi utilizado na construção desse parágrafo?

      Foi utilizado o processo de coordenação.

04 – E quantos períodos compõem o texto 2?

      O texto 2, é composto de três períodos.

05 – O que você nota quanto:

a)   À extensão dos períodos?

Os períodos deste parágrafo são mais extensos que os do parágrafo anterior.

b)   À organização das orações?

A organização das orações é diferente daquela do outro parágrafo. Observar que há conectivos ligando umas orações às outras e que umas dependem das outras, exercendo funções sintáticas em relação a um termo da oração anterior.

 

 

REPORTAGEM: AS MONTANHAS SAGRADAS - MARIA EMÍLIA COELHO - COM GABARITO

 Reportagem: AS MONTANHAS SAGRADAS

                  A vida nos vales e picos nevados dos Andes peruanos é quase a mesma do tempo dos incas. Mas tudo pode mudar com o aquecimento global

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  A vida nos vales e picos nevados dos Andes peruanos é quase a mesma do tempo dos incas. Mas tudo pode mudar com o aquecimento global

Maria Emília Coelho

        Passo lento e respiração profunda. Em meio ao ar rarefeito e à cegueira branca de uma nevasca, surge Nicolasa. A menina caminha firme atrás da vaca desgarrada do rebanho. Acredita que os apus, ou os espíritos das montanhas, encontram-se ao seu lado e vão ajudá-la a recuperar o animal perdido. Estamos a 5 mil metros de altitude, a caminho de Ausangate, um dos picos nevados da Cordilheira Vilcanota, uma das zonas mais inóspitas dos Andes peruanos. Justamente por isso, é um lugar onde as comunidades rurais experimentam poucas mudanças nos costumes ancestrais. As formações gigantes, imponentes e disformes, respeitosamente chamadas de apus, ocupam o topo do panteão das divindades incas. Aqui, são as montanhas que mandam, logo descubro, enquanto o ar penosamente enche meus pulmões.

        Nossa caminhada por esse solo sagrado começou na tarde anterior. Depois de três horas de ônibus a partir de Cuzco (a antiga capital inca), colocamos o pé no chão quando alcançamos o vale de Pitumarca. A partir desse ponto, são cinco dias sem energia elétrica, banho quente e comunicação com o resto do planeta. Nosso objetivo é percorrer uma rota ainda pouco conhecida de 52 quilômetros de subidas e descidas, entre comunidades indígenas e picos nevados, até o topo, pela face sudeste do apu.

        Além de ostentar o título de maior montanha do sul do Peru, com 6.384 metros, Ausangate é sagrada para os descendentes dos incas. Trata-se de uma espécie de chege dos apus, uma autoridade suprema entre todas as montanhas. Não é pouca coisa. Na comunidade de Chillca, a 4.300 metros de altitude, os nativos contam que o apu todo-poderoso chegou a decidir batalhas para os incas diante dos invasores espanhóis. Certa vez, teria lançado uma tempestade de granizo vermelho e de relâmpagos sobre os soldados, enquanto o povo se escondia da fúria de suas armas. “Graças ao apu, nossos cultivos e animais estão bonitos e saudáveis”, declara o músico Orlando Garcia, líder da comunidade.

BERÇO DE LHAMAS E ALPACAS

        Ao longo do caminho, enquanto avançamos pela planície alva do vale de Pampa Uyuni, bando de lhamas e alpacas aparecem para compor o cenário. Diz a lenda que as lagoas da região são o berço sagrado desses animais, símbolos maiores dos Andes. Os pastores de Ausangate estão entre os pioneiros na domesticação dos camelídeos. A atividade, que rende lã e carne, é a principal fonte de renda da população local. No entanto, está sendo abandonada pelos jovens. Ao pararmos para conversar com uma família isolada nas alturas, o patriarca explica que os mais novos preferem arriscar a vida em cidades como Cuzco e Lima em busca de trabalho e de uma vida com mais “comodidades”.

        A vida nessas alturas é de fato difícil. À medida que subimos, o clima fica mais frio e o ar mais rarefeito. A respiração parece falhar na óbvia tarefa de levar ar aos pulmões. As nuvens ganham espaço e o azul do céu pouco a pouco vira cinza. É possível sentir grau a grau a temperatura cair até o tempo fechar de vez. Os vapores de água da atmosfera se congelam e a neve vem abaixo. O frio vence as roupas, a pele, a carne e chega aos ossos. O fôlego some a cada passo, mas a beleza do lugar faz esquecer o cansaço. Tudo para chegar a Machucaray, a 4.800 metros de altura, ao pé do poderoso nevado.

        A paisagem branca do Quelccaya, o nevado de 5.470 metros que avistamos, me faz lembrar do documentário Uma Verdade Inconveniente, do vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, vencedor do Oscar. A montanha, considerada o maior glaciar tropical do mundo, é um exemplo dos estragos decorrentes do processo de aquecimento global, provocado pela crescente emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Segundo os cientistas, o ritmo de derretimento do Quelccaya aumentou dez vezes nos últimos 15 anos. Estudos do geólogo americano Lonney Thompson, que investiga o fenômeno no Peru desde 1974, apontam que, a longo prazo, o degelo afetará o clima e o abastecimento de água para 70% da população do país.

A AMEAÇA AO GELO DAS MONTANHAS

        Para os nativos da região, no entanto, os efeitos das mudanças climáticas provocadas pelo homem já batem à porta. “Estamos preocupados”, conta Orlando, diante de uma pequena lagoa formada há poucos anos pelo derretimento do gelo. “Antigamente havia mais picos nevados. Em algumas montanhas, as neves eternas estão desaparecendo”.

        Parece não restar dúvida de que os apus terão muito trabalho para manter geladas as montanhas peruanas. Pensando nisso, acompanho a oferenda à Mãe Terra (Pachamama) protagonizada pelos moradores da montanha. O ritual típico do universo religioso andino consiste em presentear a natureza com vinhos, sementes e folhas de coca, enquanto o xamã ora em quíchua. Nas primeira horas da manhã, as montanhas se colorem de tons ocres – do amarelo ao vermelho, com pitadas de cinza e verde, refletindo o relevo policromático das formações geológicas de 250 milhões de anos. Avistamos as vicunhas, espécie não domesticada de camelídeo andino – uma manada de 21 indivíduos, entre adultos e jovens, dá uma amostra da vida silvestre. A pelagem fina do animal tem alto valor comercial. Por décadas, esteve à beira da extinção por culpa de caçadores ilegais em busca de lã. Uma iniciativa do governo peruano em parceria com as populações indígenas mudou este cenário e a população de vicunhas cresce, em média, 8% ao ano.

O ESPÍRITO DOS VALENTES

        Quando os lhamas aparecem, as vicunhas fogem, assustadas. Nossos olhos então são atraídos por uma formação sedimentária em tons vermelhos, amarelos e cinzas. São pedras gigantes nas quais é possível imaginar, sem muita alucinação, rostos humanos esculpidos. Conta a mitologia inca que o deus sol converteu essas montanhas em soldados, chamados de pururaucas, para defender Cuzco durante a invasão do reino Chanca, antes da chegada dos espanhóis. Segundo a lenda, os guerreiros de pedra representam o espírito dos valentes.

        Nosso destino é ainda mais além: a comunidade de Osefina, a 4.600 metros. Ali, as mulheres usam técnicas imemoriais para produzir tecidos de lã de alpaca. Vivem, praticamente, sem contato com o modo de vida moderna e falam apenas o quíchua. “Gosto quando gente de fora vem conhecer nossa arte”, conta Eulogia Antaccasa, coordenadora da Associação das Tecelãs de Huayna Anta. A ideia do grupo é capacitar suas artesãs para que tecidos tingidos com plantas locais sejam comercializados mundo afora.

        Na caminhada de volta ao vale de Pitumarca, seguimos o caminho das águas presenteadas pelos apus. Elas cortam os Andes e formam o rio Vilcanota, que mais adiante se transforma em urubamba para se encontrar com o Apurimac e formar o Ucayalli. Este flui no sentido norte até se juntar ao Maranõn e dar origem ao nosso rio Amazonas, nas proximidades de iquitos. O destino das águas – das alturas andinas até as terras baixas da Amazônia – é motivo suficiente para saudarmos o Ausangate. Mas a última saudação vem à tona quando fico sabendo que, para os descendentes dos incas, essas águas retornam todas as noites aos Andes pela Via Láctea, conhecida ali como rio das Estrelas.

COELHO, Maria Emília. As montanhas sagradas. Horizonte Geográfico, São Paulo, Horizonte, n° 122, p. 46-53, abril 2009.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 277-9.

Entendendo a reportagem:

01 – O texto lido foi escrito com qual finalidade? Em que suporte (lugar físico ou virtual) ele foi veiculado?

      O texto foi escrito com a finalidade de apresentar informações sobre o impacto do degelo provocado pelo aquecimento global na região dos Andes peruanos. Ele foi veiculado em uma revista temática chamada Horizonte Geográfico.

02 – Releia a linha-fina (ou subtítulo) da reportagem. Que função ela exerce?

      Ela anuncia o conteúdo da matéria jornalística.

03 – Contextualize a frase que dá início à reportagem: “Passo lento e respiração profunda”. Quem é o seu enunciador? A que ela se refere?

      O enunciador é o jornalista responsável pela matéria. A frase se refere à dificuldade enfrentada pelo profissional de caminhar e respirar a 5 mil metros de altitude, na cordilheira Vilcanota.

04 – Segundo o especialista Lonney Thompson, qual é a principal consequência do degelo nos Andes peruanos?

      Segundo o geólogo americano, a longo prazo o degelo afetará o clima e o abastecimento de água para 70% da população do Peru.

05 – Depois da leitura da reportagem, você afirmaria que a religiosidade é uma dimensão importante da vida das comunidades peruanas andinas?

      Sim. O texto faz várias referências à mitologia e aos rituais incas, evidenciando a relação das pessoas com o sagrado.

06 – No texto, pessoalidade e impessoalidade se mesclam para transmitir informações ao leitor. Aponte pelo menos uma passagem de teor mais pessoal e uma de teor impessoal.

      Teor pessoal: “Nossa caminhada por esse solo sagrado começou na tarde anterior.”; teor impessoal: “Os pastores de Ausangate estão entre os pioneiros na domesticação de camelídeos”.

 

 

TELA: OS AMANTES - RENÉ MAGRITTE - COM GABARITO

Tela: Os amantes

          René Magritte

 

 Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg10SORQNfye7AlTmgMz69byVJX8p0cw0sdO-gUJTz9wKPlU6XIRAgBpfpGwC614IqRc_3mk72KATPQWRRrKLUBb52PSSGkHmW6gsUwV7V7aKi05fQVyGaVDyBQgILzpEveH2kv5XAUBZQbJucr9L8ThELTYdqWPu6eoQR_ZKT2swIv4TZeKKQorAdn/s1600/TELA.jpg

             MAGRITTE, René. Os amantes. 1928. 1 óleo sobre tela. Richard Zeisler Collection, Nova Iorque.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 263.

Entendendo a tela:

01 – Uma das marcas dos pintores surrealistas era a representação realista de imagens que não correspondem à lógica cotidiana. Que elemento permite comprovar essa afirmação na pintura de Magritte?

      A pintura se assemelha em termos técnicos a uma foto, no entanto, o que se vê não é uma imagem que corresponda à lógica cotidiana: os rostos dos amantes estão cobertos por um pano e eles se beijam mesmo assim.

02 – O título da tela é “Os amantes”. Interprete a imagem da obra relacionando-a à dupla acepção que a palavra “amantes” pode receber.

      A palavra “amantes” pode ser entendida como uma referência a um relacionamento ilícito, adultério, por isso os rostos estariam cobertos, para que eles se protejam da desaprovação social. Numa outra acepção da palavra, os “amantes” podem ser entendidos como aqueles que se amam e podem estar apenas querendo preservar sua privacidade, querem viver seu amor de modo reservado.

03 – Muitas vezes, os surrealistas aproveitavam sensações de sonhos como símbolos em suas telas. Que sensações a imagem da pintura pode estar representando? Justifique sua resposta.

      Numa sociedade movida pelas aparências, os amantes verdadeiros são aqueles que não se preocupam com o exterior, mas os sentimentos; o amor pode ser um sentimento angustiante, que leva as pessoas a se sentirem presas, sufocadas; o amor faz nascer nas pessoas o sentimento de proteção, de não querer que o outro sofra, seja reconhecido e julgado socialmente por seus atos, etc.


POEMA - REGINA WERNECK - COM GABARITO

Poema: Poema

              Regina Werneck

Minha memória é um rio caudaloso
Onde, às vezes, eu me vejo submersa,
Afogada, asfixiada.
É um rio de torrentes que me arrasta
E me joga de um lado para outro,
Contra rostos, mãos, casas, esperanças,
Ideias, planos, ruas, despedidas,
Montes, mares, angústias e caminhos,
Pernas, pés, praias, solidão...
Estendo as mãos, as margens longe...
E vou me debatendo
Até que a voz do tempo
E o correr dos dias
Me salvem de mim mesma
E me coloquem outra vez
Nas margens tranquilas do esquecer.

Regina Werneck. Poema. Disponível em: http://www.releituras.com/ne_rwerneck_poema.asp. Acesso em: 22 jul. 2009.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 262-3.

Entendendo o poema:

01 – Segundo Freud, os pacientes psicanalíticos sofriam de “reminiscências”, ou seja, ficavam recordando de forma incessante fatos traumáticos do passado. A memória, no poema de Regina Werneck, demonstra ser geradora de lembranças positivas ou de sofrimentos? Justifique sua resposta.

      Sofrimentos. A memória é comparada a um rio caudaloso, onde o eu lírico sente-se submerso e asfixiado, ou seja, sofre com as memórias que não o abandonam.

02 – Interprete o sentido do último verso do poema.

      O esquecimento é visto, no poema, como uma possibilidade de livrar o eu lírico de seu sofrimento, de ele poder viver tranquilamente a partir do momento em que se esquecer das memórias que trazem dor.

03 – É possível afirmar que o poema apresenta um aproveitamento das ideias freudianas? Explique seu ponto de vista.

      Sim, pois o tema do sofrimento gerado pela memória aparece no poema e está implícita também a ideia de que o ser humano não controla totalmente suas lembranças: o inconsciente também age sobre ele, por isso não basta querer esquecer, não depende apenas da vontade consciente de alguém o ato de esquecer.


POEMA: CANTEM OUTROS A CLARA COR VIRENTE- ALPHONSUS DE GUIMARAENS - COM GABARITO

 Poema: Cantem outros a clara cor virente

              Alphonsus de Guimaraens

Cantem outros a clara cor virente

Do bosque em flor e a luz do dia eterno...

Envoltos nos clarões fulvos do oriente,

Cantem a primavera: eu canto o inverno.

 

Para muitos o imoto céu clemente

É um manto de carinho suave e terno:

Cantam a vida, e nenhum deles sente

Que decantando vai o próprio inferno.

 

Cantem esta mansão, onde entre prantos

Cada um espera o sepulcral punhado

De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos...

 

Cada um de nós é a bússola sem norte.

Sempre o presente pior do que o passado.

Cantem outros a vida: eu canto a morte...

GUIMARAENS, Alphonsus de. Cantem outros a clara cor virente. Disponível em: http://www.camarabrasileira.com/alphonsus.htm. Acesso em: 4 nov. 2009.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 260.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Virente: florescente, próspera.

·        Fulvos: louros, ocres.

·        Imoto: sem movimento, imóvel.

·        Decantando: separando, isolando.

02 – Identifique no poema um recurso expressivo usado pelo poeta para a sonoridade em seu poema.

      O poeta usa a aliteração em /c/ e /p/ e a assonância em /e/ e /o/ para criar a sonoridade em seu poema, como se vê em: Cantem Clara Cor; Cada um esPera o sePulCral Punhado; cantEm Esta mansãO, OndE EntrE prantOs; quE dEcantandO vai O prÓpriO infernO; entre outros.

03 – Qual o tema/assunto do poema? Que símbolo sintetiza o tema?

      O poema tem como tema a morte, a opção do eu lírico em não tematizar a vida, como fazem outros poetas, mas sim a morte. O símbolo que sintetiza o tema é “inverno”.

04 – O que representa no poema o ato de “cantar”?

      O ato de cantar representa discutir, trabalhar, ter como preocupação central, tematizar.

05 – É possível estabelecer uma relação entre os recursos expressivos usados pelo poeta e o tema geral do poema? Justifique sua resposta.

      Sim. O tema do poema é a morte e a escolha da alternância entre sons abertos e fechados, /e/ e /o/, além do ritmo marcado fortemente pela aliteração em /c/ e /p/, propõe uma relação de alternância: o poeta poderia escolher entre vida e morte, mas sua opção, como comprova a estrofe final do soneto, é pela morte, uma escolha pessimista que os sons do poema reforçam.

 

POEMA: EM SONHOS - CRUZ E SOUSA - COM GABARITO

Poema: EM SONHOS

             Cruz e Sousa

Nos Santos óleos do luar, floria
Teu corpo ideal, com o resplendor da Helade…
E em toda a etérea, branda claridade
Como que erravam fluidos de harmonia…

As Águias imortais da Fantasia
Deram-te as asas e a serenidade
Para galgar, subir a Imensidade
Onde o clarão d e tantos sóis radia.

Do espaço pelos límpidos velinos
Os Astros vieram claros, cristalinos,
Com chamas, vibrações, do alto, cantando…

Nos santos óleos do luar envolto
Teu corpo era o Astro nas esferas solto
Mais Sóis e mais Estrelas fecundando!

          CRUZ E SOUSA, João da. Em sonhos. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 66.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 258-9.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Helade: referência à Grécia, ao mundo helênico.

·        Etérea: elevada, sublime, que pertence à esfera celestial.

·        Velinos: pergaminhos finos, papéis.

02 – Muitos dos termos usados no poema são imagens que remetem direta ou indiretamente à claridade. Localize, no poema, palavras que comprovem essa afirmação e indique a qual tema simbolista essa escolha vocabular faz referência.

      Muitos vocábulos remetem à cor branca no poema: luar, resplendor, claridade, clarão, sóis, límpidos, astros, claros, cristalinos, chamas, Astro, sóis, Estrelas.

03 – Nos poemas de Cruz e Sousa, é comum o uso de letras maiúsculas para reforçar o sentido de alguns termos. Releia os substantivos que aparecem com letra maiúscula e aponte sua relação com o tema do poema.

      No poema, aparecem em letra maiúscula os termos que fazem referência ao plano superior, da transcendência, do alto: santos, águias, fantasia, imensidade, astros, sóis e estrelas.

04 – O verso final do poema traz a palavra “fecundando”, responsável por trazer ao poema uma simbologia complementar à tentação principal do soneto: a referência à sensualidade. Releia o poema a partir do último verso e identifique outras imagens que também remetem à sensualidade.

      Há várias imagens no soneto que podem ser associadas à sensualidade, como as que se referem à fertilidade, como floria e fecundando; as que se referem ao fogo, ao erotismo, como clarão, sóis, chamas; as que remetem ao movimento de subida, de excitação, como asas, galgar, subir, alto.

05 – Um dos traços marcantes da poesia simbolista é o trabalho com a sugestão, com a ambiguidade do símbolo. É possível afirmar que esse traço se encontra presente no poema de Cruz e Sousa? Por quê?

      Sim. Muitas imagens usadas pelo poeta são ambíguas, remetendo ao mesmo tempo à transcendência e à sensualidade, à ascendência do espírito e ao movimento para o alto, erótico.

  

POEMA: VIDA OBSCURA - CRUZ E SOUSA - COM GABARITO

 Poema: Vida obscura

               Cruz e Sousa

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro
ó ser humilde entre os humildes seres,
embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro
a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sofrimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo,

Mas eu que sempre te segui os passos
sei que a cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!

 SOUSA, João da Cruz e. Vida Obscura. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 181.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 257-8.

Entendendo o poema:

01 – O trocadilho entre obscuro/escuro indicia para o leitor a temática do poema. Qual é ela?

      A obscuridade, ou seja, o anonimato em que os seres humildes têm que viver. O jogo entre obscuro/escuro leva à interpretação de que, entre esses seres condenados ao esquecimento, estariam os homens negros como o próprio poeta.

02 – O eu lírico se dirige, ao longo do poema, a um interlocutor genérico. Na última estrofe, porém, ele compara esse interlocutor a uma figura religiosa. Que figura é essa e que semelhanças permitem ao poeta realizar essa aproximação?

      Essa figura seria Cristo, que carreou uma “cruz infernal”, assim como os pobres e marginalizados socialmente, que vivem esquecidos. Esse sofrimento e o fato de suportarem calados o seu fardo aproximaria os marginais da figura de Cristo.

03 – Uma das figuras de linguagem preferidas pelos simbolistas era a sinestesia, pelo efeito de sugestão que ela era capaz de impor ao poema. Localize, no poema, a sinestesia presente.

      A sinestesia encontra-se no primeiro verso da segunda estrofe: silêncio escuro. Há aí uma mistura entre um sentido que se apreende pela audição – o silêncio – unido a um sentido que se apreende pela visão – escuro – o que caracteriza o efeito sinestésico, de mistura de sentidos.

04 – A poesia simbolista, para alguns críticos literários, é vista como descompromissada com a denúncia de problemas sociais. Observando o texto, você concorda com essa afirmação ou discorda dela? Justifique sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Discordo, porque o texto mostra um poema em que Cruz e Sousa tematiza e discute o lugar dos pobres na sociedade.

 

 

POEMA: EPÍGRAFE - EUGÉNIO DE CASTRO - COM GABARITO

Poema: Epígrafe

             Eugénio de Castro

 

Murmúrio de água na clepsidra gotejante,

Lentas gotas de som no relógio da torre,

Fio de areia na ampulheta vigilante,

Leve sombra azulando a pedra do quadrante,

Assim se escoa a hora, assim se vive e morre…

 

Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida,

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?

Procuremos somente a Beleza, que a vida

É um punhado infantil de areia ressequida,

Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa…

Eugénio de Castro. Antologia pessoal da poesia portuguesa.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 254.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Epígrafe: inscrição colocada no ponto mais alto; tema.

·        Pedra do quadrante: parte superior de um relógio de sol.

02 – A imagem contida em “lentas gotas de som” é retomada na segunda estrofe por meio da expressão:

a)   Tanta ameaça.

b)   Som de bronze.

c)   Punhado de areia.

d)   Sombra que passa.

e)   Somente a Beleza.

03 – Neste poema, o que leva o poeta a questionar determinadas ações humanas (versos 6 e 7) é a:

a)   Infantilidade do ser humano.

b)   Destruição da natureza.

c)   Exaltação da violência.

d)   Inutilidade do trabalho.

e)   Brevidade da vida.

 

SONETO: CLEPSIDRA - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Soneto: Clepsidra    

              Camilo Pessanha

Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais?

Que passais como a água cristalina

Por uma fonte para nunca mais!...

 

Ou para o lago escuro onde termina

Vosso curso, silente de juncais,

E o vago medo angustioso domina, ­

Porque ides sem mim, não me levais?

 

Sem vós o que são os meus olhos abertos? ­

-- O espelho inútil, meus olhos pagãos!

Aridez de sucessivos desertos...

 

Fica sequer, sombra das minhas mãos,

Flexão casual de meus dedos incertos, ­

-- Estranha sombra em movimentos vãos.

PESSANHA, Camilo. Clepsidra. Instituto português do livro e da leitura. Biblioteca Ulisseia de autores portugueses, p. 59, s/d.

Fonte da imagem - https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_DQsQwzQAOjYs_HuU03EruU9jK3Z5NdRAWTIM0zhx2PFx5UFI-rYbe6tJiM7ZRNp1kDMsKKtIfWBRFaiKych34cA_NHf8en0c5hwIF51RdSSsx85oPHcKunZLap_eRjbJXDUhank_msy-7yV5w75N7hKme-qImfKSgaQU_iGMrJJnll2CKA_34Hzs/s1600/LIRIOS.jpg

MONET, Claude. Water Lilies (lírios de água). 1906. 1 óleo sobre tela. The Art Institute of Chicago, Chicago.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 253-4.

Entendendo o soneto e a tela:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Silente: calado, silencioso.

·        Juncais: aglomerados de juncos, plantas.

02 – O tema do olhar é bastante explorado no poema. Selecione elementos do poema que comprovem essa afirmação.

      Há um uso de vocábulos que fazem referência direta ou indireta ao tema do olhar, como imagens retina e a reiteração do termo “olhos”.

03 – Na primeira estrofe do poema de Camilo Pessanha, há uma antítese que faz referência ao tema do poema. Identifique a antítese e o tema do poema.

      Passais/fixais. O tema do poema é a transitoriedade da vida, a passagem do tempo. Esse tema vem representado na antítese que mostra que tudo passa, nada se fixa por muito tempo, assim como ocorre com as imagens que o eu lírico vê.

04 – Ao longo do poema, o eu lírico dialoga com as imagens que vê. Que imagens são essas?

      São imagens que fazem referência à água – água cristalina, fonte, lago, curso (de rio, de água).

05 – Que relação é possível estabelecer entre o poema e a tela de Monet?

      Ambos usam a imagem da água em suas obras. Além disso, ambos trabalham a temática do olhar. No soneto, o eu lírico reflete sobre as imagens que vê, enquanto a tela de Monet expõe um olhar sobre a natureza.

06 – O fato de o poema trabalhar com a descrição de imagens contradiz a ideia simbolista de privilegiar a subjetividade e deixar a objetividade em segundo plano? Justifique sua resposta.

      Embora o poema trabalhe com a descrição de imagens, não há contradição, pois essas imagens são descritas de modo subjetivo. O uso das imagens e as perguntas que o eu lírico dirige à natureza visam ao questionamento da passagem do tempo, da vida, e não a uma representação fiel daquilo que é observado.

07 – Interprete, no contexto do poema, o sentido do verso que encerra a segunda estrofe: “—Porque ides sem mim, não me levais?” Em que tema comum ao Simbolismo esse verso se encaixa?

      O sentido do verso é a resignação do eu lírico em relação à passagem do tempo. Já que ela é inevitável, ele deseja a morte, ser levado com o curso das águas. Esse verso se encaixa na temática simbolista da “dor de existir” e do pessimismo. A morte é condição para a transcendência, para a libertação do espírito.

08 – A musicalidade é apontada como uma das características marcantes da poesia de Camilo Pessanha. No poema, os recursos usados pelo poeta para construir essa musicalidade vêm diretamente relacionados aos temas e símbolos trabalhados por ele. Identifique, no poema, exemplos de cada um dos recursos listados a seguir:

·        Rimas que confirmam o tom lamentoso do poema: fixais/mais/juncais/levais. Todas elas têm dentro de si a palavra “ais”, ou seja, fazem referência à dor.

·        Uso da aliteração do fonema /s/ para representar o fluir contínuo das águas: imagenS, paSSaiS, doS, meuS, olhoS, voS, fixaiS, criStalina, maiS, eScuro, voSSo, curSo, Silente, juncaiS, anguStioso, ideS, Sem, levaiS, vóS, São, pagãoS, arideZ, etc.

·        Palavras que contêm som abertos para representar o fluir da vida: Imagens, passais, fixais, água, mais, cristalina, levais.

·        Palavras que contêm sons fechados para representar o temor da morte: Escuro, curso, medo, angustioso, pagãos, sucessivos, sombra, vãos.

09 – O impressionismo foi um movimento artístico contemporâneo do Simbolismo. Na pintura impressionista, a pincelada solta busca representar o momento, a impressão da luz sobre a realidade apreendida pelo pintor num momento específico. Pintores como Claude Monet representaram muitas vezes suas impressões sobre a natureza a partir de símbolos. Os “lírios de água” citados no título são símbolos usuais da pureza, da inocência. A partir dessas informações responda: que atmosfera sobressai da tela de Monet?

      Uma atmosfera de tranquilidade, de encontro com a natureza, admiração por ela.

10 – A partir de sua análise do poema e da tela de Monet você diria que ocorre complementação ou contradição de ideias entre eles? Justifique sua resposta.

      Tanto se pode afirmar que há convergência, pois ambos veem na natureza o símbolo da passagem do tempo, quanto é possível afirmar que há contradição, pois o poema apresentaria uma visão pessimista sobre a passagem do tempo que a pintura não parece representar. Vale lembrar que os lírios costumam simbolizar a pureza, a inocência, a paz.

 

POEMA: PAISAGENS DE INVERNO II - CAMILO PESSANHA - COM GABARITO

 Poema: PAISAGENS DE INVERNO II

              Camilo Pessanha       

Passou o Outono já, já torna o frio...
— Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado...
— O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio, 
Fugindo sob o meu olhar cansado, 
Para onde me levais meu vão cuidado? 
Aonde vais, meu coração vazio?

Ficai, cabelos dela, flutuando, 
E, debaixo das águas fugidias, 
Os seus olhos abertos e cismando...

Onde ides a correr, melancolias?
— E, refratadas, longamente ondeando,
As suas mãos translúcidas e frias...

Camilo Pessanha. Paisagem de inverno II. In: Clepsidra. Instituto português do livro e da leitura. Biblioteca Ulisseia de autores portugueses, p. 45, s/d.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 252-3.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema do texto?

      A passagem do tempo e, de modo mais amplo, o envelhecimento e a morte.

02 – Quais os símbolos centrais usados no texto para trabalhar o tema? Que interpretação é possível dar a eles?

      O inverno e o rio, ou a água de forma ampla, são os símbolos centrais trabalhados no texto. Por meio deles, o eu lírico discute a passagem do tempo que conduz ao envelhecimento e à morte.

03 – Nos dois tercetos do texto, surge uma imagem feminina. O que o poema sugere que ocorreu com ela? Comprove sua resposta com elementos do próprio texto.

      O poema sugere que ela morreu, pois seus cabelos flutuam, seus olhos estão abertos e suas mãos, translúcidas e frias. Parece ser a descrição de um cadáver. Por outro lado, pode-se tomar a descrição como uma metáfora: o rio leva a lembrança da amada, que estaria “morta” para o eu lírico em sua memória e em seu coração.

04 – Após a leitura do texto, é possível apontar um diálogo intertextual? Por quê? Explique seu ponto de vista.

      Sim. Porque o texto trabalha a passagem do tempo representada a partir da imagem do escoar de águas. No poema, o rio leva a amada, morta metafórica ou literalmente.