domingo, 19 de junho de 2022

POEMA: QUEBRANTO - CUTI - COM GABARITO

 Poema: Quebranto 

            Cuti


às vezes sou o policial que me suspeito

me peço documentos

e mesmo de posse deles

me prendo

e me dou porrada

 

às vezes sou o zelador

não me deixando entrar em mim mesmo

a não ser

pela porta de serviço

 

às vezes sou o meu próprio delito

o corpo de jurados

a punição que vem com o veredicto

 

às vezes sou o amor que me viro o rosto

o quebranto

o encosto

a solidão primitiva

que me envolvo no vazio

 

às vezes as migalhas do que sonhei e não comi

outras o bem-te-vi com olhos vidrados trinando tristezas

 

um dia fui abolição que me lancei de supetão no espanto

depois um imperador deposto

a república de conchavos no coração

e em seguida uma constituição

que me promulgo a cada instante

também a violência dum impulso

que me ponho do avesso

com acessos de cal e gesso

chego a ser

 

às vezes faço questão de não me ver

e entupido com a visão deles

me sinto a miséria concebida como um eterno

começo

 

fecho-me o cerco

sendo o gesto que me nego

a pinga que me bebo e me embebedo

o dedo que me aponto

e denuncio

o ponto em que me entrego.

 

às vezes!...

Cadernos negros: Os melhores poemas. São Paulo: Quilombhoje, 1998. p. 48.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 92-3.

Entendendo o poema:

01 – Releia as quatro primeiras estrofes do poema. Segundo o texto, que papéis o sujeito poético assume em diferentes circunstâncias de sua vida?

      Às vezes ele assume o papel de policial, que reprime mesmo sem motivos; às vezes assume o papel de zelador, exercendo discriminação contra si mesmo; às vezes assume o papel de crime (que não cometeu) e da justiça (que condena injustamente); e, por fim, às vezes assume o papel do amor preconceituoso, que o abandona à própria solidão.

02 – Releia a estrofe a seguir:

“às vezes sou o zelador

não me deixando entrar em mim mesmo

a não ser

pela porta de serviço”

Agora explique: como você entende esses versos? Que contexto eles sugerem?

      Os versos remetem a uma situação de desigualdade e de preconceito. O entrar pela “porta de serviço” aponta para a humilhação muitas vezes imposta de não se poder usar a “porta social”, o que sugere a oposição casa grande & senzala, existente no passado.

03 – Releia estes versos:

“às vezes as migalhas do que sonhei e não comi

outras o bem-te-vi com olhos vidrados trinando tristezas”

a)   Que verbo está implícito neles?

O verbo implícito, nos dois versos, é o ser. Às vezes (sou) a migalha do que sonhei e não comi / outras (sou) o bem-te-vi com olhos vidrados trinando tristezas.

b)   Que recursos de linguagem são usados pelo autor no segundo verso dessa estrofe?

O autor faz uso da comparação (outras como o bem-te-vi) e também da aliteração, figura de linguagem em que se repetem os sons consonantais (outras o bem-te-vi com olhos vidrados trinando tristezas.)

04 – O poema faz referências claras à história do Brasil, sugerindo que os negros sempre estiveram à margem dos processos históricos, sofrendo duramente as suas consequências. À luz dessa perspectiva, interprete o verso: “um dia fui abolição que me lancei de supetão no espanto”.

      O verso refere-se ao modo como foi conduzida a abolição dos escravos no Brasil. O sujeito poético, que assume a sua afrodescendência, coloca-se no lugar de seus antepassados que, depois da abolição, ficaram sem lugar social, pois não houve políticas públicas para sua integração no universo do trabalho assalariado. Como se sabe, esse fato está na base da exclusão social dos negros que se perpetua até hoje.

05 – Releia com atenção os seguintes versos:

“às vezes faço questão de não me ver

e entupido com a visão deles

me sinto a miséria concebida como um eterno

começo”.

Quem seriam “eles”, os responsáveis por formular uma determinada visão capaz de “entupir” o sujeito poético?

      O pronome “eles” pode ser entendido como “os outros” – os não negros –, que veiculam uma visão negativa em relação aos afrodescendentes. Trata-se de uma visão hegemônica em nossa sociedade, reiterada nos jornais, nos programas de televisão, nas novelas, enfim, nos meios de comunicação que frequentemente (re)produzem uma visão estereotipada sobre o negro.

06 – O poema apresenta um tom melancólico, decorrente do pessimismo expresso pelo eu lírico. Porém, essa visão negativa é relativa é relativizada no último verso do poema: “Às vezes!...”. Explique por que isso acontece.

      O último verso do poema – “Às vezes!...” – enfatiza que a percepção negativa que o eu lírico tem de si mesmo não é permanente, mas ocasional, ocorrendo apenas “às vezes”. Essa constatação nos dá margem para imaginar que, em outras situações, o que acontece é justamente o contrário – a sua autovalorização. As reticências que finalizam o texto sugerem justamente a continuidade da reflexão proposta.

07 – Você sabe o que significa “quebranto”? Confira o sentido da palavra no dicionário e, depois, elabore uma hipótese para explicar por que o termo foi escolhido para dar título ao poema.

      O significado de “quebranto” é “mau-olhado”, ou seja, um suposto efeito malévolo que a atitude ou o olhar de algumas pessoas produzem em outras. O poema chama-se “quebranto” exatamente porque aborda o efeito negativo que a perspectiva hegemônica de desvalorização do negro exerce sobre o sujeito poético, fazendo com que ele interiorize o preconceito veiculado socialmente.

POEMA: SAUDADES DO ESCRAVO - LUIZ GAMA - COM GABARITO

 Poema: SAUDADES DO ESCRAVO

            Luiz Gama

Escravo – não, não morri

Nos ferros da escravidão;

Lá nos palmares vivi,

Tenho livre o coração!

Nas minhas carnes rasgadas,

Nas faces ensanguentadas

Sinto as torturas de cá;

Deste corpo desgraçado

Meu espírito soltado

Não partiu – ficou-me lá!...

 

Naquelas quentes areias

Naquela terra de fogo,

Onde livre de cadeias

Eu corria em desafogo...

Lá nos confins do horizonte...

Lá nas alturas do céu...

De sobre a mata florida

Esta minh’alma perdida

Não veio – só parti eu.

 

A liberdade que eu tive

Por escravo não perdi-a;

Minh’alma que lá só vive

Tornou-me a face sombria,

O zunir do fero açoite

Por estas sombras da noite

Não chega, não, aos palmares!

Lá tenho terras e flores...

Nuvens e céus... os meus lares!

 

[...]

 

Escravo – não, ainda vivo,

Inda espero a morte ali;

Sou livre embora cativo,

Sou livre, inda não morri!

Meu coração bate ainda

Nesse bater que não finda;

Sou homem – Deus o dirá!

Deste corpo desgraçado

Meu espírito soltado

Não partiu – ficou-me lá!

São Paulo, 1850.

GAMA, Luiz. Primeiras trovas burlescas e outros poemas. Edição preparada por Lígia Fonseca Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 162-164. Fragmento.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 90.

Entendendo o poema:

01 – Quem é o eu lírico do poema? Justifique com base no texto.

      É um homem negro, um escravo que vive cativo, mas sente sua alma livre.

02 – No poema, é possível notar uma oposição entre um “lá” e um “cá”, num diálogo intertextual com a Canção do exílio de Gonçalves Dias. No poema gonçalvino, o “lá” era representado pelo Brasil e o “cá” representado por Portugal. Identifique os lugares representados pelo “lá” e pelo “cá” no poema de Luiz Gama.

      O “lá” é o lugar da liberdade: o quilombo dos Palmares (Lá nos palmares vivi). Já o “cá” é o lugar da escravidão, a senzala (Nas faces ensanguentadas / Sinto as torturas de cá).

03 – O eu lírico apresenta idealismo em seu poema, ao separar o corpo da alma, com privilégio da alma sobre o corpo. Qual a importância desse idealismo no contexto de escravidão do poema?

      Esse idealismo é responsável por reiterar a liberdade: embora o corpo do eu lírico possa estar escravo, sua alma é livre, como ele expressa no trecho: “A liberdade que eu tive / Por escravo não perdi-a: / Minh’alma que lá só vive”. Ou seja, ainda que cativo, a alma do escravo não se rende e se recusa a abandonar a esperança de liberdade, vagando pelo “lá” onde era livre.

04 – Considerando suas respostas aos itens anteriores, é possível ou não afirmar que se trata de um poema de resistência? Justifique.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, trata-se um poema de resistência. A própria citação do Quilombo dos Palmares corrobora essa leitura, já que esse foi um lugar de união e luta conjunta dos escravos contra a realidade escravista. Afora isso, o eu lírico não apresenta uma postura de resignação em relação à escravidão, mas luta pela liberdade, alimentando-se da memória dos tempos em que viveu livre, recusando-se a aprisionar sua alma.

POEMA: SE EU MORRESSE AMANHÃ - ÁLVARES DE AZEVEDO - COM GABARITO

 Poema: SE EU MORRESSE AMANHà

              Álvares de Azevedo

Se eu morresse amanhã, viria ao menos

Fechar meus olhos minha triste irmã;

Minha mãe de saudade morreria

Se eu morresse amanhã!

 

Quanta glória pressinto em meu futuro!

Que aurora de porvir e que manhã!

Eu perdera chorando essas coroas

Se eu morresse amanhã!

 

Que sol! Que céu azul! Que doce n’alva

Acorda a natureza mais louçã!

Não me batera tanto amor no peito

Se eu morresse amanhã!

 

Mas essa dor da vida que devora

A ânsia de glória, o dolorido afã...

A dor no peito emudecera ao menos

Se eu morresse amanhã!

AZEVEDO, Álvares de. Cadernos Poesia brasileira: Romantismo. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1995. p. 18.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 79-80.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Louçã: bela, viçosa.

·        Afã: trabalho, empenho.

02 – Identifique como estão distribuídas as rimas no poema.

      Apenas os segundos versos do poema rimam com o quarto, que funciona como um refrão, repetido ao final de cada estrofe.

03 – Qual é a métrica apresenta no poema?

      O poema é composto por versos decassílabos, à exceção do refrão, que é composto por uma redondilha maior: Se eu/mor/res/se a/ma/nhã, vi/ri/a ao /me/nos; Fe/char/meus/olhos/mi/nha/tris/te ir/mã (dez cada); Se/eu/mor/res/se a/ma/nhã (sete).

04 – O título do poema funciona também como refrão. Que efeito de sentido essa repetição, associada ao ritmo, produz no poema?

      O ritmo do refrão é diferente dos demais versos, como se constata no item 3. Aliada a isso, a repetição do título na forma de refrão faz com que a frase “Se eu morresse amanhã” se torne uma ladainha, uma lamentação, mas também uma espécie de desejo, muitas vezes repetido.

05 – O eu lírico apresenta-se dividido: de um lado lamenta perder a vida, de outro, vislumbra algumas vantagens em sua morte. O que ele lamenta perder e o que vê como vantagem?

      O eu lírico lamenta causar sofrimento à mãe e à irmã, perder as glórias futuras e o contato com a natureza; por outro lado, acredita que a morte seria capaz de terminar com a “dor no peito”.

06 – Relacione esse poema às características do ultrarromantismo.

      O poema de Álvares de Azevedo é típico do ultrarromantismo: apresenta o sentimento de spleen, descontentamento com a vida, a temática é mórbida, o tom, melancólico

CRÔNICA: A CHAVE DO TAMANHO - JOSÉ GERALDO COUTO - COM GABARITO

 Crônica: A chave do tamanho

             José Geraldo Couto

        No futebol brasileiro, o “ao” e o “inho” expressam muito mais do que a mera estatura dos jogadores


        A grande contratação do Corinthians para tentar se reerguer, por enquanto, é o zagueiro Chicão, ex-Figueirense, que já chega ao clube suspenso por duas partidas.

        Como o novo contratado vem se juntar a Betão, Zelão e Carlão, fiquei pensando nessa fartura de nomes no aumentativo num time que já teve dias melhores com jogadores como Tupãzinho, Silvinho, Marcelinho e Ricardinho.

        Na história do futebol brasileiro, é muito mais fácil encontrar craques cujo nome termina em "inho" do que em "ão".

        Por que será?

        Talvez porque o aumentativo geralmente conote força física, disposição e uma certa brutalidade, mas raramente esteja associado a uma técnica refinada.

        De um lado, Ditão, Betão, Ronaldão, Chicão.

        Do outro, Julinho, Luizinho, Marcelinho, Palhinha, Juninho, Djalminha, Ronaldinho...

        À primeira vista poderia haver uma divisão de trabalho baseada nessa "chave do tamanho".

        Os grandões na defesa, os baixinhos no ataque.

        Mas não é bem assim.

        Houve zagueiros de primeira ordem com nomes no diminutivo –Edinho, Marinho Peres, Luisinho (do Atlético-MG e da seleção brasileira) – assim como bons atacantes terminados em "ão": Luizão, Fernandão.

        Deixo de fora dessa brincadeira, é claro, os nomes e apelidos que terminam em "ão" mas não são aumentativos: Tostão, Falcão, Alemão.

        O interessante é notar como o "ão" e o "inho" têm a ver com a nossa cultura luso-afro-brasileira, com o nosso jeito e com o nosso afeto.

        O ditongo "ão" é um som que praticamente só existe na língua portuguesa. Se você estiver numa cidade estrangeira e captar numa conversa alheia um "ão" bem anasalado, pode saber que ali está um português, um brasileiro ou um africano de ex-colônia lusa.

        Já o "inho", a tendência de nomear tudo no diminutivo, que encantou sábios como Mário de Andrade e Darcy Ribeiro, é uma característica da nossa afetividade luso-afro-brasileira.

        "Tudo aquilo que o malandro pronuncia/ com voz macia/ é brasileiro, / já passou de português", cantou Noel.

        O modo mais carinhoso e encantador de modular esse diminutivo talvez seja o mineiro: "Miguelim", "um bocadim", "amorzim".

        Para quem trabalha com a linguagem verbal, o nome das coisas e dos seres é tudo.

        Quando chamamos alguém pelo aumentativo, exprimimos respeito e, quem sabe, temor. Usando o diminutivo, comunicamos carinho, fazemos um afago com a voz, mesmo que involuntariamente.

        Parte da tragédia social em que estamos afundados se revela no fato de chamarmos bandidos inescrupulosos de "Fernandinho Beira-Mar", "Marcinho VP" e outros apelidos semelhantes.

        Talvez seja um modo de reconhecer que esses meninos-monstros são frutos do nosso ventre, são os rebentos que, em nossa infinita negligência, colocamos no mundo.

        Mas do que estávamos falando mesmo?

          COUTO, José Geraldo. A chave do tamanho. Folha de S. Paulo, Caderno Esportes, D4, 15 dez. 2007.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 122-3.

Entendendo a crônica:

01 – A crônica reflete sobre o uso de sufixos diminutivos e aumentativos empregados em um universo específico. Que universo é esse?

      É o universo do futebol, já que são discutidos os nomes pelos quais chamamos os jogadores.

02 – Identifique a hipótese elaborada pelo autor do texto para justificar a existência de um maior número de craques cujos nomes terminam em –inho.

      Segundo o autor do texto, isso aconteceria porque o sufixo –inho estaria relacionado à “técnica refinada” e o sufixo –ão estaria identificado com força física, disposição e brutalidade. Assim, os jogadores cujos nomes terminam em –inho estariam no ataque (fazendo gols) e os jogadores cujos nomes terminam em –ão estariam na defesa (possuindo menor visibilidade).

03 – Ao afirmar “Mas não é bem assim”, o autor do texto relativiza a hipótese anteriormente formulada e tece considerações sobre a “cultura luso-afro-brasileira”. O que expressariam os nomes próprios terminados em –inho e –ão no interior dessa cultura?

      Os nomes terminados em –ão expressariam respeito e temor; os terminados em –inho expressariam carinho e afeto.

04 – Ainda segundo o autor do texto, parte da tragédia social brasileira se revela no fato de chamarmos bandidos de “Fernandinho Beira-Mar” e “Marcinho VP”. O que ele quis dizer com isso?

      Ele quis dizer que há certa afetividade no modo como chamamos essas pessoas. Em última instância, isso poderia indicar nossa complacência e tolerância com o crime.

05 – Justifique o título do texto.

      O título se justifica porque o texto se propõe a interpretar os sentidos do uso de sufixos diminutivos e aumentativos na língua portuguesa, especialmente no universo do futebol. Assim, encontrar a “chave do tamanho” seria justamente compreender o sentido da escolha dos nomes dos jogadores.

 

 

PEÇA TEATRAL: O NOVIÇO (FRAGMENTO) - MARTINS PENA - COM GABARITO

 Peça teatral: O noviço (Fragmento)

                     Martins Pena

CENA VII

        Carlos, com hábito de noviço, entra assustado e fecha a porta.

        EMÍLIA, assustando-se — Ah, quem é? Carlos!

        CARLOS — Cala-te

        EMÍLIA — Meu Deus, o que tens, por que estás tão assustado? O que foi?

        CARLOS — Aonde está minha tia, e o teu padrasto?

        EMÍLIA — Lá em cima. Mas o que tens?

        CARLOS — Fugi do convento, e aí vêm eles atrás de mim.

        EMÍLIA — Fugiste? E por que motivo?

        CARLOS — Por que motivo? pois faltam motivos para se fugir de um convento? O último foi o jejum em que vivo há sete dias... Vê como tenho esta barriga, vai a sumir-se. Desde sexta-feira passada que não mastigo pedaço que valha a pena.

        EMÍLIA — Coitado!

        CARLOS — Hoje, já não podendo, questionei com o D. Abade. Palavras puxam palavras; dize tu, direi eu, e por fim de contas arrumei-lhe uma cabeçada, que o atirei por esses ares.

        EMÍLIA — O que fizestes, louco?

        CARLOS — E que culpa tenho eu, se tenho a cabeça esquentada? Para que querem violentar minhas inclinações? Não nasci para frade, não tenho jeito nenhum para estar horas inteiras no coro a rezar com os braços encruzados. Não me vai o gosto para aí... Não posso jejuar; tenho, pelo menos três vezes ao dia, uma fome de todos os diabos. Militar é que eu quisera ser; para aí chama-me a inclinação. Bordoadas, espadeiradas, rusgas é que me regalam; esse é o meu gênio. Gosto de teatro, e de lá ninguém vai ao teatro, à exceção de Frei Maurício, que frequenta a plateia de casaca e cabelereira para esconder a coroa.

        EMÍLIA — Pobre Carlos, como terás passado estes seis meses de noviciado!

        CARLOS — Seis meses de martírio! Não que a vida de frade seja má; boa é ela para quem a sabe gozar e que para ela nasceu; mas eu, priminha, eu que tenho para tal vidinha negação completa, não posso!

        EMÍLIA — E os nossos parentes quando nos obrigam a seguir uma carreira para a qual não temos inclinação alguma, dizem que o tempo acostumar-nos-á.

        CARLOS — O tempo acostumar! Eis aí porque vemos entre nós tantos absurdos e disparates. Este tem jeito para sapateiro: pois vá estudar medicina... Excelente médico! Aquele tem inclinação para cômico: pois não senhor, será político... Ora, ainda isso vá. Esse outro só tem jeito para caiador ou borrador: nada, é ofício que não presta... Seja diplomata, que borra tudo quanto faz. Aqueloutro chama-lhe toda a propensão para a ladroeira; manda o bom senso que se corrija o sujeitinho, mas isso não se faz; seja tesoureiro de repartição fiscal, e lá se vão os cofres da nação à garra... Esse outro tem uma grande carga de preguiça e indolência e só serviria para leigo de convento, no entanto vemos o bom do mandrião empregado público, comendo com as mãos encruzadas sobre a pança o pingue ordenado da nação.

        EMÍLIA — Tens muita razão; assim é.

        CARLOS — Este nasceu para poeta ou escritor, com uma imaginação fogosa e independente, capaz de grandes cousas, mas não pode seguir a sua inclinação, porque poetas e escritores morrem de miséria, no Brasil. E assim o obriga a necessidade a ser o mais somenos amanuense em uma repartição pública e a copiar cinco horas por dia os mais soníferos papéis. O que acontece? Em breve matam-lhe a inteligência e fazem do homem pensante máquina estúpida, e assim se gasta uma vida? É preciso, é já tempo que alguém olhe para isso, e alguém que possa.

        [...]

 PENA, Martins. O noviço. Apresentação, comentários e notas de José de Paula Ramos Jr. São Paulo: Ateliê Editorial, 1996. p. 62-5.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 115-6.

Entendendo a peça teatral:

01 – Quais os motivos alegados por Carlos para ter fugido do convento?

      A obrigação de jejuar, a discussão com o Abade, que terminou em agressão física, o fato de ter a cabeça “esquentada” por não ter nascido para a vida religiosa, querer ser militar e, por fim, o fato de gostar de teatro, divertimento ao qual poucos religiosos se dedicam – o Frei Maurício tem mesmo que se disfarçar para poder frequentar o teatro.

02 – Segundo Carlos, a vida de frade é má ou boa?

      Para ele, a vida de frade é boa para quem tem vocação. No caso dele, que não tem, é um martírio.

03 – Há uma crítica direta, na fala do noviço, contra o costume de os parentes escolherem a carreira dos jovens. Quais seriam os prejuízos desse costume?

      Segundo Carlos, esse costume faria com que se perdessem ótimas vocações e surgissem maus profissionais: um que tem vocação para sapateiro sairia um péssimo médico.

04 – Uma das funções da comédia de costumes é criticar a sociedade por meio do riso. Para tanto, um dos recursos usados por Martins Pena é a ironia. Explique a ironia presente no trecho: “Aquele tem inclinação para cômico: pois não, senhor, será político... Ora, ainda isso vá”.

      A ironia do trecho está no fato de Carlos afirmar que um cômico, ou seja, um comediante que se torne político seria aceitável, o que deixa implícito uma crítica à política, vista como uma farsa, uma comédia, algo a não ser levado a sério, ou seja, uma piada.

05 – A crítica ao patronato – o uso da riqueza, da influência e/ou do poder para favorecimento de um protegido, independentemente do mérito do candidato – é uma das marcas centrais da peça “O noviço”. Localize e explique uma crítica ao patronato presente na fala de Carlos.

      Há o exemplo da pessoa com vocação para caiador que vira diplomata, “borrando”, ou seja, manchando tudo o que faz; o exemplo do ladrão que se torna tesoureiro, que denuncia a propensão à corrupção: em vez de punir os desvios, muitas vezes a sociedade acaba por “premiar” aqueles que demonstram desonestidade, desde que tenham relações de patronato que os favoreça. Por fim, os preguiçosos que viram empregados públicos, engordando às custas da nação, ou seja, pouco trabalhando, mas sendo sustentados com o dinheiro público.

06 – Levando em consideração as críticas propostas por Carlos, você as considera atuais? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Algumas das críticas presentes na peça continuam atuais: muitos pais ainda interferem na escolha profissional de seus filhos, ainda há resquícios de patronato e favorecimento em nossa sociedade, etc.

 

QUADRO: A PÁTRIA - PEDRO BRUNO - COM GABARITO

 Quadro: A pátria

 

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BRUNO, Pedro. A pátria. 1 óleo sobre tela, color; Museu da República, Rio de Janeiro.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 94-5.

Entendendo o quadro:

01 – O que as mulheres estão fazendo?

      Costurando uma enorme bandeira do Brasil.

02 – O que fazem as duas crianças, à esquerda da pintura?

      As crianças estão brincando com a bandeira. A criança maior abraça a bandeira, num gesto afetivo, enquanto o bebê, no canto esquerdo, abaixo, brinca com uma das estrelas que será bordada na bandeira.

03 – Caracterize o ambiente em que se encontram as mulheres e as crianças.

      Trata-se de uma espécie de ateliê, mas que possui algo de doméstico: os quadros na parede, a mesa com uma imagem de santo.

04 – A ausência masculina, aliada à tarefa exercida pelas mulheres, permite uma leitura simbólica da pintura: o papel dos homens e das mulheres, na construção da pátria, seria de natureza diferente. Que papéis é possível inferir que cada um deveria exercer?

      Os homens estão ausente, são os mantenedores do lar, a eles caberia o papel de construir a pátria, agir fora do ambiente doméstico, no espaço público. Já às mulheres caberia o papel de zelar pela imagem da pátria, representada pela bandeira, e cuidar dos futuros cidadãos, ideia simbolizada pelas duas crianças, especialmente pelo bebê que brinca com uma estrela.

 

 

TIRA: GATO E GATA DECLARAÇÃO - LAERTE - COM GABARITO

 Tira: Gato e gata declaração

 

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               LAERTE. Gato e Gata. Disponível em: http://www.uol.com.br/laerte/tiras. Acesso em: 25 fev. 2009.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 53.

Entendendo a tira:

01 – Que elemento representa o sentimento da Gata no primeiro quadrinho? Como ela se sente?

      O formato do balão de fala da Gata – ele parece estar escorrendo, assim como a fala dela, o que revela o seu “derretimento” por Rônei, ou seja, ela se deixa envolver pela conversa do gato marrom.

02 – Como Rônei busca conquistar a Gata?

      Por meio de declarações de amor, frases cheias de ideias amorosas clichês, como uma “avalanche de frisson”, ou seja, uma avalanche de arrepios.

03 – O que o Gato chama de “denúncia”? Como Rônei se defende da denúncia?

      Ele denuncia que as frases que a Gata julga belas são, na verdade, extraídas de um livro. Rônei se defende dizendo que o livro é de autoria dele, ou seja, as frases são clichês, retiradas de um livro, mas quem escreveu foi ele próprio.

04 – Que conceitos românticos podem ser identificados na tira?

      O uso de frases belas e apaixonadas para conquistar o sexo oposto era um recurso presente em muitos dos folhetins românticos. Além disso, a própria ideia de triângulo amoroso é um clichês romântico.

05 – Esses conceitos foram trabalhados na tira com que objetivo: reiterar as ideias românticas ou satiriza-las? Justifique sua resposta.

      O objetivo da tira foi de satirizar o amor romântico, desvendando aos olhos do leitor os artifícios usados para a conquista amorosa: frases feitas consideradas bonitas. Ou seja, dizer o que se sabe que vai agradar e que é considerado bonito somente por se referir ao sentimento amoroso.

06 – Por que, em sua opinião, Laerte escolheu Gato e Gata como “nomes” dos personagens, também representados por esses animais?

      É comum homens e mulheres elogiarem o sexo oposto chamando a pessoa de “gata” e “gato”. O apelido carinhoso, no caso da tira, tornou-se literal, pois eles são mesmo um gato e uma gata, o que ajuda a gerar o humor da tira.

TIRA: GRUMP ORLANDELI - ESCRITA EM INTERNETÊS - COM GABARITO

 Tira: Grump Orlandeli

 

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Grump, Orlandeli.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 61.

Entendendo a tira:

01 – Releia a mensagem escrita em internetês no terceiro quadrinho e localize nela exemplos de:

·        Informalidade: A maneira de se referir ao tio, usando a expressão “falaaaaa tiunnnmm” (fala tio); também a maneira de encerrar a mensagem, sem despedir-se do tio e com uma sequência de hsuahu, usada para indicar risos.

·        Ortografia própria e uso de abreviações: Tiunm: tio; blz: beleza; axo: acho; q: que; naumm: não; dificium: difícil; aki: aqui; ksa: casa; nois: nós; aprendihh: aprende; juntu: junto.

·        Substituição de acentuação gráfica: Em eh, o h substitui o acento agudo de “é”, em difícil, a substituição é pela letra m, enquanto que em nós, optou-se por uma ortografia diferente, que se aproxima da fala e prescinde do acento: nois.

·        Uso de sinais: :-) – esse é o sinal mais conhecido, indica bom humor, alguma gozação. :p – esse sinal indica sarcasmo, indica que o interlocutor está “de língua pra fora”, debochando.

02 – Pesquise o significado dos sinais usados na mensagem do sobrinho e responda: ele levou a sério a pergunta do tio?

      A partir dos significados dos sinais, que indicam gozação, é possível inferir que o sobrinho está rindo do tio, não levou a sério sua pergunta, provavelmente não se interessa pelo assunto.

03 – Uma das marcas linguísticas do internetês é a ausência de pontuação ou um uso minimalista da pontuação. Por que, em sua opinião, o autor optou pelo contrário, pelo uso excessivo da pontuação? Justifique sua resposta.

      O deboche do sobrinho fica mais evidente dessa maneira; evidencia-se a informalidade da mensagem, além de o exagero servir para acentuar o humor da tira.

04 – Com base na sua experiência com as regras do internetês, traduza a mensagem que o sobrinho enviou para o tio.

      O sobrinho responde: Fala, tio! Beleza! (Gozação) Acho que não é difícil não! Passa aqui em casa que nós “aprende” junto. (Gozação) Risadas.

 

ROMANCE: A MORENINHA - CAPÍTULO 23 (FRAGMENTO) - JOAQUIM MANUEL DE MACEDO - COM GABARITO

 Romance: A moreninha – capítulo 23 (fragmento)

                    Joaquim Manuel de Macedo

        [...]

        -- Então... pede-me para sua esposa?...

        -- A senhora o ouviu há pouco.

        -- Pois bem, Sr. Augusto, veja como verificou-se o prognóstico que fiz do seu futuro! Não se lembra que aqui mesmo lhe disse “que não longe estava o dia em que o Sr. havia de esquecer sua mulher”?

        -- Mas eu nunca fui casado... murmurou o estudante!...

        -- Oh! isso é uma recomendação contra a sua constância!...

        -- E quem tem culpa de tudo, senhora?

        -- Muito a tempo ainda me lança em rosto a parte que tenho na sua infidelidade, pois, eu emendarei a mão agora. O senhor há de cumprir a palavra que deu há sete anos!

        Augusto recuou dois passos.

        -- O senhor é um moço honrado, continuou a cruel Moreninha, e, portanto, cumprirá a palavra que deu, e só casará com sua desposada antiga.

        [...]

        D. Carolina deixou cair uma lágrima e falou ainda, mas já com voz fraca e trêmula:

        -- Sim, deve partir... vá... Talvez encontre aquela a quem jurou amor eterno... Ah! senhor! nunca lhe seja perjuro.

        -- Se eu encontrasse!...

        -- Então?... que faria?...

        -- Atirar-me-ia a seus pés, abraçar-me-ia com eles e lhe diria: “Perdoai-me, perdoai-me, senhora, eu já não posso ser vosso esposo! tomai a prenda que me deste...”

        E o infeliz amante arrancou debaixo da camisa um breve, que convulsivamente apertou na mão.

        -- O breve verde!... exclamou D. Carolina, o breve que contém a esmeralda!...

        -- Eu lhe diria, continuou Augusto: “recebei este breve que já não devo conservar, porque eu amo outra que não sois vós, que é mais bela e mais cruel do que vós!...”

        A cena se estava tornando patética; ambos choravam e só passados alguns instantes a inexplicável Moreninha pôde falar e responder ao triste estudante.

        -- Oh! pois bem, disse; vá ter com sua desposada, repita-lhe o que acaba de dizer, e se ela ceder, se perdoar, volte que eu serei sua... esposa.

        -- Sim... eu corro... Mas, meu Deus, onde poderei achar essa moça a quem não tornei a ver, nem poderei conhecer?... onde meu Deus?... onde?...

        E tornou a deixar correr o pranto, por um momento suspendido.

        -- Espere, tornou D. Carolina, escute, senhor. Houve um dia, quando a minha mãe era viva, em que eu também socorri um velho moribundo. Como o senhor e sua camarada, matei a fome de sua família e cobri a nudez de seus filhos; em sinal de reconhecimento também este velho me fez um presente: deu-me uma relíquia milagrosa que, asseverou-me ele, tem o poder uma vez na vida de quem a possui, de dar o que se deseja; eu cosi essa relíquia dentro de um breve; ainda não lhe pedi coisa alguma, mas trago-a sempre comigo; eu lha cedo... tome o breve, descosa-o, tire a relíquia e à mercê dela encontre sua antiga amada. Obtenha o seu perdão e me terá por esposa.

        -- Isto tudo me parece um sonho, respondeu Augusto, porém, dê-me, dê-me esse breve!

        A menina, com efeito, entregou o breve ao estudante, que começou a descosê-lo precipitadamente. Aquela relíquia, que se dizia milagrosa, era sua última esperança; e, semelhante ao náufrago que no derradeiro extremo se agarra à mais leve tábua, ele se abraçava com ela. Só falta a derradeira capa do breve... ei-la que cede e se descose... salta uma pedra... e Augusto, entusiasmado e como delirante, cai aos pés de D. Carolina, exclamando:

        -- O meu camafeu!... o meu camafeu!...

        A senhora D. Ana e o pai de Augusto entram nesse instante na gruta e encontram o feliz e fervoroso amante de joelhos e a dar mil beijos nos pés da linda menina, que também por sua parte chorava de prazer.

        -- Que loucura é esta? perguntou a senhora D. Ana.

        -- Achei minha mulher!... bradava Augusto; encontrei minha mulher!

        -- Que quer dizer isto, Carolina?...

        -- Ah! minha boa avó!... respondeu a travessa Moreninha ingenuamente: nós éramos conhecidos antigos.

        [...].

MACEDO, Joaquim Manuel de. A moreninha. São Paulo: Ática, 1993. p. 132-5.

Fonte: Língua portuguesa 2 – Projeto ECO – Ensino médio – Editora Positivo – 1ª edição – Curitiba – 2010. p. 98-9.

Entendendo o romance:

01 – Por que Carolina recusa, inicialmente, a proposta de casamento de Augusto?

      Porque ela deseja que ele cumpra a promessa que havia feito no passado: casar-se com a menina com quem trocou objetos simbólicos do amor de ambos: uma esmeralda e um camafeu.

02 – Carolina rebate a argumentação de Augusto, que afirma não ter sido casado de fato afirmando “Oh! Isso é uma recomendação contra a sua constância!...”. Explique o sentido dessa frase e a importância dela no contexto romântico

      Para a jovem, o fato de Augusto se dispor a quebrar uma promessa para ficar com ela prova que ele não seria constante em seu amor, o que seria inconcebível no contexto amoroso romântico, em que os amores deveriam ser eternos. A inconstância de Augusto leva a jovem a questionar se deveria unir-se a ele.

03 – Como o autor resolve o impasse dos amantes?

      Carolina conta que também ela recebera uma relíquia de um velho moribundo e a entrega a Augusto. Ocorre então o reconhecimento dos amantes – eles eram as crianças que haviam prometido se casar no futuro, ou seja, não há impedimento algum quanto à união do casal, pelo contrário, ao ficarem juntos eles estão cumprindo a promessa que fizeram no passado.

04 – Considerando as falas dos personagens de Augusto e Carolina no trecho lido, é possível caracterizá-los como típicos heróis românticos? Comprove seu ponto de vista com elementos retirados do texto.

      Sim, eles são tipicamente românticos. Carolina está disposta a abrir mão de seu amor em nome da honra, dispõe-se a esperar por Augusto o tempo necessário, banha-se em lágrimas quando descobre que Augusto é o seu amado de infância, etc. Augusto, por sua vez, também age de forma sentimental, curvando-se ao desejo da amada, caindo aos seus pés quando a reconhece como a amada da infância, deixando-se levar pelo sentimentos, não pela razão.

05 – Uma das emoções possíveis para o conceito de verossimilhança é o de que a obra literária deve trabalhar coerentemente a partir do que é provável e possível em comparação com o mundo real. Levando em conta essa definição, você diria que o trecho lido é verossímil? Justifique sua resposta.

      Trata-se de uma situação bastante inverossímil, já que seriam pequenas as chances de duas crianças que se encontraram fortuitamente na infância se reencontram na idade adulta e se apaixonarem, tendo como obstáculo ao amor uma promessa feita na infância.