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domingo, 25 de novembro de 2018

POESIA: A BOMBA SUJA - FERREIRA GULLAR - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poesia: A Bomba Suja
                                Ferreira Gullar

Introduzo na poesia
A palavra diarreia.
Não pela palavra fria
Mas pelo que ela semeia.

Quem fala em flor não diz tudo.
Quem me fala em dor diz demais.
O poeta se torna mudo
sem as palavras reais.

No dicionário a palavra
é mera ideia abstrata.
Mais que palavra, diarreia
é arma que fere e mata.

Que mata mais do que faca,
mais que bala de fuzil,
homem, mulher e criança
no interior do Brasil.

Por exemplo, a diarreia,
no Rio Grande do Norte,
de cem crianças que nascem,
setenta e seis leva à morte.
É como uma bomba D
que explode dentro do homem
quando se dispara, lenta,
a espoleta da fome.

É uma bomba-relógio
(o relógio é o coração)
que enquanto o homem trabalha
vai preparando a explosão.

Bomba colocada nele
muito antes dele nascer;
que quando a vida desperta
nele, começa a bater.

Bomba colocada nele
Pelos séculos de fome
e que explode em diarreia
no corpo de quem não come.

Não é uma bomba limpa:
é uma bomba suja e mansa
que elimina sem barulho
vários milhões de crianças.

Sobretudo no nordeste
mas não apenas ali
que a fome do Piauí
se espalha de leste a oeste.

Cabe agora perguntar
quem é que faz essa fome,
quem foi que ligou a bomba
ao coração desse homem.

Quem é que rouba a esse homem
o cereal que ele planta,
quem come o arroz que ele colhe
se ele o colhe e não janta.

Quem faz café virar dólar
e faz arroz virar fome
é o mesmo que põe a bomba
suja no corpo do homem.

Mas precisamos agora
desarmar com nossas mãos
a espoleta da fome
que mata nossos irmãos.

Mas precisamos agora
deter o sabotador
que instala a bomba da fome
dentro do trabalhador.

E sobretudo é preciso
trabalhar com segurança
pra dentro de cada homem
trocar a arma de fome
pela arma da esperança.

GULLAR, Ferreira. 
Entendendo a poesia:
01 – No poema “A bomba suja”, Ferreira Gullar emprega algumas características do Pós-Modernismo Brasileiro. Identifique uma e justifique-a.
      Características do pós-modernismo:
      - Hiper-realismo;
      - Humor e crítica;
      - Polifonia e intertextualidade;
      - Imprecisão e espontaneidade;
      - Imaginação e criatividade.

02 – Que figura de linguagem predomina nos versos do poema? Justifique sua resposta.
      Predomina a metáfora (quando utilizamos uma palavra em lugar de outra por haver entre elas uma relação de semelhança).

03 – O poema:
A) denuncia a exploração do povo brasileiro a quem são negados os direitos fundamentais.
B) evidencia os efeitos da recessão econômica sobre o povo brasileiro.
C) apresenta o homem — em face da fome — desapegado à vida.
D) condena a ação do estrangeiro no Brasil, seduzindo o povo com sua moeda forte: o dólar.

04 – No poema, o sujeito poético:
A) revela-se consciente do seu papel transformador da realidade.
B) demonstra insegurança quanto à identificação do agente causador do flagelo da fome brasileira.
C) critica a indiferença das minorias privilegiadas em relação ao sofrimento de seus semelhantes,
D) procura, através de denúncias, alcançar o inatingível.

05 – O poema caracteriza-se:
A) pela linearidade discursiva.
B) pela valorização do descritivismo.
C) pela ambiguidade do discurso.
D) pelo uso de um tom coloquial.

06 – Qual é o assunto dominante da poesia?
      “A bomba suja” não visa propriamente à expressão de um estado d’alma e sim à persuasão de um fato concreto com existência comprovada – a fome como “causa mortis” do povo brasileiro: “Bomba colocada nele / Pelos séculos de fome / E que explode em diarreia / No corpo de quem não come.”

07 – Que problemas sociais o poeta enfoca na poesia?
      Fome e desigualdade social.

08 – Quais os estados mais atingidos pela suposta “bomba”?
      Rio Grande do Norte e Piauí.

09 – Escreva a estrofe em que o poeta sugere acabar o problema.
     E sobretudo é preciso
      trabalhar com segurança
      pra dentro de cada homem
      trocar a arma de fome
      pela arma da esperança.”

10 – O que o poeta quis dizer nos versos: “Por exemplo, a diarreia, / no Rio Grande do Norte, / de cem crianças que nascem, / setenta e seis leva à morte.”
      Significa o alto índice de mortalidade infantil neste estado.



segunda-feira, 5 de novembro de 2018

POEMA: NÃO HÁ VAGAS - FERREIRA GULLAR - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poema: Não há Vagas
                               Ferreira Gullar


O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite 


da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira
                              Ferreira Gullar, in 'Antologia Poética' 

Entendendo o poema:


01 – Onde é comum encontrar a expressão “não há vagas”, que dá nome ao poema?
      Expressão típica do mundo do emprego, das relações patrão e empregado, indica falta de oportunidade.

02 – Que imagem esse título ajuda a construir no poema?
      À falta de oportunidades no mercado de trabalho.

03 – Como você interpretaria no poema a expressão “o homem sem estômago”?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Aquele, remediado ou rico, cujas preocupações não se voltam para as questões básicas de subsistência.

04 – Que artigos de primeira necessidade aparecem na primeira estrofe?
      Os itens: feijão, arroz, gás, luz, telefone, leite, carne, açúcar e pão.  

05 – De acordo com o contexto do poema, qual o significado de sonegar?
      Pressupõe furtar, fraudar, desviar.

06 – Na segunda estrofe são destacados dois sujeitos que também não cabem no poema. Quem? Por quê?
      O funcionário público e o operário. O primeiro, com seu “salário de fome” tem a “vida fechada / em arquivos”. O operário por sua vez, ao esmerilar o seu “dia de aço” nas “oficinas escuras”.

07 – O que o poeta quis dizer com:
·        “Mulher de nuvens”?
      A mulher idealizada, objeto de abstração. 

·        “Fruta sem preço”?
Aquela apenas admirada nas formas, se exposta na obra de arte, e não aquela comprada nos tablados da feira.

08 – Na última estrofe: “O poema, senhores, 
                                       não fede 
                                       nem cheira.”
O que o poeta afirma?
      Afirma que o poema apenas idealiza a vida – tanto faz existir ou não, é indiferente.

09 – Quem é o autor do poema?
      Ferreira Gullar.

10 – Como o poeta se refere aos operários da fábrica?
      Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras.

11 – Você concorda com as ideias do poeta? Explique sua resposta.
      Resposta pessoal do aluno.

12 – Em sua opinião, o que o autor quis dizer com a expressão “Não há vagas”?
      Resposta pessoal do aluno.

13 – Você conhece pessoas que exercem atividades citadas no poema?
      Resposta pessoal do aluno.

14 – Sobre o poema Não há vagas, de Ferreira Gullar, é correto afirmar:
a) Ao ser aproximada de um ato lúdico como o fazer poesia, a crítica social é atenuada e perde força.
b) A ruptura com o verso tradicional situa o poema no contexto da primeira geração modernista.
c) Nota-se uma conjunção entre a reflexão sobre o fazer poético e a preocupação com a realidade social adversa.
d) A crítica política e a reflexão sobre a literatura presentes no poema configuram exceção na produção poética de Ferreira Gullar.
e) Trata-se de texto poético que destoa do conjunto da obra Toda poesia por utilizar redondilhas maiores e menores. 

15 – Sobre a obra de Ferreira Gullar estão corretas as seguintes proposições:
I. Uma das principais características da obra de Ferreira Gullar é a reflexão sobre a criação artística. Para o poeta, a poesia é fruto de um trabalho árduo, racional, que implica fazer e desfazer o texto até que ele alcance a sua forma mais adequada.
II. Ferreira Gullar integrou o grupo de poetas religiosos que se formou no Rio de Janeiro entre as décadas de 1930 e 40. Sua poesia é dividida em duas fases: a fase transcendental e a fase material.
III. A poesia de Ferreira Gullar destaca-se pelo engajamento político. Essa produção poética engajada ganhou força a partir dos anos de 1960, quando o poeta rompeu com a poesia de vanguarda, aderindo ao Centro Popular de Cultura (CPC).
IV. Explorando propriedades gráficas e vocais das palavras, rompendo com a ortografia e com as convenções da lírica tradicional, Ferreira Gullar integrou de maneira circunstancial o movimento concretista, do qual se afastou em virtude de discordâncias em relação às suas propostas teóricas.
V. Propôs um corte profundo entre a poesia romântica e a poesia moderna, criando um novo conceito de poesia ao dessacralizar a chamada “poesia profunda”, ou seja, a poesia em que predominam os versos de sentimentos ou de abordagem introspectiva.
 Sua poesia é anti-lírica, presa ao real e direcionada ao intelecto, não às emoções.
a) I, II e V estão corretas.
b) III e IV estão corretas.
c) III e V estão corretas.
d) I e IV estão corretas.
e) II, III e IV estão corretas.

16 – O poema de Ferreira Gullar tem um tom de polêmica. A quem se dirige a voz que fala no poema? Justifique sua resposta com elementos do texto.
      A voz que fala no poema aparentemente se dirige a uma plateia, como se percebe pelo vocativo “senhores” da terceira e da última estrofes.

17 – Que tipo de linguagem o autor imita com o tom eloquente do poema?
      Ele imita a linguagem dos discursos de protestos políticos.

18 – Como você classificaria o poema de Gullar?
      O poema de Gullar faz parte da literatura engajada.

19 – Segundo Gullar, o que não cabe no poema?
      A dura realidade em que vive a maioria das pessoas não cabe no poema.





quinta-feira, 11 de outubro de 2018

POESIA: DOIS E DOIS: QUATRO - FERREIRA GULLAR - COM QUESTÕES GABARITADAS

Poesia: Dois e dois: quatro
               Ferreira Gullar

Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena.
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
                                                                      Ferreira Gullar
Entendendo a poesia

01 – Assinale a alternativa em que se analisa corretamente o sentido dos versos de Ferreira Gullar.
a)   A partir de uma visão niilista. O poeta encara as dificuldades existenciais que enfrenta como insolúveis.
b)   A visão determinista do poeta define o seu destino em relação a amada, tal como uma operação matemática.
c)   Trata-se de um poema com discurso panfletário contra os problemas sociais e a falta de liberdade no país.
d)   No poema, o eu lírico tem consciência dos problemas. Mas se norteia pela certeza da validade da vida.
e)   O poeta tem convicção da validade da vida, mas hesita diante da projeção de um ideal a ser alcançado.

02 – O primeiro verso apresentado em destaque, nesse contexto, exprime:
a)   A certeza do eu lírico de que a vida vale a pena;
b)   A dualidade da vida;
c)   A soma de dois fatores que faz o eu lírico acreditar na vida;
d)   A importância da vida;
e)   A exatidão da vida.

03 – Que temática o eu lírico aborda?
      O custo de vida, os problemas sociais e a falta de liberdade no país.

04 – No verso: “... e a noite carrega o dia...”. Que figura de linguagem encontramos?
      Prosopopeia ou personificação.

05 – Leia estes versos abaixo, de Ferreira Gullar:
“Sei que dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Mesmo que o pão seja caro
E a liberdade, pequena.

      Observe os dois primeiros versos. 

a) Quantos período há neles?
      O período nada mais é que uma frase que possui uma ou mais orações. Sendo que as orações, entende-se que são aquelas em que possuem um verbo ou mais. Desta forma, existem cinco períodos.

b) Divide os período em orações. 
      As orações do verso são:
      1. Sei que
      2. Dois e dois são quatro
      3. Sei que a vida vale a pena
      4. Mesmo que o pão seja caro
      5. E a liberdade pequena.

c) Nos dois período aparece o verbo SABER. Qual é a predicação desse verbo?
      A predicação do verbo saber é definida como transitivo direto, ou seja, que necessita de um complemento.

d) Qual é a função sintática das orações "que dois e dois são quatro" e "que a vida vale a pena"?
      Funcionam como objeto direto, já que complemente o transitivo direto.

e) Portanto, qual é a classificação dessas orações? 
     Desta forma, entende-se que as orações são classificadas em subordinada objetiva direta, ou seja, o sujeito está evidente.
        



sexta-feira, 10 de agosto de 2018

CRÔNICA: DUAS E TRÊS - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

Crônica: Duas e três
            Ferreira Gullar

        Levei um susto quando aquela voz soprou em minha nuca:
        --- Se tu é bom, mata essa: “Não durmo no Rio porque tenho pressa; duas e três.”
        Voltei-me para ver quem falava. Era um homem quarentão, alto e gorducho, de roupas imundas, rasgadas, e cara encardida. Uma cara simpática de gângster regenerado.

        Ele ria:     
        --- Mata essa, vamos!
        Era de manhã cedo, em junho, e fazia um frio agradável. Acordara e, sem ter para onde ir, sentei-me naquele banco da praça Floriano, em frente à Biblioteca Nacional, à espera de que ela abrisse. Meu velho terno marrom esfiapava nas mangas, o sapato empoeirado, a barba por fazer. “Esse homem está me tomando por um vagabundo”, pensei comigo. E achei divertido.
        --- Matar o quê?
        --- A charada, meu besta!
        O velho se debruçava em cima de mim, com um riso gozador. Fedia a suor e molambo. Afastei-o um pouco, com o braço e, meio sem saber o que fizesse, acedi.
        --- Como é mesmo a charada?
        --- Só repito esta vez, tá bom? “Não durmo no Rio porque tenho pressa; duas e três”
        Sempre fui um fracasso para matar charadas. Fiz um esforço para penetrar nas palavras, mas em vão.
        --- Digo mais. – esclareceu-me o vagabundo. – Chaves: “Não durmo no Rio” e “Rio”. Conceito: “pressa” ... Mas você é burro, hei.
        Donde diabo viera aquele cara impertinente, para me obrigar a resolver uma charada àquela hora da manhã? Mas meu orgulho estava em jogo. Pensava e o pensamento escapulia.
        --- Não consigo decifrar. Não me amola.
        --- Então você perdeu.
        --- É, perdi.
        --- Então paga.
        --- Paga o quê?
        --- Duas pratas, meu Zé. Você perdeu!
        Era incrível. Comecei a rir. Ele também ria e dizia: “Paga, duas pratas.” Dei-lhe uma cédula de dois cruzeiros e fiquei ali rindo enquanto ele se afastava arrastando seus sapatos furados.
        Semanas depois, estava eu no Passeio Público, quando ele veio com a mesma conversa, como se nunca me tivesse visto. “Mata essa: não durmo no Rio, porque tenho pressa; duas e três.” Respondi-lhe em cima da bucha: “Não durmo, velo; no Rio. Cidade: velocidade. “Ele ficou desapontado. “Você perdeu”, disse-lhe eu. “Paga duas pratas.” Olhou-me sério, meteu a mão no bolso e estendeu-me duas notas imundas. Fomos tomar juntos um café na Lapa.
GULLAR, Ferreira. O melhor da crônica brasileira. 1 Ferreira
Gullar... [ET al.]. – 5ª Ed. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2007.

Entendendo a crônica:
01 – Após a leitura da crônica; o que você entendeu por duas e três?
      Resposta pessoal do aluno.  
  
02 – O narrador se assustou com uma voz, o que ela dizia?
     Se tu é bom, mata essa: “Não durmo no Rio porque tenho pressa; duas e três.”

03 – A narrativa está em 1ª ou 3ª pessoa? Retire do texto um trecho que justifique sua resposta.
      Está em 1ª pessoa – “Levei um susto quando aquela voz soprou em minha nuca.”

04 – Onde e quando aconteceu o primeiro encontro entre os dois homens?
      No banco da praça Floriano, era de manhã cedo no mês de junho.

05 – Para o narrador o que lhe pareceu ser o homem que o abordara? Assinale a alternativa correta:
a) um vagabundo de rua           
b) um mágico de rua
c) um vigarista                           
d) um trabalhador desempregado.

06 – Assinale a alternativa correta:
a) O narrador achou muito comum e normal a abordagem que lhe foi feita pelo homem.
b) O narrador repeliu, veementemente, o homem.
c) Apesar de ter achado estranha a abordagem, o narrador acabou se envolvendo com a simpatia do desconhecido.
d) O estranho queria extorquir o narrador.

07 – Qual a palavra que melhor se aproxima de um sinônimo para a palavra charada?
a) duelo                  
b) disputa                 
c) comando                 
d) enigma.    

08 – Na frase “Este homem está me tomando por um vagabundo.” a expressão destacada significa:
a) “parecendo com”                          
b) “comparando com”
c) “acompanhado por”                    
d) “discordando de”.

09 – O narrador pagou duas pratas ao velho porque:
a) jamais estivera naquela situação.
b) pela conversa agradável do homem.
c) não conseguiu decifrar a charada.  
d) porque o homem estava com fome.

10 – Em “Mata essa, vamos!” o termo destacado tem o mesmo sentido de:
a) elimina             
b) abate                    
c) extermine                  
d) resolve.

11 – O texto se desenvolveu em torno:
a) da amizade impossível entre duas pessoas que pouco se conheciam.
b) da camaradagem entre dois homens apreciadores de charadas
c) do encontro inesperado entre pessoas que não se conheciam 
d) do hábito das pessoas frequentarem praças e bibliotecas.



quarta-feira, 1 de agosto de 2018

CRÔNICA: O MENINO E O ARCO-ÍRIS - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

Crônica: O menino e o arco-íris
            Ferreira Gullar

        Era uma vez um menino curioso e entediado. Começou assustando-se com as cadeiras, as mesas e os demais objetos domésticos. Apalpava-os, mordia-os e jogava-os no chão: esperava certamente uma resposta que os objetos não lhe davam. Descobriu alguns objetos mais interessantes que os sapatos: os copos – estes, quando atirados ao chão, quebravam-se. Já era alguma coisa, pelo menos não permaneciam os mesmos depois da ação. Mas logo o menino (que era profundamente entediado) cansou-se dos copos: no fim de tudo era vidro e só vidro.
        Mais tarde pôde passar para o quintal e descobriu as galinhas e as plantas. Já eram mais interessantes, sobretudo as galinhas, que falavam uma língua incompreensível e bicavam a terra. Conheceu o peru, a galinha d´Angola e o pavão. Mas logo se acostumou a todos eles, e continuou entediado como sempre.
        Não pensava, não indagava com palavras, mas explorava sem cessar a realidade.
        Quando pôde sair à rua, teve novas esperanças: um dia escapou e percorreu o maior espaço possível, ruas, praças, largos onde meninos jogavam futebol, viu igrejas, automóveis e um trator que modificava um terreno. Perdeu-se. Fugiu outra vez para ver o trator trabalhando. Mas eis que o trabalho do trator deu na banalidade: canteiros para flores convencionais, um coreto etc. E o menino cansou-se da rua, voltou para o seu quintal. 
        O tédio levou o menino aos jogos de azar, aos banhos de mar e às viagens para a outra margem do rio. A margem de lá era igual à de cá. O menino cresceu e, no amor como no cinema, não encontrou o que procurava. Um dia, passando por um córrego, viu que as águas eram coloridas. Desceu pela margem, examinou: eram coloridas!
        Desde então, todos os dias dava um jeito de ir ver as cores do córrego. Mas quando alguém lhe disse que o colorido das águas provinha de uma lavanderia próxima, começou a gritar que não, que as águas vinham do arco-íris. Foi recolhido ao manicômio.
        E daí?
GULLAR, Ferreira. O menino e o arco-íris. São Paulo: Ática, 2001. p. 5.

Entendendo a crônica:
01 – Identifique:
Título: O menino e o arco-íris.
Autor: Ferreira Gullar.

02 – “Mas logo se acostumou a todos eles”. O termo em destaque refere-se no texto a:
(A) animais no quintal.                          
(B) cadeiras e mesas. 
(C) sapatos e copos.                            
(D) jogos de azar.

03 – Pode-se concluir que o tema do texto é:
(A) a curiosidade.                                
(B) a insatisfação.         
(C) a natureza.                                   
(D) a saudade.

04 – De acordo com o texto, o menino procurava, desde criança, por:
(A) alguma coisa surpreendente.            
(B) galinhas e plantas interessantes.
(C) um arco-íris.                                   
(D) banhos de mar.

05 – “E daí?” A frase final do texto demonstra que a opinião do narrador sobre o destino do menino é de:
(A) pena e desespero.                                 
(B) simpatia e aprovação.
(C) indiferença e conformismo.                     
(D) esperança e simpatia.

06 – “Desceu pela margem, examinou: eram coloridas!”
No trecho, os sinais de pontuação empregados assinalam:
(A) o tédio do menino.                                
(B) a surpresa do menino.
(C) a dúvida do narrador.                            
(D) o comentário do narrador.

07 – Esse texto é:
(A) uma crônica      
(B) uma notícia  
(C)  informativo       
(D) fábula

08 – Como você descreveria o menino?
      Resposta pessoal do aluno.

09 – Por que o menino sempre abandonava as coisas que encontrava?
      Porque ele cansava e queria coisas novas.  

10 – Comente sobre o desfecho do texto, dando sua opinião.
      Resposta pessoal do aluno.




  

domingo, 17 de junho de 2018

CONTO: O MERCADOR E O GÊNIO - FERREIRA GULLAR - COM GABARITO

CONTO: O Mercador e o Gênio
             Ferreira Gullar

     -- Senhor, havia em outros tempos um mercador que possuía grandes riquezas em escravos, terras, mercadorias e ouro. Obrigado de quando em quando a viajar para tratar de seus negócios, partiu um dia montado em seu cavalo, levando boa provisão de biscoitos e tâmaras para alimenta-se durante a travessia do deserto. Terminada sua tarefa, tomou o caminho de volta à sua casa.
        No quarto dia de caminhada, sentindo-se sufocado pelo calor do sol, buscou a sombra de umas árvores que divisou ao longe. Junto a uma delas havia uma fonte cristalina, e ali então desmontou para descansar.
        Sentou-se à margem do riacho e tirou do surrão as provisões que lhe restavam. Depois de comer as tâmaras airou para os lados os caroços e, terminado seu lanche, lavou o rosto, as mãos e os pés, como bom muçulmano, e rezou sua oração de costume.
        Estava ainda ajoelhado quando lhe apareceu um gênio de enorme estatura, cuja cabeça estava coberta com a neve dos anos, e que, caminhando em sua direção, com a espada na mão, disse-lhe em tom assustador:
        -- Levanta-te, porque vou te matar como fizeste com meu filho.
        Amedrontado com a figura do gênio e suas palavras ameaçadoras, o mercador respondeu:
        -- Meu bom senhor! Que crime cometi para merecer tal castigo? Não conheço nem nunca vi jamais vosso filho.
        -- Ah, é? E por acaso não acabas de jogar para os lados caroços de tâmaras?
        -- Sim, não posso negar que fiz isso.
        -- Pois bem – explicou o gênio, - meu filho, que passava junto a ti, foi atingido por um desses caroços no olho e caiu morto no mesmo instante. Não posso te perdoar e vou te arrancar a vida.
        -- Misericórdia, senhor! - implorou o mercador diante de tão absurda acusação. – Se matei vosso filho, foi sem querer e, por isso, mereço vosso perdão.
        O gênio, em vez de responder, agarrou o mercador e, derrubando-o no chão, ergueu a espada para cortar lhe a cabeça, indiferente a seus apelos em nome da esposa e dos filhos.
        Quando o mercador viu que a espada descia em direção a seu pescoço, soltou um grito horrível e disse:
        -- Por favor, esperai um pouco e ouvi-me! Já que estais disposto a matar-me, concedei-me um prazo para que possa despedir-me de minha família, fazer o testamento e acertar meus negócios. Juro pelo Deus do Céu e da Terra que aqui voltarei pontualmente para submeter-me a vossa vontade.
        -- E de quanto tempo necessitas?
        -- Peço-vos um ano de prazo, ao fim do qual me encontrareis junto a esta mesma árvore, disposto a entregar-vos a vida.
        -- Juras por Deus?
        -- Juro – respondeu o mercador, - e podeis confiar na verdade de meu juramento.
        O gênio, ao ouvir essas palavras, desapareceu, e o mercador, mais tranquilo agora, montou no cavalo e continuou seu caminho. A mulher e os filhos o receberam com grandes demonstrações de alegria, mas o infeliz desandou a chorar pensando no fatal juramento que fizera. E terminou contando o que lhe acontecera na viagem. A mulher e os filhos não ficaram menos aflitos e amargurados com o que ouviram.
        O mercador pagou suas dívidas, deu presentes aos amigos e esmolas aos pobres, libertou seus escravos, dividiu os bens com os filhos e, ao cabo de um ano, teve de partir. É impossível descrever o sofrimento de seus familiares no momento da despedida.
        Depois de muitas reflexões e inúteis palavras de consolo, desprendeu-se dos braços da esposa e dos filhos e dirigiu-se ao lugar onde ficou de encontra-se com o gênio. Postou-se sob a mesma árvore, perto do riacho cristalino, e esperou por ele, com a tristeza de quem espera pela morte.
        Sherazade, ao chegar a este ponto, percebeu que já era dia e, como sabia que o sultão deveria reunir-se com o Conselho, calou-se...
        Dinarzade exclamou:
        -- Que conto maravilhoso!
        -- O que falta contar é melhor ainda, disse à irmã – e te convencerias disso se o sultão me deixasse viver este dia para, à noite, continuar com a história.
        Shariar, cheio de curiosidade, concordou com a proposta da moça, levantou-se e foi presidir o Conselho.
        O grão-vizir, entretanto, passara a noite inquieto, pensando no cruel destino que aguardava sua querida filha. Mas grande foi sua surpresa, ao encontrar o sultão, sem ouvir dele a ordem para matá-la.
        No dia seguinte, na hora acertada, Dinarzade voltou a dirigir à irmã as mesmas palavras da manhã anterior, e o sultão acrescentou com impaciência:
        -- Sim, termina o conto, pois desejo saber o desfecho.
        [...]

              As mil e uma noites. Seleção e tradução de Ferreira Gullar.
                                                 Rio de Janeiro: Revan, 2000, p. 22-5.

Entendendo o conto:
01 – Releia este trecho:
        “-- Senhor, havia em tempos mercador que possuía riquezas em escravos, terras, mercadorias e ouro. Obrigado de quando em quando a viajar para tratar de negócios, partiu dia, montado em cavalo, levando provisão de biscoitos e tâmaras para alimenta-se durante travessia do deserto. Terminada tarefa, tomou caminho de volta à casa.
        No dia de caminhada, sentindo-se sufocado pelo calor do sol, buscou sombra de árvores que divisou ao longe.”

a)   Você deve ter notado que faltam algumas palavras no trecho acima. Elas são indispensáveis para a compreensão dos períodos?
Não.

b)   Copie o trecho acima, completando com as palavras que faltam de acordo com texto:
Resposta pessoal do aluno.

02 – As palavras que você escreveu na atividade anterior delimitam ou especificam o significado das palavras que acompanham. A qual classe gramatical pertencem as palavras delimitadas/especificadas pelos artigos, pronomes e numerais?
      Substantivo.

03 – Na atividade 1, você observou algumas palavras que exercem uma função junto a outras na organização das orações. Essas palavras chamam-se adjuntos adnominais (ad = “que está junto de”). Escreva uma definição para os adjuntos adnominais, considerando o que você estudou até aqui.
      Os adjuntos adnominais especificam/delimitam o significado de um substantivo.

04 – Copie as manchetes abaixo no seu caderno e acrescente-lhes adjuntos adnominais.
        ONG ALERTA MORADORES SOBRE PERIGO DE
        FILME REÚNE ELENCO
        PARA POLÍTICOS DE *, O PARTIDO É DEMOCRÁTICO E POPULAR
      Resposta pessoal do aluno.

05 – Leia as orações seguintes e copie no seu caderno todas as palavras e expressões que indiquem circunstâncias de tempo, lugar, modo, afirmação e negação:
a)   “Sentou-se à margem do riacho [...]”.
Á margem, do riacho, aqui: lugar.

b)   “Não conheço nem nunca vi jamais vosso filho”.
Não: negação.

c)   “-- Sim, não posso negar que fiz isso.”
Sim: afirmação.

d)   “—Juro pelo Deus do Céu e da Terra que aqui voltarei pontualmente [...]”
Nunca, jamais: tempo.

06 – A qual classe de palavras pertencem as palavras e expressões que você encontrou na atividade 5? Qual é a classe das palavras que estão sendo modificadas?
      Advérbio/verbo.

07 – Na atividade anterior, você observou algumas palavras e expressões que exercem uma função junto a outras na organização das orações. Essas palavras/expressões chamam-se adjuntos adverbiais. Escreva uma definição para os adjuntos adverbiais, considerando o que você observou nas frases da atividade 5.
      Os adjuntos adverbiais indicam as circunstâncias em que ocorre o fato expresso pelo verbo ou intensificam seu sentido.

08 – Observe os adjuntos adverbiais destacados na frase abaixo.
        Era muito tarde, e o sultão ouvia bastante atento as histórias de Sherazade.
Responda às questões seguintes no caderno.
a)   Quais palavras eles modificam?
Tarde e atento.

b)   A que classe gramatical pertencem as palavras que você apontou no item a?
Ás classes dos advérbios (tarde) e dos adjetivos (bastante).

c)   Qual a mudança de sentido efetuada pelos adjuntos adverbiais?
Eles intensificam o sentido das palavras que acompanham.

d)   Considerando-se o que você observou acima, quais as três classes gramaticais que podem ser modificadas pelos adjuntos adverbiais?
Verbos, advérbios e adjetivos.

09 – Copie as manchetes abaixo no caderno e acrescente-lhes adjuntos adverbiais.
        CHOVERÁ E FARÁ SOL
        CADERNO TRAZ DICAS PARA IR A
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Releia estes trechos do texto “O mercador e o gênio”:     
        “[...] voltarei pontualmente para submeter-me à vossa vontade.”
        “-- O que falta contar é melhor ainda, disse à irmã [...]”
        “[...] Dinarzade voltou a dirigir à irmã as mesmas palavras [...]”

Responda às questões seguintes no caderno.
a)   Os verbos submeter, dizer e dirigir pedem qual preposição?
A preposição a.

b)   As palavras que estão completando o sentido desses verbos são masculinas ou femininas?
Femininas: vossa vontade e irmã.

c)   Os substantivos femininos são terminados por qual artigo?
Pelo artigo a.

d)   Nas orações acima, portanto, temos verbos que pedem a preposição a e complementos verbais que são determinados pelo artigo a. Como está indicada a fusão dessas duas palavras nas frases que você leu?
Estão indicadas pelo sinal grave sobre a vogal: à.

11 – Leia as frases abaixo observando os destaques:
        Sentou-se à margem do riacho.
        Á noite, Sherazade contava lindas histórias.
        Ela não ficava muito à vontade na presença do sultão.
        Ás vezes, as histórias podem ter inúmeros desfechos.

a)   As expressões destacadas indicam circunstâncias? Qual?
Sim. Indicam lugar, modo e tempo.

b)   A qual classe gramatical pertencem as palavras que indicam circunstâncias?
Advérbio.

c)   Os substantivos que compõem essas locuções são femininos ou masculinos?
Femininos.

d)   Você acaba de conhecer mais um emprego da crase. Escreva no caderno a regra que você observou.
Ocorre crase antes de locuções adverbiais em que o substantivo é feminino.