Ana Carolina é uma menina inquieta,
sempre querendo aprender mais sobre as coisas. “Como? – por quê? – quem? – pra
quê?” são perguntas que ela vive repetindo. Seu pai não tem muita paciência
para ficar respondendo a tantas perguntas. A mãe acredita que ela será uma
cientista quando crescer. A professora gosta das perguntas, mas fica brava
quando a Ana não dá qualquer chance para seus amigos também perguntarem.
Um dia a professora estava falando
sobre a origem do mundo, do universo e das pessoas. E contou a teoria
científica do início de todas as coisas: “Uma grande explosão ocorreu no céu e
surgiram muitos planetas, astros e estrelas. A Terra, que ardia em brasa, foi
resfriado e apareceram os primeiros sinais de vida. Estes foram se tornando
complexos e se diferenciando. Milhares de anos depois surgiram os macacos, que
foram evoluindo e que teriam dado origem aos homens. Por isso, eles são tão
parecidos conosco”.
Ana Carolina, maravilhada com o que
tinha acabado de ouvir, lembrava dos macacos que vira no zoológico e que
poderiam ser seus parentes ancestrais.
Mal a professora terminou de falar, ela
se ergueu e disse que sabia de uma outra história sobre a origem de tudo.
Contou que sua avó tinha lido para ela uma história que estava na Bíblia e que
era mais ou menos assim: “No início só havia Deus. Então ele resolveu criar o
mundo todo com todas as coisas que existem. Fez isso em poucos dias. Aí Deus
criou, com barro, o primeiro homem e deu a ele o nome de Adão. Mas Adão vivia
triste pelo Paraíso e então Deus tirou uma costela dele e fez uma mulher para
ficar com ele. Era Eva. Eles se casaram e tiveram filhos e então surgiu toda a
humanidade”.
A professora elogiou a prontidão da
menina e perguntou se alguém mais sabia sobre outras histórias a respeito da
origem do mundo e das coisas. Lá no fundo da sala, uma outra menina levantou o
braço e gritou: “Minha mãe me contou uma história bem diferente”. A professora
logo adivinhou que devia se tratar de uma história sobre os índios, pois a mãe
de Juliana era antropóloga. Os antropólogos são pesquisadores que durante
vários meses vão morar junto com os índios para aprender suas línguas, suas
culturas, suas tradições. Dito e feito: a pequena Juliana se levantou e contou
uma história dos índios Waiãpi, que segundo ela moram em várias aldeias lá nas
florestas do Amapá, bem perto da fronteira do Brasil com a Guiana Francesa.
“Minha mãe aprendeu esta história com
uma amiga dela que foi morar um tempo junto com os índios Waiãpi. A história é
assim: no início o criador, que se chama Ianejar, estava sozinho. Ele não
gostava de estar sozinho. Então um dia ele foi apanhar mel e resolveu fazer uma
mulher. Ele soprou e o mel virou uma mulher. Aí ele falou para a mulher ir na
roça e buscar mandioca. O sol foi esquentando e a mulher de mel derreteu.
Ianejar estranhou a demora da mulher e foi ver o que tinha acontecido. Chegou
na roça e só viu o cesto que ela tinha levado. Então Ianejar foi buscar arumã,
que é um tipo de palmeira. Ele soprou e o arumã virou uma mulher. “Vai lá na
roça buscar mandioca”, disse Ianejar. A mulher foi, voltou e fez uma bebida com
a mandioca ralada, chamada caxiri. Ianejar disse que o caxiri estava azedo e
muito ruim. Depois a mulher foi na mata buscar imbaúba e fez duas flautas: uma
pequena e a outra grande. Ianejar soprou a flauta grande e saíram muitas
pessoas. A mulher de arumã soprou na outra flauta e saíram muitas mulheres. Naquele
tempo, não havia pessoas, só Ianejar e sua mulher. Mas, depois disso, a Terra
ficou cheia de Waiãpi.”
Juliana já estava quase sem fôlego
quando terminou de contar a história. Disse que os índios têm muitas histórias
que nós não conhecemos e que eles vivem de forma diferente. Disse também que
nós podemos aprender muitas coisas com eles e que devemos respeitá-los. Mesmo
assim, alguns meninos riram da história de Juliana, mas Ana Carolina estava
séria. Ela tinha prestado atenção em tudo. Diferentemente de outras vezes, não
veio com o seu “Como? – por quê? – quem? – pra quê?”. Quieta e pensativa, tomou
uma decisão: queria aprender mais coisas sobre os índios. Afinal, eles fazem
parte da nossa mesma humanidade.
Luís Donizete
Grupioni. Revista Nova Escola.
São Paulo: Abril, novembro, 1992.
Entendendo o texto:
01 – Quem é a personagem central do enredo maior o texto?
Ana Carolina.
Explique
como ela é caracterizada:
a) Pela
professora;
Interessada,
atenciosa.
b) Por
seus pais;
Perguntona, curiosa.
c) Pelo
narrador;
Inquieta, curiosa, interessada, maravilhada com os conhecimentos.
d) Por
você.
Resposta pessoal
do aluno.
02 – Como se chama a
personagem que conta a história aprendida com os índios? Identifique o único
adjetivo usado pelo narrador para caracterizá-la.
Juliana –
pequena.
03 – Que outros adjetivos
você usaria para caracterizá-la?
Resposta pessoal
do aluno.
04 – Explique o sentido das
frases abaixo:
a)
“A professora elogiou a prontidão da
menina...”.
A professora ficou satisfeita com a boa vontade, a presteza da
menina.
b)
“Estes foram se tornando complexos e se
diferenciando.”
Estes foram se tornando diversificados e diferentes. (Estes foram se
transformando, se diversificando, se diferenciando.)
05 – Qual das histórias você
achou mais interessante? Por quê?
Resposta pessoal
do aluno.
06 – O que significa dizer
que os índios “fazem parte da nossa mesma humanidade”?
Todos os seres
humanos têm uma origem comum, traços comuns.
07 – Por que alguns meninos
riram da história contada por Juliana?
Porque ela contou uma história de índios,
que têm uma maneira muito diferente da nossa de explicar os fatos.
08 – Qual foi a reação de
Ana Carolina depois de ouvir a história de Juliana? Por quê?
Ela ficou pensativa, quieta, séria:
queria aprender mais sobre o assunto.
09 – Juliana demonstrou que
tem admiração e respeito pelos indígenas. Por que você imagina que ela tem esse
comportamento diante de uma outra cultura, ou seja, de outro modo de pensar, de
crer, de agir, de viver?
Resposta pessoal
do aluno.
10 – Será que todas as
pessoas pensam como Juliana? Que trecho do texto pode comprovar a sua resposta?
As pessoas têm
opiniões diferentes. “Alguns meninos riram da história”; “Ana Carolina estava
séria.”
11 - Qual seria a sua reação se estivesse na
classe de Juliana ouvindo a história dela?
Resposta pessoal
do aluno.
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