Poema: Em
despedida: proibindo
o pranto
John Donne
Como esses santos homens que se apagam
Sussurrando aos espíritos "Que vão...",
Enquanto alguns dos amigos amargos
Dizem: "Ainda respira" E outros: "Não"
Nos dissolvamos sem fazer ruído,
Sem tempestades de ais, sem rios de pranto,
Fora profanação nossa ao ouvido
Dos leigos descerrar todo este encanto.
O terremoto traz terror e morte
E o que ele faz expõe a toda a gente,
Mas a trepidação do firmamento,
Embora ainda maior, é inocente.
O amor desses amantes sublunares
(Cuja alma é só sentidos) não resiste
À ausência, que transforma em singulares
Os elementos em que ele consiste.
Mas a nós (por uma afeição tão alta,
Que nem sabemos do que seja feita,
Interassegurado o pensamento)
Mãos, olhos, lábios não nos fazem falta.
As duas almas, que são uma só
Embora eu deva ir, não sofrerão
Um rompimento, mas uma expansão,
Como ouro reduzido a aéreo pó.
Se são duas, o são similarmente
Às duas duras pernas do compasso:
Tua alma é a perna fixa, em aparente
Inércia, mas se move a cada passo.
Da outra, e se no centro quieta jaz,
Quando se distancia aquela, essa
Se inclina atentamente e vai-lhe atrás
E se endireita quando ela regressa.
Assim serás para mim que pareço
Como a outra perna obliquamente andar.
Tua firmeza faz-me circular,
Encontrar meu final em meu começo.
Sussurrando aos espíritos "Que vão...",
Enquanto alguns dos amigos amargos
Dizem: "Ainda respira" E outros: "Não"
Nos dissolvamos sem fazer ruído,
Sem tempestades de ais, sem rios de pranto,
Fora profanação nossa ao ouvido
Dos leigos descerrar todo este encanto.
O terremoto traz terror e morte
E o que ele faz expõe a toda a gente,
Mas a trepidação do firmamento,
Embora ainda maior, é inocente.
O amor desses amantes sublunares
(Cuja alma é só sentidos) não resiste
À ausência, que transforma em singulares
Os elementos em que ele consiste.
Mas a nós (por uma afeição tão alta,
Que nem sabemos do que seja feita,
Interassegurado o pensamento)
Mãos, olhos, lábios não nos fazem falta.
As duas almas, que são uma só
Embora eu deva ir, não sofrerão
Um rompimento, mas uma expansão,
Como ouro reduzido a aéreo pó.
Se são duas, o são similarmente
Às duas duras pernas do compasso:
Tua alma é a perna fixa, em aparente
Inércia, mas se move a cada passo.
Da outra, e se no centro quieta jaz,
Quando se distancia aquela, essa
Se inclina atentamente e vai-lhe atrás
E se endireita quando ela regressa.
Assim serás para mim que pareço
Como a outra perna obliquamente andar.
Tua firmeza faz-me circular,
Encontrar meu final em meu começo.
DONNE,
John. In: CAMPOS, Augusto de. Verso reverso contraverso.
São Paulo, Perspectiva, 1978. p. 141-2.
Entendendo o poema:
01 – O belo poema que acabamos de ler pode ser
considerado um texto dissertativo? Por quê?
O aluno deve notar que texto apresenta um
percurso argumentativo.
02 – É por meio de uma
comparação que o poeta sugere a forma de separação que pretende. Indique essa
comparação e comente seu efeito.
O poeta
estabelece uma comparação com os santos homens que expiram sussurrando; cabe a
cada aluno comentar o efeito que essa comparação lhe causa.
03 – Que argumento o poeta
utiliza para justificar sua opção por uma separação sem ruído?
Não se deve
permitir que os leigos percebam a separação dos amantes: seria uma profanação.
04 – O que sugerem a você as
imagens “tempestades de ais” e “rios de pranto” (segunda estrofe).
Trata-se de
hipérboles, de formas extremamente enfáticas de expressão.
05 – Qual a finalidade da
comparação entre terremoto e a trepidação do firmamento no conjunto do texto?
Mostrar que o
tremor mais importante e mais poderoso é imperceptível, não produz ruído. Assim
deve ser a trepidação do amor que os une.
06 – O que são, a seu ver,
“amantes sublunares” (quarta estrofe)? Que tipo de comportamento o poeta lhes
atribui?
Trata-se de uma referência irônica aos
amantes incapazes de alcançar as esferas celestes mais altas; são amantes sem
espiritualidade (“cuja alma é só sentidos”).
07 – O que distingue o par
amoroso poeta – mulher amada dos “amantes sublunares”?
A elevação
espiritual, a afeição alta que os une.
08 – Como o poeta interpreta
a separação da amada? Que imagens utiliza para reforçar sua concepção?
O poeta a traduz
como uma expansão das duas almas, e não como um rompimento.
09 – Nas três últimas
estrofes, o poeta desenvolve uma belíssima imagem para convencer a amada de
que, ainda que separados, estão unidos. Reescreva esse trecho com suas próprias
palavras, preservando toda a riqueza de detalhes do texto original.
Trata-se da
imagem do compasso em movimento, que o aluno deve identificar e reescrever.
10 – Qual a passagem do
texto que sintetiza brilhante e belissimamente todo o raciocínio desenvolvido?
“Tua firmeza
faz-me, circular, / Encontrar meu final em meu começo.”
11 – Releia o poema
atentamente e responda: qual o caminho percorrido pelo poeta para chegar à
imagem final do texto?
Primeiramente, o poeta sugere que a
separação deve ser como a morte tranquila de um santo homem; a seguir, faz
comparações, idêntica como elevada a afeição que os une, considera a separação
uma expansão das duas almas e, finalmente, introduz a imagem do compasso.
12 – A argumentação
desenvolvida pelo poeta é, na sua opinião, convincente? Você considera o poema
um texto bem-sucedido?
Resposta pessoal do aluno.
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