sábado, 21 de julho de 2018

CRÔNICA: FIM DE FEIRA - JOSÉ RUBINATO - COM GABARITO

   CRÔNICA: Fim de Feira
                        José Rubinato

    Quando os feirantes já se dispõem a desarmar as barracas, começam a chegar os que querem pagar pouco pelo que restou nas bancadas, ou mesmo nada, pelo que ameaça estragar. Chegam com suas sacolas cheias de esperança. Alguns não perdem tempo e passam a recolher o que está pelo chão: um mamãozinho amolecido, umas folhas de couve amarelas, a metade de um abacaxi, que serviu de chamariz para os fregueses compradores. Há uns que se aventuram até mesmo nas cercanias da barraca de pescados, onde pode haver alguma suspeita sardinha oculta entre jornais, ou uma ponta de cação obviamente desprezada.
        Há feirantes que facilitam o trabalho dessas pessoas: oferecem-lhes o que, de qualquer modo, eles iriam jogar fora. 
        Mas outros parecem ciumentos do teimoso aproveitamento dos refugos, e chegam a recolhê-los para não os verem coletados. Agem para salvaguardar não o lucro possível, mas o princípio mesmo do comércio. Parecem temer que a fome seja debelada sem que alguém pague por isso. E não admitem ser acusados de egoístas: somos comerciantes, não assistentes sociais, alegam.
        Finda a feira, esvaziada a rua, chega o caminhão da limpeza e os funcionários da prefeitura varrem e lavam tudo, entre risos e gritos. O trânsito é liberado, os carros atravancam a rua e, não fosse o persistente cheiro de peixe, a ninguém ocorreria que ali houve uma feira, frequentada por tão diversas espécies de seres humanos. 
                                                                      (Joel Rubinato, inédito)

Entendendo o texto:
01 – Nas frases parecem ciumentos do teimoso aproveitamento dos refugos e não admitem ser acusados de egoístas, o narrador do texto
(A) mostra-se imparcial diante de atitudes opostas dos feirantes.
(B) revela uma perspectiva crítica diante da atitude de certos feirantes.
(C) demonstra não reconhecer qualquer proveito nesse tipo de coleta.
(D) assume-se como um cronista a quem não cabe emitir julgamentos.
(E) insinua sua indignação contra o lucro excessivo dos feirantes.

02 – Considerando-se o contexto, traduz-se corretamente o sentido de um segmento do texto em:
(A) serviu de chamariz =  respondeu ao chamado.
(B) alguma suspeita sardinha = possivelmente uma sardinha.
(C) teimoso aproveitamento =  persistente utilização.
(D) o princípio mesmo do comércio =  preâmbulo da operação comercial.
(E) Agem para salvaguardar =  relutam em admitir.

03 – Atente para as afirmações abaixo.
I. Os riscos do consumo de uma sardinha suspeita ou da ponta de um cação que foi desprezada justificam o emprego de se aventuram, no primeiro parágrafo.
II. O emprego de alegam, no segundo parágrafo, deixa entrever que o autor não compactua com a justificativa dos feirantes.
III. No último parágrafo, o autor faz ver que o fim da feira traz a superação de tudo o que determina a existência de diversas espécies de seres humanos.
Em relação ao texto, é correto o que se afirma APENAS em:
(A) I. 
(B) II.
(C) III. 
(D) I e II.
(E) II e III.

04 – Está INCORRETA a seguinte afirmação sobre um recurso de construção do texto: no contexto do
(A) primeiro parágrafo, a forma ou mesmo nada faz subentender a expressão verbal querem pagar.
(B) primeiro parágrafo, a expressão fregueses compradores faz subentender a existência de “fregueses” que não compram nada.
(C) segundo parágrafo, a expressão de qualquer modo está empregada com o sentido de toda maneira.
(D) segundo parágrafo, a expressão para salvaguardar está empregada com o sentido de a fim de resguardar.
(E) terceiro parágrafo, a expressão não fosse tem sentido equivalente ao de mesmo não sendo.

05 – O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se no plural para preencher de modo correto a lacuna da frase:
(A) Frutas e verduras, mesmo quando desprezadas, não ...... (deixar) de as recolher quem não pode pagar pelas boas e bonitas.
(B) ......-se (dever) aos ruidosos funcionários da limpeza pública a providência que fará esquecer que ali funcionou uma feira.
(C) Não ...... (aludir) aos feirantes mais generosos, que oferecem as sobras de seus produtos, a observação do autor sobre o egoísmo humano.
(D) A pouca gente ...... (deixar) de sensibilizar os penosos detalhes da coleta, a que o narrador deu ênfase em seu texto.
(E) Não ...... (caber) aos leitores, por força do texto, criticar o lucro razoável de alguns feirantes, mas sim, a inaceitável impiedade de outros.

06 – A supressão da vírgula altera o sentido da seguinte frase:
(A) Fica-se indignado com os feirantes, que não compreendem a carência dos mais pobres.
(B) No texto, ocorre uma descrição o mais fiel possível da tradicional coleta de um fim de feira.
(C) A todo momento, dá-se o triste espetáculo de pobreza centralizado nessa narrativa.
(D) Certamente, o leitor não deixará de observar a preocupação do autor em distinguir os diferentes caracteres humanos.
(E) Em qualquer lugar onde ocorra uma feira, ocorrerá também a humilde coleta de que trata a crônica.



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