Crônica: Os filhos do lixo
Lya Luft
Há quem diga que dou esperança; há quem
proteste que sou pessimista. Eu digo que os maiores otimistas são aqueles que,
apesar do que vivem ou observam, continuam apostando na vida, trabalhando,
cultivando afetos e tendo projetos. Às vezes, porém, escrevo com dor. Como
hoje.
Acabo de assistir a uma reportagem
sobre crianças do Brasil que vivem do lixo. Digamos que são o lixo deste país,
e nós permitimos ou criamos isso. Eu mesma já vi com estes olhos gente morando
junto de lixões, e crianças disputando com urubus pedaços de comida estragada
para matar a fome.
A reportagem era uma história de terror
– mas verdadeira, nossa, deste país. Uma jovem de menos de 20 anos trazia numa
carretinha feita de madeiras velhas seus três filhos, de 4, 2 e 1 ano.
Chegavam ao lixão, e a maiorzinha, já
treinada, saía a catar coisas úteis, sobretudo comida. Logo estavam os três
comendo, e a mãe, indagada, explicou com simplicidade: "A gente tem de
sobreviver, né?".
Não sei como é possível alguém dizer
que este país vai bem enquanto esses fatos, e outros semelhantes, acontecem.
Pois, sendo na nossa pátria, não importa em que recanto for, tudo nos diz
respeito, como nos dizem respeito a malandragem e a roubalheira, a mentira e a
impunidade e o falso ufanismo. Ouvimos a toda hora que nunca o país esteve tão
bem. Até que em algumas coisas, talvez muitas, melhoramos.
Mas quem somos, afinal? Que país somos,
que gente nos tornamos, se vemos tudo isso e continuamos comendo, bebendo,
trabalhando e estudando como se nem fosse conosco? Deve ser o nosso jeito de
sobreviver – não comendo lixo concreto, mas engolindo esse lixo moral e
fingindo que está tudo bem. Pois, se nos convencermos de que isso acontece no
nosso meio, no nosso país, talvez na nossa cidade, e nos sentirmos parte disso,
responsáveis por isso, o que se poderia fazer?
Entendendo a crônica:
01 – Assinale a alternativa
que NÃO contém uma característica comum ao texto lido:
a) É argumentativo.
b) Trata de uma questão
relevante em termos sociais, sustentando a opinião do autor.
c) As justificativas das
posições elencadas pela autora reiteram o caráter argumentativo do texto.
d) A autora
sustenta seu ponto de vista em bases sólidas, embora não emita opinião
permitindo que o leitor a forme.
e) O texto oferece uma
análise mais detalhada e reflexiva de uma notícia veiculada pela mídia.
02 – “Eu mesma já vi com
estes olhos”. Assinale a alternativa que contém a melhor análise do significado
da expressão:
a) O trecho contém um
termo que repete desnecessariamente uma ideia já retratada.
b) A
redundância do termo ‘já vi com estes olhos’ é legítima para conferir à
expressão mais vigor e clareza.
c) A construção ‘eu
mesma já vi’ é irrepreensível em seu emprego e constitui um pleonasmo vicioso.
d) ‘vi com estes olhos’
deixa a desejar a confirmação da ideia que desejou reiterar.
e) ‘eu mesma’ contém um
fenômeno chamado tautologia que se configura pela repetição desnecessária de
dois termos que se excluem.
03 – Pelo termo ‘ufanismo’,
entende-se:
a) orgulho
exagerado.
b) corrupção
c) falta de patriotismo
d) ocultação da verdade
e) imitação do estrangeiro.
Quais as características dessa crônica?
ResponderExcluirmuito bom esse siate obrigadoooooooo
ResponderExcluircu
ResponderExcluirAmei esse site me ajudou muito💗😊
ResponderExcluir👋
ResponderExcluirThank you !
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