Texto: Violência
Tanto quanto Justino, Tavinho se achava
dono e senhor de Maria Rita, de quem recebia agrados escondidos nas vielas sem
luz da vila. A faca oscilava de um lado para o outro, ameaçadora. Tavinho,
braços erguidos, defendia o rosto de um corte possível. Nenhum dos dois falava
nada. Fez-se um círculo largo, deixando espaço para os contendores. Tudo
indicava um final sangrento para a briga covardemente favorável a Justino,
portador da peixeira.
-- Aquela quenga não vale uma vida –
gritou alguém.
-- Cala a boca, corno.
Justino queria casar com Maria Rita, de
quem já obtivera a impressão de um sim. Não sabia, no entanto, que este mesmo
sim fora dito a Tavinho. Cada passo que um dava provocava igual recuo no
adversário.
Então Jesuíno abriu a roda e ficou
entre os dois, mandando Maria Rita pra longe daquilo. Algumas vozes fizeram-se
ouvir, aconselhando Jesuíno a deixar a encrenca ser resolvida ente os dois.
“Saia daí”, “Não se meta nisso”, “Eles podem machucar o senhor”, “O senhor vai
se ferir”, “Deixe isso com eles” ..., palavras e frases esparsas e indecisa.
Jesuíno as ouvia sem dar importância. Então, começou a falar:
-- Por que tudo isso?
-- Por causa de Maria Rita, aquela
menina de Zé Honorato.
Jesuíno considerou insuficiente o
motivo para uma vida ficar ameaçada.
-- É mesmo difícil acabar com a
violência no mundo – começou. – Mas podemos, se quisermos, acabar com o nosso
desejo de violência. Maria Rita não é de um ou de outro e a escolha será dela.
Somente ela poderá elege o preferido. Esta briga nada decidirá. Que lucro
poderá trazer a qualquer um dos dois o desfecho talvez fatal deste
desentendimento? Perder ou ganhar faz parte da vida e nenhuma derrota justifica
uma vida ser arrancada. Se cada um cuidar de si e eliminar os sentimentos de
vingança, o mundo pouco a pouco se tornará menos violento.
Zé Honorato, abraçando a filha, fez-se
ouvir.
-- Nenhum dos dois presta. Ela não é de
ninguém. Desses aí, minha filha não é.
Justino abaixou a faca e começou a
mudar a expressão de rancor. Tavinho relaxou o corpo e os dois olharam Maria
Rita de olhar abaixado, evitando encará-los.
-- Vamos eliminar a violência. É um
trabalho árduo, mas vale a pena. Cada indivíduo tem que cuidar de si, auto
observando-se, transformando o ódio num sentimento mais positivo, mais
construtivo.
Justino e Tavinho deram-se as costas e
pediram ao povo que arredasse do caminho para eles passarem, cada um para um
lado. Jesuíno seguiu falando aos demais que aos poucos se achegavam.
-- O mundo precisa de harmonia e para
isso os sentimentos devem ser de celebração. Há muita coisa a ser louvada e um
dia essas coisas serão festejadas.
Zé Honorato começou a ir embora levando
Maria Rita pela mão.
-- A violência é inútil, só gera maus
frutos. Essa é a sabedoria, é o que a vida nos ensina e aos ensinamentos da
vida os inteligentes não podem das as costas.
Chico
Anízio. Jesuíno, o profeta. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.
Entendendo o texto:
01 – Na frase: “Zé Honorato,
abraçando a filha, fez-se ouvir.”
A quem se refere o pronome se?
A Zé Honorato.
02 – Que palavra pode ser
substituída pelo advérbio “muito” na frase: “É mesmo difícil acabar com a
violência no mundo”. Reescreva a frase usando “muito”:
É muito difícil
acabar com a violência no mundo.
03 – A quem se refere o
pronome “quem” no primeiro parágrafo?
Refere-se à Maria
Rita (de quem: da qual).
04 – Escolha um trecho da fala
de Jesuíno e escreva abaixo:
“-- É mesmo difícil acabar com a
violência no mundo – começou. – Mas podemos, se quisermos, acabar com o nosso
desejo de violência. Maria Rita não é de um ou de outro e a escolha será dela.
Somente ela poderá elege o preferido. Esta briga nada decidirá. Que lucro
poderá trazer a qualquer um dos dois o desfecho talvez fatal deste
desentendimento? Perder ou ganhar faz parte da vida e nenhuma derrota justifica
uma vida ser arrancada. Se cada um cuidar de si e eliminar os sentimentos de
vingança, o mundo pouco a pouco se tornará menos violento.”
05 – Quem era os dois que
estavam brigando?
Justino e
Tavinho.
06 – Qual deles é que
portava uma faca?
Justino.
07- Quem entrou no meio
deles, para apartar e acabar com a briga?
Foi Jesuíno.
08- Por causa de quem eles
estavam brigando?
Eles estavam
disputando o amor de Maria Rita.
09 – Quem é Zé Honorato, e o
que ele disse?
É o pai de Maria
Rita. “-- Nenhum dos dois presta. Ela não é de ninguém. Desses aí, minha filha
não é.”
10 – Qual foi a última
mensagem deixada por Jesuíno?
“-- O mundo precisa de harmonia e para
isso os sentimentos devem ser de celebração. Há muita coisa a ser louvada e um
dia essas coisas serão festejadas.”
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