quinta-feira, 26 de julho de 2018

CRÔNICA: O INVENTOR DE PALAVRAS - RUTH ROCHA - COM GABARITO

CRÔNICA: O inventor de palavras
            Ruth Rocha

        “Marcelo vivia fazendo perguntas a todo mundo:
        — Papai, por que é que a chuva cai? 
        — Mamãe, por que é que o mar não derrama?
        — Vovó, por que é que o cachorro tem quatro pernas? As pessoas grandes às vezes respondiam. Às vezes, não sabiam como responder. 
        — Ah, Marcelo, sei lá... 
        Uma vez, Marcelo cismou com o nome das coisas:
        — Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo? 

        — Ora, Marcelo foi o nome que eu e seu pai escolhemos.
        — E por que é que não escolheram martelo? 
        — Ah, meu filho, martelo não é nome de gente! É nome de ferramenta... 
        — Por que é que não escolheram marmelo? 
        — Porque marmelo é nome de fruta, menino! 
        — E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo?”
        --- Porque marmelo é nome de fruta, menino!
        --- E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo?
        No dia seguinte, lá vinha ele outra vez:
        --- Papai, por que é que mesa chama mesa?
        --- Ah, Marcelo, vem do latim.
        --- Puxa, papai, do latim? E latim é língua de cachorro?
        --- Não, Marcelo, latim é uma língua muito antiga.
        --- E por que é que esse tal de latim não botou na mesa nome de cadeira, na cadeira nome de parede, e na parede nome de bacalhau?
        ---Ai, meu Deus, este menino me deixa louco!
        Daí a alguns dias, Marcelo estava jogando futebol com o pai:
        --- Sabe, papai, eu acho que o tal de latim botou nome errado nas coisas. Por exemplo, por que é que bola chama bola?
        --- Não sei, Marcelo, acho que bola lembra uma coisa redonda, não lembra?
        --- Lembra, sim, mas ... e bolo?
        --- Bolo também é redondo, não é?
        --- Ah, essa não! Mamãe vive fazendo bolo quadrado...
        O pai de Marcelo ficou atrapalhado.
        E Marcelo continuou pensando:
        “Pois é, está tudo errado! Bola é bola, porque é redonda. Mas bolo nem sempre é redondo. E por que será que a bola não é a mulher do bolo? E bule? E belo? E Bala? Eu acho que as coisas deviam ter o nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo. Devia chamar sentador, não cadeira, que não quer dizer nada. E travesseiro? Devia chamar cabeceiro, lógico! Também, agora, eu só vou falar assim”.
        Logo de manhã, Marcelo começou a falar sua nova língua:
        --- Mamãe, quer me passar o mexedor?
        --- Mexedor? Que é isso?
        --- Mexedorzinho, de mexer café.
        --- Ah, colherinha, você quer dizer.
        --- Papai, me dá o suco de vaca?
        --- Que é isso menino?
        --- Suco de vaca, ora! Que está no suco-da-vaqueira.
        --- Isso é leite, Marcelo. Quem é que entende este menino?

                            Rocha, Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras
Histórias. Rio de Janeiro: Salamandra, p. 8-14.
Entendendo a história:
01 – Explique o que é cismou com o nome.
      Implicou, antipatizou.

02 – Onde era falado o latim?
      Em Roma, no Império Romano.

03 – Qual a diferença do redondo de bola e de bolo?
      Redondo de bola é esférico, do bolo é cilíndrico.

04 – Dê um sinônimo de apropriado.
      Adequado.

05 – Você acha que uma criança deve fazer sempre perguntas? A quem? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

06 – Reescreva a frase mudando palavras, mas conservando o significado: Marcelo vivia fazendo perguntas a todo mundo.
      Marcelo perguntava a toda gente.

07 – Na frase: “Vovó, por que é que o cachorro tem quatro pernas?” – Há uma expressão de reforço, que pode ser retirada sem prejudicar o sentido:
a)   Qual é?
É que.

b)   Que palavra da frase tem dois dígrafos?
Cachorro.

c)   Explique a acentuação gráfica de: Vovó.
Oxítona terminada em –o.

08 – “Ah, Marcelo, sei lá...”
a)   Qual a classe de palavras de Ah?
Interjeição.

b)   O que indica no texto?
É um reforço de fala: sei lá é negativo.

09 – Que pronomes faltam em: E eu chamar marmelo? Mesa chama mesa?
      E eu chamar-me marmelo? Mesa chama-se mesa?

10 – “Puxa, papai, do latim?” Qual a classificação da palavra puxa?
      Interjeição.

11 – O garoto perguntou: “A bola não é mulher do bolo?” Em linguagem gramatical como seria feita a mesma pergunta?
      A bola não é feminino de bolo.

12 – Explique como Marcelo formou as palavras:
·        Sentador: de sentar, como andar – andador.
·        Cabeceiro: de cabeça, como travesseiro.
·        Mexedorzinho: de mexer.





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