quinta-feira, 26 de julho de 2018

POESIA: TECENDO A MANHÃ - JOÃO CABRAL DE MELO NETO - COM GABARITO

Poesia: Tecendo a Manhã
           João Cabral de Melo Neto


Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem 


os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão. 

                              Neto, João Cabral de Melo. Poesias completas.
                4. ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. p. 19-20.
Entendendo a poesia:
01 – Podemos dizer que o texto se inicia com uma afirmação? Justifique sua resposta.
      Sim, pois o primeiro período do texto formula uma condição como indispensável: a solidariedade na construção da manhã. Essa afirmação é fundamental para o desenvolvimento posterior do texto, pois coloca o fator solidariedade como essencial ao trabalho dos galos.

02 – A elipse é a omissão de palavras ou termos facilmente subentendidos. Aponte as ocorrências de elipse no texto. Qual a finalidade do seu emprego?
      As elipses mais significativas são as formas verbais referentes aos gritos dos galos no terceiro e no quinto verso. A nosso ver, são formas de amarrar ainda mais fortemente a estrutura do texto, tornando-a coesa e econômica. Além disso, “imitam” o fluxo dos gritos entre os galos; estes não deixam o grito morrer, assim como as elipses impedem que a frase “expire”.

03 – Relacione os três últimos versos da primeira estrofe com as ideias que vimos discutindo sobre a capacidade de tecer um texto.
      É pertinente relacionar a tessitura da manhã com a tessitura da estrutura de um texto. Espera-se que o aluno faça essa leitura, entre outras possíveis.

04 – Qual a ideia dominante na segunda estrofe do texto? O que ocorre à manhã, uma vez tecida?
      A manhã, tecida, ganha autonomia e passa a envolver a todos os que a produziram. Numa leitura presa aos referentes imediatos, deve-se ressaltar para o aluno a beleza da imagem cabralina: Ela consegue captar a alegria do amanhecer que, despertado e tecido pelos galos, acaba por envolve-los. Numa leitura ligada à produção textual, deve-se realçar a autonomia adquirida pelo texto (particularmente, no caso, o texto poético) em relação ao seu produtor.

05 – O texto de João Cabral está bem tecido? Por quê?
      Espera-se que o aluno destaque os elementos coesivos do texto de João Cabral utilizando o instrumental de que dispõe, a saber, os conceitos de repetição, progresso, não-contradição e relação.

06 – Como você relaciona o resultado do trabalho dos galos com o resultado do seu trabalho de elaborador de textos?
      Espera-se que o aluno reflita sobre seu trabalho de produtor de textos, procurando enfoca-lo como um trabalho de tecelão, capaz de construir arquiteturas tão bem tramadas e tão independentes como a manhã do poeta.


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