quinta-feira, 5 de julho de 2018

CONTO: O HOMEM QUE ESPALHOU O DESERTO - IGNÁCIO DE LOYOLA - COM GABARITO

CONTO: O homem que espalhou o deserto
                                            Ignácio de Loyola


        Quando menino, costumava apanhar a tesoura da mãe e ia para o quintal, cortando folhas das árvores.
        Havia mangueiras, abacateiros, ameixeiras, pessegueiros e até mesmo jabuticabeiras. Um quintal enorme, que parecia uma chácara e onde o menino passava o dia cortando folhas. A mãe gostava, assim ele não ia para a rua, não andava em más companhias. E sempre que o menino apanhava o seu caminhão de madeira (naquele tempo, ainda não havia os caminhões de plástico, felizmente) e cruzava o portão, a mãe corria com a tesoura: tome filhinho, venha brincar com as suas folhas. Ele voltava e cortava. As árvores levavam vantagem, porque eram imensas e o menino pequeno.
        O seu trabalho rendia pouco, apesar do dia-a-dia constante, de manhã à noite.
        Mas o menino cresceu, ganhou tesouras maiores. Parecia determinado, à medida que o tempo passava, a acabar com as folhas todas. Dominado por uma estranha impulsão, ele não queria ir à escola, não queria ir ao cinema, não tinha namoradas ou amigos. Apenas tesouras, das mais diversas qualidades e tipos. Dormia com elas no quarto. À noite, com uma pedra de amolar, afiava bem os cortes, preparando-as para as tarefas do dia seguinte.
        Às vezes, deixava aberta a janela, para que o luar brilhasse nas tesouras polidas. A mãe, muito contente, apesar do filho detestar a escola e ir mal nas letras. Todavia, era um menino comportado, não saía de casa, não andava em más companhias, não se embriagava aos sábados como os outros meninos do quarteirão, não frequentava ruas suspeitas onde mulheres pintadas exageradamente se postavam às janelas, chamando os incautos. Seu único prazer eram as tesouras e o corte das folhas.
     Só que, agora, ele era maior e as árvores começaram a perder. Ele demorou apenas uma semana para limpar a jabuticabeira. Quinze dias para a mangueira menor e vinte e cinco para a maior. Quarenta dias para o abacateiro que era imenso, tinha mais de cinquenta anos. E seis meses depois, quando concluiu, já a jabuticabeira tinha novas folhas e ele precisou recomeçar.
    Certa noite, regressando do quintal agora silencioso, porque o desbastamento das árvores tinha afugentado pássaros e destruído ninhos, ele concluiu que de nada adiantaria podar as folhas. Elas se recomporiam sempre. É uma capacidade da natureza, morrer e reviver.
        Como o seu cérebro era diminuto, ele demorou meses para encontrar a solução: um machado.
        Numa terça-feira, bem cedo, que não era de perder tempo, começou a derrubada do abacateiro. Levou dez dias, porque não estava habituado a manejar machados, as mãos calejaram, sangraram. Adquirida a prática, limpou o quintal e descansou aliviado.
        Mas insatisfeito, porque agora passava os dias a olhar aquela desolação, ele saiu de machado em punho, para os arredores da cidade. Onde encontrava árvore, capões, matos, atacava, limpava, deixava os montes de lenha arrumadinhos para quem quisesse se servir. Os donos dos terrenos não se importavam, estavam em via de vende-los para fábricas ou imobiliárias e precisavam de tudo limpo mesmo.
        E o homem do machado descobriu que podia ganhar a vida com o seu instrumento. Onde quer que precisassem derrubar árvores, ele era chamado. Não parava. Contratou uma secretária para organizar uma agenda. Depois, auxiliares. Montou uma companhia, construiu edifícios para guardar machados, abrigar seus operários devastadores. Importou tratores e máquinas especializadas do estrangeiro. Mandou assistentes fazerem cursos nos Estados Unidos e Europa. Eles voltaram peritos de primeira linha. E trabalhavam, derrubavam. Foram do sul ao norte, não deixando nada em pé. Onde quer que houvesse uma folha verde, lá estava uma tesoura, um machado, um aparelho eletrônico para arrasar.
        E enquanto ele ficava milionário, o país se transformava num deserto, terra calcinada. E então, o governo, para remediar, mandou buscar em Israel técnicos especializados em tornar férteis as terras do deserto. E os homens mandaram plantar árvores. E enquanto as árvores eram plantadas, o homem do machado ensinava ao filho sua profissão.

 BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras proibidas.
Rio de Janeiro. Editora Codecri, 1979.
Entendendo o texto:
01 – Reescreva as frases, substituindo as palavras ou expressões destacadas por outras de sentido semelhante.
a)   O desbastamento das árvores tinha afugentado os pássaros.
Espantoso, afastado, mandado embora.

b)   O seu cérebro era diminuto.
Muito pequeno, miúdo, reduzido.

c)   Chegaram máquinas do estrangeiro.
De outros países, do exterior, de fora do país.

d)   Eles voltaram peritos de primeira linha.
Especialistas, entendidos; de alto nível, de alta categoria.

e)   Costumava apanhar a tesoura da mãe e ia para o quintal.
Pegar.

02 – Escreva uma frase empregando o verbo apanhar em sentido diferente do que foi usado no texto.
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Procure no dicionário o sentido de outras palavras do texto como:
·        Calcinado: Aquecido, reduzindo a carvão ou cinzas.
·        Impulsão: impulso.
·        Manejar: mover, executar com as mãos.

04 – Assinale as características da personagem principal do texto:
(X) Compulsivo.
(  ) Alegre.
(X) Destruidor.
(X) Obsessivo.
(  ) Amigo do meio ambiente.
(X) De inteligência diminuta.

05 – Observe a frase: “As árvores eram imensas e o menino pequeno.”
a)   Que palavras da frase indicam contraste, isto é, têm sentido oposto?
Imensas e pequeno.

b)   Agora, escreva expressões que indiquem ideias contrárias às seguintes:
·        Afugentando pássaros: atraindo pássaros.
·        Destruindo ninhos: construindo ninhos.
·        As árvores levavam vantagem: as árvores levavam desvantagem.

06 – Na sua opinião, que ensinamentos podemos tirar da leitura do texto?
      Resposta pessoal do aluno.

07 – Use o prefixo re e observe a mudança que ele traz para as palavras:
·        Cortando folhas: recortando folhas.
·        Adquirir a prática: readquirir a prática.
·        Organizar uma agenda: reorganizar uma agenda.
·        Construiu edifícios: reconstruiu edifícios.

08 – Preencha as lacunas, escrevendo o adjetivo e o substantivo dos verbos abaixo:
        VERBO                     ADJETIVO                     SUBSTANTIVO
·        Silenciar                   silencioso                       silêncio.
·        Habituar                    habituado                      hábito.
·        Satisfazer                 satisfeito                        satisfação.
·        Devastar                   devastador                    devastação.
·        Destruir                     destruidor                      destruição.

09 – Existe relação entre o texto e a realidade que vivemos hoje? Explique.
      Resposta pessoal do aluno.

10 – Você gostou do texto? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno.

11 – Que outro título você daria ao texto?
      Resposta pessoal do aluno.


14 comentários:

  1. alguém pode mim citar 10 frases adiverbiais desse texto?
    agradeço. ..

    ResponderExcluir
  2. Releia o última parágrafo da história é observe quantas vezes se repetiu o vocábulo *e*. Que efeito isso provoca?????

    ResponderExcluir
  3. Qual o gênero desse texto.?comédia;drama;ficção científica etc.

    ResponderExcluir
  4. Qual a resposta da 02 por favor preciso entregar hoje

    ResponderExcluir
  5. Escreva uma frase empregando o verdo apanhar em sentido diferente do que foi usado no texto resposta

    ResponderExcluir
  6. Por que a mãe preferia ve-la no quintal

    ResponderExcluir