domingo, 5 de novembro de 2023

PEÇA TEATRAL: O RAPTO DAS CEBOLINHAS - MARIA CLARA MACHADO - COM GABARITO

 Peça Teatral: O Rapto das Cebolinhas

Maria Clara Machado

Um ato em três cenas sem intervalo

 

 Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzQzNiDazU2NrKWkbPnUmSw39mQwBaV3JHnnlTVWsfQy9SKBGaxoK6ci9IDHZX10Pah01SSoyJg8X5eTW5DOCwo88jhh5HoYC4BJfU1zF7CUWAaXJ0Bb1SsNDC9RdMpcZsgwMYerTdolArTTThtNALwCgjapPb9ZpngprHWfAzL9sael_RYPpHxh73WWc/s1600/cebolinhas.jpg

        Personagens: Vovó Felícia – Maneco – Lúcia – Gaspar – o cão – Florípedes – a gata – Simeão – o burro – Camaleão Alface – Médico.

        Cenário Único – O cenário representa a horta da VOVÓ FELÍCIA.  São vistos três pezinhos de planta.  Girassóis. À frente da horta, uma cerca bem baixinha. Um espantalho. Uma árvore. Um banco na frente da árvore. Uma casa de cachorro no proscênio à direita.

        Primeira Cena  

        Vovó Felícia – (entra olhando o céu) Ah que bela noite! Que sono! (bate o relógio) Nossa já são 3 horas! É hora de dormir! Todos já se recolheram, agora sou eu (boceja). Boa noite queridas cebolinhas! (fala para o público) Estas cebolinhas são preciosas! Quem as possuir é feliz para toda vida. Elas podem trazer para cada um, maravilhosos sentimentos como a CORAGEM (amarelo), a ALEGRIA (azul), o RESPEITO (verde) e o AMOR (vermelho). (A medida que fala mostra cada uma das cebolinhas de cor diferente que podem também ter o nome dos sentimentos escrito). Ah!!! (boceja) Fiquem ai direitinho minhas cebolinhas!!! Até amanhã (sai).

        (É madrugada. Vê-se passar pela cena uma figura envolta numa capa preta, com um grande chapéu. (Os passos devem ser acompanhados do barulho de lixa raspando, reco-reco e pente de arame num tambor.) Olha para todos os lados, penetra pela porteira da cerca, olha de novo para todos os lados, procura no chão, descobre o que queria, faz o gesto de arrancar, cobre o que arrancou com a capa e, pulando a cerca, desaparece de cena, sempre escondendo o rosto. Pausa. Começa a clarear, ouvem-se o galo cantar e passarinhos. A VOVÓ FELÍCIA entra cantando alegremente, carregando regador.  Entra na horta, para e grita.

        VOVÓ FELÍCIA: Roubaram! Socorro! Socorro! Roubaram o pé de cebolinha da VOVÓ FELÍCIA Felício. Roubaram! (“Pausa”.) Quem terá sido? Quem teve coragem de roubar o pé da mais preciosa cebolinha que existe no Brasil? Onde está o Gaspar? (“À parte”.) Gaspar é o vigia da horta. (“Chamando”.) Gaspar! Gaspar!...

        “Ouve-se um latido, e em seguida aparece Gaspar, um enorme cachorrão”.

        VOVÓ FELÍCIA: Gaspar, quem roubou o meu pé de cebolinha?

        GASPAR: (“que não fala, mas late com expressão humana, dando as inflexões necessárias”) Uau... uau... (“Corre até os últimos pés de cebolinha e cheira-os ruidosamente”.)

        VOVÓ FELÍCIA: Foi você quem comeu a minha cebolinha? “Gaspar late que não”.

        VOVÓ FELÍCIA: Palavra de cachorro? “Gaspar late que sim”.

        VOVÓ FELÍCIA: (“à parte”) Estou na dúvida se cachorro tem ou não tem palavra. (“Para Gaspar”.) Então quem foi?

        GASPAR: (“meio apavorado”) Uau... uau... (“Indica a direita com o focinho”.)

        VOVÓ FELÍCIA: Foi Florípedes?

        GASPAR: Uau... uau... (“Diz que não”.)

        VOVÓ FELÍCIA: Foi Simeão?

        GASPAR: Au... au... (“Diz que não”.)

        VOVÓ FELÍCIA: Gaspar, vá correndo chamar Florípedes e Simeão. Quero todo mundo aqui.

        “Sai Gaspar”.

        VOVÓ FELÍCIA: Ah! Preciso descobrir o ladrão. Quem teria a coragem de fazer uma coisa destas? (“Chamando”.) Lúcia, Maneco! Onde estão os meus netos? Maneco, anda cá, seu maroto. Lúcia, acorda, menina. O avô foi roubado!

        “Entram Lúcia e Maneco, aflitos”.

        MANECO: Você chamou, vovó?

        LÚCIA: O que é que aconteceu, você está tão nervosa!

        VOVÓ FELÍCIA: Vocês não podem imaginar o que aconteceu? Olhem lá dentro. (“Aponta para dentro da cerca. Os dois meninos entram no cercado”.)

        MANECO: Oh!

        LÚCIA: Que horror! Pobre vovó! (“Para a plateia”.) Arrancaram o pé de cebolinha. (“Para a vovó.) Quem foi?

        MANECO: Quem foi o ladrão, hem, vovó?

        VOVÓ FELÍCIA: Não sei ainda. Temos que descobrir. Ainda ficaram 3 pés. Os últimos. (“Chorando”.) Ai, meu Deus! Estou tão triste que nem posso pensar direito. Dois anos criando essas cebolinhas, e agora...

        LÚCIA: Fique mais calmo, vovó. Não se amole tanto. Mandaremos vir outras mudas iguais e elas vão crescer que nem capim.

        VOVÓ FELÍCIA: (“indignada”) Lúcia, minha neta, não torne a dizer esse absurdo. Você sabe muito bem que estas cebolinhas são diferentes. Quem toma chá dessas cebolinhas tem coragem, respeito, alegria e amor! E estas são as últimas que existem no Brasil...

        MANECO: (“interrompendo”) Fale mais baixo, vovó. Você quer que outros ladrões apareçam para roubar as 3 que sobraram?

        VOVÓ FELÍCIA: É mesmo, meu filho. Todo o cuidado agora é pouco. Irei até a cidade contratar um detetive para descobrir o ladrão. Prestem bem atenção no pessoal daqui. Todo mundo é suspeito. Vou me vestir e já volto. (“Sai”.)

        MANECO: Pobre vovó. Quem teria sido o ladrão?

        “Ouve-se um miado, um relincho e um latido, e em seguida entram os bichos”.

        MANECO: Aí vêm os bichos. Florípedes, venha cá.

        “Ela se aproxima de Maneco, dengosa”.

        MANECO: Foi você quem roubou as cebolinhas da vovó?

        “Florípedes, assustada, vai até o canteiro, olha, mia, volta para junto de Simeão e, miando com convicção, faz que não, ofendida, como dizendo: "Isso é pergunta que se faça”?".

        MANECO: Simeão, venha cá.

        “Simeão se aproxima com medo”.

        MANECO: Foi você quem roubou as cebolinhas da vovó?

        SIMEÃO: (“com receio”) Hiiiiii. (“Faz que não”.)

        MANECO: Mas vocês dormem aqui fora. Devem ter visto alguma coisa durante a noite.

        “A gatinha e o burro dão miados e relinchos significativos de que viram alguma coisa, sim”.

        MANECO: Então viram o ladrão? (“Miam e relincham que sim”.) Como era ele? (“Os dois se olham um pouco, e depois passam pela cena imitando o andar do ladrão”.) Que andar mais esquisito. E você, Gaspar, não viu nada? Não vigiou a horta durante a noite, como era o seu dever? (“Gaspar abaixa a cabeça”.)

        LÚCIA: Vamos, Gaspar, explique-se. É para o seu próprio bem. Onde é que você passou a noite?

        “Gaspar indica que passou a noite na sua casinha. Entra na casa”.

        MANECO: E não viu nada? Ninguém entrar?

        GASPAR: Uau... uau... uau... (“Faz que não, e mostra que estava dormindo”.)

        MANECO: Como assim? Dormindo! É assim que você toma conta da horta? É assim que você é amigo da vovó? (“Para a plateia”.)

        “Gaspar, aflitíssimo, dá latidos de tristeza”.

        LÚCIA: (“indignada”) Não ofende o Gaspar, Maneco; quem sabe não deram remédio para ele dormir?

        “Gaspar, ao ouvir isso, anima-se e dá saltos significando que sim”.

        MANECO: (“intrigado”) Será possível? Então o caso está se tornando mais grave. Muito mais grave.

        LÚCIA: (“ao ouvido de Maneco”) Florípedes e Simeão viram tudo.

        MANECO: (“dirigindo-se para os dois”) Florípedes e Simeão, respondam: o ladrão era alto ou baixo? (“Os dois olham-se espantados, pensam um pouco; e depois, ao mesmo tempo, Florípedes sobe no banco e faz um gesto, indicando que o ladrão era muito alto, miando prolongado, e Simeão se abaixa relinchando, indicando que o ladrão era muito baixo”.) Que negócio é este? Cada um viu diferente? (“Os dois se olham, percebem a contradição e desmancham rapidamente o gesto. Florípedes desce do banco”.)

        LÚCIA: Era gordo ou magro?

        “Novamente os dois ao mesmo tempo indicam, Florípedes que era muito gordo e Simeão que era muito magro; hesitam um pouco e se olham com medo, percebem o erro e, muito sem graça, desmancham o gesto”.

        MANECO: Vocês estavam era sonhando. Ora essa, vocês não servem para nada. Vão-se embora.

        “Florípedes dá miados aflitos procurando chamar a atenção dos meninos para lhes dizer algo”.

        LÚCIA: (“notando Florípedes”) Espera, parece que Florípedes quer dizer alguma coisa.

        “Florípedes diz que sim”.

        MANECO: Vamos, Flor, explique-se.

        “Junto com Lúcia, corre para a gatinha. Os dois meninos a animam exageradamente. Florípedes, vendo-se dona da situação, afasta-se e começa a mímica. Imita o andar do ladrão e depois finge que desmaia, dando miadinhos finos”.

        LÚCIA: Você desmaiou quando viu o ladrão? (“Florípedes diz que sim, e Simeão mostra ao mesmo tempo que correu para socorrê-la”.) Ah, e você correu para socorrê-la quando ela desmaiou? (“Simeão faz que sim, levanta Florípedes e os dois saem correndo”.)

        MANECO: E... depois foram embora correndo?

        “Simeão faz que não, volta sozinho ao meio do palco, tenta mostrar por mímica que quem saiu correndo foi o ladrão”.

        LÚCIA: Ah!... e o ladrão fugiu?

        “Os dois respondem que sim”.

        MANECO: (“ao ouvido de Lúcia”) Ih!... Estou muito desconfiado. (“Para Florípedes e Simeão.) Podem ir agora. (“Florípedes e Simeão saem”.) Mas tratem de abrir bem os olhos e os ouvidos. (“Gaspar sai. Maneco grita na direção em que os bichos saíram”.) Todo mundo aqui é suspeito!  E essa história que os dois contaram não combinava nada. É bom espiar bem esses bichos. Eles são muito sabidos.

        VOZ DE FORA: Ó de casa!

        MANECO: (“para a plateia”) É o vizinho novo, seu Camaleão Alface.

        “Entra Camaleão Alface, de culote, chapéu de explorador e grandes bigodes. Leva nas costas uma mochila de onde tirará os objetos necessários para a ação.

        CAMALEÃO: (“ainda de fora”) Onde está a VOVÓ FELÍCIA? (“Vai entrando muito aflito”.) Onde está a VOVÓ FELÍCIA? Preciso falar com a VOVÓ FELÍCIA.

        LÚCIA: Vovó está se vestindo, seu Camaleão Alface. Ele vai à cidade para...

        CAMALEÃO: O que aconteceu?

        MANECO: Roubaram um dos pés de cebolinha.

        CAMALEÃO: (“correndo para o local do roubo”) Não é possível! Como foi isso?

        MANECO: Não sabemos ainda de nada. Vovó vai à cidade contratar um detetive.

        CAMALEÃO: Detetive?

        VOVÓ FELÍCIA: (“aparece pronto para sair e emenda a fala com a do Camaleão.) ... um detetive para descobrir o raio do ladrão que levou minha cebolinha. (“Pega a mão do Camaleão e começa a sacudi-la vigorosamente enquanto fala”.) Como vai o senhor? Como vai a Associação Protetora das Plantas?

        “Camaleão tenta falar, mas não consegue”.

        VOVÓ FELÍCIA: O senhor continua o presidente? Farei uma comunicação do roubo na próxima reunião. Agora vou à cidade contratar um detetive. (“Sai andando”.)

        CAMALEÃO: Um detetive? (“Corre atrás do VOVÓ FELÍCIA e o detém”.) Um detetive para quê, minha amiga? (“Com ar de grande superioridade”.) Então não sabe que eu sou formado detetive?

        VOVÓ FELÍCIA: O senhor?

        CAMALEÃO: (“andando lentamente no palco e muito convencido”) Passei três anos numa universidade dos Estados Unidos. (“Parado, para a plateia, e com malícia”.) Sou especialista em raptos de verduras, brotinhos, coisinhas tenras e desprotegidas.

        MANECO: Mas o senhor tem diploma, seu Camaleão?

        CAMALEÃO: Aqui está.

        “Puxa ostensivamente da mochila um enorme diploma. Maneco e Lúcia começam a abri-lo. É tão grande o diploma que Maneco precisa trepar no banco e Lúcia se ajoelhar no chão para abri-lo completamente. A VOVÓ FELÍCIA passa os olhos, encantado, pelo documento e o lê em inglês ruim. Enquanto isso, Camaleão, se transforma num detetive tirando da mochila capa com estrela, gravata borboleta e uma enorme lente”.

        VOVÓ FELÍCIA: Seu diploma é enorme, seu Camaleão Alface. (“Vai para junto dele”.) O senhor está nomeado meu detetive. Pagarei o que quiser.

        CAMALEÃO: Não cobrarei nada do senhor (“Adulador”.) Só quero a sua amizade. (“Empunha a lente e vai para o canteiro”.) Vejamos primeiro as pistas. (“Consigo mesmo, examinando o local”.) Comecemos pelo... começo. Vamos agir. Todos são suspeitos. (“Examina a avó e, logo depois, as duas crianças, que levam grande susto”.) Todos, ouviram? (“Passeia pelo palco examinando tudo com a lente, e acaba observando a ponta de sua própria bota. Vai subindo com a lente e, quando percebe o que está fazendo, diz”:) Quase todos! (“Para a VOVÓ FELÍCIA”.) Vamos, tenho um plano. (“Para os meninos”.) Que ninguém saia de casa esta noite. Ordem do detetive Camaleão Alface. (“Quase desaparecendo”.) Ninguém!

        “Os meninos examinam o diploma. Camaleão torna a aparecer e tira o diploma dos meninos”.

        CAMALEÃO: Com licença, meninos. (“Para a plateia”.) É o diploma que faz o detetive. (“Sai, solene”.)

        “Lúcia e Maneco saem atrás, Maneco irritado, Lúcia com grande admiração. Voltam logo depois”.

        MANECO: Não gostei nada dele. Achei tudo muito esquisito. Você acha que um detetive anda sempre de diploma, medalha? Ele estava com cara de quem já sabia de tudo. Mas também tenho um plano. Ainda ficaram 3 pés de cebolinhas. O ladrão na certa voltará para roubar o resto.

        LÚCIA: Ué, por que é que ele há de voltar, ora!

        MANECO: (“categoricamente”) Um ladrão volta sempre ao local do crime, Lúcia. (“Baixo”.)

        LÚCIA: É mesmo, Maneco. (“Espantada”.) Então ele é capaz de voltar esta noite. O que é que vamos fazer? Quantos suspeitos você já tem?

        MANECO: (“pensativo”) Florípedes e Simeão podem ser os ladrões. Gaspar também. Seu Camaleão Alface também pode ser o ladrão. Todo mundo pode ser o ladrão.

        LÚCIA: Ah, isso é que não! Não consigo ver o Gaspar roubando cebolinhas. Tão bom que ele é... Nem Florípedes, nem Simeão, nem seu Camaleão Alface... (“Para a plateia”.) Afinal, ele é um grande detetive!

        MANECO: (“implicando”) Você é muito boazinha, Lúcia. Por isso não serve para detetive. Um detetive tem que ser que nem eu: durão!

        LÚCIA: Ah seu bobo! Como é que você pode desconfiar dos pobres bichinhos da vovó (dá-lhe uma corrida e Maneco sai e Lúcia se esconde ao ouvir barulhos, entra Gaspar. Fareja todos os lados, dirige-se para o canteiro, cheira as cebolinhas com grande cuidado e sai. Lúcia observam-no escondidos”.

        LÚCIA: Oh!!!

        (Entra Florípedes puxando Simeão pela mão. Sobe no banco e com pequenos miados e grandes gestos procura convencer Simeão, falando-lhe ao ouvido. Simeão não parece concordar. Por fim, fica irritado e sai para o meio do palco, mostrando claramente que não concorda. Florípedes não desiste e vai atrás dele, puxando-o pelo rabo até o canteiro. Argumenta novamente. Simeão vira-lhe as costas mostrando de novo que não concorda. Florípedes tenta mais uma vez convencê-lo, usando de seus encantos felinos. Mas nada demove Simeão de sua decisão. Afinal, Florípedes, irritada, desiste, e resolve executar seu projeto sozinha. Simeão, apavorado de perdê-la, sai correndo atrás dela”.

        LÚCIA: (“que assistiu a toda a cena escondida) Oh, oh!... (“Sai correndo, chamando”.) Maneco... Maneco... Maneco...

        Segunda Cena

        Escurece bastante. É noite. Entra Maneco envolvido por uma grande capa preta, até o chão, e por um grande chapéu preto. Pé ante pé (exageradamente), com grandes flexões de joelho, olhando para todos os lados, para um momento diante da cebolinha e, fazendo que ouve um barulho (barulho do camaleão), corre e se esconde atrás do espantalho. Logo depois entra Camaleão Alface, vestido da mesma maneira, andando identicamente. Vai até a cebolinha, para um instante, atravessa a cena e ouvindo barulho dos bichos esconde-se no lugar de onde saiu. Em seguida, entram Florípedes e Simeão, ela na frente, vestidos também como os outros. Andando sempre como Maneco e Camaleão Alface, dirigem-se os dois para a cebolinha, param um instante e encaminham-se para trás da árvore, onde se escondem. Torna a voltar Camaleão, vai novamente até a cebolinha, arranca uma disfarçadamente e continua a volta pelo palco. Ao passar pelo espantalho é seguido, sem o saber, por Maneco; este, por Florípedes e Simeão. Os quatro dão uma volta por todo o palco no mesmo ritmo. A certa altura ouve-se o coaxar de um sapo. Param todos ao mesmo tempo (estão em fila indiana) e olham cada um por sua vez para trás. Recomeçam a andar e depois de uns instantes ouvem novamente o sapo. Param juntos. Camaleão volta-se e dá com os outros. Grande confusão e correria, gritos, miados, relinchos. Todo o andar dos personagens deve ser seguido do barulho de lixa, reco-reco, tambor etc.

        MANECO: Peguei o ladrão!

        CAMALEÃO: Me larga, menino, sou Camaleão, o detetive, e o ladrão é você.

        “Mais gritos, miados e relinchos até que entra a VOVÓ FELÍCIA, de ceroulas, segurando um lampião e dando a mão a Lúcia. A cena se ilumina e VOVÓ FELÍCIA vê o detetive agarrado em Maneco. Florípedes e Simeão, morrendo de medo, observam num canto”.

        VOVÓ FELÍCIA: (“entra gritando”) Que barulho medonho é este? Parem de gritar. (“Vendo a cena”.) Meu Deus, quantos ladrões! (“Ilumina cada ladrão com o lampião. Lembra-se das cebolinhas e corre para o canteiro.) Roubaram o meu segundo pé de cebolinha!! (“Senta-se desolada no banco”.)

        CAMALEÃO: (“tirando o disfarce”) Pode ficar certa, VOVÓ FELÍCIA, que o ladrão está por aqui. Pus este disfarce para ver se confundia o larápio, e o senhor há de perceber que aqui há dente-de-coelho.

        MANECO: (“também tirando o disfarce”) Também pus o disfarce para o ladrão se confundir, vovó.

        VOVÓ FELÍCIA: (“irônico, levanta-se e dirige-se aos bichos”) É, e vocês dois aí no canto, também puseram o disfarce para ver se pegavam o ladrão mais facilmente, não é?

        “Florípedes e Simeão, aterrorizados, meneiam a cabeça dizendo que sim”.

        VOVÓ FELÍCIA: (“senta-se novamente e diz, lamuriosa”) É assim que me ajudam? O que vocês estão fazendo é ajudar o ladrão. Com isso ele roubou minha segunda cebolinha.

        CAMALEÃO: (“indo para o meio do palco e tomando conta da situação”) Todos os presentes são suspeitos. Desobedeceram à minha ordem de não sair à noite. Vamos, quero vocês aí enfileirados para uma inspeção. (“Todo amável com o VOVÓ FELÍCIA”.) A cebolinha raptada não deve estar muito longe.

        “Maneco recusa-se a obedecer.  Lúcia empurra o Maneco para o lugar e este fica emburrado”.

        CAMALEÃO: Abram a boca e Mostrem as mãos. (“Ele examina. Puxa a VOVÓ FELÍCIA para o centro do palco e diz-lhe confidencialmente:”). Talvez o suspeito tenha engolido a cebolinha na hora da confusão, e o cheiro deixado na boca será uma pista preciosa. (“Volta aos bichos e cheira a boca de Simeão e Florípedes. Torna a cheirar Florípedes, Florípedes mia de medo. Ouvem-se latidos sofredores cada vez mais fortes”.)

Entendendo a peça teatral:

01 – Qual é o cenário da peça?

      O cenário da peça é a horta da Vovó Felícia.

02 – Quem são os personagens principais da peça?

      Os personagens principais são Vovó Felícia, Maneco, Lúcia, Gaspar (o cão), Florípedes (a gata), Simeão (o burro) e Camaleão Alface (o detetive).

03 – Por que as cebolinhas da Vovó Felícia são consideradas especiais?

      As cebolinhas da Vovó Felícia são especiais porque são capazes de transmitir sentimentos como coragem, alegria, respeito e amor para quem as possui.

04 – O que acontece na primeira cena da peça?

      Na primeira cena, a Vovó Felícia percebe que uma de suas cebolinhas especiais foi roubada, e ela convoca seus netos, Maneco e Lúcia, para ajudar a descobrir quem foi o ladrão.

05 – Quem são os suspeitos iniciais do roubo?

      Os suspeitos iniciais do roubo são os animais da horta: Gaspar, Florípedes e Simeão.

06 – Quem é o detetive que se oferece para ajudar a Vovó Felícia a descobrir o ladrão?

      Camaleão Alface se oferece para ser o detetive e ajudar a resolver o caso.

07 – Por que os suspeitos começam a usar disfarces na segunda cena?

      Os suspeitos, incluindo Maneco e Camaleão Alface, usam disfarces para tentar confundir o ladrão e capturá-lo.

08 – Como a Vovó Felícia reage à confusão criada pelos suspeitos?

      A Vovó Felícia fica desolada e frustrada com a confusão e a falta de ajuda dos suspeitos, já que a segunda cebolinha também é roubada.

09 – Qual é a sugestão do detetive Camaleão Alface para encontrar a cebolinha roubada?

      Camaleão Alface sugere que todos os suspeitos sejam inspecionados, inclusive suas bocas, para verificar se a cebolinha foi ingerida durante a confusão.

10 – Como os suspeitos reagem à inspeção do detetive?

      Os suspeitos reagem com desconfiança e relutância em cooperar com o detetive durante a inspeção.

11 – Por que os animais da horta começam a latir e miar durante a cena noturna?

      Durante a cena noturna, os animais começam a latir e miar devido a algum barulho ou movimento suspeito que percebem na horta.

12 – O que acontece com a segunda cebolinha roubada no final da segunda cena?

      A segunda cebolinha é roubada durante a confusão e não é encontrada, agravando a situação e deixando a Vovó Felícia ainda mais triste.

 

CRÔNICA: ENTRADA PROIBIDA - ADRIANA FALCÃO - COM GABARITO

 Crônica: Entrada Proibida

              Adriana Falcão

        A sala do coração tem muitas janelas e duas portas, a que dá pra dentro e a que dá pra fora. A que dá pra dentro está sempre aberta. A que dá pra fora vive trancada. Espalhadas pela sala, as notícias do jornal de hoje, a bobagem dita ontem, o natal passado, o retrasado, a mula sem cabeça, o banco imobiliário, uma febre, um sarampo, a enchente, o cometa Harley, um São João, um Jeep amarelo, a foto do casamento, o nascimento do filho, o velório da avó, a festa do tetra, a desesperança do mundo, a expectativa do próximo fim de semana e outras tralhas, cada qual lá com sua importância, vão acumulando poeira. Talvez se sintam meio tristes por estarem virando memória, quadro, objeto na estante. Talvez se sintam felizes. Quem sabe?

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        O coração tem muitos quartos. No primeiro, logo o da frente, algumas lembranças dormem, umas riem, umas mentem, outras doem. O bolo de aniversário dos seus oito anos, não o dos sete nem o dos nove, o olhar azul da avó quando entrava na ambulância, o primeiro beijo, foi na escada?, a primeira mão que desceu mais um pouquinho, o refrão daquela música que um dia embalou o final do seu namoro e nunca, nunca mais vai tocar no rádio, a primeira vez que, sem ninguém explicar, você juntou o nome à pessoa e a palavra orgasmo (tirada de alguma matéria de revista) legendou seu pensamento, uma cama laqueada com um estrado tão atento que no melhor da história, por piada ou por recato, quase sempre desabava, aquele sapatinho de bebê que só você sabe a cor exata e o exato pompom, o dia da derrota do seu candidato, da sua ingenuidade, da sua felicidade, da sua ignorância, da importância daquela pessoa, daquela outra, e daquela, especialmente, que um dia já foi tanto, tanto, tanto.

        O segundo quarto é meio escuro e faz tempo que não recebe um vento. É ali que estão guardados, em caixas, caixinhas, caixonas, envelopes, sacolas, pelos cantos, uns entulhos e uns tesouros. Quase ninguém entrou nesse quarto, além de você, e mesmo você só entra lá muito de vez em quando. Imagina só que perigo se deparar assim de repente com aquela canção de ninar, um lápis de bandeirinhas mordido na ponta, o apontador verde, o estojo, a máquina de escrever do escritório do seu pai, uma barraca colorida de praia, o botão número três do elevador de um prédio antigo, o nome que você fazia com letras de macarrão ou o formato exato da boca do dono desse nome, a primeira desilusão, o primeiro desapego, a primeira devassa, uma tarde, numa praia, uma certeza insistente, a vontade de que chegue amanhã, vai, amanhã, chega logo, amanhã vai ser uma beleza.

        O terceiro quarto permanece fechado de dia e só se abre, certas noites, em alguns sonhos. Lá estão, entre outras tantas, coisas que não fazem nenhum sentido aparente, pedaços, cheiros, fitas, mofo, uma bacia de lata, um compacto simples, um cinzeiro laranja, uma mentira, uma vergonha, um medo, um choro engolido, detalhes que nem você sabia que existiam ainda, violentos assim, se é que eles ainda existem (o coração às vezes também inventa um pouco).

        O último quarto, no fim do corredor, hoje em dia é só depósito. Um dragão imenso, parado na porta, tenta parecer assustador uma vez que serve de vigia. Ou pensa que serve. Mal sabe ele que foi tirado da fachada de um restaurante chinês, ou, na melhor das hipóteses, de uma página de um livro de arte. Ninguém sabe até hoje o que tem dentro desse quarto, nem você, nem a sua mãe, nem o seu psiquiatra. Enquanto o dragão fica lá convicto de que você morre de medo dele, você continua convencido de que só não entra ali pra não ter o trabalho de matar o coitado.

        No banheiro, antigo e grande, tem uma banheira que já foi oceano de bonecos, uma cortina de plástico, alguns decalques (meio tortos) descascados nos azulejos, um bidé muito importante e uma mania de comer pasta de dente escondido dos outros. Um biscoito que você mordia cuidadosamente pelas bordas para preservar intacta a figura que tinha dentro, (era uma árvore, parece), está guardado na cozinha do coração junto com o cheiro do feijão da sua avó e a esperança de que estivessem fritando batatas.

        O quintal está interditado. É campo minado. É um perigo. Deve ser atávico. Ninguém precisa ter tido um quintal na vida pra saber a alegria e a tristeza que podem causar uma cerca, um portão, uma pedra, uma lagarta. Nunca visite o quintal do seu coração, não corra esse risco, não cometa essa loucura, a não ser em caso de extrema necessidade ou em dias de vento forte, raios, relâmpagos e muitas trovoadas. Se você por acaso der de cara com você lá, brincando, bem contente, a sua vida pode virar uma calamidade.

Entendendo a crônica:

01 – O que a autora descreve como estando na "sala do coração"?

      A sala do coração contém muitas janelas e duas portas, com objetos, lembranças e experiências da vida.

02 – O que a autora descreve nos quartos do coração?

      A autora descreve que o coração tem vários quartos onde memórias, lembranças e experiências estão guardadas, cada uma com suas peculiaridades.

03 – O que está no terceiro quarto do coração, que permanece fechado durante o dia?

      O terceiro quarto contém coisas que não fazem sentido aparente, pedaços, cheiros, fitas, mofo, entre outras memórias obscuras.

04 – Qual é o papel do dragão na porta do último quarto do coração?

      O dragão na porta do último quarto é um elemento de proteção, embora seja apenas decorativo, e a autora sugere que ninguém sabe o que está dentro desse quarto.

05 – O que a autora aconselha sobre visitar o quintal do coração?

      A autora aconselha que o quintal do coração é um lugar perigoso e que as pessoas não devem visitá-lo, a menos que seja absolutamente necessário ou em situações de turbulência emocional.

06 – O que está guardado na cozinha do coração, de acordo com a crônica?

      Na cozinha do coração, a autora menciona que estão guardados um biscoito com uma figura dentro, o cheiro do feijão da avó e a esperança de que estivessem fritando batatas.

07 – O que a crônica sugere sobre as memórias e experiências guardadas no coração?

      A crônica sugere que as memórias e experiências guardadas no coração são variadas, algumas felizes, outras dolorosas, e que cada uma delas possui um espaço específico nos quartos do coração, muitas vezes trancados ou inacessíveis.

 

CRÔNICA: SAIA FOI FEITA PARA MULHER... SÉRGIO BELLEZA - COM GABARITO

 Crônica: Saia foi feita para mulher…

              Sérgio Belleza*

        E calça para homem. No início dos anos 70, no auge da minha juventude em Jaguaquara, o Planeta Terra sofre mutações e tudo vira pelo avesso! O rumo das coisas no mundo, especialmente no Brasil e na Bahia, mudam, assustadoramente. É a década da alternativa, do fazer, de ser diferente. A minha cidade exagera no consumo do novo, do moderno, sobretudo da liberdade e da extravagância!

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgC8V4MTbp_HAmqMSKV9C6pfVGFZqTdM61ZqX0Y9yUtqz_wQIkFm72TKdLInvi3zrzI3CDez2evkdXBYT2Zc2lYcNmLpZZya434Bds85a73-BS5qrGP5CfCs-XBgKiittLfceA2X1xqR7CIwhkNdxRq3-FWG9TAXMRBACzxBreLeuu01KeU6P04kpP12z0/s1600/MINISAIA.jpg


        Aí aparece a minissaia e cai no gosto das meninas! A moda pega e os jovens e os adultos, ficam todos boquiabertos! Desde que vi uma garota desfilando com uma minissaia, nunca mais deixei de admirar uma “belezura”, como se dizia, usando saia, sobretudo com 5, 7cm acima do joelho. Com o passar dos anos, aprendi a contemplar a beleza de uma mulher de saia e a sentir pequenos detalhes que proporcionavam um espetáculo de ilusão aos meus olhos. Compreendi também que me embevecer com a beleza de uma mulher na minúscula saia, era a capacidade de desejá-la sem perder a ternura e respeito pela obra divina do Criador!

        O ilustrador, cartunista e pintor francês, Jean-Albert Carlotti (1909-2003), definiu a beleza da mulher como “o somatório de todas as partes a trabalharem em conjunto de tal forma que nada necessite ser acrescentado, retirado ou alterado… e isto és tu: a Beleza”. Carlotti certamente tinha visto naquele momento uma linda mulher com uma saia acima do joelho. Para mim, o belo não passa despercebido! Não admirar uma mulher com um corpo harmonioso, belas pernas e de saia curta, é olhar um lindo jardim e nada sentir! É como ver o infinito do mar, o nascer do sol, o recuar do entardecer, o canto dos pássaros, o sorriso de uma criança sem sentir um aperto no fundo do peito. Mesmo porque, a beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla de todo o seu coração!

        Alguns admiram, outros apenas enxergam a beleza das coisas, a beleza de uma jovem de minissaia, de uma mulher de saia curta, ou uma senhora de saia. Quando meus olhos e minhas palavras deixarem de expressar o que o meu coração sente, prefiro morrer. Bob Marley dizia que alguns sentem a chuva, outros apenas se molham. Sentir é vibrar, admirar, viver com intensidade, mas com naturalidade, maturidade, e saber identificar os desejos ardentes do coração.

        Saia foi feita pra mulher, e calça para homem. Calça para homem dispensa comentários. Para a mulher a calça também fica muito bem, porém requer imaginação. Saia é outra coisa.

        A saia em seus diversos estilos traduz elegância, sensualidade e beleza. Algumas em destaque há anos – a “plissada” que dá um ar de vintage aos looks, a de “prega” um ar fetichista; a “drapeada” mais ajustada ao corpo.  E ainda a de “babados” para as longevas. A “evasê” é ícone da Vanguarda dos anos 60, utilizada por jovens e senhoras. A saia godê, típica dos anos 1950 e 1980 e, usada nos dias atuais, é sinônimo de romantismo e feminilidade. Ou a minissaia para desestruturar ainda mais o já combalido macho latino-americano.

        Num shopping, na rua, em qualquer lugar, quando uma mulher passa de saia desfilando no palco da vida, ela expõe por inteiro sua simetria entre a arte e o belo, é a própria extensão do sublime. Em tempo ressalto – não devemos admirá-la ou elogiá-la por partes, é necessária a harmonização circunspecta de todo o seu ser.

*Sérgio Belleza é administrador, empresário, consultor e autor dos livros, Caminhado com Walkyria e Ascensão e Queda de um Império Econômico. srsbelleza@bol.com.br / www.sergiobelleza.com.br.

Entendendo a crônica:

01 – Onde e quando se passa a crônica? Qual é o contexto temporal da narrativa?

      A crônica se passa nos anos 70, na cidade de Jaguaquara, Brasil, durante uma época de mudanças culturais e de moda.

02 – Qual é o tema principal da crônica?

      O tema principal da crônica é a apreciação da beleza da mulher usando saia, destacando como a saia é vista como um símbolo de elegância, sensualidade e beleza.

03 – Como o autor descreve sua apreciação pelas mulheres usando saia?

      O autor descreve sua apreciação como a capacidade de admirar a beleza das mulheres de saia, observando pequenos detalhes que acrescentam um toque de ilusão aos olhos, mantendo o respeito e a ternura pela mulher.

04 – Quais são alguns estilos de saias mencionados na crônica?

      Alguns estilos de saias mencionados na crônica incluem a "plissada", "prega", "drapeada", "babados", "evasê", "godê" e a "minissaia".

05 – Como o autor compara a apreciação da beleza das mulheres à apreciação da natureza e de outras coisas belas?

      O autor compara a apreciação da beleza das mulheres à apreciação da natureza e de outras coisas belas, enfatizando que sentir a beleza é vibrar e admirar com intensidade, assim como se sentir ao observar o mar, o nascer do sol, entre outras coisas.

06 – Qual é a mensagem final da crônica em relação à apreciação da beleza das mulheres usando saia?

      A mensagem final da crônica enfatiza a apreciação da mulher usando saia como uma extensão do sublime e a importância de admirá-la como um todo, em vez de focar apenas em partes. O autor celebra a beleza e a feminilidade das mulheres de maneira respeitosa e harmoniosa.

 

CONTO(FRAGMENTO): O HOMEM QUE SÓ TINHA CERTEZAS - ADRIANA FALCÃO - COM GABARITO

 Conto(Fragmento): O homem que só tinha certezas

            Adriana Falcão

        Nem o homem feliz de Maiakovsky nem o homem liberto de Paulo Mendes Campos, resolvi imaginar outra improbabilidade. Digamos que aparecesse agora, justo aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, mais exatamente, bem aí na sua frente, um homem que só tivesse certezas.

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn03SzJMBZnTrJFukEDp16WWFPSypXwmR7hdx8aP3H3TvAfmuspIhmjUWo4UMx-A99PFU3YuBHieR2cA9kYybiMjpNVqy_RPUSRcg69E1hZciLDPs_CeyJzguzxi-WlAq2qaS6aIYC_ZuEfTBxOW75hcCPcHMi3Dg_i5xie9L4f4ncj7r9i2a68z7Gksk/s1600/S%C3%89RIO.png 


        O homem que só tinha certezas quase nunca usava ponto de interrogação, e em seu vocabulário não constavam as expressões: talvez, quiçá, quem sabe, porventura.

        Parece que foi de nascença. Ele já teria vindo ao mundo assim, com todas as certezas junto, pulou a fase dos por quês e nunca soube o que era curiosidade na vida. Na escola, era uma sensação. Mas não ligava muito pra isso não. E cresceu achando muito natural viver derramando afirmações pela boca. Tinha resposta pra tudo, o homem que só tinha certezas, mas o maior orgulho do homem eram as certezas mais duvidosas que ele tinha. A certeza de que o mais fraco ia vencer, de que as coisas iam melhorar, de que o desenganado ainda teria muitos anos pela frente.

        A notícia espalhou-se rapidamente. Como ele vivia no meio de pessoas, e pessoas vivem cheias de dúvidas, logo começaram a pedir sua opinião para os mais diversos assuntos, os triviais e os de grande importância, e ele, certo de que podia viver muito bem de suas certezas, virou um consultor. Pendurou em sua porta uma placa onde estava escrito “Consultor de tudo” e o negócio foi crescendo aos pouquinhos. Devido ao boca-a-boca favorável de clientes e a um único anúncio no rádio, passou a atender, sem nenhum exagero, milhares de pessoas por dia, até que limitou o número de consultas diárias para quatrocentos e oitenta, um minuto e meio por pessoa, o que era mais do que suficiente para uma resposta certa desde que a pergunta não fosse muito longa.

        Chegava gente do país inteiro e depois de outros continentes, pessoas comuns, pessoas ilustres, todas elas indecisas, mas cada pessoa só tinha direito a uma pergunta por consulta, o que as deixava mais indecisas ainda. Certa vez uma moça chegou na dúvida se devia perguntar primeiro sobre o amor ou o trabalho, no que o homem respondeu, sobre o amor, é claro, senão você não vai conseguir trabalhar direito, e deu por encerrada a consulta. O homem que só tinha certezas aconselhou um garoto tímido a tomar quatro cervejas, encorajou um político receoso a aprovar um projeto esquisitíssimo que se destinava a melhorar a vida dos homens, avisou a uma senhora preocupada com os anos que no caso dela nada melhor do que beijos na boca, desentorpeceu um rapaz doente de amor por uma mulher que gostava de outro, convenceu o ministro da fazenda de que ou o dinheiro era pouco, ou eram muitos os homens, ou ele estava louco, ou alguém tinha se enganado nas contas.

        Não demorou muito para se tornar capa de todas as revistas e personagem assíduo dos programas de TV. Para cada pergunta havia uma só resposta certa e era essa que ele dava, invariavelmente, exterminando aos pouquinhos todas as dúvidas que existiam, até que só restou uma dúvida no mundo: será que ele não vai errar nunca? Mas ele nunca errava, e já nem havia mais o que errar, uma vez que não havia mais dúvidas.

        Num mundo que só tinha certezas, o homem que só tinha certezas virou apenas mais um homem no mundo. Melhor assim, ele pensava, ou melhor, tinha certeza.

        Um dia aconteceu um imprevisto, e o homem que só tinha certezas, quem diria, acordou apaixonado. Para se assegurar de que aquela era a mulher certa para ele, formulou cento e vinte perguntas, que ela respondeu sem vacilar, mandou fazer mapas do céu, exames de sangue, contagem de triglicerídeos, planilhas complicadíssimas e finalmente apresentou a moça à sua mãe e ao seu cachorro. Os dois se amaram noites adentro, foram a Barcelona, tiraram fotos juntos, compraram álbuns, porta-retratos, garfos, facas, um escorredor de pratos, tiveram filhos e tal, e, desde então, por alguma razão desconhecida, o homem que só tinha certezas foi perdendo todas elas, uma por uma. No início ainda tentou disfarçar, por via das dúvidas, quem sabe era um mal passageiro? Mas as dúvidas multiplicavam-se como praga (dúvidas se multiplicam?), espalharam-se pelo mundo, e agora, meu Deus? Deus existe? Existe sim. Ou será que não? Ele não estava bem certo.

Adriana Falcão, em “O doido da garrafa” (Ed. Planeta, 2003).

Entendendo o conto:

01 – Onde se passa a história do conto?

      A história se passa no Rio de Janeiro, Brasil.

02 – Qual é a característica mais marcante do homem que só tinha certezas?

      A característica mais marcante desse homem é que ele só tinha certezas, nunca usava pontos de interrogação e não tinha dúvidas.

03 – Como o homem que só tinha certezas se tornou conhecido como consultor?

      Ele pendurou uma placa na porta de sua casa com a inscrição "Consultor de tudo" e começou a atender pessoas que buscavam suas respostas certas.

04 – Qual foi o limite de consultas diárias estabelecido pelo homem que só tinha certezas?

      Ele limitou o número de consultas diárias para quatrocentos e oitenta, com um minuto e meio por pessoa.

05 – O que aconteceu quando o homem que só tinha certezas se apaixonou?

      Ele começou a ter dúvidas, perdeu suas certezas e questionou sua própria convicção.

06 – Qual foi a última dúvida que restou no mundo após o homem que só tinha certezas perder suas certezas?

      A última dúvida que restou no mundo foi se Deus existe, e o homem já não estava mais certo sobre isso.

 

CRÔNICA: SEGUNDA-FEIRA - ADRIANA FALCÃO - COM GABARITO

 Crônica: Segunda-Feira

                 Adriana Falcão

        Toda segunda-feira começa cedo mesmo que se acorde tarde.

        As segundas, aliás, começam quase sempre na véspera, “amanhã já é segunda” (toda noite de domingo traz com ela, além da depressão habitual e do som de uma TV ligada, uma segunda-feira inevitável).

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHbYJMh-AsROinvSgKIjXWaVSu7HLMkkOrRxaQvqFsYRL7qrDPqQOLgY6fPi6OYIF5lh2jXiRNMyUeFHbBgw8nOcvfkh6jlYAlM4TgeCxM0WlW8K4An0xlSQnVNgNcMRVAQbC2yHIPQlHB7wXyIPSIYYyrmj4ty0Rc63yYuursuWWd0z2MWP4ftS-ruSA/s1600/SEGUNDA.jpg
        Toda segunda há uma promessa a ser cumprida, pelo menos uma, muitos ônibus lotados, atrasos motivados pelos mais diversos motivos e um alto índice de enfartes.

        Toda segunda tem a esperança de um telefonema que mude a sua vida, tem um papel pra ser assinado, tem uma prestação pra se botar em dia e tem uma importante decisão a ser tomada.

        Toda segunda tem um pouquinho de primeiro do ano.

        Toda segunda, um cantor de bar fica rouco, um bailarino está exausto, um artista de teatro aproveita sua folga até a próxima quarta e a namorada de um garçom capricha na lavanda.

        Toda segunda, um homem que bebe procura urgentemente uma desculpa.

        Toda segunda tem alguém que parou de beber, tem alguém que parou de fumar, tem alguém começando uma dieta.

        Toda segunda, em um prato, em uma cozinha, tem um resto de bolo de chocolate.

        Toda segunda, as agendas das garotas acumulam novos ingressos de show, notinhas de bar, pétalas de flor, guardanapos de papel, bilhetes de amor e ficam ainda mais gordas.

        Em compensação, as folhinhas, se é que ainda existem folhinhas, vão ficando mais magras.

        Toda segunda tem pelo menos um bom-dia que é dito com alegria por alguém que encontrou o seu amor no final de semana, e pelo menos um que é dito com tristeza por alguém que perdeu o seu, ou porque ele se foi, ou porque o amor perdeu a graça.

        Toda segunda, secretárias com muitas aventuras pra contar deixam os chefes malucos atrás de documentos, relatórios e cronogramas.

        Toda segunda, os desenganados têm mais um domingo pra contar e os infelizes da vida ficam contentes porque têm menos um domingo pela frente.

        Toda segunda, alguém começa uma contagem regressiva.

        Toda segunda, uma expectativa se estabelece.

        Toda segunda, um prazo se esgota.

        Segunda sim, segunda não, já se passou uma quinzena e alguém continua esperando alguma coisa que não chega nunca.

        Toda segunda existe um trabalho chatíssimo pra fazer, a não ser que, sorte a sua, seja feriado.

        Toda segunda é ensolarada, mesmo as mais chuvosas, só para arruinar o humor da humanidade.

        Toda segunda é igual à outra, menos se o seu time ganhou, se o despertador não tocou, se o seu filho nasceu ou se um terremoto destruiu a cidade.

        Toda segunda nasce não sei quantas crianças, umas de parto normal, umas de cesariana, e todas elas, benza Deus, segunda que vem vão completar uma semana.

        Toda segunda faz um ano exato que um fato qualquer aconteceu e para alguma pessoa, por algum motivo, isso tem uma enorme importância.

        Toda segunda é meio lembrança, meio começo, meio cansaço, meio maçante, meio preguiça, meio esperança.

        Toda segunda tem alguma coisa ruim, alguma coisa boa e uma péssima fama.

Texto de Adriana Falcão.

Entendendo a crônica:

01 – Como a autora descreve o início de cada segunda-feira?

      A autora descreve que toda segunda-feira começa cedo, mesmo que alguém acorde tarde, e frequentemente a sensação de que a segunda-feira se aproxima já começa no domingo.

02 – Que tipos de compromissos e atividades são mencionados como parte de uma segunda-feira comum?

      Na crônica, são mencionados compromissos, ônibus lotados, atrasos, telefonemas importantes, papéis a serem assinados, prestações a pagar, decisões a serem tomadas e início de dietas, entre outros.

03 – Como a autora descreve a atmosfera das segundas-feiras?

      A autora descreve a atmosfera das segundas-feiras como tendo um toque de "primeiro do ano," onde as pessoas têm esperança, e algumas tomam decisões, como parar de beber, parar de fumar ou começar uma dieta.

04 – Qual é a relação entre as garotas e suas agendas nas segundas-feiras?

      Nas segundas-feiras, as agendas das garotas ficam mais cheias, acumulando ingressos de show, bilhetes de amor e outras lembranças, tornando-as mais "gordas."

05 – Como as segundas-feiras afetam os desenganados e os infelizes da vida?

      Às segundas-feiras significam um novo domingo para os desenganados, enquanto os infelizes da vida ficam contentes porque têm um domingo a menos pela frente.

06 – O que acontece toda segunda-feira em relação a datas importantes?

      Toda segunda-feira faz um ano exato que algum evento ocorreu, e isso pode ser de grande importância para alguém por algum motivo.

07 – Como a autora descreve a natureza das segundas-feiras?

      A autora descreve que toda segunda-feira é "meio lembrança, meio começo, meio cansaço, meio maçante, meio preguiça, meio esperança" e que ela tem uma péssima fama, sendo considerada um dia difícil por muitos.

 

 

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

POEMA: AMORA - MARCO CATALÃO - COM GABARITO

 POEMA: amora

a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5BO7Itg6KswdsVblxzlic1MQGN85ujkSYghyDcTjDaf9J1tDI-yWqN4Hqk5DCH3kbK7wvyUm_BbSL9DsAkMa7TcokcdJp6eOfA0XlJYQTHUyvxZLKUJ7iUlV20K47Ezz1gwUU_M5Dc2xFCtrgxI19RdqeDLcWQq4D2vihXpGOQYGw6P60oWCaFnWhtMU/w217-h142/AMORA.jpg


a palavra amargo
seria talvez mais doce
e um pouco menos acerba
se não trouxesse em seu corpo
(como uma sombra a espreitar)
a memória da palavra amar

Marco Catalão, Sob a face neutra.

01. É correto afirmar que o poema

      a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos amargo e sombrio. 

      b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da palavra “talvez”. 

      c) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sentimento amoroso. 

      d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”. 

      e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente.

 

02. Tal como se lê no poema,

      a) a palavra “amora” é substantivo, e “amargo”, adjetivo. 

      b) o verbo “amar” ameniza o amargor da palavra “amargo”. 

       c) o substantivo “corpo” apresenta sentido denotativo. 

       d) o substantivo “amor” intensifica o dulçor da palavra “amora”. 

       e) o verbo “amar” e o substantivo “amor” são intercambiáveis.

 

03. “como uma sombra a espreitar”. A palavra “espreitar” pode ser trocada, sem alterar o sentido do texto por 

a) olhar às escondidas. 

b) recusar. 

c) copiar. 

d) analisar. 

04. Qual figura de linguagem é utilizada para apresentar características humanas às palavras "amora" e "amargo"?

a) Metáfora
b) Prosopopeia ou personificação
c) Hipérbole
d) Anáfora

05. Qual sentimento é evocado pela palavra "amargo" no poema?

a) Tristeza
b) Alegria
c) Doçura
d) Amor

domingo, 29 de outubro de 2023

CRÔNICA: UM DIA DE MÃE - ADRIANA FALCÃO - COM GABARITO

 Crônica: UM DIA DE MÃE

               Adriana Falcão

        Chegou exausta, cheia de sacolas, dor de cabeça, morta de calor, faminta, caótica, e com um firme propósito: tomar um banho e cair na cama. Encontrou uma acalorada discussão a respeito da impossibilidade de se dividir um computador em três (sem despedaçá-lo) e as três crianças aos berros. Todas as luzes da casa estavam acesas. A pressão subiu um pouco.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHNVWWEo7R8WUujTH6INBPEzzdizhrHDXP8VmzXkH6LSREg0lvK6oyZ3CwWDO0OCFjbPA_t0Vab2o_MEYyP3pHBu_Ry6yHALI0p1aHe6E-h2WJAA-IPCssErFC0LZb0pk5lrd43i2LSoYuZBZARSoy4lJAiUV0Rv8EQ1qE7cJZwiGecRG1YEwuogEIC4w/s320/mae-cansada.jpg


        -- Vocês querem fazer o favor de apagar as luzes enquanto eu tomo o meu banho?

        Inútil. Todos os membros da família foram acometidos da síndrome de pensar em outra coisa, mal muito comum entre maridos e filhos durante reclamações, queixas, opiniões, etc.

        Saiu pela casa desligando tudo que estava aceso para o nada: lâmpadas, som, TV, internet...

        -- Por isso que eu liguei pra cá e só deu ocupado o dia inteiro!

        -- O quê?

        Nada. Já tinha desistido de competir com o walkman há muito tempo.

        No quarto da filha mais velha, dezenove blusas, cinco saias e quatro vestidos estavam espalhados em cima da cama para devida apreciação da mesma.

        -- Vai sair?

        -- Desisti. Não tenho roupa.

        A pressão subiu vertiginosamente. Bobagem. Nada que um banho não resolvesse.

        -- Esse jantar não sai hoje não?

        Esquece o banho.

        -- Sopa de novo?

        Calma.

        -- Ergh!

        Respira.

        -- Por que eu não tenho copo?

        Palpitação moderada. Coisa controlável. Foi buscar o copo.

        -- Aproveita que tá na cozinha e frita um ovo pra mim?

        Claro. Fritar ovo inclusive é uma ótima terapia ocupacional pra quem já passou por dois engarrafamentos, banco, pediatra, ginástica, supermercado, uma papelaria entupida de mães comprando material escolar e cinco reuniões de trabalho. Normal.

        -- Você não sabe que eu só gosto de gema mole?

        Teve uma leve síncope nervosa, mas conseguiu se controlar. Afinal, a culpa era dela. Como podia ter cometido um erro tão grave? É óbvio que a mais velha e a do meio gostavam de gema mole, (muito sal para a primeira, pouco para a segunda), a menor preferia ovo mexido, (sal no ponto), o marido não suportava gema... Ou não suportava clara? Quem gostava de omelete? Qual das crianças teve sarampo? Quem foi que quebrou a perna?

        Bateram na porta. Era o porteiro pra avisar que ia faltar água. Ameaça de enfarte. Passou, graças a Deus. Voltou quando alguém espatifou a jarra de suco no chão. (Dessa vez foi de miocárdio.) A menorzinha disse que foi a mais velha. A mais velha disse que foi a do meio. A do meio disse: tudo eu! E se trancou no quarto de onde só saía em último caso, um incêndio ou um telefonema, por exemplo. O telefone tocou.

        -- Alguém pode atender enquanto eu limpo o chão ou limpar o chão enquanto eu atendo?

        Todos os membros da família foram acometidos de um acesso de paralisia generalizada, (espécie de praga que costuma ser causada pela presença da mãe no recinto), acompanhado de mudez instantânea. Acontece. Ela atendeu o telefone, era engano, limpou o chão, voltou para a mesa, a sopa tinha esfriado. Melhor. Comer engorda.

        -- O ar condicionado do meu quarto quebrou.

        -- Você lembrou de comprar o meu livro de inglês?

        -- Não tem geleia não, é?

        -- O cachorro fez xixi na minha colcha.

        -- Por que eu não tenho garfo?

        O telefone tocou de novo. Nova palpitação seguida de falta de ar súbita. Era para a menor.

        -- A Júlia pode dormir aqui hoje?

        Pode.

        -- A mamãe deixou. Desce daqui a dez minutos que a gente passa aí pra te pegar.

        Ligeiro formigamento no braço esquerdo. Angina? Isquemia? Talvez. Saiu de casa com o firme propósito de pegar a Júlia, voltar correndo, ir direto tomar um banho e cair na cama.

        -- Aproveita que vai sair e passa na locadora pra devolver os filmes.

        -- Aproveita que vai passar na locadora e compra o meu remédio na farmácia.

        Casa da Júlia. Locadora. Farmácia. Ia ter que deixar o enfarte e o banho pra mais tarde.

Fonte: Revista Veja Rio. Adriana Falcão.

Entendendo a crônica:

01 – O que a mãe encontra ao chegar em casa no início da crônica?

      A mãe encontra a casa cheia de luzes acesas, crianças aos berros e uma discussão sobre a divisão de um computador.

02 – O que a mãe pede às crianças logo após chegar em casa?

      A mãe pede às crianças para apagarem as luzes enquanto ela toma um banho.

03 – O que acontece quando a mãe tenta competir com o walkman em relação às reclamações da família?

      A família parece ignorar as reclamações da mãe, pois todos estão ocupados pensando em outras coisas, o que a faz desistir de competir com o walkman.

04 – Por que a pressão da mãe sobe vertiginosamente na crônica?

      A pressão da mãe sobe vertiginosamente quando ela percebe que sua filha mais velha tem um grande número de roupas espalhadas pela cama e não sabe o que vestir, o que a frustra ainda mais.

05 – O que acontece com a ideia da mãe de tomar um banho e cair na cama após essa situação?

      A ideia da mãe de tomar um banho e cair na cama é abandonada devido à frustração e ao estresse causados pela situação com as roupas da filha.

06 – Qual é o pedido que causa uma leve síncope nervosa na mãe?

      O pedido para fritar um ovo causa uma leve síncope nervosa na mãe, pois a filha faz uma observação específica sobre a consistência da gema.

07 – O que acontece quando o telefone toca na crônica?

      Quando o telefone toca, todos os membros da família ficam paralisados e em silêncio, e a mãe é forçada a atender o telefone. No entanto, a chamada era um engano, e ela continua suas tarefas domésticas.