sexta-feira, 17 de junho de 2022

CRÔNICA: PRIMEIRA FESTA - OTAVIO FRIAS FILHO - COM GABARITO

 Crônica: Primeira festa      

               Otavio Frias Filho

        Quando comecei a frequentar a escola, minha classe tinha mais meninos do que meninas. Elas sempre se sentavam juntas e ficavam no recreio brincando entre si.

        Muitos meninos não davam a mínima para as meninas. Mas eu tinha muita curiosidade sobre elas. Achava engraçado que fossem ao mesmo tempo parecidas e diferentes da gente. Era como se fossem meio marcianas. Queria saber mais delas, ver como elas eram.

        Um dia apareceu na classe uma menina ruiva, quer dizer, uma menina que tinha os cabelos avermelhados. Ela era bem diferente das outras, comecei a implicar com ela. Prestava atenção em tudo o que ela fazia. Qualquer coisa que dissesse era motivo para eu fazer piadas.

        Não demorou para eu perceber que estava pensando e falando demais naquela menina ruiva. Um amigo me disse: “Você gosta dela!”. Respondi que aquilo era ridículo. Claro que eu não gostava dela. Eu até implicava com ela! Mas no fundo pensei: “Tem razão, eu gosto dela!”.

        Então começou uma moda, uma mania na classe de as meninas dizerem que namoravam os meninos. Uma das meninas disse que a menina ruiva gostava de mim, se eu topava ser o namorado dela. Bom, era a coisa que eu mais queria nesse mundo. Quase sem acreditar, respondi que sim, claro que queria ser o namorado dela. E assim viramos namorados.

        Não chegamos a trocar beijos, nada disso. Logo me tiraram da escola, fui estudar em outro colégio. A vida nesse outro colégio era mais difícil. Estudos mais complicados. Professores mais bravos. Aulas mais compridas. E nenhuma menina na classe. O tempo passou.

        Um belo dia, fui convidado para o aniversário da menina ruiva. Seria uma grande festa. A minha primeira. Eu não sabia dançar e então minha irmã me deu aulas de dança. Quando chegou o dia, eu estava muito nervoso. Fui vestido de casaco e uma gravata de caubói, dessas que tinham dois laços pendurados no colarinho.

        Ela morava num apartamento grande e bonito, todo de mármore. Quando abri a porta do elevador, ela estava lá, ruiva como sempre, mas muito maior que antes. Ela se virou para mim e lá do alto disse: “Ué, você esqueceu de crescer?”. Eu fiquei ali, parado me sentindo um palhaço com aquela gravatinha.

        Nós estávamos naquela idade em que as meninas crescem mais depressa que os meninos. Os novos amigos dela eram maiores e mais velhos do que eu. Pra mim, parecia uma festa de gente grande. Fiquei perdido no salão, como ficaria em muitas outras festas mais tarde.

        Com o tempo, parei de pensar na menina ruiva. Conheci outras meninas, namorei algumas. Mas nunca me esqueci dela. Ela me ensinou que as meninas mudam com o tempo – e os meninos também. Só as lembranças duram para sempre.

Otávio Frias Filho. Livro da primeira vez. São Paulo: Editora Cosac Naify, 2004.

Fonte: Língua portuguesa – Coleção Brasiliana – 5° ano – Ensino Fundamental – IBEP – 2ª ed. São Paulo – 2011. p. 164-8.

Entendendo a crônica:

01 – Você tem alguma curiosidade sobre os meninos ou sobre as meninas? Escreva essa curiosidade para o professor(a). Você descobrirá que muitos colegas têm a mesma dúvida.

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Por que o menino (narrador-personagem) implicava com a menina ruiva?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – “Achava engraçado que fossem ao mesmo tempo parecidas e diferentes da gente”. Com a permissão e orientação do professor(a), junto com um colega monte um quadro, escrevendo diferenças e semelhanças que vocês reconhecem entre meninos e meninas.

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Itens seguintes apresentam vários acontecimentos do texto, mas estão embaralhados. Copie-os de acordo com a ordem dos acontecimentos relatados.

a)   Não demorou para o menino perceber que estava pensando e falando demais naquela menina ruiva.

b)   O menino foi estudar em outro colégio, onde tudo era diferente e não tinha nenhuma menina na classe.

c)   Um dia apareceu na classe uma menina ruiva e o menino começou a implicar com ela.

d)   Eles viraram namorados, mas não chegaram a trocar um beijo.

e)   Como não sabia dançar, sua irmã lhe deu aulas de dança.

f)    Depois de muito tempo, ele foi convidado para o aniversário da menina ruiva.

g)   E o menino descobriu que as meninas crescem mais depressa que os meninos.

h)   Ao abrir a porta do elevador, a menina ruiva, muito maior do que antes, se virou para ele e disse: “Ué, você esqueceu de crescer”?

      Resposta: c – a – d – b – f – e – h – g.

05 – Na sua opinião, por que no relato não aparecem os nomes do menino e da menina ruiva?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O autor não quer que os leitores saibam o nome da garota.

06 – O que o narrador-personagem sentia, ao se preparar para a festa?

      O garoto estava nervoso.

07 – O narrador relata que em determinado momento estava se sentindo um palhaço. Por que se sentiu assim?

      O narrador não esperava que a garota de quem gostava estivesse tão alta e fizesse o comentário que fez.

08 – Releia:

        “[...] Mas nunca me esqueci dela. Ela me ensinou que as meninas mudam com o tempo – e os meninos também. Só as lembranças duram para sempre.”

a)   Em sua opinião, por que o garoto nunca se esqueceu da menina ruiva?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Ele gostava dela, por isso não a esqueceu.

b)   Quais são os ensinamentos que o autor aprendeu com ela?

Ele aprendeu que tanto meninos quanto meninas mudam com o tempo.

c)   Você concorda com o autor quando ele diz que só as lembranças duram para sempre? Explique sua opinião.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Não, porque que nem todos vão guardar as lembranças.

09 – O texto “Primeira festa” é um relato. Copie somente as alternativas que descrevem as características desse gênero textual.

a)   É escrito em primeira pessoa: eu ou nós.

b)   Conta um fato ou acontecimento verídico, ocorrido com o narrador-personagem.

c)   Apresenta fatos fictícios, inventados pelo autor.

d)   Deve apresentar um conflito que prenda o leitor.

10 – O relato apresenta acontecimentos numa sequência cronológica. Assinale nos trechos a seguir as palavras (substantivos ou não) e as expressões que mostram a passagem de tempo usadas pelo autor.

a)   Um dia apareceu na classe uma menina ruiva [...].

Um dia.

b)   Não demorou para eu perceber que estava pensando e falando demais naquela menina ruiva.

Não demorou.

c)   O tempo passou.

O tempo passou.

d)   Um belo dia, fui convidado para o aniversário da menina ruiva.

Um belo dia.

e)   Quando abri a porta do elevador, ela estava lá, ruiva como sempre, mas muito maior do que antes.

Quando / sempre / antes.

f)    Com o tempo, parei de pensar na menina ruiva.

Com o tempo.

g)   Mas nunca me esqueci dela. Ela me ensinou que as meninas mudam com o tempo – e os meninos também. Só as lembranças duram para sempre.

Nunca / com o tempo / para sempre.

11 – Observe as formas verbais destacadas no primeiro parágrafo e indique se o tempo verbal predominante é presente, futuro ou pretérito.

        “Quando comecei a frequentar a escola, minha classe tinha mais meninos do que meninas. Elas sempre se sentavam juntas e ficavam no recreio brincando entre si.”

      Pretérito.

 

CRÔNICA: DEPOIS DO UNO - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

Crônica: Depois do Uno

                Walcyr Carrasco

        Há alguns meses perdi meu cachorro muito amado, o husky siberiano Uno. Sofri durante sua doença e compartilhei minha angústia através de uma crônica. Recebi centenas de e-mails e cartas, com pessoas relatando dores semelhantes. Lembro-me até de uma mensagem em que um rapaz contava jamais ter tido cachorro ou gato. Mas, apesar disso, se identificava com minha perda. Afinal de contas, perda é perda. Antes de Uno partir para a operação da qual não retornou, conversei com ele de noite, enquanto acariciava seus pelos.

        – Ah, Uno querido! Se você não voltar, foi um bom tempo que passamos juntos! Obrigado!

        Dentro do meu coração, senti que ele entendeu!

        Depois que Uno morreu, anunciei:

        – Nunca mais quero ter cachorro! Nem gato, nem passarinho!

        Disposto a manter minha palavra, recusei inúmeras ofertas de filhotes. Resolvi:

        – A vida é mais fácil sem um cachorro. Posso viajar à vontade, sem preocupação.

       Alinhavei mentalmente argumentos que provavam quanto era melhor não ter bicho nenhum.

        No Ano-Novo, fui para Camburi, uma praia no Litoral Norte de São Paulo. Fiz tudo o que manda a tradição: pulei sete ondinhas, comi uvas, bebi champanhe. Depois da ceia, deitei na rede da varanda. No escuro, iluminados apenas por velas, eu e meus amigos jogávamos conversa fora. De repente, um enorme cachorro negro apareceu, vindo da rua. Fizemos sinais.

        – Vem cá! – eu disse.

        Ele veio. E me obedecia em tudo! A ponto de outra pessoa comentar:

         – Esse cachorro parece que é seu!

        Fiquei um longo tempo brincando com ele. Queria prendê-lo, mas na praia não tenho muros! Ele foi embora. No dia seguinte, descobri que dormiu na porta do condomínio. Decidi que seria meu. Prometi gorjetas aos caseiros da região. Saí a procurá-lo na praia. Não o encontrei de jeito nenhum.

        Tempos depois, um amigo, Robson, foi para a mesma praia e me telefonou.

        – Você quer mesmo aquele cachorro?

        – Nunca mais quero ter cachorro, mas esse eu quero – respondi dentro de uma lógica inexplicável.

        Eu estava no Rio de Janeiro. Passei uma semana péssima. Esqueci da conversa. Voltei fragilizado, em um momento difícil da vida. Quando cheguei a São Paulo, meu amigo me esperava em casa.

        – Tem uma surpresa para você lá no quintal.

        Era uma cachorrinha preta, vira-lata, magérrima.

        – Aquele cachorro que você queria tem dono. Mas esta é uma prima dele!

        Peguei o bichinho trêmulo no colo. Abracei. Robson explicou:

        – Se você não quiser, minha tia fica com ela!

        Mas eu não ia querer? Abracei-a e, é claro, dei nome de gente: Ísis. Se alguma Ísis se sentir ofendida, me perdoe! Dali a alguns dias, pensei:

        – A Ísis precisa de companhia!

        Uma conhecida achou uma vira-latinha abandonada, tentando atravessar a rua no meio de carros e motos. Salvou-a. Mandou uma foto por e-mail. Fiquei com ela: Morgana. Um outro amigo, Roberto, estava com um filhote peludo preso no apartamento pequeno. Abriguei o Cauê! De repente, fiquei com três cachorros!

        Não bastou. Passei na vitrine de uma pet shop e me apaixonei por uma gata. Agora, dedico parte das noites a estabelecer relações diplomáticas entre a felina e os cães! Até que vai indo bem, com miados e latidos de parte a parte!

        E então, no meio dessa confusão, me dei conta: a vida continua! Nunca vou esquecer do meu husky. Um cão não substitui outro, como uma pessoa também não. Mas sempre há espaço para mais sentimentos. A vida se renova. Melhor ainda, o amor sempre renasce! Além de reforçar meu eterno otimismo, essa certeza me desperta uma paz profunda!

Walcyr Carrasco. Veja São Paulo, 24/10/2007, p. 274.

Fonte: Língua portuguesa – Coleção Brasiliana – 5° ano – Ensino Fundamental – IBEP – 2ª ed. São Paulo – 2011. p. 128-31.

Entendendo a crônica:

01 – Você tem animais de estimação ou já teve algum?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Você também já sofreu com a morte de um animal de estimação, mesmo que esse animal fosse de alguém próximo a você?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – O que você pensa sobre dar nome de pessoas para animais de estimação?

      Resposta pessoal do aluno.

04 – A crônica lida foi escrita com base em uma carta enviada por um leitor à revista. Na sua opinião, por que o rapaz, que contou jamais ter tido cachorro ou gato, identificava-se com a perda sofrida pelo autor da crônica?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Quais são os dois argumentos utilizados pelo autor quando menciona:

        “Alinhavei mentalmente argumentos que provavam quanto era melhor não ter bicho nenhum”.

      Viajar sem preocupação. Não correr o risco de sofrer com doenças e morte do animal.

06 – Explique o seguinte trecho:

      “– Nunca mais quero ter cachorro, mas esse eu quero – respondi dentro de uma lógica inexplicável.”

      O autor encontra-se nesse momento dividido: embora não queira mais ter animal de estimação porque sofreu demais com a perda, gostou muito do cachorro que apareceu na praia em que estava.

07 – Você se lembra dos nomes que o escritor deu aos deus animais? Sem voltar ao texto, escreva esses nomes de acordo com as características apresentadas.

a)   Husky siberiano muito amado, que morreu há alguns meses.

Uno.

b)   Prima do cachorro da praia, uma cachorrinha preta, vira-lata, magérrima.

Ísis.

c)   Vira-latinha abandonada, salva por uma conhecida.

Morgana.

d)   Filhote peludo preso no apartamento pequeno do Roberto.

Cauê.

e)   Gata de um pet shop, por quem o escritor se apaixonou.

Ele não conta que nome deu à gata.

08 – Releia:

        “Agora, dedico parte das noites a estabelecer relações diplomáticas entre a felina e os cães! Até que vai indo bem, com miados e latidos de parte a parte!”. Por que o cronista se dedica a essa tarefa?

      Essa tarefa é feita porque, em geral, cães e gatos não se dão bem. Cães costumam ficar irritados com os gatos, às vezes perseguindo esses felinos.     

09 – No último parágrafo, o autor explica o que aprendeu após entrar em contato com a perda e com novos animais em sua vida. Selecione a frase que mais despertou sua atenção e explique o seu significado.

       “... a vida continua” – A vida não para porque sentimos dor ou sofrimento pelas perdas enfrentadas. / “Nunca vou esquecer o meu husky. Um cão não substitui outro, como uma pessoa também não” – A morte de um animal de estimação não significa que será esquecido, nenhum ser que tenha sido importante para nós poderá ser substituído. / “Mas sempre há espaço para mais sentimentos”. – Nossos sentimentos não são limitados; ao contrário, eles sempre podem ser ampliados. / “A vida se renova [...] o amor sempre renasce” – Mesmo diante da tristeza, a vida continua e há sempre a possibilidade de o amor surgir de novo. / “Além de reforçar meu eterno otimismo, essa certeza me desperta uma paz profunda!” – Mesmo passando por uma grande perda, o autor mantém-se com pensamentos positivos e isso lhe traz tranquilidade.

10 – O gênero textual de “Depois do Uno” está explicitado pelo autor no primeiro parágrafo do texto. Releia o trecho seguinte para responder às próximas questões.

        “Há alguns meses perdi meu cachorro muito amado, o husky siberiano Uno. Sofri durante sua doença e compartilhei minha angústia através de uma crônica.”.

a)   Qual é o gênero textual?

Crônica.

b)   Qual é o título e quem é o autor?

“Depois do Uno”; Walcyr Carrasco.

c)   Qual é o tema/assunto?

Animais de estimação.

d)   Qual foi o fato que desencadeou o assunto?

A morte de Uno, o cachorro do autor.

e)   Quais são os dados de publicação (suporte e data)?

Revista Veja São Paulo – 24/10/2007.

f)    Qual é a possível intenção do autor?

Refletir criticamente sobre o cotidiano, emocionar, descrever os seus sentimentos, etc.

11 – Copie somente as alternativas que mostram as características dessa crônica.

a)   Mostra uma visão pessoal do autor sobre um fato.

b)   Aparecem falas de personagem; portanto, há uso do discurso direto.

c)   O narrador está em primeira pessoa.

d)   O narrador não participa da história.

e)   O autor apresenta ao leitor seu ponto de vista sobre o assunto.

     

 

quarta-feira, 15 de junho de 2022

CRÔNICA: O ÔNIBUS - MILLÔR FERNANDES - COM GABARITO

 CRÔNICA: O ÔNIBUS

                    Millôr Fernandes

        O ônibus é um automóvel que ou a gente pega ele ou ele pega a gente. Se a gente está dentro dele é muito engraçado ver como ele vai passando bem justo nos buracos que ficam entre um carro e outro, mas agora se a gente está na rua dá sempre a impressão de que ele vem em cima da gente, e, às vezes, vem mesmo. Como ônibus dá muita trombada eu acho que as fábricas já fazem eles velhos, pois eu nunca vi nenhum novo. Os carros grã-finos parecem que têm muito medo de brincar com os moleques pra não se sujar, e vão logo se afastando. Eu acho que o ônibus é o animal feroz das cidades.

                                           FERNANDES, Millôr.Compozissõis Imfãtis. Rio de Janeiro: Nordico, 1975.

Fonte: Maxi: ensino fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano Caderno 2 p.95.

Entendendo o texto

01. Essa crônica lembra uma redação escolar. Que elementos do texto nos remetem a isso? Que efeito de sentido esse recurso promove?

Tanto o formato como a linguagem oral coloquial empregada remetem a redações escolares feitas nos anos iniciais, o que por meio da ingenuidade, que é característica das crianças dessa idade, acaba promovendo o humor.

02. O foco narrativo dessa crônica está na

a)   3ª pessoa.

b)   1ª pessoa do singular.

c)   1ª pessoa do plural.

03. Essa crônica usa como um recurso na construção de seu sentido a linguagem oral coloquial. Releia uma das expressões a seguir que exemplifica esse uso.

[...] a gente pega ele ou ele pega a gente.

a)   Que pronome pessoal é sinônimo de a gente?

O pronome nós.

b)  O pronome ele aparece duas vezes nas orações. Considerando a norma-padrão da língua, esse pronome foi empregado adequadamente nas duas ocorrências? Explique.

Não, o pronome ele foi empregado com a função de sujeito e com a função de complemento verbal.

c)   Se essa frase precisasse  ser empregada em uma situação formal, como ela seria escrita? Reescreva-a usando adequadamente a variedade culta da língua.

Ou nós pegamos o ônibus, ou o ônibus nos pega.

d)   Copie, do texto, outras palavras ou expressões que são típicas da linguagem oral.

“...ele vai passando bem justo nos buracos...”

“...dá sempre a impressão de que ele vem em cima da gente...”

 

 

domingo, 12 de junho de 2022

REPORTAGEM: PRECONCEITO: RISQUE ESSA PALAVRA DO SEU DICIONÁRIO - PATRÍCIA TRUDES DA VEIGA - COM GABARITO

Reportagem: Preconceito: risque essa palavra do seu dicionário      


    Não seja vítima nem vilão em uma história que quase nunca tem final feliz

PATRICIA TRUDES DA VEIGA, EDITORA DA FOLHINHA.

GABRIELA ROMEU, DA REPORTAGEM LOCAL.

          Sabe quando uma história é sussurrada no seu ouvido? Foi assim, meio em segredo, que crianças negras contaram para a Folhinha histórias de preconceito racial que viveram.

        Elas só toparam falar sobre o assunto porque o combinado era não revelar a sua identidade. Assim, alguns nomes são de mentirinha, mas as histórias – infelizmente – são bem reais.

        Mas você já deve estar perguntando: o que é preconceito racial? O menino Anderson, 9, descobriu o que significa essa palavra de uma maneira bem triste.

        "A primeira vez que ouvi essa palavra, preconceito, foi quando minha mãe ficou indignada porque contei que só usava o elevador de serviço." Por quê? "As pessoas diziam que negro não podia usar o elevador social", conta. "Aí ela me ensinou a dizer que eu tenho os mesmos direitos."

        Ana, 13, vive faltando na escola. Sempre dá uma desculpa para não frequentar as aulas, pois está chateada com as piadinhas de alguns meninos. "Ficam falando que sou uma bruxa por causa do meu cabelo", diz.

        Às vezes, o preconceito começa no caminho da escola. Marco Aurélio, 11, conta que alguns colegas faziam piadas preconceituosas com o seu nome. "Diziam que meu nome era "Macaco Aurélio'", afirma.

        Já Jéssica, 7, era beliscada e cuspida por um colega da perua. O menino dizia que ela não podia sentar ao seu lado porque iria "tingir seu corpo", por ser negra.

        Samuel, 10, também sofre com o preconceito racial de outras crianças. "Uma vez, na escola, um menino branco mandou eu sair da brincadeira porque eu sou negro. E falou: "Aqui só tem branco, você não pode brincar aqui'." Samuel não disse nada. "Só saí de perto."

        “O silêncio não é a melhor solução”, ensina Eliane Cavalleiro, professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília.

        "Geralmente, a criança negra vive essa dor sozinha, porém deve pedir ajuda aos professores e aos pais. Ela também pode alertar o colega de que ele está sendo racista ou preconceituoso. E que racismo é um crime."

 

Lição deve começar em casa

        O preconceito, às vezes, começa em casa. "O Jair é o meu melhor amigo, e eu sou o melhor amigo dele." Luís, 11, é branco; Jair, 11, é negro.

        Essa seria uma história de amizade bacana se Luís não morresse de medo de seu pai descobrir que seu melhor amigo é negro.

        "Meu pai é superpreconceituoso. Se alguém o fecha no trânsito, ele fala: ‘Coisa de preto'. Se o porteiro do prédio faz algo errado, ele diz: ‘Só podia ser preto'."

        "Por isso nunca tive coragem de levar o Jair em casa [eles se conhecem há seis anos". Imagine se meu pai ofender ele? Não gosto nem de pensar, tenho vergonha."

        Na escola, os dois partem para a briga toda vez que Jair é xingado. "Mas não criei coragem para enfrentar meu pai como enfrento meus colegas", conta Luís.

        A psicóloga Denilda Côrtes Silva, 45, do Disque-Racismo do Rio, diz que ambos são vítimas do preconceito. "Eles precisam da ajuda de um adulto. Não podem esconder essa amizade como se fosse uma coisa errada."

 

Em busca da identidade

        Isabele, 9, luta contra a cor de sua pele. Não gosta de ser negra. Já pediu para a mãe comprar uma "chapinha" para alisar o cabelo. Pior: procura algum produto para deixar a pele menos escura. "Já quis raspar a pele até ficar branquinha."

        "A menina deve estar sendo agredida para desejar mudar de cor", afirma Sônia Maria Nascimento, coordenadora-executiva da ONG Geledès. "A família e a escola têm de ajudá-la a elevar a autoestima e a valorizar a sua identidade", diz. "E o feriado do dia 20 é ideal para debater a questão racial."

Apelidos magoam

        "Galinha preta", "nega do saravá", "carvão", "torresmo". Crianças negras reclamam de apelidos preconceituosos usados por colegas.

        "Ontem, os meninos não me deixaram jogar e me chamaram de ‘girafa do cabelo duro'. Bato neles, não gosto", diz Lorrane, 12.

        "Quando aparece o Saci, outros alunos falam para mim: "Olha lá você, o "menino-saci'", conta Adriano, 10.

        Gabriel, 10, fica triste por ser gozado também por crianças negras. "Não é legal quando a pessoa xinga, ainda mais quando é da mesma cor", conta, baixinho.

"Ser negro é maravilhoso"

ESMERALDA ORTIZ é jornalista e autora dos livros Esmeralda: Por que não dancei e O diário da rua.

ESPECIAL PARA A FOLHA

        Quando eu era pequena, sofria muito com o preconceito. Na infância, eu tinha vergonha de ser negra. Cresci totalmente sem identidade.

        Nunca tive heróis negros. Todos os meus super-heróis eram loiros, de olhos azuis. Minhas bonecas também. Isso sem falar nos meus ídolos: Xuxa, Angélica e Eliana.

        Imaginava que ser branco era lindo, e ser negro, uma coisa feia. Isso fazia com que eu ficasse sem vontade de ir à escola, onde era chamada de "pixaim", "carvão", "urubu".

        Só ia à escola para comer. Depois, pulava o muro e saía fora, porque não aguentava tanta pressão. Em casa, eu não tinha apoio, só apanhava.

        Quando fui morar nas ruas, vivi um preconceito ainda maior. Apanhava só por ser negra. E, nas filas de adoção, todos preferiam as crianças brancas.

        Mas virei a página, saí da rua. E fui buscar livros que reforçavam o quanto a minha cor é bonita.

        Hoje, tenho um filho negro. Sempre o ensino a amar a si próprio, faço roupas africanas para ele e leio livros sobre a África. Percebo que ele gosta muito de ser negro.

        E uma coisa eu aprendi: ser branco é lindo, mas ser negro é maravilhoso.

Esmeralda Ortiz é jornalista, autora de "Esmeralda -Por Que Não Dancei" (ed. Senac/Ática) e "O Diário da Rua" (ed. Moderna).

Discriminar é...

        ...inventar apelidos de mau gosto;

        ...fazer piadinhas sobre o cabelo crespo;

        ...excluir a criança para participar do grupo de trabalho da escola;

        ...rejeitar a participação de um colega numa brincadeira;

        ...evitar sentar ao lado -na escola, no ônibus, na perua

Fonte: Eliane Cavalleiro, autora do livro "Racismo e Anti-Racismo na Educação" (editora Summus).

Consciência

        O Dia da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro. Foi nesse dia, no ano de 1695, que morreu um importante herói negro: Zumbi, símbolo da resistência dos negros durante a escravidão. Ele foi líder do quilombo de Palmares, em Alagoas.

São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006.

Fonte: Língua portuguesa – Coleção Brasiliana – 5° ano – Ensino Fundamental – IBEP – 2ª ed. São Paulo – 2011. p. 204-210.

Entendendo a reportagem:

01 – Explique o título da reportagem: “Preconceito: risque essa palavra do seu dicionário”.

      Riscar a palavra “preconceito” do meu dicionário significa não praticar nenhuma forma de preconceito, não ser preconceituoso. É mais do que não usar a palavra.

02 – De acordo com os depoimentos de Anderson, Ana, Marco Aurélio e Jéssica como você explica o que é “preconceito racial”?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: preconceito racial é você discriminar, afastar, ofender uma pessoa por causa da cor de sua pele ou dos seus traços físicos como altura, porte físico, uso de óculos, etc.

03 – Converse com os colegas e responda: o preconceito racial acontece apenas com pessoas negras? Por quê?

      Não, o preconceito racial se manifesta também contra pessoas de outras etnias, como orientais e indígenas. Também pode ser do negro com relação ao “branco”. O preconceito racial é pautado nos traços que revelam a origem, a etnia da pessoa.

04 – Releia o segundo parágrafo da reportagem:

        “Elas só toparam falar sobre o assunto porque o combinado era não revelar a sua identidade. Assim, alguns nomes são de mentirinha, mas as histórias – infelizmente – são bem reais.”. O que esse trecho indica sobre a reportagem? Copie as três afirmações corretas.

a)   Às vezes, numa reportagem, o autor precisa inventar pessoas, fatos e depoimentos.

b)   Quando a pessoa entrevistada pede para ficar anônima, o repórter aceita e conta isso no texto.

c)   Há pessoas que só dão depoimento para jornalistas se ficarem anônimas.

d)   As crianças entrevistadas não se sentiram à vontade para falar publicamente do assunto.

05 – Como é chamado o texto abaixo do título?

      Não seja vítima nem vilão em uma história que quase nunca tem final feliz”

      Linha fina, olho ou subtítulo.

06 – O texto lido está dividido em várias partes identificadas com os subtítulos: Lição deve começar em casa, Em busca da identidade, Apelidos magoam, “Ser negro é maravilhoso”. Avalie cada parte da reportagem e responda:

a)   Essas partes estão bem elaboradas? Chamam a atenção do leitor?

Resposta pessoal do aluno.

b)   Essas partes são explicativas ou antecipam o conteúdo da reportagem para o leitor?

As partes antecipam o conteúdo que será explicado em seguida.

c)   Por que o quarto subtítulo está entre aspas?

O subtítulo está entre aspas porque foi retirado do depoimento da escritora, não é uma fala da jornalista que escreveu a reportagem.

07 – Releia o trecho seguinte:

        “Por isso nunca tive coragem de levar o Jair em casa [eles se conhecem há seis anos". Imagine se meu pai ofender ele?”

a)   O uso dos colchetes [  ] no trecho indica fala dos entrevistados ou do repórter?

Os colchetes indicam fala do repórter.

b)   Explique por que esse recurso foi utilizado.

Os colchetes são usados para dar informações ou explicações conhecidas pelo entrevistado e pelo entrevistador, mas desconhecidas dos leitores.

c)   Por que o trecho está entre aspas?

O trecho está entre aspas porque indica a fala de alguém que está dando um depoimento ao repórter.


PINTURA: O CAFÉ - CÂNDIDO PORTINARI - COM GABARITO

Pintura: O café

 

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O café, de Cândido Portinari (1934-1935).

      Fonte: Língua Portuguesa – Caminhar e transformar – Aos finais do ensino fundamental – 1ª edição – São Paulo – FTD, 2013. p. 180-1.

Entendendo a pintura:

01 – Observe com atenção a pintura O café, do pintor brasileiro Cândido Portinari, pintado em 1935 e reproduzido acima. Em seguida, responda.´

a)   Há muitas pessoas presentes na cena retratada pelo pintor. Quem são elas, o que estão fazendo e onde estão?

A pintura retrata trabalhadores em uma plantação de café, ocupados com as tarefas do mundo agrícola.

b)   Os personagens do quadro são exatamente iguais às pessoas reais? Justifique sua resposta.

Não. As figuras humanas retratadas por Portinari possuem mãos e pés intencionalmente ampliadas e desproporcionais em relação ao restante do corpo. Por meio desse recurso de representação, o pintor procurou ressaltar a força física dos trabalhadores.

c)   Parece haver, na pintura, uma divisão de trabalho entre homens e mulheres? Quais são as tarefas atribuídas a cada um desses grupos?

Sim. O trabalho de carregar as grandes quantidades de café depende de grande força física e é realizado principalmente pelas figuras masculinas, predominantes no quadro. Às mulheres ficam reservadas as funções de semear e colher os frutos da plantação.

02 – O trabalho em uma plantação de café, tal como pintado por Portinari, parece ser um trabalho leve ou pesado? Por quê?

      O trabalho nas grandes plantações de café é retratado como sendo pesado e desgastante. As tarefas exigem muita força física, exposição ao sol e contato com a terra durante longos períodos de trabalho.

03 – Você já viveu a experiência de trabalhar em uma plantação ou conhece alguém que trabalha com o cultivo da terra? Redija um pequeno parágrafo a respeito desse trabalho.

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Observe a pintura de Portinari. Você localiza algum personagem responsável pela supervisão do trabalho na plantação de café? Em caso afirmativo, descreva esse personagem.

      No canto esquerdo do quadro, é possível identificar a figura autoritária de um capaz, responsável por supervisionar os trabalhos na plantação. Note o dedo apontado para os trabalhadores, em posição de comando, e as botas e chapéu preto que distinguem dos demais personagens presentes na obra.

05 – Em sua opinião, que objetivo teve Cândido Portinari ao pintar o quadro O café? Qual a relação entre o que ele representou e a realidade econômica da época?

      Ao retratar o cotidiano difícil de trabalhadores em uma plantação de café, o pintor registrou uma fase da história do Brasil em que predominava a economia cafeeira. Os trabalhadores negros ou mulatos, bem como os imigrantes italianos, constituíam a principal mão de obra nas fazendas de café.

06 – Que elementos ocupam o primeiro plano da cena: os trabalhadores ou a plantação? A partir de sua resposta, podemos dizer que o aspecto predominante na imagem é humano ou natural?

      Os trabalhadores ocupam o primeiro plano da pintura de Portinari. Ao destacar os elementos humanos da plantação, predominantes no quadro, o pintor procurou enfatizar não apenas a ação do homem sobre a natureza, mas também a exploração do trabalho humano no meio rural.