domingo, 22 de maio de 2022

OBRA POÉTICA: MARÍLIA DE DIRCEU - LIRA XXXIV - TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA - ARCADISMO - COM GABARITO

 Obra poética: Marília de Dirceu – Lira XXXIV

                      Tomás Antônio Gonzaga

Minha bela Marília, tudo passa;

A sorte deste mundo é mal segura;

Se vem depois dos males a ventura,

Vem depois dos prazeres a desgraça.

          Estão os mesmos deuses

Sujeitos ao poder do ímpio Fado:

Apolo já fugiu do céu brilhante,

          Já foi pastor de gado.

 

A devorante mão da negra Morte

Acaba de roubar o bem que temos;

Até na triste campa não podemos

Zombar do braço da inconstante sorte:

          Qual fica no sepulcro,

Que seus avós ergueram, descansado;

Qual no campo, e lhe arranca os frios ossos

          Ferro do torto arado.

 

Ah! enquanto os Destinos impiedosos

Não voltam contra nós a face irada,

Façamos, sim, façamos, doce amada,

Os nossos breves dias mais ditosos.

          Um coração que, frouxo,

A grata posse de seu bem difere,

A si, Marília, a si próprio rouba,

          E a si próprio fere.

 

Ornemos nossas testas com as flores,

E façamos de feno um brando leito;

Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,

Gozemos do prazer de sãos Amores.

          Sobre as nossas cabeças,

Sem que o possam deter, o tempo corre;

E para nós o tempo que se passa

          Também, Marília, morre.

 

Com os anos, Marília, o gosto falta,

E se entorpece o corpo já cansado:

Triste, o velho cordeiro está deitado,

E o leve filho, sempre alegre, salta.

          A mesma formosura

É dote que só goza a mocidade:

Rugam-se as faces, o cabelo alveja,

          Mal chega a longa idade.

 

Que havemos de esperar, Marília bela?

Que vão passando os florescentes dias?

As glórias que vêm tarde, já vêm frias,

E pode, enfim, mudar-se a nossa estrela.

          Ah! Não, minha Marília,

Aproveite-se o tempo, antes que faça

O estrago de roubar ao corpo as forças,

          E ao semblante a graça!

GONZAGA, Tomás Antônio. In: MACHADO, Duda (Org.), op. cit., p. 56-7.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 297-9.

Entendendo a obra poética:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Apolo: deus grego da luz, da juventude e da música.

·        Campa: túmulo, sepultura.

·        Diferir: adiar.

·        Ditoso: feliz, venturoso.

·        Ímpio: impiedoso.

·        Fado: destino, sorte.

·        Ventura: felicidade, boa sorte.

02 – Qual é, em síntese, a proposta que o eu lírico faz a Marília?

      O eu lírico propõe a Marília aproveitar da maneira mais doce e agradável o tempo, ou que propõe aproveitarem o prazer do amor enquanto ainda há tempo.

03 – Quais são os argumentos do eu lírico para convencer a amada de sua proposta?

      Segundo o eu lírico, tudo passa, a sorte de um dia pode dar lugar às desventuras do outro, aquilo que se tem não existirá sempre e, além disso, as pessoas envelhecem, perdem a beleza e a disposição. Portanto, o tempo presente precisa ser aproveitado.

04 – O poeta encontrou diversos meios de traduzir a mesma ideia. Note que o poema é composto de elementos concretos, que ilustram um conceito abstrato, tornando-o mais compreensível. Copie as tabelas abaixo em seu caderno e relacione os versos às ideias sugerias por eles.

a)   “Estão os mesmos deuses / Sujeitos ao poder do ímpio Fado: / Apolo já fugiu do céu brilhante, / Já foi pastor de gado.” IV.

b)   “Até na triste campa não podemos / Zombar do braço da inconstante sorte:” II.

c)   “Um coração que, frouxo, / A grata posse de seu bem difere, / A si, Marília, a si próprio rouba, / E a si próprio fere.” III.

d)   “Triste, o velho cordeiro está deitado, / E o leve filho, sempre alegre, salta.”. I.

I – Com o passar do tempo, as pessoas perdem a alegria e o vigor comuns nos mais jovens.

II – Nem mesmo diante da morte devemos rir ou desdenhar de quanto pode o destino.

III – Faz mal a si mesma a pessoa que alia as suas chances, não sabe aproveitar as oportunidades que tem.

IV – Até a sorte dos deuses muda, como aconteceu com o próprio Apolo.

05 – Você concorda com as ideias expressas no poema? Por que? Elabore argumentos para explicar sua resposta.

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Tomás Antônio Gonzaga trata liricamente a ideia de que o tempo passa, a sorte muda e a coisa certa a fazer é viver o prazer e o amor do momento, sem espera. Entretanto, por acreditarem que se deve desfrutar totalmente a vida, a cada instante presente, muitas pessoas acabam tomando decisões sem pensar nas consequências. Tente se lembrar de algum caso que ilustre o lado pernicioso de viver apenas o presente. Se quiser, conte o caso para os colegas.

      Resposta pessoal do aluno.

 

OBRA POÉTICA: MARÍLIA DE DIRCEU - LIRA XXVII - TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA - ARCADISMO - COM GABARITO

 Obra poética: Marília de Dirceu – Lira XXVII

                       Tomás Antônio Gonzaga

Vou retratar a Marília,

A Marília, meus amores;

Porém como? Se eu não vejo

Quem me empreste as finas cores:

Dar-mas a terra não pode;

Não, que a sua cor mimosa

Vence o lírio, vence a rosa,

O jasmim e as outras flores.

          Ah! Socorre, Amor, socorre

          Ao mais grato empenho meu!

          Voa sobre os astros, voa,

          Traze-me as tintas do céu.

Mas não se esmoreça logo;

Busquemos um pouco mais;

Nos mares talvez se encontrem

Cores, que sejam iguais.

Porém, não, que em paralelo

Da minha ninfa adorada

Pérolas não valem nada,

Não valem nada os corais.

          Ah! Socorre, Amor, socorre

          Ao mais grato empenho meu!

          Voa sobre os astros, voa,

          Traze-me as tintas do céu.

Só no céu achar-se podem

Tais belezas, como aquelas

Que Marília tem nos olhos,

E que tem nas faces belas;

Mas às faces graciosas,

Aos negros olhos, que matam,

Não imitam, não retratam

Nem auroras, nem estrelas.

          Ah! Socorre, Amor, socorre

          Ao mais grato empenho meu!

          Voa sobre os astros, voa,

          Traze-me as tintas do céu.

Entremos, Amor, entremos,

Entremos na mesma esfera;

Venha Palas, venha Juno,

Venha a deusa de Citera.

Porém, não, que se Marília

No certame antigo entrasse,

Bem que a Páris não peitasse,

A todas as três vencera.

          Vai-te, Amor, em vão socorres

          Ao mais grato empenho meu:

          Para formar-lhe o retrato

          Não bastam tintas do céu.

GONZAGA, Tomás Antônio. In: MACHADO, Duda (Org.), op. cit., p. 45-6.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 294-7.

Entendendo a obra:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Amor: outro nome do deus grego Eros (ou Cupido, para os romanos).

·        Amores: amor, sentimento amoroso (meus amores = meu amor).

·        Certame: desafio.

·        Deusa de Citera: Afrodite.

·        Esmorecer: perder as forças, enfraquecer.

·        Grato: agradável, doce.

·        Juno: nome romano da deusa Hera.

·        Palas: epíteto da deusa Atena (epíteto é uma palavra ou frase que qualifica pessoa ou coisa).

·        Peitar: subornar, corromper com presentes.

02 – Releia a primeira estrofe e responda no caderno:

a)   Com quem fala o eu lírico?

Com o deus Amor.

b)   O eu lírico deixa clara a sua intenção nos primeiros versos do poema. Que intenção é essa?

Retratar Marília.

c)   Que obstáculo o eu lírico encontra para seu propósito?

Ele não encontra na terra cores capazes de retratar com precisão a beleza de Marília.

03 – O poema está organizado em quatro grupos formados por uma estrofe e um refrão. Cada estrofe corresponde a um lugar ou ambiente onde o eu lírico procura cores para retratar Marília. Indique que lugares ou ambientes são esses.

      Primeira estrofe: a terra; Segunda estrofe: os mares; Terceira estrofe: o céu; Quarta estrofe: a esfera dos Deuses.

04 – Nessa lira há referência a diversos elementos da natureza.

a)   Quais são eles?

Terra, flores (lírio, rosa, jasmim), astros, céu, mares, pérolas, corais, auroras, estrelas.

b)   Complete a frase no caderno. A comparação entre Marília e esses elementos da natureza .......

·        É favorável à jovem: na natureza, tudo perde para Marília.

·        É desfavorável à jovem: o lírio, a rosa, o jasmim e outras flores vencem-na em beleza.

05 – Copie os versos em que o eu lírico pede ajuda ao deus Amor para retratar Marília. Esses versos aparecem em que parte(s) do poema? Explique essa característica.

      “Ah! Socorre, Amor, socorre / Ao mais grato empenho meu! / Voa sobre os astros, voa, / Traze-me as tintas do céu.” Esses versos aparecem sempre no fim das três primeiras estrofes, pois trata-se do refrão.

06 – Releia a última estrofe. Observe que o eu lírico deseja entrar na mesma esfera em que se encontra o Amor: a esfera dos deuses. Nesse ponto da lira, há referência a uma história da Antiguidade clássica. Trata-se da história de Páris e a disputa das três deusas, Afrodite, Atena e Hera, que competiam pela conquista da maçã de ouro. Venceria a mais bela das três. Páris, príncipe troiano, ficou encarregado de escolher uma delas. Para suborna-lo, Hera ofereceu-lhe o império da Ásia; Atena, a sabedoria e a vitória em todos os combates; Afrodite assegurava-lhe tão somente o amor da mulher mais bela do mundo: Helena, mulher de Menelau, rainha de Esparta. Páris elege Afrodite a mais bela e parte em busca de Helena, dando início à guerra de Tróia.

a)   Segundo o eu lírico, caso Marília entrasse no “certame antigo” (a disputa pela maçã de ouro), quem Páris escolheria?

Escolheria Marília.

b)   Há uma pequena modificação no refrão, na última estrofe. Releia-o e explique com suas palavras a conclusão a que o eu lírico chega.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Nem mesmo as tintas do céu, as tintas dadas pelos deuses, são suficientes para pintar o retrato de Marília, tal sua beleza, o que altera a ideia pregada até então, a de que para pintar o retrato de Marília seriam necessários as tintas do céu.

07 – O recurso usado pelo eu lírico (a comparação da amada com elementos da natureza) não permitiu a elaboração de um retrato preciso de Marília, mas por meio dele houve ......

·        Uma negação da beleza da amada.

·        Uma equiparação da beleza da amada à beleza de elementos da natureza.

·        Uma exaltação da beleza da amada.

08 – Todos os versos dessa lira têm sete sílabas poéticas, portanto são mais curtos que os decassílabos usualmente empregados, por exemplo, nos sonetos. Isso torna a leitura das estrofes.

a)   Mais lenta, truncada.

b)   Mais breve, veloz.

c)   Mais informal.

d)   Mais exaltada.

09 – Excluindo-se o refrão, em cada estrofe há rima entre o segundo, o quarto e o oitavo verso e entre o sexto e o sétimo verso. Os versos 1, 3 e 5 não rimam entre si. Esse esquema de rimas .........

a)   Tira completamente a beleza sonora do poema.

b)   Garante a beleza sonora dos versos, além de deixá-los mais fluidos.

c)   Pode indicar uma alternância entre a exaltação da beleza de Marília e a ausência de elementos da natureza que possam representa-la.

d)   Torna os versos tristes e inexpressivos.

 

       

POEMA: AMOR - ELISA ANDRADE BUZZO - COM GABARITO

 Poema: Amor

             Elisa Andrade Buzzo


Frasco garrafal

de perfume

adoro

tirar

a tampa


                          BUZZO, Elisa Andrade. Poesia do dia: poetas de hoje para leitores de agora. São Paulo: Ática, 2008. p. 40.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 237-8.

Entendendo o poema:

01 – Identifique a metáfora para o amor escolhida pelo eu lírico.

      Frasco garrafal de perfume.

02 – Considere a metáfora e os três últimos versos e complete, no caderno, esta frase: Para o eu lírico ........

a) é muito bom deixar-se envolver pelo amor.

b) é muito perigoso deixar-se envolver pelo amor.

c) o exagero do amor pode não fazer bem.

d) amor em exagero precisa ficar guardado.

e) é bom contagiar as pessoas com nosso amor.

 

POEMA: AMOR - ADÉLIA PRADO - COM GABARITO

 Poema: Amor

           Adélia Prado

A formosura do teu rosto obriga-me
e não ouso em tua presença
ou à tua simples lembrança
recusar-me ao esmero de permanecer contemplável.
Quisera olhar fixamente a tua cara,
como fazem comigo soldados e choferes de ônibus.
Mas não tenho coragem,
olho só tua mão,
a unha polida olho, olho, olho e é quanto basta
pra alimentar fogo, mel e veneno deste amor incansável
que tudo rói e banha e torna apetecível:
caieiras, desembocaduras de esgotos,
ideia de morte, gripe, vestido, sapatos,
aquela tarde de sábado,
esta que morre agora antes da mesa pacífica:
ovos cozidos, tomates,
fome dos ângulos duros de tua cara de estátua.
Recolho tamancos, flauta, molho de flores, resinas,
rispidez de teu lábio que suporto com dor
e mais retábulos, faca, tudo serve e é estilete,
lâmina encostada em teu peito. Fala.
Fala sem orgulho ou medo
que à força de pensar em mim sonhou comigo
e passou um dia esquisito, o coração em sobressaltos à campainha da porta,
disposto à benignidade, ao ridículo, à doçura. Fala.
Nem é preciso que amor seja a palavra.
“Penso em você” – me diz e estancarei os féretros,
tão grande é minha paixão.

Adélia Prado, Terra de Santa Cruz. Rio de Janeiro: Record, 2006.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 227-8.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Apetecível: apetitoso, desejável.

·        Benignidade: qualidade do que ou de quem é benigno, bondoso.

·        Caieira: forno ou fogueira onde se cozem tijolos.

·        Estancar: fazer parar, deter.

·        Féretro: caixa longa de madeira em que se enterram os mortos.

·        Resina: substância viscosa e odorífera produzida por alguns vegetais.

·        Retábulo: estrutura de madeira ou outro material que fica por trás ou acima de um altar.

02 – Vamos fazer um levantamento de elementos do poema que podem ser percebidos na primeira leitura.

a)   O eu lírico é um homem ou uma mulher? O que lhe permitiu concluir isso?

É uma mulher; o trecho “Quisera olhar fixamente tua cara, / como fazem comigo soldados e choferes de ônibus” e a palavra vestido em “ideia de morte, Gripe, vestido, sapatos” permitem essa conclusão.

b)   A quem o eu lírico se dirige?

À pessoa amada.

c)   O que o eu lírico pede a essa pessoa?

Pede ao amado que diga que pensa nela.

03 – Releia os quatro primeiros versos do poema, pensando no sentido das palavras ousar, esmero e contemplável.

·        Ousar: arriscar-se, atrever-se.

·        Esmero: grande cuidado; apuro.

·        Contemplável: aquilo que se pode contemplar, olhar com admiração; admirável. 

      a)   No contexto do poema, o que é “permanecer contemplável”?

Seria “continuar digna de ser admirada, contemplada”.

b)   Complete no caderno: De maneira bem simplificada, podemos dizer que os quatro primeiros versos revelam que a mulher (o eu lírico) .........

        Se recusa a fazer-se bela para a pessoa amada.

·        Tem necessidade de permanecer bonita, admirável.

c)   Por que o eu lírico não ousa deixar de ser contemplável? Copie no caderno o trecho que confirma sua resposta.

Porque o amado é belo. “A formosura do teu rosto obriga-me [...]”.

04 – Releia o trecho que vai do quinto (Quisera olhar fixamente a tua cara) ao décimo sétimo verso (fome dos ângulos duros de tua cara de estátua). Destaque nesse trecho alguns versos que, em sua opinião, exprimem o amor de uma forma inusitada, surpreendente. Explique por que você os considera surpreendentes.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: “caieiras, desembocaduras de esgotos, / ideia de morte, gripe, vestido, sapatos,”. Ou, ainda, nos versos “[...] antes da mesa pacífica: / ovos cozidos, tomates, / fome dos ângulos duros de tua cara de estátua.”, em que há uma aproximação das ideias de fome e de desejo (amor), partindo de alimentos reais, prosaicos, “pouco poético”.

05 – Entre o décimo segundo e o décimo quinto versos estão enumeradas coisas que, para o eu lírico, o amor torna apetecíveis, desejáveis.

        Caieiras – vestido – desembocaduras de esgotos – sapatos – ideia de morte – aquela tarde de sábado – gripe – esta (tarde de sábado) que morre.

   a)   Todos esses elementos são normalmente considerados positivos, desejáveis?

Não. 

   b)   Sendo assim, ao dizer que o amor torna esses elementos apetecíveis, o que o eu lírico enfatiza?

Enfatiza a intensidade do amor que sente.

06 – Releia agora do décimo oitavo (“Recolho tamancos [...]”) ao vigésimo primeiro verso (“lâmina encostada em teu peito. Fala.”). Nesse trecho há outra enumeração: tamancos, flauta, molho de flores, resinas, rispidez, retábulos, faca, lâmina.

a)   Todos esses elementos são comuns em poemas de amor? Você espera ver tamancos e resinas, por exemplo, associados ao amor?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Essas associações são inusitadas, inesperadas.

b)   Em sua opinião, a enumeração que aparece nesses versos pode representar o uso de recursos diversos para obrigar a pessoa amada a falar aquilo que o eu lírico deseja ouvir? Se sua resposta for sim, comente um desses recursos.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Nenhuma palavras, nesse caso, é empregada casualmente, aleatoriamente; o eu lírico sugere diversas formas de chamar a atenção da pessoa amada.

07 – Releia os versos a seguir e complete a frase no caderno.

        “‘Penso em você’ – me diz e estancarei os féretros, tão grande é a minha paixão.” No contexto do poema, “estancar os féretros” pode significar

a)   Enterrar-se, ou seja, desistir.

b)   Deter a morte, ou seja, fazer o impossível.

c)   Fazer o inevitável.

 

NOTÍCIA: A PÉ COM LAO-TSÉ - SÉRGIO BRANCO - COM GABARITO

 Notícia: A pé com Lao-tsé

             Sérgio Branco

        A frase é usada para demonstrar que grandes conquistas partem de uma primeira ação, às vezes banal. O criador é um filósofo chinês, o genial Lao-tsé: “Uma longa caminhada começa com o primeiro passo”. O ensinamento do sábio, que muitos historiadores definem como o criador do taoismo, deve servir de pauta para todos os viajantes. A caminhada pode ser entendida também como descoberta. E ainda não inventaram jeito melhor de descobrir um lugar do que passeando a pé por ele.

        Qualquer cidade em qualquer país será desvendada por aqueles que derem o primeiro passo. Perder-se por avenidas, ruas, vielas, bulevares, escadarias e becos e flertar com a novidade. Um detalhe, uma lasca do imprevisível. Algo surge e pode marcar a viagem para sempre.

        Lembro Barcelona, 1993. Saído do mercado La Boquería, perdia-me sem destino por uma rua do Bairro Gótico quando, na direção contrária, uma turba gritava palavras de ordem. Era uma manifestação do Partido Comunista Catalão. Havia duas alternativas: ser levado pela multidão que empunhava bandeiras vermelhas ou quebrar à esquerda em uma viela, tão estreita que nem carro cabia. Entrei na viela.

        Como era hora do almoço, a fome dava sinais. Caminhei por cerca de 50 metros e notei uma pequena placa: Can Culleretes. Um restaurante discreto, apenas uma porta de madeira, antiquíssima. Na parede lateral, uma pequena caixa de madeira com vidro protegia um recorte amarelado do El País. Li e me surpreendi. Entre outras coisas, o artigo informava que o Can Culleretes era um bastião da comida catalã. E mais antigo que ele, somente o Sobrino de Botín, aquele famoso de Madri, tido como o mais velho da Europa (talvez do mundo) em atividade.

        Claro que entrei. Ao cruzar a porta, mais surpresa: um salão enorme, cheio de gente. Ninguém com cara de turista. Uma senhorinha simpática, de avental típico, indicou uma mesa. Sentado, à espera do cardápio, notei pinturas clássicas e modernas, antigos azulejos decorativos, desenhos enquadrados em molduras de madeira, esboços artísticos, rabiscados na própria parede, fotos e mais fotos também emolduradas. Parecia coisa de gente importante ou famosa.

        Escolhi um prato catalão com frutos do mar e, enquanto esperava, tirei da mochila meus dois ótimos guias de Barcelona e vasculhei em busca do Can Culleretes. Nada. Nenhuma menção. Era uma descoberta, pensei.

        Comida maravilhosa, preço excelente (ainda em pesetas) e atendimento carinhoso, mesmo para um turista enxerido num ambiente reservado a catalães.

        Jamais teria acontecido se não fizesse aquele passeio a pé, sem destino, pressionado pela massa comunista da cidade — detalhe que fez a diferença, mas que só ocorre quando você é guiado pelo imponderável.

        Espalhei minha descoberta a todos que pude. Escrevi até artigo em jornal, ainda em 1993. Vivi o prazer de contar o que ninguém sabia.

        Voltei a Barcelona outras vezes. A mais recente foi no último réveillon. Em todas, fui comer no Can Culleretes, com 226 anos de história completados em 2012. Continua na mesma viela, pertinho do La Boquería. Ainda não é fácil encontrá-lo em guias, mas hoje está na internet (culleretes.com).

        Lição aprendida, mantenho minha busca por lugares inusitados em rondas a pé pelas cidades que visito. Nem sempre encontro algo valioso, mas a sensação da procura sem compromisso já me contenta. Viagens são lembradas por fatos assim. Nunca esquecemos nossas descobertas. E poder dividi-las é uma satisfação imensa.

 BRANCO, Sérgio. Viaje Mais. 133. ed. São Paulo: Europa, jun. 2012.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 188-190.

Entendendo a notícia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Turba: multidão.

·        Bastião: sustentáculo, apoio, alicerce que contribui para a subsistência de algo.

·        Enxerido: intrometido.

·        Imponderável: aquilo que não pode ser previsto.

·        Inusitado: incomum.

02 – Atente à estrutura do texto:

1° e 2° parágrafos — Introdução. Citação de uma frase de Lao-tsé, filósofo chinês, que serve de ponto de partida para a produção do relato.

3° ao 7° parágrafo — Relato de uma descoberta feita pelo redator quando passeava por Barcelona.

8° ao 11° parágrafo — Retomada da reflexão que introduz o texto. Conclusão do relato com a explicitação de uma lição aprendida.

        Todas as partes que preenchem essa estrutura foram organizadas em torno de uma informação principal. O autor escolhe um ponto de partida e o transforma no fio condutor do texto, o que garante a coerência do relato: a citação de Lao-tsé, “Uma longa caminhada começa com o primeiro passo”.

a)   A citação de Lao-tsé pode ser compreendida no sentido figurado. Considerando isso, explique um dos sentidos possíveis para as expressões “longa caminhada” e “primeiro passo”.

“Longa caminhada” pode ter interpretada como qualquer desafio cujo objetivo deve demorar a ser alcançado. “Primeiro passo” pode ser a realização da primeira etapa para se alcançar esse objetivo.

b)   O sentido que o autor utiliza em seu texto, contudo, é diferente dessa interpretação mais figurada. Explicite que sentido é esse.

O autor explorou o sentido literal da frase, em que “longa caminhada” e “primeiro passo” são usados, de fato, em relação a um percurso a pé.

c)   Por que o autor emprega esse outro sentido da frase de Lao-tsé em seu texto? Que tipo de exploração ele fez da frase para desenvolver seu relato?

O autor do relato desenvolve o texto a partir do sentido literal da frase como forma de destacar a importância dos passeios a pé para se descobrir lugares inusitados, nunca antes explorados ou valorizados por outros viajantes.

03 – Por que o restaurante encontrado por Sérgio Branco em uma das vielas de Barcelona teve um caráter de descoberta para ele?

      Porque se tratava de um restaurante bastante antigo, cuja comida era maravilhosa e não muito cara; além disso, o ambiente não parecia ser frequentado por turistas e o atendimento era carinhoso.

04 – A que o autor do texto atribuiu essa descoberta?

      À sua decisão de circular a pé pela cidade, andando ao acaso.

05 – O texto deixa claro quais são os objetivos que o autor tem como viajante. Esses objetivos correspondem aos de Maria Fernanda Vomero em seu texto “O que a guerra me ensinou”? Explique de que forma cada um dos relatos revela algumas das motivações desses viajantes.

      Os objetivos não são os mesmos. Sérgio Branco é motivado pela descoberta ao acaso, pelo desejo de divulgar um lugar desconhecido e confortável que possa ser apreciado por pessoas. Maria Fernanda Vomero revela em seu texto a preocupação humanitária e o interesse por locais em que se vive em situações de conflito; ela é movida pelo desejo de conhecimento dos dramas humanos mais do que de conhecimento das paisagens.

SONETO AREJADO - GLAUCO MATTOSO - COM GABARITO

 Soneto arejado

    Glauco Mattoso


Acabo de no rádio ouvir que, a sós,
cachorros filosofam e, segundo
pesquisas, formam, como sobre o mundo,
ideias desdenhosas sobre nós,

Humanos pobretões, que mesmo após
na técnica avançar tão longe e fundo,
capazes de distâncias num segundo,
ainda engatinhamos quanto à voz!

Latidos, sim, são fala inteligível,
sutil, sofisticada, e não fonema
grafado e articulado em baixo nível!

Uivar, grunhir, é música e poema!
Contudo, o ser humano é imprescindível
para os acompanhar... mas sob algema!

MATTOSO, Glauco. Animalesca escolha. Porto Alegre: Ameop. 2004.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 142-3.

Entendendo o poema:

01 – Identifique no soneto o número de sílabas poéticas de cada verso e o esquema de rimas.

      Os versos têm dez sílabas poéticas, ou seja, são decassílabos. Esquema de rimas: ABBA / ABBS / CDC / DCD.

02 – Copie no caderno a frase a seguir e complete-a. No poema, pode-se perceber, entre cães e seres humanos, uma relação de .....

a)   Amizade e companheirismo.

b)   Oposição e desconfiança.

c)   Medo e agressividade.

03 – Na vida real, nas relações entre pessoas e cães, quem domina é o ser humano. Sendo assim, explique o que acontece no poema.

      No poema, os cachorros é que dominam. Há uma inversão de papéis: os cães filosofam, formam ideias sobre nós e têm uma fala sofisticada; em vez de leva-los presos pela coleira, são os seres humanos que acompanham os cães sob algema.

04 – Praticamente todas as informações do poema reiteram a ideia de que os cães são superiores aos seres humanos. Confirme isso identificando no texto pelo menos três características atribuídas aos cães e três aos seres humanos.

      Sugestões: Os cães filosofam sobre os seres humanos; formam ideias desdenhosas sobre nós; seus latidos são fala inteligível, sutil, sofisticada; uivar e grunhir é música e poema. Os seres humanos são pobretões; são avançados na técnica, mas ainda engatinham quanto à voz; usam fonemas grafados e articulados em baixo nível; são imprescindíveis para acompanhar os cães, mas sob algema.

05 – Como você interpreta estes trechos?

a)   “Ainda engatinhamos quanto à voz!”.

Nós, seres humanos, ainda não nos comunicamos de forma eficiente.

b)   “Latidos, sim, são fala inteligível, / sutil, sofisticada, e não fonema / grafado e articulado em baixo nível!”.

A comunicação entre os cães é eficiente, elevada, enquanto a humana seria rústica.

06 – Sintetize a visão que o eu lírico tem dos seres humanos.

      Para o eu lírico, os seres humanos são seres que possuem sofisticação técnica, mas cuja comunicação é fraca, inadequada, de “baixo nível”.

07 – Segundo os dicionários, um dos sentidos de arejado é esclarecido, liberal, que aceita o novo, o não convencional. Aponte uma relação possível entre o conteúdo do soneto e seu título.

      O eu lírico apresenta uma visão não convencional da relação entre cães e humanos; estes seriam inferiores àqueles.