domingo, 15 de maio de 2022

CORDEL: O BURRO É O SER HUMANO - JOSÉ DE ACACI - COM GABARITO

 Cordel: O burro é o ser humano

           José de Acaci


Acordei de madrugada

E comecei a fazer risco...

Pedi licença ao poeta,

Meu mestre Antônio Francisco,

E puxei pela memória

Pra escrever essa história

Que chegou como um corisco:

 

Andando pela cidade

Vi uma carroça larga

Cheia de areia e cimento

E pensei na vida amarga,

O sofrimento, a tortura,

Como é a vida dura

De um pobre burro de carga.

 

Ao ver o burro cansado

Perguntei no pensamento:

– Como é que um homem pode

Causar tanto sofrimento?

– Como pode ser tão mau

Com esse pobre animal?

– Coitado desse jumento!

 

E fiquei ali parado

Pensando na humanidade

Que pra se satisfazer

Perde o rumo da verdade.

E entre todos os animais,

Entre todos os demais,

É o único que tem maldade.

[...]

Olhando aquele jumento

Escutei a voz de alguém,

Mas olhei ao meu redor

Vi que não tinha ninguém.

Só o jumento cansado,

Olhando para o meu lado

Como uma coisa do além.

 

Fiquei todo arrepiado

Quando o jumento me olhou

Chamou minha atenção

E para mim cochichou:

“– Não se assuste comigo

Você não corre perigo.”

E depois continuou:

 

“– Você, meu caro poeta,

Com esse seu sentimento

Foi por Deus abençoado.

E agora, nesse momento,

Vai ter a capacidade

E a oportunidade

De escutar um jumento.”

 

Eu senti um arrepio,

O suor veio na palma,

Ao escutar o jumento

Senti um frio na alma,

Meu coração disparou,

Mas o jumento falou:

“– Meu poeta, tenha calma!”

 

Olhou-me com a grandeza

De um Sábio de Alexandria,

E disse: “-- O que o homem faz

Comigo é covardia,

Mas eu lhe dou o perdão

Porque no meu coração

Só tenho paz e alegria.”

 

“– Não adianta queixar-me

De todo meu sofrimento.

Eu não reclamo da vida

Nem resmungo um só momento,

Não vivo no desatino

Porque sei que o meu destino

Foi nascer para ser jumento.”

 

“– Porém, você meu poeta,

Faz parte da raça humana.

A quem Deus deu liberdade

E a vontade soberana

Pra decidir com cuidado

Entre o certo e o errado

Entre o amor e a gana.”

 

“– O ser humano optou

Pelo lado que não presta.

Poluiu rios e mares,

Tocou fogo na floresta

E desmatou sopé de morro,

É um pedindo socorro

E outro fazendo festa.”

[...]

“Com trator e motosserra

Fizeram o desmatamento

Deixaram a areia solta

Gerando assoreamento.

– Oh atitude infeliz!

Ainda tem gente que diz

Que eu é sou jumento.”

 

“– Desculpe, caro poeta,

Magoar não é meu plano,

Mas o homem me maltrata

E ainda comete o engano

De dizer que eu sou burro”,

E falou dando um esturro:

“O burro é o ser humano.”

 

“– Um bicho que inventa armas,

Que destrói uma nação,

Que tem inveja e ganância

No sangue e no coração.

Que faz o mal e sai rindo,

Tá se autodestruindo.

– Esse perdeu a razão!”

[...]

ACACI, José. O burro é o ser humano. Parnamirim: s.d.

Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º ano – Ensino Fundamental – IBEP – 4ª edição. São Paulo. 2015. p. 66-8.

Entendendo o cordel:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Corisco: faísca elétrica, raio.

·        Desatino: ausência de bom senso, de juízo.

·        Soberano: de grande poder, que exerce autoridade.

·        Gana: desejo grande e excessivo de obter lucro, lícito ou ilícito.

·        Sopé: base da montanha, parte inferior.

·        Assoreamento: surgimento de montes de areia por enchente ou construções.

·        Esturro: urro, rugido; estrondo; queimado.

02 – Em resumo, qual é o assunto tratado nesse cordel?

      Reflexões sobre a natureza humana e sobre as ações do homem em relação ao meio ambiente.

03 – Uma das personagens do poema é um burro falante. Em que outro gênero de texto o recurso de personificação de animais costuma ser utilizado?

      Nas fábulas.

04 – O eu poético comenta, na primeira estrofe, que recorre à memória para narrar o que virá em seguida. Que outra expressão, usada anteriormente nessa mesma estrofe, antecipa a ação de escrever?

      “Fazer risco”.

05 – Releia esta estrofe:  

“E fiquei ali parado

Pensando na humanidade

Que pra se satisfazer

Perde o rumo da verdade.

E entre todos os animais,

Entre todos os demais,

É o único que tem maldade.”

a)   Que palavra poderia sintetizar a ideia apresentada no terceiro e no quarto versos desta estrofe? Transcreva-a em seu caderno.

         I. Anseio. II. Ganância. III. Maldade. IV. Orgulho.

b)   Explique o que seria “perder o rumo da verdade”, segundo o ponto de vista do jumento.

Seria não mais praticar atos justos e verdadeiros, afastando-se do que é adequado e correto.

c)   Segundo o poema, qual é o único animal que tem maldade?

O ser humano.

d)   Você concorda com essa ideia? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno.

06 – Releia outro trecho do poema:

“[...]

Mas eu lhe dou o perdão

Porque no meu coração

Só tenho paz e alegria.”

a)   De quem é essa afirmação?

Do burro.

b)   O que é possível perceber sobre a índole dessa personagem a partir da leitura desses versos?

Que ele é um ser bom, puro.

07 – Na 12ª estrofe, percebe-se um confronto de atitudes.

a)   Localize e transcreva em seu caderno os dois versos que apresentam essa oposição.

É um pedindo socorro / e outro fazendo festa.”

b)   Identifique quais elementos estão em oposição nesses versos.

A natureza e os seres humanos.

c)   Dê exemplos que confirmem a ideia que esses versos apresentam.

De um lado, há a natureza desrespeitada, que nos envia alertas de socorro, como degelo dos polos, aquecimento global, abertura na camada de ozônio, etc. Do outro, há o homem enriquecendo às custas da exploração.

 

DIÁLOGO: NA BIBLIOTECA - FRAGMENTO - COM GABARITO

 Diálogo: Na biblioteca – Fragmento

       [...]

        – Quero fazer empréstimo desses livros.

        – Vamos preencher a ficha. Qual é o seu nome?

        – Marcos de Andrade.

        – Onde você mora?

        – Rua das Rosas.

        – Qual o número?

        – Número 35, apartamento 142.

        – Qual o bairro?

        – Jardim das Flores.

        – Quantos anos você tem?

        – Tenho 14 anos.

        – Quem lhe indicou a biblioteca?

        – O professor de Português da minha escola.

        – Qual escola?            

        – Escola Municipal Monteiro Lobato.

        – Quantos livros você vai levar?

        – Esses 3.

        – Está certo! Assine aqui!

        [...]

Fonte:  Livro – Coleção ALET – Língua Portuguesa – Kátia P. G. Sanches & Sebastião Andreu – 6ª Série – 1ª edição – São Paulo. Ediouro, 2002 – p. 174-5.

Entendendo o diálogo:

01 – O trecho acima é um diálogo. Quem são as personagens?

      As personagens que estão dialogando são um(a) bibliotecário(a) e um aluno.

02 – No diálogo aparecem pronomes interrogativos. Identifique-os.

      Os pronomes interrogativos mencionados no diálogo são: qual, onde, quantos e quem.

03 – Quem utiliza pronomes interrogativos na sua fala? Por quê?

      A pessoa que utiliza os pronomes interrogativos em sua fala é a(o) bibliotecária(o), porque, para preencher a ficha do aluno, é necessário fazer algumas perguntas.

04 – Cite uma outra situação e que as pessoas utilizam pronomes interrogativos.

      Resposta pessoal do aluno.

CONTO: CANTIGA DE ESPONSAIS - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

 Conto: CANTIGA DE ESPONSAIS

          Machado de Assis                      

        Imagine a leitora que está em 1813, na igreja do Carmo, ouvindo uma daquelas boas festas antigas, que eram todo o recreio público e toda a arte musical. Sabem o que é uma missa cantada; podem imaginar o que seria uma missa cantada daqueles anos remotos. Não lhe chamo a atenção para os padres e os sacristães, nem para o sermão, nem para os olhos das moças cariocas, que já eram bonitos nesse tempo, nem para as mantilhas das senhoras graves, os calções, as cabeleiras, as sanefas, as luzes, os incensos, nada. Não falo sequer da orquestra, que é excelente; limito-me a mostrar-lhes uma cabeça branca, a cabeça desse velho que rege a orquestra, com alma e devoção.

        Chama-se Romão Pires; terá sessenta anos, não menos, nasceu no Valongo, ou por esses lados. É bom músico e bom homem; todos os músicos gostam dele. Mestre Romão é o nome familiar; e dizer familiar e público era a mesma coisa em tal matéria e naquele tempo. "Quem rege a missa é mestre Romão" — equivalia a esta outra forma de anúncio, anos depois: "Entra em cena o ator João Caetano"; — ou então: "O ator Martinho cantará uma de suas melhores árias." Era o tempero certo, o chamariz delicado e popular. Mestre Romão rege a festa! Quem não conhecia mestre Romão, com o seu ar circunspecto, olhos no chão, riso triste, e passo demorado? Tudo isso desaparecia à frente da orquestra; então a vida derramava-se por todo o corpo e todos os gestos do mestre; o olhar acendia-se, o riso iluminava-se: era outro. Não que a missa fosse dele; esta, por exemplo, que ele rege agora no Carmo é de José Maurício; mas ele rege-a com o mesmo amor que empregaria, se a missa fosse sua.

        Acabou a festa; é como se acabasse um clarão intenso, e deixasse o rosto apenas alumiado da luz ordinária. Ei-lo que desce do coro, apoiado na bengala; vai à sacristia beijar a mão aos padres e aceita um lugar à mesa do jantar. Tudo isso indiferente e calado. Jantou, saiu, caminhou para a rua da Mãe dos Homens, onde reside, com um preto velho, pai José, que é a sua verdadeira mãe, e que neste momento conversa com uma vizinha.

        — Mestre Romão lá vem, pai José, disse a vizinha.

        — Eh! eh! adeus, sinhá, até logo.

        Pai José deu um salto, entrou em casa, e esperou o senhor, que daí a pouco entrava com o mesmo ar do costume. A casa não era rica naturalmente; nem alegre. Não tinha o menor vestígio de mulher, velha ou moça, nem passarinhos que cantassem, nem flores, nem cores vivas ou jucundas. Casa sombria e nua. O mais alegre era um cravo, onde o mestre Romão tocava algumas vezes, estudando. Sobre uma cadeira, ao pé, alguns papéis de música; nenhuma dele...

        Ah! se mestre Romão pudesse seria um grande compositor. Parece que há duas sortes de vocação, as que têm língua e as que a não têm. As primeiras realizam-se; as últimas representam uma luta constante e estéril entre o impulso interior e a ausência de um modo de comunicação com os homens. Romão era destas. Tinha a vocação íntima da música; trazia dentro de si muitas óperas e missas, um mundo de harmonias novas e originais, que não alcançava exprimir e pôr no papel. Esta era a causa única da tristeza de mestre Romão. Naturalmente o vulgo não atinava com ela; uns diziam isto, outros aquilo: doença, falta de dinheiro, algum desgosto antigo; mas a verdade é esta: — a causa da melancolia de mestre Romão era não poder compor, não possuir o meio de traduzir o que sentia. Não é que não rabiscasse muito papel e não interrogasse o cravo, durante horas; mas tudo lhe saía informe, sem ideia nem harmonia. Nos últimos tempos tinha até vergonha da vizinhança, e não tentava mais nada.

        E, entretanto, se pudesse, acabaria ao menos uma certa peça, um canto esponsalício, começado três dias depois de casado, em 1779. A mulher, que tinha então vinte e um anos, e morreu com vinte e três, não era muito bonita, nem pouco, mas extremamente simpática, e amava-o tanto como ele a ela. Três dias depois de casado, mestre Romão sentiu em si alguma coisa parecida com inspiração. Ideou então o canto esponsalício, e quis compô-lo; mas a inspiração não pôde sair. Como um pássaro que acaba de ser preso, e forceja por transpor as paredes da gaiola, abaixo, acima, impaciente, aterrado, assim batia a inspiração do nosso músico, encerrada nele sem poder sair, sem achar uma porta, nada. Algumas notas chegaram a ligar-se; ele escreveu-as; obra de uma folha de papel, não mais. Teimou no dia seguinte, dez dias depois, vinte vezes durante o tempo de casado. Quando a mulher morreu, ele releu essas primeiras notas conjugais, e ficou ainda mais triste, por não ter podido fixar no papel a sensação de felicidade extinta.

        — Pai José, disse ele ao entrar, sinto-me hoje adoentado.

        — Sinhô comeu alguma coisa que fez mal...

        — Não; já de manhã não estava bom. Vai à botica...

        O boticário mandou alguma coisa, que ele tomou à noite; no dia seguinte mestre Romão não se sentia melhor. É preciso dizer que ele padecia do coração: — moléstia grave e crônica. Pai José ficou aterrado, quando viu que o incômodo não cedera ao remédio, nem ao repouso, e quis chamar o médico.

        — Para quê? disse o mestre. Isto passa.

        O dia não acabou pior; e a noite suportou-a ele bem, não assim o preto, que mal pôde dormir duas horas. A vizinhança, apenas soube do incômodo, não quis outro motivo de palestra; os que entretinham relações com o mestre foram visitá-lo. E diziam-lhe que não era nada, que eram macacoas do tempo; um acrescentava graciosamente que era manhã, para fugir aos capotes que o boticário lhe dava no gamão, — outro que eram amores. Mestre Romão sorria, mas consigo mesmo dizia que era o final.

        — Está acabado, pensava ele.

        Um dia de manhã, cinco depois da festa, o médico achou-o realmente mal; e foi isso o que ele lhe viu na fisionomia por trás das palavras enganadoras:

        — Isto não é nada; é preciso não pensar em músicas...

        Em músicas! justamente esta palavra do médico deu ao mestre um pensamento. Logo que ficou só, com o escravo, abriu a gaveta onde guardava desde 1779 o canto esponsalício começado. Releu essas notas arrancadas a custo e não concluídas. E então teve uma ideia singular: — rematar a obra agora, fosse como fosse; qualquer coisa servia, uma vez que deixasse um pouco de alma na terra.

        — Quem sabe? Em 1880, talvez se toque isto, e se conte que um mestre Romão...

        O princípio do canto rematava em um certo lá; este lá, que lhe caía bem no lugar, era a nota derradeiramente escrita. Mestre Romão ordenou que lhe levassem o cravo para a sala do fundo, que dava para o quintal: era-lhe preciso ar. Pela janela viu na janela dos fundos de outra casa dois casadinhos de oito dias, debruçados, com os braços por cima dos ombros, e duas mãos presas. Mestre Romão sorriu com tristeza.

        — Aqueles chegam – disse ele –, eu saio. Comporei ao menos este canto que eles poderão tocar...

        Sentou-se ao cravo; reproduziu as notas e chegou ao lá....

        — Lá, lá, lá...

        Nada, não passava adiante. E contudo, ele sabia música como gente.

        — Lá, dó... lá, mi... lá, si, dó, ré... ré... ré...

        Impossível! nenhuma inspiração. Não exigia uma peça profundamente original, mas enfim alguma coisa, que não fosse de outro e se ligasse ao pensamento começado. Voltava ao princípio, repetia as notas, buscava reaver um retalho da sensação extinta, lembrava-se da mulher, dos primeiros tempos. Para completar a ilusão, deitava os olhos pela janela para o lado dos casadinhos. Estes continuavam ali, com as mãos presas e os braços passados nos ombros um do outro; a diferença é que se miravam agora, em vez de olhar para baixo. Mestre Romão, ofegante da moléstia e de impaciência, tornava ao cravo; mas a vista do casal não lhe suprira a inspiração, e as notas seguintes não soavam.

        — Lá... lá... lá...

        Desesperado, deixou o cravo, pegou do papel escrito e rasgou-o. Nesse momento, a moça embebida no olhar do marido, começou a cantarolar à toa, inconscientemente, uma coisa nunca antes cantada nem sabida, na qual coisa um certo lá trazia após si uma linda frase musical, justamente a que mestre Romão procurara durante anos sem achar nunca. O mestre ouviu-a com tristeza, abanou a cabeça, e à noite expirou.

ASSIS, Machado de. O alienista e outros contos. São Paulo: Moderna, 1997.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 137-141.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Botica: farmácia.

·        Capote: vitória em um jogo, em geral pelo dobro dos pontos alcançados pelo adversário.

·        Circunspecto: sério, reservado.

·        Cravo: instrumento de cordas.

·        Esponsais: noivado.

·        Esponsalício: relativo a noivado.

·        Idear: idealizar.

·        Jucundo: jovial, alegre.

·        Macacoa: doença sem importância, indisposição.

·        Mantilha: tipo de manta grossa com que as mulheres cobrem a cabeça e parte do corpo.

·        Missa: peça musical composta para ser executada em missa cantada.

·        Sanefa: cortina.

·        Suprir: fazer as vezes de, prover.

·        Valongo: bairro da cidade do Rio de Janeiro.

·        Vulgo: povo.

02 – Complete a frase a seguir no caderno. O narrador apresenta a personagem principal, mestre Romão, apenas no final do primeiro parágrafo, após enumerar diversos elementos da cena. Essa forma de apresenta-lo permite inferir que ..............

a)   Mestre Romão tinha menos importância que todos os elementos que compunham aquela cena.

b)   Se o narrador não chamasse a atenção para aquela personagem naquela cena, ninguém a perceberia, tal seu acanhamento.

c)   Num primeiro momento o narrador exclui todos os elementos que seriam importantes numa festa religiosa para destacar a figura realmente importante da cena.

03 – Segundo o texto, mestre Romão era uma pessoa reconhecida pela sociedade de seu tempo. Que trecho justifica essa afirmação?

      “Mestre Romão é o nome familiar; e dizer familiar e público era a mesma coisa em tal matéria e naquele tempo. [...] Era o tempero certo, o chamariz delicado e popular. Mestre Romão rege a festa! Quem não conhecia mestre Romão [...]?”

04 – Nos dois primeiros parágrafos, a situação é de equilíbrio, ou seja, não há tensões, não há problemas, trata-se apenas da apresentação de um regente de orquestra bastante popular e reconhecido. No início do terceiro parágrafo, porém, uma informação sugere que a situação descrita inicialmente não á assim tão livre de tensões:

        “Acabou a festa; é como se acabasse um clarão intenso, e deixasse o rosto apenas alumiado da luz ordinária. Ei-lo que desce do coro, apoiado na bengala; vai à sacristia beijar a mão aos padres e aceita um lugar à mesa do jantar. Tudo isso indiferente e calado.”

a)   Qual é essa informação? Explique.

Acabada a festa (a missa cantada que o mestre regia), é como se Romão Pires ficasse apagado: não há mais clarão intenso, e ele se torna indiferente e calado.

b)   Retire do conto um trecho que evidencia o problema vivido por mestre Romão Pires e que já é insinuado no começo do terceiro parágrafo.

“Ah! se mestre Romão pudesse seria um grande compositor. [...] Tinha a vocação íntima da música; trazia dentro de si muitas óperas e missas, um mundo de harmonias novas e originais, que não alcançava exprimir e pôr no papel. Esta era a causa única da tristeza de mestre Romão.”

05 – O narrador desse conto, além de onisciente, é parcial. Com uma ou outra expressão aparentemente sem muita importância, ele deixa transparecer sua opinião sobre certos comportamentos, certos acontecimentos. Reconhecer a forma como o narrador conduz a construção de sua narrativa também pode colaborar para a compreensão do conto. Releia o trecho que vai de “Quem não conhecia” até “se a missa fosse sua”. (Linhas 24 a 30). Segundo o narrador, em que situação teria mais sentido o comportamento iluminado, vivo, amoroso e efusivo de mestre Romão ao reger uma missa? Que frase desse trecho justifica sua resposta?

      Para o narrador, o comportamento efusivo de mestre Romão teria mais sentido se a missa fosse dele. Trechos que justificam a resposta: “não que a missa fosse dele” ou “mas ele rege-a com o mesmo amor que empregaria, se a missa fosse sua”.

06 – “A casa não era rica naturalmente; nem alegre”. Por que não se poderia esperar que a casa de mestre Romão fosse rica ou alegre?

      O narrador possivelmente sugere que a profissão de regente não era bem remunerada, além disso a casa parece retratar a própria insatisfação de Mestre Romão. Em síntese, trata-se de um recurso estilística para aproximar as características do espaço (pobre e triste) ás características psicológicas da personagem.

07 – No trecho “Naturalmente o vulgo não atinava com ela; uns diziam isto, outros aquilo: doença, falta de dinheiro, algum desgosto antigo [...]”, o que o narrador revela pensar das pessoas comuns ao afirmar ser natural que o vulgo não identificasse a real causa da tristeza de mestre Romão?

      Que as pessoas comuns veem razão para tristeza apenas nos fatos concretos.

08 – Releia:

        “Parece que há duas sortes de vocação, as que têm língua e as que a não têm. As primeiras realizam-se; as últimas representam uma luta constante e estéril entre o impulso interior e a ausência de um modo de comunicação com os homens. Romão era destas.”

        A ideia principal do conto está resumida nesse trecho. Mas, procurando traduzir a dificuldade de criação de mestre Ramão, o narrador não se restringe a enunciar o problema, ele busca também exemplifica-lo. Há duas situações na história em que está clara a “luta constante e estéril entre o impulso interior e a ausência de um modo de comunicação com os homens”. Quais são essas situações?

      Romão Pires, recém-casado, tentou escrever um conto esponsalício que traduzisse sua felicidade conjugal, mas não conseguiu. Pouco antes de morrer, tentou mais uma vez e de novo fracassou.

09 – Todas as informações relacionadas às características da narrativa podem ajudar o leitor a compreender um conto como “Cantiga de esponsais”.

a)   Em que ponto da narrativa se dá o clímax do conto?

No último parágrafo, o trecho que vai de “Nesse momento, a moça [...]” até “[...] sem achar nunca”.

b)   E em que ponto se dá o desfecho?

Na última frase: “O mestre ouviu-a com tristeza, abanou a cabeça, e à noite expirou”.

c)   Explique por que o desfecho, em certa medida, é irônico.

Mestre Romão morre após ouvir a moça cantarolar intuitivamente a melodia que ele buscara por tanto tempo.

 

sábado, 14 de maio de 2022

POEMA: MINHA TERRA! GONÇALVES DIAS- COM GABARITO

 Poema: Minha terra!

             Gonçalves Dias

Quanto é grato em terra estranha

Sob um céu menos querido,

Entre feições estrangeiras,

Ver um rosto conhecido;

 

Ouvir a pátria linguagem

Do berço balbuciada,

Recordar sabidos casos

Saudosos — da terra amada!

 

E em tristes serões d'inverno,

Tendo a face contra o lar,

Lembrar o sol que já vimos,

E o nosso ameno luar!

 

Certo é grato; mais sentido

Se nos bate o coração,

Que para a pátria nos voa,

P’ra onde os nossos estão!

 

Depois de girar no mundo

Como barco em crespo mar,

Amiga praia nos chama

Lá no horizonte a brilhar.

 

E vendo os vales e os montes

E a pátria que Deus nos deu,

Possamos dizer contentes:

Tudo isto que vejo é meu!

 

Meu este sol que me aclara,

Minha esta brisa, estes céus:

Estas praias, bosques, fontes,

Eu os conheço — são meus!

 

Mais os amo quando volte,

Pois do que por fora vi,

A mais querer minha terra,

E minha gente aprendi.

DIAS, Gonçalves. Poemas. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s/d. Paris, 1964.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 86-88.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavra abaixo:

·        Grato: agradável, bom, doce.

·        Lar: a parte da cozinha onde se acende o fogo, lareira.

·        Pátrio: relativo ou pertencente à pátria.

02 – De acordo com o texto, em relação tanto ao conteúdo como à forma. Quantos versos têm as estrofes? E quantas sílabas poéticas têm os versos?

      Todas as estrofes têm quatro versos; os versos têm sete sílabas poéticas.

03 – O tema da composição poética é comum, mas há diferença na forma de representa-lo.

a)   Qual é esse tema, encontrado no poema?

A saudade da terra natal.

b)   O que motiva o desfiar de lembranças do eu lírico em “Minha terra!”?

O encontro do eu lírico, em terras estrangeiras, com um conterrâneo (um brasileiro).

c)   No poema, a pátria é valorizada pelo contraste com o que falta ou não é tão bom no lugar onde se encontra o eu lírico. Copie uma estrofe do poema que mostre uma diferença entre o lugar onde o eu lírico está e a pátria, de que ele tem saudade.

A terceira estrofe.

04 – Releia a primeira estrofe do poema. Nessa estrofe, por meio da caracterização da terra onde se encontra o eu lírico, antecipa-se a caracterização da pátria.

a)   Copie no caderno as expressões que se referem à terra onde se encontra o eu lírico e ao povo desse lugar.

Terra estranha, um céu menos querido, feições estrangeiras.

b)   Sabendo o que o eu lírico sente em relação à terra estrangeira, conclua, por oposição, o que ele sente em relação à terra natal.

A terra natal é, para ele, a terra conhecida e querida, o lugar onde estão as pessoas com as quais se identifica, inclusive fisicamente.

c)   A ideia de pátria pode estar relacionada a segurança, identidade ou importância da família. A que essa primeira estrofe permite pensar que a ideia de pátria está relacionada para o eu lírico?

Identidade.

05 – Faça um levantamento da referência à pátria no poema, depois responda:

a)   O que o eu lírico mais valoriza em seu país?

O eu lírico valoriza mais a natureza, as belezas naturais.

b)   Que relação pode haver entre a valorização desse aspecto específico e o fato de Gonçalves Dias ter passado muitos anos na Europa, em Portugal e na França?

A Europa tem clima mais frio e sua natureza, ainda que bela, não tem a diversidade tropical, daí o destaque dado ao sol, às praias, etc., elementos que se opõem claramente aos da paisagem europeia.

06 – Complete a frase no caderno: O poema “Minha terra!” sugere que ...........

·        O amor à pátria é algo absoluto, sentido por qualquer pessoa que valorize seu país.

·        Só pode amar a pátria quem vive longe dela.

·        A distância e a saudade levam a valorizar as pessoas e as belezas da pátria.

POEMA: O FRIO PODE SER QUENTE? JANDIRA MASUR - COM GABARITO

 Poema: O frio pode ser quente?

                Jandira Masur.


As coisas têm muitos jeitos de ser,

depende do jeito que a gente vê.

O comprido pode ser curto

e o pouco pode ser muito.

O manso pode ser bravo

e o escuro pode ser claro.

O fino pode ser redondo

e o doce pode ser amargo.

O quente pode ser frio

e o que parece um mar também pode ser um rio.

(...)

O amanhã de ontem é hoje,

o hoje é o ontem de amanhã;

Dentro dessa complicação

quem tem uma explicação?

(...)

Parece mesmo que no fim

o bom pode ser ruim,

E neste caso por que não

o ruim também pode ser bom?

(...)

Jandira Masur, O frio pode ser quente. São Paulo: Editora Ática.

Fonte:  Livro – Coleção ALET – Língua Portuguesa – Kátia P. G. Sanches & Sebastião Andreu – 6ª Série – 1ª edição – São Paulo. Ediouro, 2002 – p. 160.

Entendendo o poema:

01 – As palavras: comprido, pouco, manso, escuro, fino, doce, quente, bom e ruim são, no texto, substantivos, mas fora dele são adjetivos. O mesmo ocorre com as palavras pouco, amanhã, ontem e hoje, que expressam circunstâncias de tempo ou quantidade. O que as transformou em substantivos, neste texto?

      A transformação se deu, pelo uso do artigo.

02 – Os artigos indefinidos referem-se a quais palavras?

      Os artigos indefinidos referem-se às palavras: mar, rio e explicação. Não foram usados artigos definidos para não especificar de qual mar, rio ou explicação a autora está falando.

POEMA: AI, DONA FEA! FOSTE-VOS QUEIXAR - JOAN GARCIA DE GUILHADE - COM GABARITO

 Poema: Ai, dona fea! Foste-vos queixar

           Joan Garcia de Guilhade 

Ai, dona fea! Foste-vos queixar

porque vos nunca louv’ en meu trobar;

mais ora quero fazer um cantar

en que vos loarei toda via;

e vedes como vos quero loar:

dona fea, velha e sandia!

 

Dona fea! se Deus mi perdon!

pois avedes tan gran coraçon

que vos eu loe, en esta razon,

vos quero ja loar toda via;

e vedes qual será a loaçon:

dona fea, velha e sandia!

 

Dona fea, nunca vos eu loei

en meu trobar, pero muito trobei;

mais ora ja un bon cantar farei,

en que vos loarei toda via;

e direi-vos como vos loarei:

dona fea, velha e sandia!

      GUILHADE, Joan Garcia de. In: SPINA, Segismundo. Presença da literatura portuguesa, op. cit.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 70-1.

Entendendo o poema:

01 – Como o eu lírico se refere à mulher para quem ele canta?

      Ela é tratada por “dona fea”.

02 – A cantiga parece ser resposta a uma queixa feita pela mulher. Qual pode ter sido essa queixa?

      Ela provavelmente reclamou do fato de o eu lírico nunca ter feito uma cantiga para louvá-la, para declarar-lhe sua admiração.

03 – Como o eu lírico responde à queixa?

      Em vez de destacar-lhe as qualidades, ele a chama de feia, velha e louca.

04 – Podemos saber quem é a mulher a quem o eu lírico se refere? Por quê?

      Não, porque o nome dela não é mencionado.

05 – No caderno, complete a frase com a proposição correta: O eu lírico do poema coloca-se diante da mulher...

     De maneira altiva e desrespeitosa, como se fosse muito melhor que ela.

·        De maneira humilde, submissa, como se estivesse nas mãos dela.

 

 

CONTO: OLHANDO PARA O HORIZONTE DA VIDA - MARINA COLASANTI - COM GABARITO

 Conto: Olhando para o horizonte da vida

             Marina Colasanti

        Subitamente tocado pela mutabilidade da vida, parou e perguntou-se: "Meu Deus, onde estarei no ano que vem a esta hora?" E do futuro respondeu-lhe o tédio: "Aqui, quando então te perguntarás, onde estarei no ano que vem, e a resposta será aqui. Quando então te perguntarás, onde estarei..."

Marina Colasanti. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 28-9.

Entendendo o conto:

01 – Desse pequeno conto pode-se extrair um tema, mas, para isso, é necessário compreender o sentido por trás da organização do texto – e perceba que esse sentido não é tão claro, tão óbvio. O que pode significar ser “Subitamente tocado pela mutabilidade da vida”?

      Essa expressão pode significar um momento em que a personagem do miniconto sente, de forma repentina, que a vida é feita de mudanças.

02 – Ao pergunta-se "[...] onde estarei no ano que vem a esta hora?", a personagem revela um desejo que vai além de simplesmente saber em que lugar estará no próximo ano. Que desejo é esse? Escreva a alternativa certa no caderno.

a)   O desejo de que algo em sua vida se modifique.

b)   O desejo de prever o futuro.

c)   O desejo de planejar os próximos anos.

03 – Quem responde à pergunta é o tédio, exatamente do lugar onde a personagem estará dali a um ano.

a)   Por que a resposta dada pelo tédio se opõe ao desejo da personagem?

Porque evidencia para a personagem que nada em sua vida vai mudar.

b)   Que ideia é reforçada pela repetição da pergunta ("Onde estarei no ano que vem a esta hora?") e da resposta ("Aqui")?

É reforçada a ideia de repetição, tédio, de que nada mudará na vida da personagem.

04 – Releia as respostas dada às questões anteriores e responda:

a)   O tema do miniconto de Marina Colasanti coincide com o tema do texto de Filosofia "Crise existencial". Que tema é esse?

O tema é a insatisfação com a própria existência ou a busca de um sentido para a vida.

b)   Quanto à forma de apresentar o tema, em que o texto se diferencia?

No miniconto, a autora narra uma história assim compartilha uma mensagem, mas não de modo direto: os dados são trabalhados artisticamente para tornar mais expressivo um fato e alcançar o leitor pelas emoções; isto é conseguido pelas combinações de palavras e frases, pelo uso da repetição como recurso expressivo.