terça-feira, 22 de outubro de 2019

ROMANCE: RITA BAIANA - FRAGMENTO - ALUÍSIO AZEVEDO - COM GABARITO

Romance: Rita Baiana – Fragmento
                 Aluísio Azevedo

        Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal num requebrado luxurioso que a punha ofegante; já correndo de barriga empinada; já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como se se fosse afundando num prazer grosso que nem azeite, em que se não toma pé e nunca se encontra fundo. Depois, como se voltasse à vida, soltava um gemido prolongado, estalando os dedos no ar e vergando as pernas, descendo, subindo, sem nunca parar com os quadris, e em seguida sapateava, miúdo e cerrado, freneticamente, erguendo e abaixando os braços, que dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca, enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por fibra, titilando.
        [...]
        O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando os que não sabiam dançar. Mas, ninguém como a Rita; só ela, só aquele demônio, tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante.
        E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.
        Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.
         AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 25. ed. São Paulo, Ática, 1992. p. 72-3.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 266-7.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Ilhargas: Cada uma das partes laterais e inferiores do baixo-ventre.

·        Luxurioso: Sensual, libidinoso.

·        Despoticamente: Tiranicamente.

·        Embambecer: Afrouxar, relaxar.

·        Setentrional: Situado ao norte.

02 – Que diferenças podemos estabelecer entre a caracterização de Rita Baiana e uma personagem feminina dos romances românticos?
      Rita Baiana é uma mulata rude, libidinosa, sem recato ou pudor, ao contrário da descrição romântica de mulheres educadas, meigas, frágeis e recatadas.

03 – Como você caracteriza o meio social do cortiço? Em que ele difere do ambiente romântico?
      O meio social é de pobres, assalariados, biscateiros, negros, mestiços e portugueses. O ambiente romântico é o das casas e palacetes burgueses.

04 – Que sentimentos são despertados em Jerônimo pela dança de Rita Baiana?
      Sentimentos de paixão e desejo.

05 – O narrador faz questão de retratar atitudes e personagens primitivos, acentuando a degradação dos tipos. Para isso, no romance, aproxima-os insistentemente de insetos e animais. Retire do texto exemplos que exemplifiquem esta afirmação.
      “Ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida.”



ROMANCE: MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS - CAP.XVIII - MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA - COM GABARITO

Romance: Memórias de um sargento de milícias        
                  Manuel Antônio de Almeida
      Capítulo XVIII – Fragmento
        [...]
        D. Maria chamou por sua sobrinha, e esta apareceu. Leonardo lançou-lhe os olhos, e a custo conteve o riso. Era a sobrinha de D. Maria já muito desenvolvida, porém que, tendo perdido as graças de menina, ainda não tinha adquirido a beleza de moça: era alta, magra, pálida: andava com o queixo enterrado no peito, trazia as pálpebras sempre baixas, e olhava a furto; tinha os braços finos e compridos; o cabelo, cortado, dava-lhe apenas até o pescoço, e como andava mal penteada e trazia a cabeça sempre baixa, uma grande porção lhe caía sobre a testa e olhos, como uma viseira. Trajava nesse dia um vestido de chita roxa muito comprido, quase sem roda, e de cintura muito curta; tinha ao pescoço um lenço encarnado de Alcobaça.
        Por mais que o compadre a questionasse, apenas murmurou algumas frases ininteligíveis com voz rouca e sumida. Mal a deixaram livre, desapareceu sem olhar para ninguém. Vendo-a ir-se, Leonardo tornou a rir-se interiormente.
        Quando se retiraram, riu-se ele pelo caminho à sua vontade. O padrinho indagou a causa da sua hilaridade; respondeu-lhe que não se podia lembrar da menina sem rir-se.
        — Então lembras-te dela muito a miúdo, porque muito a miúdo te ris.
        Leonardo viu que esta observação era verdadeira.
        Durante alguns dias umas poucas de vezes falou na sobrinha da D. Maria; e apenas o padrinho lhe anunciou que teriam de fazer a visita do costume, sem saber por quê, pulou de contente, e, ao contrário dos outros dias, foi o primeiro a vestir-se e dar-se por pronto.
        Saíram e encaminharam-se para o seu destino.
        [...].
                                   ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. 17. ed. São Paulo, Ática, 1990. p. 5-8.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 232-3.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Alcobaça: Vila portuguesa de onde se importavam estes lenços grandes de algodão, em geral vermelhos.

·        A miúdo (ou a miúde): Frequentemente.

02 – Que elementos do enredo podemos classificar como “nada românticos”?
      O encontro dos pais de Leonardo, a rejeição paterna, o caráter de Leonardo, etc.

03 – Com relação à classe social, o que se observa ao compararmos as personagens de Manuel Antônio de Almeida com as personagens dos romances românticos?
      As personagens são gente do povo, não pertencem à burguesia.

04 – Que verdade estaria implícita na observação do padrinho de Leonardo?
      O padrinho sugere que Leonardo estaria interessado na sobrinha de D. Maria, já que não a tirava da cabeça.

05 – Por que Leonardo não pode ser caracterizado como um jovem cavalheiro romântico?
      Porque Leonardo rir-se incontidamente do jeito aparentemente tímido e interiorano da menina.



domingo, 20 de outubro de 2019

POEMA: DÁ MEIA-NOITE - JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE - COM GABARITO

Poema: Dá Meia-Noite
              Joaquim de Sousa Andrade
 
Dá meia-noite em céu azul-ferrete
Formosa espádua a lua
Alveja nua,
E voa sobre os templos da cidade.
Nos brancos muros se projetam sombras;
Passeia a sentinela
À noite bela
Opulenta da luz da divindade.
O silêncio respira; almos frescores
Meus cabelos afagam;
Gênis vagam,
De alguma fada no ar andando à caça.
Adormeceu a virgem; dos espíritos
Jaz nos mundos risonhos –
Fora eu os sonhos
Da bela virgem… uma nuvem passa.

                                                         SOUSA ANDRADE, Joaquim de. “Dá meia-noite”. In: CAMPOS, Augusto de &   Campos, Haroldo de. ReVisão de Sousândrade. 2. ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982. p. 161.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 213.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o poema, qual o significado das palavras abaixo:

·        Azul-ferrete: Azul muito carregado.

·        Espádua: Ombro.

·        Almo: Adorável, delicioso, benéfico.

02 – Os versos desse poema não são metrificados nem rimados, atendem apenas às pausas espontâneas do movimento lírico, bem ao gosto moderno. Como se chamam?
      Versos brancos (não rimados) e livres (não metrificados).

03 – Passe para a ordem direta os seguintes versos:
a)   “Formosa espádua a lua alveja nua”.
A lua alveja (uma) espádua formosa (e) nua.

b)   “De alguma fada no ar andando à caça”.
Andando no ar à caça de alguma fada.

c)   “Dos espíritos jaz nos mundos risonhos”.
Jaz nos mundos dos espíritos risonhos.

04 – O poema possui uma delicada musicalidade. Retire da 3ª estrofe as palavras que, pela repetição das consoantes labiodentais (/f/-/v/) e da vogal /a/, contribuem para isso.
      Afagam, vagam, fada.

05 – No que diz respeito à linguagem, pode-se dizer que Sousândrade, nesse poema, identifica-se com os outros poetas românticos estudados? Justifique.
      Não, pois evita os lugares-comuns dos românticos, a linguagem discursiva derramada de então.


ROMANCE: O GUARANI - FRAGMENTO - JOSÉ DE ALENCAR - COM GABARITO

Romance: O Guarani – Fragmento
            VII PELEJA – Jose de Alencar

       Quando a família de D. Antônio de Mariz gozava dos primeiros momentos de tranquilidade que sucediam a tantas aflições, soou um grito na escada de pedra.
        Cecília levantou-se estremecendo de alegria e felicidade; tinha reconhecido a voz de Peri.
        No momento em que ia correr ao encontro do seu amigo, mestre Nunes já tinha abaixado uma prancha que servia de ponte levadiça, e Peri chegava à porta da sala. D. Antônio de Mariz, sua mulher e sua filha ficaram mudos de espanto e terror; Isabel caiu fulminada, como se a vida lhe faltasse de repente.
        Peri trazia nos seus ombros o corpo inanimado de Álvaro; e no rosto uma expressão de tristeza profunda. Atravessando a sala, depôs sobre o sofá o seu fardo precioso, e olhando o rosto lívido daquele que fora seu amigo, enxugou uma lágrima que lhe corria pela face. Nenhuma das pessoas presentes se animava a quebrar o silêncio solene que envolvia aquela cena lúgubre; os aventureiros que haviam acompanhado Peri quando passara no meio deles correndo, pararam na porta, tomados de compaixão e respeito por aquela desgraça. Cecília nem pôde gozar da alegria de ver Peri salvo; seus olhos, apesar dos sofrimentos passados, ainda tinham lágrimas para chorar essa vida nobre e leal que a morte acabava de ceifar. Quanto a D. Antônio de Mariz, sua dor era de um pai que havia perdido um filho; era a dor muda e concentrada que abala as organizações fortes, sem contudo abatê-las.
        Depois dessa primeira comoção produzida pela chegada de Peri, o fidalgo interrogou o índio e ouviu de sua boca a narração breve dos acontecimentos, cuja peripécia tinha diante dos olhos.
        Eis o que havia passado. Partindo na véspera, no momento em que começava a sentir os primeiros efeitos do veneno terrível que tomara, Peri ia cumprir a promessa que tinha feito a Cecília. Ia procurar a vida em um contraveneno infalível, cuja existência só era conhecida pelos velhos pajés da tribo, e pelas mulheres que os auxiliavam nas suas preparações medicinais. Sua mãe, quando ele partira para a primeira guerra, lhe tinha revelado esse segredo que devia salvá-lo de uma morte certa no caso de ser ferido por alguma seta ervada. Vendo o desespero de sua senhora, o índio sentiu-se com forças de resistir ao torpor do envenenamento que começava a ganhar-lhe o corpo, e ir ao fundo da floresta e procurar essa erva poderosa que devia restituir-lhe a saúde, o vigor e a existência. Contudo, quando atravessava a mata parecia-lhe às vezes que já era tarde, que não chegaria a tempo: então tinha medo de morrer longe de sua senhora, sem poder volver para ela o seu último olhar. Arrependia-se quase de ter partido de casa e não deixar-se ficar aos pés de Cecília até exalar o seu último suspiro; mas lembrava-se que a menina o esperava, lembrava-se que ela ainda precisava de sua vida e criava novas forças. Peri entranhou-se no mais basto e sombrio da floresta, e aí, na sombra e no silêncio passou-se entre ele e a natureza uma cena da vida selvagem, dessa vida primitiva, cuja imagem nos chegou tão incompleta e desfigurada. O dia declinou: veio a tarde, depois a noite, e sob essa abóbada espessa em que Peri dormia como em um santuário, nem um rumor revelara o que ai se passou. Quando o primeiro reflexo do dia purpureou o horizonte, as folhas se abriram, e Peri exausto de forças, vacilante, emagrecido como se acabasse de uma longa enfermidade. Saiu do seu retiro. Mal se podia suster, e para caminhar era obrigado a sustentar-se aos galhos das árvores que encontrava na sua passagem: assim adiantou-se pela floresta, e colheu alguns frutos, que lhe restabeleceram um tanto as forças. Chegando à beira do rio, Peri já sentiu o vigor que voltava, e o calor que começava a animar-lhe o corpo entorpecido; atirou-se à água e mergulhou. Quando voltou à margem, era outro homem; uma reação se havia operado; seus membros tinham adquirido a elasticidade natural; o sangue girava livremente nas veias. Então tratou de recuperar as forças que havia perdido, e tudo quanto a floresta lhe oferecia de saboroso e nutriente serviu a este banquete da vida, em que o selvagem festejava a sua vitória sobre a morte e o veneno. O sol tinha raiado havia horas; Peri, acabada a sua refeição, caminhava pensativo, quando ouviu uma descarga de armas de fogo, cujo estrondo reboou pelo âmbito da floresta. Lançou-se na direção dos tiros, e a pouca distância, num claro da mata, descobriu um espetáculo grandioso. Álvaro e os seus nove companheiros divididos em duas colunas de cinco homens, com as costas apoiadas às costas uns dos outros, estavam cercados por mais de cem Aimorés que se precipitavam sobre eles com um furor selvagem. Mas as ondas dessa torrente de bárbaros que soltavam bramidos espantosos, iam quebrar-se contra essa pequena coluna, que não parecia de homens, mas de aço; as espadas jogavam com tanta velocidade que a tornavam impenetrável; no raio de uma braça o inimigo que se adiantava caia morto.
        Havia uma hora que durava esse combate, começado com armas de fogo; mas os Aimorés atacavam com tanta fúria, que breve tinham chegado a luta corpo a corpo e à arma branca.
        No momento em que Peri assomava à margem da clareira, um incidente veio modificar a face do combate.
        O aventureiro que dava as costas a Álvaro, levado pelo ardor da peleja, adiantou-se alguns passos para ferir um inimigo; os selvagens o envolveram, deixando a coluna interrompida e Álvaro sem defesa. Entretanto o valente cavalheiro continuava a fazer prodígios de valor e de coragem; cada volta que descrevia sua espada era um inimigo de menos, uma vida que se extinguia a seus pés num rio de sangue. Os selvagens redobravam de furor contra ele, e cada vez o seu braço ágil movia-se com mais segurança e mais certeza, fazendo jogar como um raio a lamina de aço que mal se via brilhar nas suas rápidas evoluções.
        Desde porém que os Aimorés viram o moço sem defesa pelas costas, e exposto aos seus golpes, concentraram-se nesse ponto; um deles adiantando-se, ergueu com as duas mãos a pesada tangapema e atirou-a ao alto da cabeça de Álvaro.
        O moço caiu; mas na sua queda a espada descreveu ainda um semicírculo e abateu o inimigo que o tinha ferido à traição; a dor violenta dera a esse último golpe uma força sobrenatural.
        Quando os índios iam precipitar-se sobre o cavalheiro, Peri saltou no meio deles, e agarrando a espingarda que estava a seus pés, fez dela uma arma terrível uma clava formidável, cujo poder em breve sentiram os Aimorés. Apenas se viu livre do turbilhão dos inimigos, o índio tomou Álvaro nos seus ombros, e abrindo caminho com a sua arma temível, lançou-se pela floresta e desapareceu.
        Alguns o seguiram; mas Peri voltou-se e fê-los arrepender-se de sua ousadia; livrando-se do peso que levava, carregou a espingarda com as munições que Álvaro trazia e mandou uma bala àquele que o perseguia mais de perto; os outros, que já o conheciam pelo combate da véspera, retrocederam.
        A ideia de Peri era salvar Álvaro, não só pela amizade que lhe tinha, como por causa de Cecília, que ele supunha amar o cavalheiro; vendo porém que o corpo continuava inanimado, acreditou que Álvaro estava morto.
        Apesar disto não desistiu do seu propósito; morto ou vivo devia levá-lo àqueles que o amavam, ou para o restituírem à vida, ou para derramarem sobre o seu corpo o pranto da despedida.

      ALENCAR, José de. “O Guarani”. 11. ed. São Paulo, Ática, 1984. p. 191-3.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.224-5.

Entendendo o texto:
01 – De acordo com o texto, o que significa a palavra tangapema?
      É o nome da arma tacape.

02 – Que característica da casa de D. Antônio de Mariz nos lembra um castelo medieval?
      O fato de ter uma ponte levadiça.

03 – Como pode ser caracterizado o sentimento de Peri em relação à morte de Álvaro? Justifique sua resposta com duas citações do texto.
      O sentimento de Peri era de tristeza profunda, conforme as passagens: “no rosto uma expressão de tristeza profunda” e “enxugou uma lágrima”.

04 – O que pretendeu o narrador ao demonstrar ao leitor o caráter extremamente humano e sentimental de Peri?
     Em princípio, pode-se afirmar que o narrador procurou demonstrar que não havia diferenças marcantes entre os sentimentos dos chamados civilizados e os sentimentos dos selvagens, igualando Peri aos fidalgos.

05 – Apesar de se inscrever na temática indianista, o narrador focaliza personagens do início da nossa colonização. Que caráter isso dá ao texto?
      Um caráter histórico.

ROMANCE: O PRIMEIRO BEIJO - FRAGMENTO - MACHADO DE ASSIS- COM GABARITO

Romance: O primeiro beijo – Fragmento
              
 Machado de Assis
        [...]

        Tinha dezessete anos; pungia-me um buçozinho que eu forcejava por trazer a bigode. Os olhos, vivos e resolutos, eram a minha feição verdadeiramente máscula. Como ostentasse certa arrogância, não se distinguia bem se era uma criança com fumos de homem, se um homem com ares de menino. Ao cabo, era um lindo garção, lindo e audaz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o romantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com eles nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por compaixão, o transportou para os seus livros.
        Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado; e facilmente se imagina que mais de uma dama inclinou diante de mim a fronte pensativa, ou levantou para mim os olhos cobiçosos. De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada. A que me cativou foi uma dama espanhola, Marcela, a «linda Marcela», como lhe chamavam os rapazes do tempo. E tinham razão os rapazes. Era filha de um hortelão das Astúrias; disse-mo ela mesma, num dia de sinceridade, porque a opinião aceita é que nascera de um letrado de Madri, vítima da invasão francesa, ferido, encarcerado, espingardeado, quando ela tinha apenas doze anos. Cosas de España. Quem quer que fosse, porém, o pai, letrado ou hortelão, a verdade é que Marcela não possuía a inocência rústica, e mal chegava a entender a moral do código. Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo, que lhe não permitia arrastar pelas ruas os seus estouvamentos e berlindas; luxuosa, impaciente, amiga de dinheiro e de rapazes.
        [...].
                                           ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.
18. ed. São Paulo, Ática, 1992. p. 39-0.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 238-9.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Garção: Rapaz.

·        Estafar: Cansar, fatigar.

·        Lazeira: Lepra.

·        Airoso: Esbelto, elegante.

·        Hortelão: Que trata de horta.

·        Rústica: Simples, campestre.

·        Lépida: Alegre, ágil.

·        Estouvamento: Imprudência, leviandade.

·        Berlinda: Pequeno coche de quatro rodas, suspenso entre dois varais.

02 – Por que se pode afirmar que a visão que o narrador tem da sua personalidade ais dezessete anos não é idealizada?
      Porque o narrador reconhece os seus defeitos de vaidoso e arrogante.

03 – Que observações o narrador faz sobre o romantismo?
      O narrador refere-se ao romantismo como algo desgastado.

04 – “De todas porém a que me cativou logo foi uma... uma... não sei se diga; este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo. Mas vá lá; ou se há de dizer tudo ou nada.” Este período faz-nos esperar que tipo de descrição da personagem Marcela? Por quê?
      Uma descrição realista, porque o narrador deixa explícito que o que vai contar não tem nada de casto e que haverá de dizer tudo.

05 – Quais os traços marcantes da personalidade de Marcela?
      Mentia, era maliciosa, desconhecia a moralidade, era inescrupulosa, libertina, interessada em dinheiro e em rapazes.


domingo, 29 de setembro de 2019

POEMA: COMO EU TE AMO (FRAGMENTO) - GONÇALVES DIAS - COM GABARITO

Poema: COMO EU TE AMO (Fragmento)        

     Gonçalves Dias

Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;

Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua,

Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;

Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;

Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:

Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, - mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti. - Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
[...]
                            DIAS, Gonçalves. “Como eu te amo”. In: Poesia completa e prosa escolhida. Rio de Janeiro. Aguilar, 1959. p. 128.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 192-3.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Assomar: Parecer, surgir.

·        Nauta: Navegante, marinheiro.

·        Viração: Vento brando, brisa marítima.

·        Serpear: Mover-se como a serpente.

02 – O eu lírico utiliza comparações para expressar o seu sentimento amoroso. Que elementos, bem ao gosto do estilo romântico, predominam nessas comparações?
      Elementos da natureza.

03 – A religiosidade – outra característica da primeira fase do Romantismo – está presente no poema. Destaque o verso que exemplifica essa afirmação.
      Os pais e a pátria e a virtude e a Deus.

04 – Em que estrofe o nacionalismo romântico está presente através de uma comparação?
      Na 5ª estrofe: “Como se ama... os pais e a pátria...”.

05 – O Saudosismo – outra característica romântica – está claramente presente em que verso?
      No 3° verso da 2ª estrofe: “As canções saudosíssimas do nauta”.



POEMA: LIRA XXI - TOMÁS ANTONIO GONZAGA - COM GABARITO

Poema: LIRA XXI
         
     Tomás Antonio Gonzaga

Que diversas que são, Marília, as horas,
Que passo na masmorra imunda, e feia,
Dessas horas felizes, já passadas
                        na tua pátria aldeia!


Então eu me ajuntava com Glauceste;
E à sombra de alto Cedro na campina
Eu versos te compunha, e ele os compunha
                                            à sua cara Eulina.

Cada qual o seu canto aos Astros leva;
De exceder um ao outro qualquer trata;
O eco agora diz: “Marília terna”;
             e logo: “Eulina, ingrata”.

Deixam os mesmos Sátiros as grutas.
Um para nós ligeiro move os passos;
Ouve-nos de mais perto, e faz a flauta
                     c’os pés em mil pedaços.

Dirceu, clama um Pastor, ah! Bem merece
Da cândida Marilia a formosura.
E aonde, clama o outro, quer Eulina
                          achar maior ventura?

Nenhum Pastor cuidava do rebanho,
Enquanto em nós durava esta porfia.
E ela, ó minha Amada, só findava
             depois de acabar-se o dia.

            GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro, Ediouro, s.d. p. 82.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.166-7.
Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Glauceste: Pseudônimo pastoril de Cláudio Manuel da Costa.

·        Sátiro: Semideus da mitologia Greco-latina habitantes das florestas; tinha chifres curtos, pés e pernas de bode.

·        Cândida: Inocente, pura.

·        Ventura: Sorte.

·        Porfia: Competição, disputa.

02 – Esta lira, que pertence à segunda parte de Marília de Dirceu, reflete o drama vivido pelo poeta quando prisioneiro. Que estrofe comprova essa afirmação? 
      A primeira estrofe.

03 – Segunda estrofe, Dirceu refere-se a Glauceste. Glauceste é o pseudônimo pastoril de que poeta? 
      Cláudio Manuel da Costa.

04 – Que tipo de competição havia entre Dirceu e Glauceste? 
      Disputavam para ver qual dos dois compunha os melhores versos em louvor a sua amada.

05 – Qual a reação dos Sátiros e dos Pastores ao ouvi-los? O que quis dizer o poeta com isso? 
      Os sátiros quebravam suas flautas; os pastores deixavam de cuidar dos rebanhos.

06 – Exemplifique, com versos de Dirceu, três características do Arcadismo.
      Adoção de nomes pastoris: “Então eu me ajuntava com Glauceste”; a presença da mitologia: “Deixam os mesmos Sátiros as grutas”; o campo como cenário: “E à sombra de alto Cedro na campina”.


CRÔNICA: AMOR MODERNO DISPENSA IDEALIZAÇÔES - KARIN DAUCH - COM GABARITO

Crônica: AMOR MODERNO DISPENSA IDEALIZAÇÕES
             Karin Dauch

        O amor romântico não vive só nas telas de cinema. A publicidade também prega o resgate do romantismo. A atmosfera da lareira com vinho, namorados se beijando na chuva, e até mesmo a paquera por telefone ditam o comportamento neo-romântico e ajudam a vender produtos.
        De acordo com o diretor de marketing da agência de propaganda DPZ, Marcelo Machado, a publicidade adapta o conceito de romantismo à modernidade. Para que uma ideia seja aceita pelo público, é necessário que a situação seja
pertinente ao seu estilo de vida.
        Machado explica que, se a mídia ignorar esse aspecto, vai facilmente despencar para o brega. "Impossível conceber, por exemplo, um comercial onde duas pessoas, de poder aquisitivo alto e residente em uma metrópole, ficam em casa escrevendo cartas de amor." Na sua opinião, a dose exata de romantismo é aquela que melhor corresponde à modernidade: de forma objetiva, sem cenários idealizados.
                                       DAUCH, Karin. O Estado de São Paulo, 15/05/96.
     Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 176-7.            
Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado da palavra Pertinente?
      Relativo, referente, pertencente.

02 – O título da reportagem sugere que existem duas formas de amor. Quais são elas?
      O amor idealizado e o amor não idealizado.

03 – No primeiro parágrafo, a jornalista fala em comportamento neo-romântico. A ideia de um novo conceito de romantismo é repetida por Marcelo Machado através de que afirmação?
      “A publicidade adapta o conceito de romantismo à modernidade”.

04 – Qual a preocupação do diretor da agência de propaganda ao explorar o sentimento romântico dos consumidores? O que ele procura fazer para atingir o seu objetivo?
      A objetividade (X subjetividade) e a não idealização (X idealização).

05 – Sempre houve temperamento e sensibilidade romântica. No século XIX, chegou-se até mesmo a caracterizar um estilo de época: o Romantismo. De acordo com o texto, que características fundamentais servem para contrapor o romantismo moderno ao romantismo do século XIX?
      O que ele procura fazer para atingir o seu objetivo? Vender produtos. Para isso, procura adaptar a atmosfera romântica aos dias atuais.