domingo, 15 de maio de 2022

NOTÍCIA: CPFL ENERGIA APRESENTA: PLANETA SUSTENTÁVEL - (ADJUNTO ADNOMINAL)- REVISTA VEJA - COM GABARITO

 Notícia: CPFL Energia apresenta: Planeta Sustentável

            É buscando alternativas energéticas renováveis que a gente traduz nossa preocupação com o meio ambiente

        Sustentabilidade é um conceito que só ganha força quando boas ideias se transformam em grandes ações. É por acreditar nisso que nós, da CPFL, estamos desenvolvendo alternativas energéticas eficientes e renováveis e tomando as medidas necessárias para gerar cada vez menos impactos ambientais. A utilização da energia elétrica de forma consciente, o investimento em pesquisa e o desenvolvimento de veículos elétricos, o emprego de novas fontes, como a biomassa e a energia eólica, e a utilização de créditos de carbono são preocupações que há algum tempo já viraram ações da CPFL. E esta é a nossa busca: contribuir para a qualidade de vida de nossos consumidores e oferecer a todos o direito de viver em um planeta sustentável.

Revista Veja. 30 dez. 2009.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 126-7.

Entendendo a notícia:                                                               

01 – O texto publicitário lido, diferentemente de grande parte dos textos publicitários, não desperta no interlocutor a necessidade de consumo de nenhum tipo de produto. Qual é, então, o objetivo dessa propaganda?

      Destacar a preocupação da empresa com o meio ambiente, o que agrega valores positivos a sua imagem.

02 – O anúncio publicitário foi publicado na revista Veja de 30 de dezembro de 2009, que trazia na capa o seguinte título: Especial 2010 – o ano zero da economia sustentável. Considere essa informação e responda: qual a relação entre essa capa e o anúncio publicado?

      O anúncio enumera alternativas energéticas renováveis a fim de causar menos impacto ambiental, informações que estão relacionadas ao tema de capa da revista já que promovem uma forma sustentável de desenvolver a economia.

03 – Releia o primeiro período do texto, observando os termos sintáticos destacados e sua importância para a construção do sentido do trecho.

        “Sustentabilidade é um conceito que só ganha força quando boas ideias se transformam em grandes ações. [...]”.

a)   Qual a função sintática dos termos destacados?

Adjunto adnominal.

b)   Copie o período omitindo os termos destacados.

Sustentabilidade é um conceito que só ganha força quando ideias se transformam em ações.

c)   A omissão dos termos destacados, em sua opinião, altera o sentido da informação? Explique sua resposta.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sem os adjuntos adnominais a informação torna-se menos forte, mais neutra. Transformar ideias em ações é menos impactante que transformar boas ideias em grandes ações.

04 – Copie o trecho a seguir em seu caderno e, em seguida, faça o que se pede:

        “É por acreditar nisso que nós, da CPFL, estamos desenvolvendo alternativas energéticas eficientes e renováveis e tomando as medidas necessárias para gerar cada vez menos impactos ambientais.”

a)   Sublinhe no caderno os substantivos acompanhados de adjuntos adnominais.

Alternativas; medidas; impactos.

b)   Circule os adjuntos adnominais que acompanham os substantivos sublinhados.

Energéticas, eficientes, renováveis; necessárias; ambientais.

c)   Entre os adjuntos adnominais destacados há dois que completam o sentido do substantivo, isto é, eles não apenas atribuem características aos nomes que acompanham, mas são também uma extensão dos seus significados. Identifique-os no caderno.

Energéticas; ambientais.

d)   Destaque o oposto desse trecho e explique o que se buscou enfatizar na propaganda por meio dele.

O aposto é da CPFL. O aposto da propaganda foi elaborado para destacar o enunciador, colocando-o nominalmente no discurso.

05 – Releia o trecho a seguir:

        “A utilização da energia elétrica de forma consciente, o investimento em pesquisa e o desenvolvimento de veículos elétricos, o emprego de novas fontes, como a biomassa e a energia eólica, e a utilização de créditos de carbono são preocupações que há algum tempo já viraram ações da CPFL.”.

a)   Complete a frase no caderno.

Os substantivos utilização, investimento, desenvolvimento e emprego são abstratos. Nesse trecho, em todas as situações, eles exigem o seguinte termo sintático como complemento:

·        Adjunto adnominal.

·        Objeto direto.

·        Objeto indireto.

·        Complemento nominal.

   b) Os   termos que completam os substantivos são fundamentais para a construção da ideia principal desse texto publicitário. Copie-os.

Da energia elétrica, em pesquisa, de veículos elétricos, de novas fontes, de créditos de carbono.

c)   Esse termos estão dispostos numa enumeração de informações que colaboram para garantir o principal objetivo da propaganda. Identifique e explique qual é esse objetivo.

O objetivo é deixar claros quais são os meios usados pela CPFL para a construção de um mundo sustentável.

 

ROMANCE: O CORTIÇO - (FRAGMENTO) - ALUÍSIO AZEVEDO - COM GABARITO

 Romance: O CORTIÇO – Fragmento  

                Aluísio Azevedo

[...]

        A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo. Tinha duas filhas, uma casada e separada do marido, Ana das Dores, a quem só chamavam a “das Dores”, e a outra donzela ainda, a Neném, e mais um filho, o Agostinho, menino levado dos diabos, que gritava tanto ou melhor que a mãe. A das Dores morava em sua casinha à parte, mas toda a família habitava no cortiço.

        Ninguém ali sabia ao certo se a Machona era viúva ou desquitada; os filhos não se pareciam uns com os outros. A das Dores, sim, afirmavam que fora casada e que largara o marido para meter-se com um homem do comércio; e que este, retirando-se para a terra e não querendo soltá-la ao desamparo, deixara o sócio em seu lugar. Teria vinte e cinco anos.

        Neném dezessete. Espigada, franzina e forte, com uma proazinha de orgulho da sua virgindade, escapando como enguia por entre os dedos dos rapazes que a queriam sem ser para casar. Engomava bem e sabia fazer roupa branca de homem com muita perfeição.

        Ao lado da Leandra foi colocar-se à sua tina a Augusta Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexandre, um mulato de quarenta anos, soldado da polícia, pernóstico, de grande bigode preto, queixo sempre escanhoado e um luxo de calças brancas engomadas e botões limpos na farda, quando estava de serviço. Também tinham filhos, mas ainda pequenos, um dos quais, a Juju, vivia na cidade com a madrinha que se encarregava dela. Esta madrinha era uma cocote de trinta mil-réis para cima, a Léonie, com sobrado na cidade. Procedência francesa.

        Alexandre, em casa, à hora do descanso, nos seus chinelos, e na sua camisa desabotoada, era muito chão com os companheiros de estalagem, conversava, ria e brincava, mas envergando o uniforme, encerando o bigode e empunhando a sua chibata, com que tinha o costume de fustigar as calças de brim, ninguém mais lhe via os dentes e então a todos falava teso e por cima do ombro. A mulher, a quem ele só dava tu quando não estava fardado, era de uma honestidade proverbial no cortiço, honestidade sem mérito, porque vinha da indolência do seu temperamento e não do arbítrio do seu caráter.

        [...].

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Escala Educacional, 2006.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 146-7.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Arbítrio: opinião, vontade.

·        Chão: despretensioso, sincero.

·        Dar tu: chamar por tu, referir-se a alguém por meio do pronome tu. Pelo costume português, chamam-se por tu apenas as pessoas íntimas.

·        Envergar: trajar, vestir.

·        Fustigar: açoitar.

·        Indolência: preguiça, inércia.

·        Pernóstico: afetado, pretencioso.

·        Proverbial: famoso, sempre citado como modelo de alguma coisa.

·        Teso: áspero, ríspido.

02 – Esse trecho destaca alguns aspectos da vida das personagens Leandra, das Dores, Augusta e Alexandre.

a)   Reproduza o quadro abaixo no caderno e escreva o nome de cada personagem junto ao aspecto que lhe retrata.

·        Organização familiar: Leandra, das Dores.

·        Comportamento: Augusta.

·        Importância que atribui ao papel social: Alexandre.

b)  b) Resuma as informações dadas sobre cada personagem.

Não se sabe se Leandra é viúva ou desquitada, apenas que seus filhos não se parecem entre si. Das Dores já foi casada e, vive, provavelmente, seu terceiro relacionamento. Alexandre é um homem convicto do seu papel social: sua farda policial é o que o distingue dos demais, até de si mesmo, que se permite um comportamento mais relaxado quando não a está vestindo. Augusta, esposa de Alexandre, apresenta comportamento exemplar, mas não por convicção moral, e sim por indiferença às coisas, por apatia.

c)   O narrador, nessas descrições, faz explicitamente algum tipo de julgamento moral? Ou seja, em algum momento ele avalia o comportamento das personagens, sugerindo que suas atitudes estejam certas ou erradas?

O narrador não afirma explicitamente serem certas ou erradas as atitudes das personagens, mas faz pelo menos um comentário, no final do texto.

03 – A descrição do amanhecer no cortiço revela que:

a)   Os animais não tinham acesso ao local.

b)   O lugar era bastante tranquilo nas primeiras horas do dia.

c)   Vendedores de hortaliças eram os primeiros a chegar ao local.

d)   O barulho dos mercadores e o movimento eram grandes desde cedo.

04 – Qual dos personagens citados no trecho era morador do cortiço?

          a) Das Dores.         b) Leandra.              c) Augusta.

05 – “A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a ‘Machona’”, o termo em destaque tem o sentido de

      a) referência       b) vontade        c) implicância        d) apelido.

06 – O narrador emite um juízo acerca do tipo de honestidade da Augusta Carne-Mole, mulher do soldado de polícia, Alexandre. Releia: “[...] honestidade sem mérito, porque vinha da indolência do seu temperamento e não do arbítrio do seu caráter.”

a)   O que você entende por “arbítrio do caráter”?

Trata-se de atitudes que devem ser medidas, ponderadas, levando em consideração a própria consciência, as leis e a moral vigente. Isso exige atitudes e escolhas baseadas na compreensão de cada um sobre o que é considerado certo ou errado.

b)   Por que, segundo o narrador, não havia mérito da honestidade praticada por Augusta?

Segundo o narrador, Augusta era honesta por preguiça, ou seja, porque era mais fácil para ela ser assim, não porque sua honestidade estivesse baseada numa moral sólida envolvendo ponderações e escolhas.

 

 

ROMANCE: O PRIMO BASÍLIO - CAPÍTULO II - EÇA DE QUEIROZ - COM GABARITO

 Romance: O Primo Basílio – Capítulo II

                 Eça de Queiroz

        Aos domingos à noite havia em casa de Jorge uma pequena reunião, uma cavaqueira, na sala, em redor do velho candeeiro de porcelana cor-de-rosa. Vinham apenas os íntimos. O "Engenheiro", como se dizia na rua, vivia muito ao seu canto, sem visitas. Tomava-se chá, palrava-se. Era um pouco à estudante. Luísa fazia croché, Jorge cachimbava.

        O primeiro a chegar era Julião Zuzarte, um parente muito afastado de Jorge e seu antigo condiscípulo nos primeiros anos da Politécnica. Era um homem seco e nervoso, com lunetas azuis, os cabelos compridos caídos sobre a gola. Tinha o curso de cirurgião da Escola. Muito inteligente, estudava desesperadamente, mas, como ele dizia, era um tumba. Aos trinta anos, pobre, com dívidas, sem clientela, começava a estar farto do seu quarto andar na Baixa, dos seus jantares de doze vinténs, do seu paletó coçado de alamares; e entalado na sua vida mesquinha, via os outros, os medíocres, os superficiais, furar, subir, instalar-se à larga na prosperidade! "Falta de chance", dizia. Podia ter aceitado um partido da Câmara numa vila da província, com pulso livre, ter uma casa sua, a sua criação no quintal. Mas tinha um orgulho resistente, muita fé nas suas faculdades, na sua ciência, e não se queria ir enterrar numa terriola adormecida e lúgubre, com três ruas onde os porcos fossam. Toda a província o aterrava: via-se lá obscuro, jogando a manilha na Assembleia, morrendo de caquexia. Por isso não "arredava pé"; e esperava, com a tenacidade do plebeu sôfrego, uma clientela rica, uma cadeira na Escola, um cupê para as visitas, uma mulher loura com dote. Tinha certeza do seu direito a estas felicidades, e como elas tardavam a chegar ia-se tornando despeitado e amargo; andava amuado com a vida; cada dia se prolongavam mais os seus silêncios hostis, roendo as unhas; e, nos dias melhores, não cessava de ter ditos secos, tiradas azedadas – em que a sua voz desagradável caía como um gume gelado.

        Luísa não gostava dele: achava-lhe um ar nordeste detestava o seu tom de pedagogo, os reflexos negros da luneta, as calças curtas que mostravam o elástico roto das botas. Mas disfarçava, sorria-lhe, porque Jorge admirava-o, dizia sempre dele: "Tem muito espírito! Tem muito talento! Grande homem!"

        Como vinha mais cedo ia à sala de jantar, tomava a sua chávena de café; e tinha sempre um olhar de lado para as pratas do aparador e para as toaletes frescas de Luísa. Aquele parente, um medíocre, que vivia confortavelmente, bem casado, com a carne contente, estimado no ministério, com alguns contos de réis em inscrições – parecia-lhe uma injustiça e pesava-lhe como uma humilhação. Mas afetava estimá-lo; ia sempre às noites, aos domingos; escondia então as suas preocupações, cavaqueava, tinha pilhérias – metendo a cada momento os dedos pelos seus cabelos compridos, secos e cheios de caspa.

        Às nove horas, ordinariamente, entrava D. Felicidade de Noronha. Vinha logo da porta com os braços estendidos, o seu bom sorriso dilatado. Tinha cinquenta anos, era muito nutrida, e, como sofria de dispepsia e de gases, àquela hora não se podia espartilhar e as suas formas transbordavam. Já se viam alguns fios brancos nos seus cabelos levemente anelados, mas a cara era lisa e redonda, cheia, de uma alvura baça e mole de freira; nos olhos papudos, com a pele já engelhada em redor, luzia uma pupila negra e úmida, muito móbil; e aos cantos da boca uns pelos de buço pareciam traços leves e circunflexos de uma pena muito fina. Fora a íntima amiga da mãe de Luísa, e tomara aquele hábito de vir ver a pequena aos domingos. Era fidalga, dos Noronhas de Redondela, bastante aparentada em Lisboa, um pouco devota, muito da Encarnação.

        Mal entrava, ao pôr um beijo muito cantado na face de Luísa, perguntava-lhe baixo, com inquietação:

        — Vem?

        — O Conselheiro? Vem.

        Luísa sabia-o. Porque o Conselheiro, o Conselheiro Acácio, nunca vinha aos "chás de D. Luísa", como ele dizia, sem ter ido na véspera ao Ministério das Obras Públicas procurar Jorge, declarar-lhe com gravidade, curvando um pouco a sua alta estatura:

        — Jorge, meu amigo, amanhã lá irei pedir à sua boa esposa a minha chávena de chá.

        Ordinariamente acrescentava:

        — E os seus valiosos trabalhos progridem? Ainda bem! Se vir o ministro, os meus respeitos a Sua Excelência. Os meus respeitos a esse formoso talento!

        E saía pisando com solenidade os corredores enxovalhados.

        Havia cinco anos que D. Felicidade o amava. Em casa de Jorge riam-se um pouco com aquela chama. Luísa dizia: "Ora! E uma caturrice dela!" Viam-na corada e nutrida, e não suspeitavam que aquele sentimento concentrado, irritado semanalmente, queimando em silêncio, a ia devastando como uma doença e desmoralizando como um vício. Todos os seus ardores até aí tinham sido inutilizados. Amara um oficial de lanceiros que morrera, e apenas conservava o seu daguerreótipo. Depois apaixonara-se muito ocultamente por um rapaz padeiro, da vizinhança, e vira-o casar. Dera-se então toda a um cão, o Bilro; uma criada despedida deu-lhe por vingança rolha cozida; o Bilro rebentou, e tinha-o agora empalhado na sala de jantar. A pessoa do Conselheiro viera de repente, um dia, pegar fogo àqueles desejos, sobrepostos como combustíveis antigos.

        Acácio tornara-se a sua mania: admirava a sua figura e a sua gravidade, arregalava grandes olhos para a sua eloquência, achava-o numa "linda posição". O Conselheiro era a sua ambição e o seu vício! Havia sobretudo nele uma beleza, cuja contemplação demorada a estonteava como um vinho forte: era a calva. Sempre tivera o gosto perverso de certas mulheres pela calva dos homens, e aquele apetite insatisfeito inflamara-se com a idade. Quando se punha a olhar para a calva do Conselheiro, larga, redonda, polida, brilhante às luzes, uma transpiração ansiosa umedecia-lhe as costas, os olhos dardejavam-lhe, tinha uma vontade absurda, ávida de lhe deitar as mãos, palpá-la, sentir-lhe as formas, amassá-la, penetrar-se nela! Mas disfarçava, punha-se a falar alto com um sorriso parvo, abanava-se convulsivamente, e o suor gotejava-lhe nas roscas anafadas do pescoço. Ia para casa rezar estações, impunha-se penitências de muitas coroas à Virgem; mas apenas as orações findavam, começava o temperamento a latejar. E a boa, a pobre D. Felicidade tinha agora pesadelos lascivos e as melancolias do histerismo velho. A indiferença do Conselheiro irritava-a mais: nenhum olhar, nenhum suspiro, nenhuma revelação amorosa e comovida! Era para com ela glacial e polido. Tinham-se às vezes encontrado a sós, à parte, no vão favorável de uma janela, no isolamento mal-alumiado de um canto do sofá – mas ela fazia uma demonstração sentimental, ele erguia-se bruscamente, afastava-se, severo e pudico. Um dia ela julgara perceber que, por trás das suas lunetas escuras, o Conselheiro lhe deitava de revés um olhar apreciador para a abundância do seio; fora mais clara, mais urgente, falara em paixão, disse-lhe baixo:

        -– "Acácio! Mas ele com um gesto gelou-a – e de pé, grave:

        — Minha senhora,

        “As neves que na fronte se acumulam

        Terminam por cair no coração...”

        — É inútil, minha senhora!

        O martírio de D. Felicidade era muito oculto, muito disfarçado: ninguém o sabia; conheciam-lhe as infelicidades do sentimento, ignoravam-lhe as torturas do desejo. E um dia Luísa ficou atônita, sentindo D. Felicidade agarrar-lhe o pulso com a mão úmida, e dizer-lhe baixo, os olhos cravados no Conselheiro:

        — Que regalo de homem!

        [...]

QUEIROZ, Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Ática, 2006.

Fonte: Livro – Viva Português 2° – Ensino médio – Língua portuguesa – 1ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2011. Ed. Ática. p. 142-5.

Entendendo o romance:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Afetar: fingir, simular.

·        Alamar: tira de tecido bordado em fio metálico (ou de seda) que guarnece e abotoa a frente de um vestuário.

·        Anafado: gordo, bem nutrido.

·        Baço: sem brilho.

·        Calva: careca.

·        Caturrice: teimosia.

·        Cavaquear: conversar singelamente, em intimidade.

·        Chávena: xícara para chá ou café.

·        Coçado: puído, gasto, roto.

·        Daguerreótipo: aparelho primitivo de fotografia, inventado por Daguerre, em 1839; imagem reproduzida por esse aparelho.

·        Dardejar: cintilar.

·        Dispepsia: dificuldade de digerir.

·        Engelhado: enrugado.

·        Enxovalhado: manchado, sujo.

·        Estações: cada uma das catorze pausas na via-sacra (orações que se rezam em frente às principais cenas da paixão de Cristo).

·        Histerismo: ansiedade excessiva, nervosismo exagerado.

·        Lanceiro: armado com lança.

·        Nordeste: vento que sopra desse ponto; moléstia (originada desse vento, segundo o povo) que atinge galináceos.

·        Palrar: conversar.

·        Parvo: próprio de parvo (tolo).

·        Pilhéria: piada, graça.

·        Regalo: gosto, prazer.

·        Terriola: lugarejo.

·        Tumba: indivíduo infeliz, azarado.

02 – Nesse trecho são apresentadas duas personagens, Julião Zuzuarte e D. Felicidade.

a)   Que aspectos de cada uma são destacados?

Julião Zuzarte é inteligente e esforçado, porém não consegue obter o reconhecimento e a prosperidade que acredita merecer, por isso vai se tornando cada vez mais despeitado e amargo. D. Felicidade, solteira aos 50 anos. Consome sua vivacidade amando em silêncio o Conselheiro Acácio.

b)   É possível notar, na descrição das duas personagens, a tentativa do narrador de ser objetivo na apresentação do comportamento e das características físicas delas, evitando qualquer tipo de idealização. Copie palavras e expressões que justifiquem essa afirmação.

Qualquer trecho das linhas 5 a 23 e 24 a 31.

03 – Releia os trechos “Aquele parente... cheios de caspa” e “O martírio... torturas do desejo” para responder às questões abaixo. Complete as frases dessas atividades no caderno. Esses trechos revelam uma característica comum às duas personagens: ambas ....

·        São inconstantes, mudam de opinião a todo momento e esperam o reconhecimento social.

·        Representam, na casa de Luísa, um papel social que oculta o que verdadeiramente pensam e sentem.

·        Esperam a realização de um verdadeiro amor, além de sentirem inveja das pessoas felizes e prósperas que estão a sua volta.

04 – Os trechos revelam ainda que o narrador desse romance (um narrador onisciente) acompanha as personagens em dois planos: o social (das características que são percebidas pelas demais personagens) e o individual (daquilo que se passa apenas no interior de cada uma). Ao aliar esses dois planos, o narrador sugere que a sociedade é um espaço.

  Em que as pessoas podem revelar claramente o que são, sem temer o julgamento alheio.

·        De certa hipocrisia, uma vez que, para participar de certos grupos, as pessoas se obrigam a um comportamento distante do que realmente pensam e sentem.

·        De certa aceitação, que amedronta apenas aqueles que temem os próprios sentimentos.

 

POEMA: O MARRUÊRO - CATULO DA PAIXÃO CEARENSE - VARIEDADE LINGUÍSTICA - COM GABARITO

 Poema: O Marruêro

         Catulo da Paixão Cearense

[...]


Lá, pras banda onde eu nasci,

Já se falava do amô:

todas as boca dizia

que era farso e matadô!

[...]

Nas marvadage do Amô

não hay cabra que não caia,

quando o diabo tira a roupa,

tira o chifre e tira o rabo

pra se visti c’uma saia!

 

Se adisfoiando no samba,

cantando uma alouvação,

eu vi a frô dos caborge

das morena do sertão!

 

Trazia dento dos oio

istrepe e mé, cumo a abeia!

Oiou-me cumo uma onça!...

E, ao despois, cumo uma oveia!

 

Aqueles oio xingoso,

eu confesso a vasmincê,

ruía a gente pru dento

que nem dois caxinguelê!

[...]

Pru mode daqueles oio,

dois marvado mucuim,

um violero, afulemado,

partiu pra riba de mim!

 

Temperei minha viola,

intrei logo a puntiá,

e ambos os dois se peguemo,

n’um disafio, ao luá!

[...]

Só despois que nestas corda

fiz pinto cessá xerém,

vi que o bichão se chamava:

— Manué Joaquim do Muquém!

 

Manué Joaquim era um cabra

naturá de Piancó!...

Quando gimia no pinho,

chorava, cumo um jaó!

 

Eu, marruêro, arrespundia

nestas corda de quandu,

e os acalanto se abria,

cumo as frô do imbiruçu!

 

Foi despois do disafio,

quando eu saí vencedô,

que os canto e os gemê dos pinho

n’um turumbamba acabou!!

 

Inquanto nós dois cantava,

sem ninguém tê dado fé,

tinha fugido a caboca

cum o Pedro Cachitoré!!!

[...]

Tinha fugido, marruêro,

aquela frô dos meus ai,

cumo uma istrela que foge,

sem se sabê pra onde vai!!!

[...]

Alegre, passava um bando

das verde maracanã!...

Fermosa, cumo a caboca,

vinha rompendo a minhã!

[...]

Eu tinha o corpo fechado

pra tudo o que é marvadez!

Só de surucucutinga

eu fui murdido três vez!...

 

Tando cum o corpo fechado,

pras feitiçage do Amô,

pensei que eu tava curado!

[...]

Pra riba de mim, Deus pode

mandá o que ele quizé!

O mundo é grande, marruêro!...

Grande é o amô!... Grande é a fé!...

 

Grande ó o pudê de Maria,

isposa de São José!...

O Diabo, o Anjo mardito,

foi grande!... Cumo inda é!!

 

Mas porém, nada é mais grande,

mais grande que Deus inté,

que uma chifrada, marruêro,

dos oio d’uma muié!!!

                CEARENSE, Catulo da Paixão. Meu sertão. 15. ed. Rio de Janeiro: A Casa do Livro, 1967. p. 61-71.

Fonte: Livro – Viva Português 1° – Ensino médio – Língua portuguesa – 2ª edição 1ª impressão – São Paulo – 2014. p. 79-81.

Entendendo o poema:

01 – No caderno, responda: Qual é o assunto do texto lido?

      Sofrimento por um amor não correspondido.

02 – Considerando apenas o eu lírico desse texto, explique como ele é?

      O eu lírico é um homem, um violeiro apaixonado.

03 – O eu lírico do texto poético de Catulo da Paixão Cearense se dirige a um amigo usando qual pessoa gramatical? Justifique com palavras do texto.

      Usa a 2ª pessoa do plural – vasmincê.

04 – Ao dirigir-se a seu interlocutor, o eu lírico do texto lido faz uma evocação. Escreva as palavras, ou a expressão, usadas para fazê-la em cada texto.

      Senhor Fremosa, Marruêro, vasmincê.

05 – Há no texto palavras que são grafadas de acordo com o modo como são faladas em diferentes regiões do país. O autor rima-as entre si ou com palavras grafadas tal qual a variedade-padrão da língua. Cite pelo menos três casos dessas ocorrências.

      Amô/matado; abeia/oveia; vasmincê/caxinguelê; puntiá/luá; malvadez/vez; quizé/fé; inté/muié.

06 – O texto poético de Catulo da Paixão Cearense, escrito no século XX, tem semelhanças com as cantigas do século XIII, ligando-se a elas por diversas tradições populares. Você diria que a linguagem usada nele pode ser vista apenas como uma forma incorreta de se escrever? Explique a importância dessas questões para o texto poético.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A linguagem de Catulo é bastante rica e adequada ao contexto em que é utilizada. Sua ligação com as cantigas demonstra um grande valor cultural não desfeito pelo tempo. A relação entre a grafia das palavras do poema e as normas urbanas de prestígio tem pouco ou nenhum valor, pois o uso dessa grafia no texto é adequado e significativo como recurso sonoro e lírico, elementos característicos dessa poesia popular, mostrando a riqueza expressiva com que o tema é tratado.