sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

POEMA: LIÇÃO DE ESCURIDÃO - THIAGO DE MELLO - COM GABARITO

 Poema: LIÇÃO DE ESCURIDÃO

              Thiago de Mello

Caboclo companheiro meu de várzea,
contigo cada dia um pouco aprendo
as ciências desta selva que nos une.

Contigo, que me ensinas o caminho dos ventos,
me levas a ler, nas lonjuras do céu,
os recados escritos pelas nuvens,
me avisas do perigo dos remansos
e quando devo desviar de viés a proa da canoa
para varar as ondas de perfil.

Sabes o nome e o segredo de todas as árvores,
a paragem calada que os peixes preferem
quando as águas começam a crescer.
Pelo canto, a cor do bico, o jeito de voar.
identificas todos os pássaros da selva.
Sozinho (eu mais Deus, tu me explicas).
atravessas a noite no centro da mata.
corajoso e paciente na tocaia da caça.
a traição dos felinos não te vence.

Contigo aprendo as leis da escuridão,
quando me apontas na distância da margem,
viajando na noite sem estrelas,
a boca (ainda não consigo ver) do Lago Grande
de onde me fui pequenino e te deixei.

De novo no chão da infância,
contigo aprendo também
que ainda não tens olhos para ver
as raízes de tua vida escura,
não sabes quais são os dentes que te devoram
nem os cipós que te amarram à servidão.

Nos teus olhos opacos
aprendo o que nos distingue.
Já repartes comigo a ciência e a paciência.
Quero contigo repartir a esperança,
estrela vigilante em minha fronte
e em teu olhar apenas um tição
encharcado de engano e cativeiro.



Barreirinha, 1981
Publicado no livro Mormaço na Floresta (1981).
In: MELLO, Thiago de. Vento geral, 1951/1981: doze livros de poemas. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 198.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.ecycle.com.br%2F4807-florestas&psig=AOvVaw0oL9Vvl1CrtjP-_azzWxjk&ust=1609004182254000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNix1PDV6e0CFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo o poema:

01 – Que tema é abordado no poema?

      A sabedoria da mãe natureza.

02 – É possível fazer uma reflexão com a leitura do poema. Você concorda com as afirmações feitas pelo eu lírico?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – O título do poema motiva a leitura?

      Sim. Ele desperta a curiosidade para saber que lição se tira da escuridão.

04 – Em que pessoal verbal o eu lírico conta o fato no poema? Comprove com um verso.

      Em primeira pessoal do singular. “Contigo, que me ensinas o caminho dos ventos...”.

 

POEMA: CATANDO OS CACOS DO CAOS - AFFONSO ROMANO DE SANT´ANNA - COM GABARITO

 Poema: Catando os cacos do caos

Affonso Romano de Sant’Anna

Catar os cacos do caos, como quem cata no deserto
o cacto - como se fosse flor.
Catar os restos e ossos da utopia, como de porta em porta
o lixeiro apanha detritos da festa fria e pobre no crepúsculo se aquece na fogueira erguida com os destroços do dia.

Catar a verdade contida em cada concha de mão,
como o mendigo cata as pulgas, no pelo - do dia cão.

Recortar o sentido, como o alfaiate-artista,
costurá-lo pelo avesso com a inconsútil emenda
à vista.

Como o arqueólogo
reunir os fragmentos,
como se ao vento
se pudessem pedir as flores
despetaladas no tempo.

Catar os cacos de Dionísio e Baco, no mosaico antigo
e no copo seco erguido beber o vinho, ou sangue vertido.

Catar os cacos de Orfeu partido, pela paixão das bacantes
e com Prometeu refazer o fígado - como era antes.

Catar palavras cortantes no rio do escuro instante
e descobrir nessas pedras o brilho do diamante.

É um quebra-cabeça? Então de cabeça quebrada vamos
sobre a parede do nada deixar gravada a emoção

Cacos de mim, Cacos do não, Cacos do sim, Cacos do antes
Cacos do fim

Não é dentro nem fora, embora seja dentro e fora
no nunca e a toda hora, que violento o sentido nos deflora.

Catar os cacos do presente e outrora e enfrentar a noite
com o vitral da aurora

                                            Affonso Romano de Sant’Anna

Entendendo o poema:

01 – De que se trata o poema?

      Trata-se de retalhos de vida que passamos a construir das peças que sempre sobram... como são cacos têm arestas e nem sempre é fácil encaixá-los no lugar certo.

02 – Na primeira estrofe o eu lírico fala em catar cacos, de onde?

      Mostra que o cacos se intensifica nos cacos. São estilhaços da alma espalhados no cotidiano.

03 – Por que o eu lírico evoca o precioso gesto de catar?

      Catar é juntar, é ultrapassar barreiras, incômodos fortalezas, cactos. Verter cacto em flor.

04 – Utopias invadem as almas em momentos aflitos, e como seria catar os restos da utopia?

      É dar voz ao coração regado pela liberdade, e a liberdade está nas palavras.

05 – Nos versos: “Catar os cacos de Dionísio e Baco, no mosaico antigo / e no copo seco erguido beber o vinho, ou sangue vertido.”. O eu lírico nesses versos cita o copo erguido, por quê?

      Talvez Dionísio e Baco estavam clamando pelo vinho, o vinho da concórdia, da audácia poética, necessária para que o mundo se reencontre na poesia.

 

POEMA: PARA SER GRANDE, SÊ INTEIRO: NADA - RICARDO REIS (FERNANDO PESSOA) - COM GABARITO

 Poema: Para ser grande, sê inteiro: nada

“Para ser grande, sê inteiro: nada

 Teu exagera ou exclui.

 Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

 No mínimo que fazes.

 Assim em cada lago a lua toda

 Brilha, porque alta vive.”

 

Ricardo Reis PESSOA, Fernando. Poesia; poesias de Ricardo Reis. São Paulo.

Entendendo o poema:

01 – Qual o sentido da palavra “grande”, no primeiro verso do poema?

      No sentido da grandeza humana das pessoas que vivem respeitando sempre o outro.

02 – De que trata o poema?

      Propõe uma reflexão sobre valores humanos.

03 – Quais são os verbos no modo imperativo que há no poema?

      “Sê, exclui, põe”.

04 – Com que intenção o eu lírico usa estes verbos?

      Para dar conselhos sugerindo que se seja íntegro e que se mostre entrega / compromisso nas ações e na vida.

05 – Segundo o eu lírico, o que é ser inteiro?

      É aceitar aquilo que se é, e ter coragem de agir em conformidade em todos os momentos da vida, sendo coerente. É ser empenhado e ter espírito de entrega.

06 – Nos últimos dois versos: “Assim em cada lago a lua toda / Brilha, porque alta vive”. O que o eu lírico conclui?

      Conclui que as pessoas que mantém esta atitude nobre que ele descreve, serão admiradas e vistas como exemplo por todos os outros...

07 – Nos versos: “Põe quanto és / No mínimo que fazes”. Que quer dizer?

      Que devemos dar sempre o nosso melhor em tudo aquilo que fazemos, porque assim ficaremos satisfeitos e de consciência tranquila.

08 – No poema, o verbo “sê” está em segunda pessoa e pertence a um modo verbal que estabelece um efeito de sentido, cujo tom é de:

a)   Aconselhamento.

b)   Desregramento.

c)   Condição.

d)   Certeza.

e)   Suposição.

 

CONTO: PÔR DE SOL DE TROMBETA - MONTEIRO LOBATO - COM GABARITO

Conto: Pôr de sol de trombeta    

      Monteiro Lobato


   O pôr do sol de hoje é de trombeta – disse Emília, com as mãos na cintura, de pezinho sobre o batente da porteira onde, naquela tarde, depois do passeio pela floresta, o pessoal de Dona Benta havia parado. Eles nunca perdiam ensejo de aproveitar os espetáculos da natureza. Nas chuvas fortes, Narizinho ficava de nariz colado à janela, vendo chover. Se ventava, Pedrinho corria à varanda com o binóculo para espiar a dança das folhas secas – “quero ver se tem saci dentro”.

        E o Visconde dava as explicações científicas de todas as coisas.

        O pôr do sol daquele dia estava realmente lindo. Era um pôr do sol de trombeta. Por quê? Porque Emília tinha inventado que em certos dias o Sol “tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do acaso”. Diante dum pôr de sol de trombeta ninguém tinha ânimo de falar, porque tudo quanto dissessem saía bobagem. Mas Dona Benta não se conteve.

        -- Que maravilhoso fenômeno é o pôr do sol! – disse ela.

        Emília deu um pisco para o Visconde por causa daquele “fenômeno”, e resolveu encrencar.

        -- Por que é que se diz “pôr do sol”, Dona Benta? – perguntou com o seu célebre ar de anjo de inocência. – Que é que o Sol põe? Algum ovo?

        Dona Benta percebeu que aquilo era uma pergunta armadilha, das que forçavam certa resposta e preparavam o terreno para o famoso “então” da Emília.

        -- O sol não põe nada, bobinha. O sol põe-se a si mesmo.

        -- Então ele é o ovo de si mesmo. Que graça!

 

LOBATO, Monteiro. A chave do tamanho, In Obra infantil completa. Vol. 3. Edição Centenário (1882-1982), São Paulo: Brasiliense, p.1105.

Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FP%25C3%25B4r_do_sol&psig=AOvVaw03IoqeNWet4fnOgY5pEadZ&ust=1609002401843000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCIio7KbP6e0CFQAAAAAdAAAAABAD


Entendendo o poema:

01 – Que tema é abordado no conto?

      O fenômeno: pôr-do-sol.

02 – Quais os personagens que fazem parte dessa narrativa?

      Emília, Narizinho, Pedrinho, Visconde e Dona Benta.

03 – Onde ocorreram os fatos?

      No sítio, depois do passeio na floresta.

04 – Que fato provocou o desenrolar dos acontecimentos descritos no conto?

      O fato da Emília ter falado que o pôr do sol hoje era de trombeta.

05 – Como Emília explicou o que era pôr do sol de trombeta?

      Que certos dias o Sol tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do acaso.

06 – Que pergunta Emília fez para Dona Benta, e ela percebeu que era armadilha?

      “– Que é que o Sol põe? Algum ovo?”.

07 – Quais são os tipos de relações humanas que podem ser percebidas no enredo da obra?

      A curiosidade, a amizade, o respeito e a confiança.

08 – Que imagens você conseguiu visualizar durante a leitura?

      Resposta pessoal do aluno.

09 – Se pudesse alterar alguma situação nessa história, qual seria? Por quê?

      Resposta pessoal do aluno.

10 – Qual o desfecho (epílogo ou conclusão) da história?

      Dona Benta explica a Emília que o Sol põe-se a si mesmo.

     

     

 

 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

CRÔNICA: UMA LIÇÃO INESPERADA - JOÃO ANZANELLO CARRASCOZA - COM GABARITO

 Crônica: Uma lição inesperada

                 João Anzanello Carrascoza

  No último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de voltar à escola e rever os amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas, pegou sua mochila e foi ao encontro deles. Abraçou-os à entrada da escola, mostrou o relógio que ganhara de Natal, contou sobre sua viagem ao litoral. Depois ouviu as histórias dos amigos e divertiu-se com eles, o coração latejando de alegria.

      Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele burburinho à beira do portão. Sentia-se como um peixe de volta ao mar. Mas, quando o sino anunciou o início das aulas, Lilico descobriu que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos.

      Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada aluno se apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos azuis, vinda do Sul, pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no teto quando se ergueu, dava toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras, olhava-os assustada, igual a um bicho-do-mato. O mulato, filho de pescador, falava arrastado, estalando a língua, com sotaque de malandro. E havia uns garotos com tatuagens umas meninas usando óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora? Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico saiu a mil por hora, à procura de seus antigos colegas. 

      Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados, junto aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o grandalhão. Começaram a conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se soltando, a ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu que o japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde criança e prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria. O grandalhão não tinha nada de bobo. Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.       

       Lilico descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal-humorado quando ele se apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula, quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis deslizando numa folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto de Lilico.

João Anzanello Carrascoza

(Nova Escola, dez 2000.)

Fonte: Livro- Ler, entender, criar – Língua Portuguesa – 6ª série – Ed.Ática,2003.p.179/180.

Entendendo a crônica

1)   A leitura do texto permite identificar a expectativa de um menino no seu retorno ao primeiro dia de aula.

A palavra que contradiz essa expectativa é

         A) tédio.

         B) ansiedade.

         C) excitação.

         D) euforia.

         E) alegria.

 

2)Tomando como base o texto “Uma lição inesperada”, considere as afirmativas abaixo:

 I - É uma narrativa que possui como protagonista um menino.

 II – É um texto essencialmente descritivo, como se pode comprovar na passagem “Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes...”

 III - Há predomínio de narrador personagem com características de onisciência.

 IV - As ações se desenvolvem num tempo cronológico e num espaço físico marcado por ambiente escolar e de relações interpessoais.

 Acerca das afirmações, observa-se que

A) apenas II é correta.

B) I, II e IV são corretas.

C) I e IV são corretas.

D) II e III são corretas.

E) todas as afirmativas são corretas.

 

3) A partir de uma leitura atenta do texto base, chega-se à conclusão de que há uma caracterização errônea das personagens em

A) o japonês - cabelos espetados com jeito de nerd.

B) a gaúcha - gentil e possuía lindos olhos azuis.

C) o mulato - um caiçara responsável.

D) o grandalhão – raciocínio rápido.

E) Lilico - mal humorado.

4) O narrador, ao descrever a menina que morava no sítio, além de utilizar a expressão “bicho do mato” diz que ela ‘comia palavras’. O objetivo pretendido pelo narrador, ao se utilizar desses recursos, foi de

A) mostrar a ignorância da menina.

B) demonstrar o medo sentido pela menina.

C) evidenciar o ambiente assustador da sala de aula.

D) enfatizar o comportamento dos colegas.

E) precisar o caráter tímido e calado da menina.

 

5) A opção que ilustra, adequadamente, o espaço físico em que se desenrola a narrativa é

A) “No último dia de férias...”

B) “De volta à sala de aula, a professora passou uma tarefa em grupo...”

C) “Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas...”

D) “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la”

E) “...quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro?”

 

6) Em “Sentia-se como um peixe de volta ao mar.”, a comparação grifada tem o mesmo valor de

A) em casa.

B) fora de casa.

C) um peixe.

D) desorientado.

E) como o mar.

7) Ao expressar a ideia no período “Sim, justamente porque eram diferentes havia encanto nas pessoas.”, o narrador

A) demonstra sua aversão aos diferentes colegas de turma.

B) exulta as diferenças e sua aceitação no relacionamento com os colegas.

C) mostra que as diferenças eram um empecilho nas relações com os colegas.

D) mostra que o encanto dos colegas não está nas diferenças.

E) demonstra repúdio e asco contra os colegas.

 

8) No trecho: “Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto seria bom conhecê-la.”, os verbos destacados possuem correspondência semântica em

A) virou, memorizou.

B) refletiu, viu.

C) observou, refletiu.

D) virou, observou.

E) refletiu, memorizou.

9) Lilico descobriu que todos tinham características positivas e, portanto, cada um tinha uma contribuição importante no grupo.

A) O que menina que morava no sítio tinha a oferecer para a turma?

      Ensinar tudo sobre os passarinhos.

B) E o colega alto?

     Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time dele.

C) E o mulato, filho de pescadores, o que poderia dar aos meninos da turma?

    Ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria.

D) O que o surpreendeu na garota gaúcha?

      Que não era metida, e sim gentil e o mirava ternamente com seus lindos olhos.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

POEMA: O BOI - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 POEMA: O BOI

  Carlos Drummond de Andrade

Ó solidão do boi no campo,
ó solidão do homem na rua!
Entre carros, trens, telefones,
entre gritos, o ermo profundo.

Ó solidão do boi no campo,
ó milhões sofrendo sem praga!
Se há noite ou sol, é indiferente,
a escuridão rompe com o dia.

Ó solidão do boi no campo,
homens torcendo-se calados!
A cidade é inexplicável
e as casas não têm sentido algum.

Ó solidão do boi no campo!
O navio-fantasma passa
em silêncio na rua cheia.
Se uma tempestade de amor caísse!
As mãos unidas, a vida salva…
Mas o tempo é firme. O boi é só.
No campo imenso a torre de petróleo.

Carlos Drummond de Andrade


Entendendo o poema

1)   Observe os versos:

“Se há noite ou sol, é indiferente,

a escuridão rompe com o dia.”

A expressão que, empregada para ligar esses versos, expressa noção adequada ao contexto

a)   portanto, com sentido de conclusão.

b)   desde que, com sentido de condição.

c) embora, com sentido de concessão.

d) pois, com sentido de explicação.

e) que, com sentido de consequência.

 

                 2 - Qual é o sentimento que está sendo abordado nesse poema?

               Tristeza e solidão

3 - Quais são os efeitos sonoros que o poeta utiliza para tratar do sentimento em questão?

Ele se utiliza do antecanto (verso que se repete no princípio de cada estrofe).

4 - Quais são as possíveis relações entre o homem e o animal citado no poema?
Ele diz que o mesmo sofrimento do animal, o homem também sofre.

5 - Qual é a solução proposta pelo eu lírico para acabar com o problema posto no poema? 

Que o amor é a salvação. Como vimos nesse verso:

“Se uma tempestade de amor caísse!
As mãos unidas, a vida salva…”

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

TEXTO: A IMPORTÂNCIA DE UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NA INFÂNCIA - REVISTA PAIS E FILHOS - COM GABARITO

 TEXTO: A importância de uma alimentação saudável na infância(Fragmento)

[...] Para crescer esbanjando saúde é muito importante ter hábitos saudáveis desde cedo, com alimentos in natura como frutas, verduras, legumes, arroz, feijão e carne e evitar os alimentos ultraprocessados.

Vamos começar do início. A mãe gestante que tem uma alimentação saudável corre menos riscos de ter hipertensão, diabetes e outras doenças na gravidez. [...]


Unhééééé! Pronto, o bebê nasceu. Mas o cuidado com a alimentação saudável continua. Bom lembrar mais uma vez: essa atenção precisa se tornar um hábito, fazer parte naturalmente da vida da família. Um bom exemplo disso é a amamentação. Sabia que amamentar é um direito da mãe e ser amamentada é um direito da criança? Pois é. A amamentação é recomendada até os dois anos de idade ou mais e precisa ser exclusiva até os 6 meses.

PAIS E FILHOS. A importância de uma alimentação saudável na infância. 2019. Disponível em: . Acesso em: 28 set. 2020. Fragmento. (P090538I7_SUP)

1 - Nesse texto, no trecho “Mas o cuidado com a alimentação saudável continua.” (3º parágrafo), o termo destacado foi usado para

a) estabelecer oposição.
b) indicar duração.
c) marcar conclusão.
d) sugerir comparação.

 2- No trecho “Sabia que amamentar é um direito da mãe e ser amamentada é direito da criança? (3º parágrafo), o ponto de interrogação foi usado para

a)   apontar surpresa.

b)   indicar desconfiança.

c)   marcar interação com o leitor.

d)   mostrar interação com o leitor.

3- Nesse texto, a expressão “Unhééééé (3º parágrafo) foi usado para

a)   indicar o ruído do processo da digestão dos bebês”.

b)   marcar o barulho de um recém-nascido se alimentando.

c)   mostrar a melodia das canções de ninar para bebês.

 d) reproduzir  o som do choro de um recém-nascido

domingo, 20 de dezembro de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): ANDAR COM FÉ - GILBERTO GIL - COM GABARITO

 MÚSICA(Atividades): Andar com fé

                                                    Gilberto Gil/Caetano Veloso

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá

Que a fé 'tá na mulher
A fé 'tá na cobra coral
Oh oh
Num pedaço de pão

A fé 'tá na maré
Na lâmina de um punhal
Oh oh
Na luz, na escuridão
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá olêlê
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olálá

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Oh menina
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá

A fé 'tá na manhã
A fé 'tá no anoitecer
Oh oh
No calor do verão

A fé 'tá viva e sã
A fé também 'tá prá morrer
Oh oh
Triste na solidão

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Oh menina
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá

Andá com fé eu vou
Que a fé não…


Entendendo a canção

1 – As palavras abreviadas e expressões populares utilizadas na letra da canção provocam efeito de:

a)   formalidade.

b)   comicidade.

c)   descrença.

d)   informalidade.

 2 – Antítese é a figura da linguagem em que ideias contrárias são colocadas lado a lado. Na letra da canção, há antítese em:

a)   “Triste na solidão/Andá com fé eu vou.”

b)   “A fé tá na maré/Na lâmina de um punhal.”

c)   “A fé tá viva e sã/A fé também tá pra morrer.”

d)   “Que a fé não costuma faiá/Que a fé tá na mulher.”

 

3 – De que se trata a canção?

      Ela aponta para o horizonte na busca da ressignificação do eu.

 4 – A primeira estrofe o eu lírico entoa-se o mantra “Andá com fé eu vou/que a fé não costuma faiá/Andá com fé eu vou/que a fé não costuma faiá”, e assim repete-se até o próximo verso, intercalando-se.

   Com que sentido o eu lírico usa do artifício da repetição?

    Ele puxa o sentido da reza, oração, vozes incessantes evocando, chamando, para a materialização do pedido. Vá com fé, gana, graça, acredite.

 5 – Por que o eu lírico usa a expressão “Faiá”?

       Ele personifica o pedido da pessoa humilde, desprovida de bens, a fé e a certeza da oração, por ser quem é, do jeito que é.

 6 – No verso: “Na luz, na escuridão”. Que sentido tem na canção referente a fé?

      Que em todas as situações a fé não o abandona, na alternância contínua de momentos.

7 – Após analisar a letra da canção responda: a temática é positiva ou negativa. Em seguida, explique por quê?

       Positiva. Porque a fé é algo tão pessoal, tem vários significados, distintos a cada pessoa, um artifício para o caminho parecer menos amargo, para dar sentido, o farol distante que nos guia, uma doce ilusão, a verde esperança... Contudo, andá com fé meu povo... entoa este canto, a fé não costuma faiá.


8 – Que tipo de linguagem há nessa canção?

       Apresenta uma linguagem sociocultural marcado pelo regionalismo.

9 – Que mensagem traz essa canção em tempos atuais, diante da Pandemia?

     Neste momento independente de religiões, através da prece tentamos ouvir a serena voz e o som do silêncio que nem sempre tão claro e de fácil compreensão; em tempos sombrios, de mudanças, crises e de certa desesperança, o remédio é andar com fé, pois esta não costuma falhar, jamais.





sábado, 19 de dezembro de 2020

CONTO: O EMBONDEIRO QUE SONHAVA PÁSSAROS - MIA COUTO - COM GABARITO

 Conto: O embondeiro que sonhava pássaros                    


Mia Couto

Esse homem sempre vai ficar de sombra: nenhuma memória será bastante para lhe salvar do escuro. Em verdade, seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida. Talvez, por razão disso, ele habitasse com cautela de um estranho. O vendedor de pássaros não tinha sequer o abrigo de um nome. Chamavam-lhe o passarinheiro. Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos carregando suas enormes gaiolas. Ele mesmo fabricava aquelas jaulas, de tão leve material que nem pareciam servir de prisão. Parecia eram gaiolas aladas, voláteis. Dentro delas, os pássaros esvoavam suas cores repentinas. À volta do vendedeiro, era uma nuvem de pios, tantos que faziam mexer as janelas: - Mãe, olha o homem dos passarinheiros! E os meninos inundavam as ruas. As alegrias se intercambiavam: a gritaria das aves e o chilreio das crianças. O homem puxava de uma muska e harmonicava sonâmbulas melodias. O mundo inteiro se fabulava. Por trás das cortinas, os colonos reprovavam aqueles abusos. Ensinavam suspeitas aos seus pequenos filhos - aquele preto quem era? Alguém conhecia recomendações dele? Quem autorizara aqueles pés descalços a sujarem o bairro? Não, não e não. O negro que voltasse ao seu devido lugar. Contudo, os pássaros tão encantantes que são - insistiam os meninos. Os pais se agravavam: estava dito. Mas aquela ordem pouco seria desempenhada. [...] O homem então se decidia a sair, juntar as suas raivas com os demais colonos. No clube, eles todos se aclamavam: era preciso acabar com as visitas do passarinheiro. Que a medida não podia ser de morte matada, nem coisa que ofendesse a vista das senhoras e seus filhos. O remédio, enfim, se haveria de pensar. No dia seguinte, o vendedor repetiu a sua alegre invasão. Afinal, os colonos ainda que hesitaram: aquele negro trazia aves de belezas jamais vistas. Ninguém podia resistir às suas cores, seus chilreios. Nem aquilo parecia coisa deste verídico mundo. O vendedor se anonimava, em humilde desaparecimento de si: - Esses são pássaros muito excelentes, desses com as asas todas de fora. Os portugueses se interrogavam: onde desencantava ele tão maravilhosas criaturas? onde, se eles tinham já desbravado os mais extensos matos? O vendedor se segredava, respondendo um riso. Os senhores receavam as suas próprias suspeições - teria aquele negro direito a ingressar num mundo onde eles careciam de acesso? Mas logo se aprontavam a diminuir-lhe os méritos: o tipo dormia nas árvores, em plena passarada. Eles se igualam aos bichos silvestres, concluíam. Fosse por desdenho dos grandes ou por glória dos pequenos, a verdade é que, aos pouco-poucos, o passarinheiro foi virando assunto no bairro do cimento. Sua presença foi enchendo durações, insuspeitos vazios. Conforme dele se comprava, as casas mais se repletavam de doces cantos. Aquela música se estranhava nos moradores, mostrando que aquele bairro não pertencia àquela terra. Afinal, os pássaros desautenticavam os residentes, estrangeirando-lhes? [...] O comerciante devia saber que seus passos descalços não cabiam naquelas ruas. Os brancos se inquietavam com aquela desobediência, acusando o tempo. [...] As crianças emigravam de sua condição, desdobrando-se em outras felizes existências. E todos se familiavam, parentes aparentes. [...]

Os pais lhes queriam fechar o sonho, sua pequena e infinita alma. Surgiu o mando: a rua vos está proibida, vocês não saem mais. Correram-se as cortinas, as casas fecharam suas pálpebras.

 COUTO, Mia. Cada homem é uma raça: contos/ Mia Couto - 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.63 - 71. (Fragmento).

Entendendo o conto

1)   Qual a temática do conto?

O racismo, a rejeição aos negros, ou seja, a segregação racial.

2)   Onde ocorreram os fatos?

Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos carregando suas enormes gaiolas.

3)   Qual a história contada? Resuma os fatos que compõem a ação narrada.

Um vendedor de pássaros que circula em um bairro de brancos com suas aves exóticas muda todo o cotidiano daquele bairro do cimento, pois as casas se repletavam de doces cantos. Aquela música se estranhava nos moradores, mostrando que aquele bairro não pertencia àquela terra.

4)   O enredo desse conto está centrado em que período da história mundial?

Está centrado no período da colonização em Moçambique.

5)   Se pudesse alterar alguma situação nesse conto, qual seria? Por quê?

Resposta pessoal.

6)   Sobre os elementos destacados do fragmento “Em verdade, seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida.”, leia as afirmativas.

 I. A expressão EM VERDADE pode ser substituída, sem alteração de sentido por COM EFEITO.

         II. ERA O SOL formam o predicado verbal da primeira oração.

        III. NEM, no contexto, é uma conjunção coordenativa. Está correto apenas o que se afirma em:

        a) I e III.

        b) III.

       c) I e II.

       d) I.

       e) II e III.

7) Do ponto de vista da norma culta, a única substituição pronominal realizada que feriu a regra de colocação foi:

 a) " Os brancos se inquietavam com aquela desobediência” = Os brancos inquietavam-se com aquela desobediência.

 b) " O remédio, enfim, se haveria de pensar." = O remédio, enfim, haver-se-ia de pensar.

c) " Eles se igualam aos bichos silvestres, concluíam” = Eles igualam-se aos bichos silvestres, concluíam.

d) "O mundo inteiro se fabulava." = O mundo inteiro fabulava-se.

e) "Chamavam-lhe o passarinho."= Lhe chamavam o passarinheiro.