domingo, 29 de setembro de 2019

CRÔNICA: SÚPLICA POR UMA ÁRVORE - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

Crônica: Súplica por uma árvore
               Cecília Meireles

    Um dia, um professor comovido falava-me de árvores. Se avô conhecera Andersen, esse pequeno deus que encantou para sempre a infância, todas as infâncias, com suas maravilhosas histórias. Mas, além de conhecer Andersen, o avô desse comovido professor legara a seus descendentes uma recordação extremamente terna: ao sentir que se aproximava o fim de sua vida, pediu que o transportassem aos lugares amados, onde brincara em menino, para abraçar e beijar as árvores daquele mundo antigo – mundo de sonho, pureza, poesia – povoado de crianças, ramos, flores, pássaros... O professor comovido transportava-se a esse tempo de ternura, pensava nesse avô tão sensível, e continuava a participar, com ele, dessa cordialidade geral, desse agradecido amor à Natureza que, em silêncio, nos rodeia com a sua proteção, mesmo obscura e enigmática.
        Lembrei-me de tudo isso ao contemplar uma árvore que não conheço, e cujo tronco há quinze dias se encontra ferido, lascado pelo choque de um táxi desgovernado. Segundo os técnicos, se não for socorrida, essa árvore deverá morrer dentro em breve: pois a pancada que a atingiu afetou-a na profundidade de sua vida.

                    Meireles, Cecília. “Suplica por uma árvore”. In: O que se diz e o que se entende. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, p. 63.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p.156-7.

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Andersen: Hans Christian Andersen (1805 – 1875), dinamarquês, autor de contos de fadas.

·        Terna: Meiga, afetuosa.

·        Enigmática: Obscura, misteriosa.

02 – Embora fique melhor onde está, pois atrai o leitor, o primeiro parágrafo poderia vir depois do segundo, se obedecesse à lógica dos acontecimentos. Por quê?
      A lembrança do que está descrito no primeiro parágrafo é consequência do fato de a cronista ter encontrado uma árvore ferida.

03 – O que a paisagem campestre representa para o cronista?
      Um mundo de sonho, de pureza e poesia.

04 – Que objeto urbano contribui, no segundo parágrafo, para o contraste entre o campo e a cidade?
      O táxi.

05 – Que semelhanças há entre o avô, o professor e a cronista?
      Todos são sensíveis e manifestam amor à natureza.


terça-feira, 24 de setembro de 2019

POEMA: O JARDIM DOS ANIMAIS - RONALD CLAVER - COM GABARITO

Poema: O Jardim dos Animais
(Ronald Claver)

Em que céus voam, em que rios bebem,
em que florestas vivem:
o tié-sangue,
o sanhaço-de-fogo,
o guará,

o tachá,
a suçuaruna,
o jacaré-açu,
o jacaré-luneta,
de papo amarelo,
a sucuri,
a jiboia, o macaco-aranha,
a cutia,
a anta,
o caititu,
a queixada,
o jabuti da mata,
o veado-catingueiro,
o jabuti-piranga,
o inhambu-xororó,
o macuco,
o mutum-cavalo,
onde estão,
onde estão,
onde estão?

Os bichos que habitam minha cabeça convocam
as savanas,
as Américas,
as amazônias,
os pantanais,
oceanias,
europas,
ásias, áfricas, rios
para reivindicarem uma carta de alforria.

Abro portas e portões e vejo:
capivaras correndo em Mato Grosso,
ariranhas dançando nos pantanais,
tucanos voando no São Francisco
e o homem –
o mais sanguinário dos animais –
recolhendo suas balas de prata,
suas redes de medo,
seus fuzis de espanto,
suas armadilhas de incêndios.
E os depositando no museu do esquecimento.
CLAVER, Ronald. O jardim dos animais. São Paulo, FTD, 1988. p.27-8.
Fonte: Livro – Português – 5ª Série – Linguagem Nova – Faraco & Moura – Ed.Ática -  2002 – p. 178/179.
Entendendo o texto

01) Para avaliar um texto, é necessário saber sua composição. Abaixo, você verá o conceito de prosa, poesia, poema e cordel. Leia com calma e aponte qual o estilo do texto:
a) O texto é uma poesia, pois, poesia é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos, ou seja, ela retrata algo que tudo pode acontecer dependendo da imaginação do autor como a do leitor.
b) O texto é um poema, pois, poema é uma obra literária geralmente apresentada em versos e estrofes.
c) O texto é uma literatura de cordel, pois, cordel é um gênero literário popular escrito frequentemente na forma rimada, originado em relatos orais e depois impresso em folhetos.
d) O texto é uma prosa, pois, prosa é o nome que se dá à forma de um texto escrito em parágrafos.

02) O termo em destaque abaixo pode ser classificado como:
o homem – o mais sanguinário dos animais
a) adjetivo pátrio
b) adjetivo composto
c) adjetivo derivado
d) adjetivo primitivo
e) substantivo
03) Releia a primeira estrofe.
a) Que animais citados pelo autor você não conhece? Pesquise e anote abaixo.
Resposta pessoal.
 b) Na sua região, existem alguns dos animais citados? Quais?
Resposta pessoal.
04) Qual é o principal objetivo deste poema?
       O poema procura fundamentalmente despertar emoção. Pode informar também, mas não é seu objetivo principal.
05) Que armas e atitudes humanas você colocaria no museu do esquecimento?
Resposta pessoal.



CONTO: CONSPIRAÇÃO - MOACYR SCLIAR - COM QUESTÕES GABARITADAS

CONTO: CONSPIRAÇÃO
             
  Moacyr Scliar

     Sempre que faltava um professor, dona Marta o substituía. Lecionava canto; a disciplina era considerada de importância secundária e, além disso, suas aulas eram péssimas – mas, em compensação, ela estava sempre disponível. De manhã, de tarde, de noite. Morava no colégio, praticamente. Quando chegávamos pela manhã, já estava sentada na sala dos professores, sempre com aquele sorriso meio sofrido, meio idiota; e ficava na escola mesmo depois que saíam os últimos alunos do noturno. Esperava um irmão que vinha buscá-la; como ninguém nunca tinha visto esse irmão, circulava a história de que ela dormia no sótão do colégio. Que comia lá, era certo. Ao meio-dia ia para um banco, no pátio, tirava de sua sacola um sanduíche e ficava mastigando melancólica.
        Um dia não veio a professora de português. Trouxeram dona Marta. Entrou na sala de aula, no seu andar vacilante, cumprimentou-nos, pediu desculpas pela ausência da colega. E anunciou que não nos faria cantar: estava rouca (coisa difícil de comprovar; sua voz tinha normalmente um timbre enrouquecido. O que era motivo de deboche: Goela Enferrujada era o seu apelido. Que ela ignorava, ou fingia ignorar).
       - Vamos fazer uma coisa diferente – disse. Tentou fazer um ar misterioso, cúmplice: - Vamos fazer de conta que estamos na aula de português, certo? Quero que vocês escrevam uma composição. Sobre qualquer tema, à escolha de vocês. Depois escolherei cinco alunos, ao acaso, lerão suas composições e o melhor ganhará um prêmio.
       Fez uma pausa e acrescentou:
       - Aqui está.
       Tirou da bolsa um chocolate. Uma barra de chocolate ordinário, pequena. E aquela barra ela segurou no ar pelo menos um minuto, sorrindo, feliz.
       O nosso era um colégio de filhos de gente rica. Chocolate, bombons, balas, tínhamos todo dia, a qualquer hora. Chocolate? Ouvi risinhos de mofa. Mas nesse momento o diretor apareceu à porta e lançou um olhar severo. Pusemo-nos imediatamente a trabalhar.
       Eu tinha certeza de que não seria o escolhido para ler. Nunca era escolhido para nada, e nem queria. Isso, e mais o fato de que na época andava lendo muito livro de mistério, talvez explicasse o título\da minha composição, “Conspiração contra os cegos”. Nela eu descrevia um distante país governado por uma casta de cegos; ministros cegos, generais cegos, todos oprimindo cruelmente o povo. Que não podia se revoltar, e nem sequer conspirar: os ouvidos aguçadíssimos dos cegos captavam qualquer murmúrio de descontentamento. Mesmo assim líderes resolutos conseguiam organizar uma composição, baseada só na palavra escrita. Livros eram publicados contra os cegos, revistas, jornais. Toda articulação anticegos era feita por escrito. Finalmente a oligarquia era derrubada e um novo rei assumia. Seus primeiros atos: destruir as impressoras, fechar os jornais e declarar ilegal a alfabetização.
      Terminei a composição e fiquei quieto, aguardando. Os outros iam terminando também. Prontos?, perguntou ela. Todos responderam que sim. Menos eu. Fiquei quieto. E, contudo, foi para mim (muito azar!) que ela apontou o seu dedo vacilante.
       - Você... Como é o seu nome?
      - Oscar – respondi (mentira; meu nome é Francisco Pedro; alguns risinhos abafados se ouviram, mas eu fiquei firme).
       - Bonito nome – ela, sorridente. – Leia sua composição para nós, Oscar.
       Não havia como escapar. Dei uma olhada na folha de papel e, depois de uma pequena hesitação, anunciei:
      - Escrevi sobre um passeio no campo.
     Ela sorria, aprovadora. Contei então sobre um passeio no campo. Descrevi a paisagem: as árvores, o riacho, as vacas pastando sob um céu muito azul. Concluí dizendo que um passeio no campo nos ensinava a amar a natureza.
      Muito bonito, ela disse, quando terminei. E acrescentou, emocionada:
        - Eu gostaria de guardar a sua composição.
       Não vale a pena, eu disse. Mas eu quero, insistiu ela. Não vale a pena, repeti. Ela riu: ora, Oscar não seja modesto, me dê a sua composição.
       - A composição é minha – eu disse – e faço com ela o que quero. Esta aula era para ser de canto, não de português. A senhora não tem o direito de me exigir nada.
       - Vou pedir pela última vez – disse ela, e sua voz agora tremia – quero sua composição. Por favor.
       Peguei a folha de papel e rasguei-a em meio a um silêncio sepulcral.
      Não disse nada, mas todos podiam ver as lágrimas correndo-lhe pelo rosto. O que me surpreendeu: eu não sabia, naquela época, que os cegos podem chorar.
Moacyr Scliar. Contos reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Fonte: Livro- Viva Português – 9º ano – Língua Portuguesa – Ed. Ática – 2011 – p. 43/44/45.

INTERPRETAÇÃO ESCRITA

1)   Apresente a faixa etária do narrador-personagem, sua relação com os estudos, seu comportamento moral e outros dados que você conseguir identificar durante a leitura.
O narrador-personagem é um garoto rico, provavelmente adolescente; participa das brincadeiras de sua classe; é criativo, mas rebelde; seu comportamento é irreverente, imaturo e voltado para si mesmo.

2)    No início do texto, de que forma dona Marta é apresentada pelo narrador?
Para o narrador, dona Marta era de sorriso meio sofrido, meio idiota, que dava uma matéria de importância secundária. Suas aulas eram péssimas e ela passava o dia todo na escola. Era alvo de chacota dos alunos.

3)   No texto fica claro que o narrador-personagem adotou, para o conto, a visão que ele tinha de dona Marta na época em que se deram os fatos relatados. As características do narrador-personagem nesse tempo explicam a falta de sensibilidade na caracterização de dona Marta? Justifique sua resposta.
O narrador-personagem, adotando a visão do adolescente, destaca em dona Marta aquilo que para ele é estranho e incômodo, aquilo que contraria seus padrões e os de todos os seus colegas. Daí a maneira fria e completamente desprovida de sensibilidade para apresentá-la.

4)   Por trás desse narrador-personagem que apresenta as personagens e os fatos, há um autor que adota uma estratégia narrativa para surpreender o leitor.
Copie a alternativa que explica essa estratégia:
a)   Enfatizar a caracterização das personagens, deixando clara a distância entre elas.
b)   Enfatizar o conflito, destacando a tensão criada pela discussão entre Francisco Pedro e dona Marta a respeito da entrega da composição.
c)   Caracterizar dona Marta, apresentar os comentários sobre ela feitos pelos alunos, descrever sua aula e revelar apenas no final sua deficiência.
d)   Destacar a agressividade do narrador-personagem, revelando que ele fazia uma composição tratando da deficiência da professora e se descontrola quando ela lhe pede a composição.

5)   Ao reler o texto, é possível localizar diversos dados que antecipam a informação sobre a deficiência visual de dona Marta. Faça um levantamento de alguns dados indicadores da deficiência da professora de canto.
Ela ficava no colégio até tarde esperando um irmão que a buscasse; no dia em que a professora de português faltou, ela foi levada à sala de aula; seu andar é vacilante; o dedo de dona Marta aponta vacilante.

6)   Releia os seis últimos parágrafos do texto e responda.
a)   Por que, provavelmente, dona Marta quis guardar a composição?
Provavelmente por ter se emocionado com a descrição da paisagem.

b)   Por que Francisco Pedro insiste em não entregar sua composição?
Porque alguém poderia ler a composição e perceber a brincadeira de mau gosto que fizera com a professora.

c)   Copie o clímax do conto.
“- Vou pedir pela última vez – disse ela, e sua voz agora tremia. – Quero sua composição. Por favor.
Peguei a folha de papel e rasguei-a, em meio a um silêncio sepulcral”.

7)   Pode-se afirmar que o desfecho do conto mostra uma transformação no narrador-personagem. Que transformação é essa?
Dona Marta chora com a situação, com o embate, e o narrador-personagem pela primeira vez se dá conta de que ela tem sentimentos. A frieza e o desprezo dão lugar a compaixão.

8)   Marque com um (x) a alternativa correta.
A transformação do narrador-personagem sugere que até aquele momento ele agia de maneira:
·        insegura.
·        irreverente.
·        individualista.
·        imatura.

9)   Qual a relação entre o título e o enredo do conto?
No enredo há duas conspirações: a da classe contra dona Marta e a “Conspiração contra os cegos”, composição do narrador-personagem.






TEXTO: INDIGÊNCIA SEXUAL E AFETIVA - FREI BETTO - COM QUESTÕES GABARITADAS

TEXTO: Indigência Sexual e Afetiva
                              
                    Frei Betto

  A pesquisa da Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] sobre a sexualidade da juventude brasileira, divulgada este ano, é no mínimo preocupante. Como ressaltou Jorge Werthein, representante do organismo da ONU no Brasil, há aspectos positivos, como o repúdio à promiscuidade e a busca de mais conhecimento sobre a questão. Os jovens brasileiros tendem a iniciar a vida sexual mais cedo (entre 11 e 14 anos) e consideram desimportante a virgindade. Mas nem sempre se protegem contra as DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) e a AIDS, e tendem a discriminar os homossexuais.
       Ano passado, acompanhei uma pesquisa realizada no Ceará. indicava o aumento da gravidez precoce e a diminuição dos casos de aborto. As meninas, com certeza induzidas por exemplos televisivos, preferem assumir a “produção independente”, ainda que isso implique riscos de abandono da escola, ingresso na prostituição e mais criança na rua. Na pesquisa da Unesco, 14,7 por cento das entrevistadas admitiram ter engravidado, pela primeira vez, entre 10 e 14 anos.
       O Unicef [Fundo das Nações Unidas] constata que a educação escolar de uma menina vale, na América Latina, em termos de efeitos sociais, pela educação de cinco meninos. Quanto mais escolaridade da mãe, menor índice de natalidade e maior o período de vida do filho. São as mães que assumem, sempre mais, a chefia da família, e são também as principais transmissoras de valores e sentidos aos filhos.
        O que me espanta é que os jovens se queixem de que têm poucas fontes de conhecimento da sexualidade. Só nas últimas décadas, as escolas começaram a introduzir o tema nas salas de aula, assim mesmo com ênfase na higiene corporal, tendo em vista as DSTs. A família, aos poucos, começa a derrubar tabus, exceto nas classes populares, onde a falta de conhecimento obriga os jovens a aprenderem “na rua”, como se dizia na minha geração. Hoje, “aprende-se”  na televisão. Primeiro, com a exacerbação do voyeurismo, tipo Big Brother. É o bordel despejado, via eletrônica, no quarto das crianças ou na sala da casa. Sem que famílias, escolas e igrejas cuidem da educação do olhar de crianças e jovens.
       Em minha adolescência, em Belo Horizonte, havia cineclubes, onde aprendíamos, nos debates após a exibição dos filmes, a distinguir obras de arte do mero entretenimento. Por que as escolas não exibem, em vídeos, clipes publicitários, trechos de filmes e telenovelas, programas humorísticos? Não há melhor caminho para despertar a consciência crítica, o discernimento, que debater em grupo as mensagens implícitas quanto, por exemplo, à dignidade da mulher num quadro de humor ou o fetiche do carro numa peça publicitária.
        Os animais têm uma sexualidade atávica, presos a seus ciclos libidinosos. Talvez essa herança instintiva, acrescida de tabus religiosos, nos impeça de falar da sexualidade com a mesma liberdade com que tratamos a geografia e a história do nosso país. E, quanto menos se fala, mais bobagem se faz. O melhor seria a televisão, com o seu poder de irradiação, entrar em detalhes a respeito de menstruação e masturbação, homossexualismo e machismo, castidade e promiscuidade. Mas nem sempre interessa tratar esses temas às claras. O tabu reforça o mistério, que excita a imaginação, que alimenta o voyeurismo, que atrai milhares de telespectadores à exibição de produtos que imprimem à sexualidade o sabor libidinoso da pornografia. Ao contrário da realidade, a fantasia não conhece limites... E dá-lhe delegacias de mulheres e a proliferação de assédios e estupros, e o preconceito aos homossexuais.
          Suponho que 99 por cento da humanidade case algum dia. Mas tenho certeza de que a grande maioria é obrigada a improvisar nessa opção tão importante. Pois, se ainda estamos nos primórdios da educação sexual, falta muito para atingirmos a idade da pedra da educação afetiva. Que eu saiba, uma única instituição se dedica a preparar noivos para o casamento – a Igreja. Fora disso, não há nenhuma didática que sistematize, para proveito alheio, a convivência conjugal, a educação dos filhos, os valores da família, as fases da sexualidade do casal, o modo de dialogar com os filhos sobre vida sexual e afetiva, o descasamento e o recasamento, o universo da homossexualidade, etc. Em consequência, cada um que faça o próprio caminho, à base do improviso, repetindo erros que poderiam ser evitados se houvesse, em nossa sociedade, espaços e recursos de educação para o amor.
[...]
[...] estamos começando a ter vergonha de assumir valores, cultivar o espírito e fazer projetos. Nos escombros da modernidade, tudo é aqui e agora, my brother. E, quando o desemprego, o baixo nível da educação, a violência, a desagregação familiar nos fecham as cortinas do horizonte da felicidade, o jeito é apelar para o prazer imediato, epidérmico, já que a vida se reduz a um jogo de sobrevivência e a morte pode estar nos espreitando na próxima esquina.
Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto.

             Revista Caros Amigos, n. 87, jun. 2004.
 Fonte: Livro- Viva Português – 9º ano – Língua Portuguesa – Ed. Ática – 2011 – p. 225/6/7.

Interpretação escrita
1)   Segundo o autor, a pesquisa da Unesco sobre a sexualidade do jovem brasileiro é preocupante.
a)   Quais são os dados que convencem o leitor de que a pesquisa é preocupante?
Os jovens nem sempre se protegem contra as DSTs e a AIDS e tendem a discriminar os homossexuais. Além disso, 14,7% das entrevistadas admitiram ter engravidado, pela primeira vez, entre 10 e 14 anos.

b)   Na sua opinião, por que esses dados devem ser considerados preocupantes?
Resposta pessoal.

2)   “Como ressaltou Jorge Werthein, representante do organismo da ONU no Brasil, há aspectos positivos, como o repúdio à promiscuidade e a busca de mais conhecimento sobre a questão”. Por que a rejeição à troca de parceiros e a busca de mais conhecimento sobre a sexualidade são considerados aspectos positivos?
Resposta pessoal.

3)   “O que me espanta é que os jovens se queixem de que têm poucas fontes de conhecimento da sexualidade.”
a)   Qual é a crítica do autor à forma como são transmitidos os conhecimentos sobre sexualidade aos jovens?
Nas escolas, o tema foi introduzido nas últimas décadas, mas com ênfase apenas à higiene corporal; nas classes populares, os jovens ainda aprendem “na rua”. Muitos “aprendem” sobre o tema pela televisão, que exacerba o voyeurismo, sem que as famílias, escolas, igrejas orientem o olhar das crianças.

b)   A crítica feita pelo articulista é seguida por uma sugestão. Indique-a.
O articulista sugere que as escolas exibam clipes publicitários, trechos de filmes e de telenovelas, programas humorísticos para despertar a consciência crítica do jovem quanto à forma como certos assuntos são tratados.

c)   Em que o articulista se baseia para dar essa sugestão?
Numa experiência vivida em sua adolescência.

d)   Você concorda com a sugestão dada pelo articulista? Na sua opinião, ela seria eficaz se fosse adotada nas escolas?
    Resposta pessoal.

4)   Segundo o autor, quais são as consequências de não tratar às claras os temas ligados à sexualidade?
Violência contra as mulheres, preconceito contra os homossexuais.

5)   Expliquem a afirmação “Nos escombros da modernidade, tudo é aqui e agora, my brother”.
Essa afirmação retrata de modo irônico o imediatismo adotado como comportamento geral.




quinta-feira, 19 de setembro de 2019

MÚSICA(ATIVIDADES): PEDRO PEDREIRO - CHICO BUARQUE - COM GABARITO

Música(Atividades): Pedro Pedreiro
           
   Chico Buarque

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando

Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol, esperando o trem
Esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval

E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém

Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo
Espere alguma coisa mais linda que o mundo

Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá
O desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás
Quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar

Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol, esperando o trem
Esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também

Esperando a festa, esperando a sorte
Esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem

Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem

Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem.
                                                 Composição: Chico Buarque
Entendendo a canção:

01 – Por que o eu lírico chama Pedro de “Pedro pedreiro penseiro”?
      Porque, enquanto espera o trem, Pedro pensa nas dificuldade do cotidiano.

02 – Leia os versos em voz alta, prestando atenção aos sons que se repetem. Se for preciso, leia-o mais de uma vez.
      Professor, atividade procedimental.

03 – Que sons de consoante predominam nesses versos?
      O som das consoantes p (principalmente), d e t.

04 – Que sons de vogal predominam?
      Predomina o e. Embora, os sons nasais en (penseiro, aumento, etc.) e an (manhã, pensando, etc.) também se repetem.

05 – Qual a relação entre esses sons e o assunto da canção?
      Essas repetições impõem um ritmo à leitura dos versos que faz com que eles lembrem o som do trem em movimento.

06 - A repetição presente na construção da canção é um recurso importantíssimo utilizado pelo compositor para nos dar a sensação da espera angustiada de “Pedro”. Esse recurso também reforça a ideia da imobilidade de uma personagem sem perspectivas e contribui para a musicalidade. Além dessa repetição, que outros recursos sonoros semelhantes àqueles explorados na poesia simbolista Chico Buarque utilizou nesta canção?
Além da repetição de fonemas durante toda a canção nos ajuda a visualizar a agonia da espera da personagem. A anáfora feita com a palavra “espera” no início de muitas estrofes reforça essa agonia. Buarque também utilizou a onomatopeia, ao reproduzir o barulho do trem que Pedro Pedreiro espera: “que já vem, que já vem, que já vem...”

 7 - Dê a função sintática dos termos em destaque nos versos da canção de Chico Buarque que seguem abaixo:

 a) “Pedro pedreiro penseiro esperando o trem”
 b) “Ou esperando o dia de voltar pro Norte

a) As duas palavras em destaque funcionam com adjunto adnominal do substantivo (sujeito) Pedro. Os termos “pedreiro” e “penseiro” acompanham o sujeito dando a ele uma adjetivação.

b) Adjunto adverbial, pois modifica o verbo “voltar”, dando-lhe uma circunstância de lugar.

8 - Leia o trecho da música “Pedro pedreiro”, de Chico Buarque:
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando […]

No trecho lido, há uma palavra que destoa do vocabulário formal. A palavra penseiro pode ser classificada como:

a) figura de linguagem.
b) figura de sintaxe ou figura de construção.
c) neologismo.
d) onomatopeia.
e) hibridismo.


POESIA: CANTIGA DE AMOR - PAIO SOARES DE TAVEIRÓS - COM GABARITO

Poesia: Cantiga de amor
      
        Paio Soares de Taveirós

Como morreu quen nunca ben
houve da ren que máis amou,
e quen viu quanto receou
dela, e foi morto por én:
     ai mia senhor, assí moir'eu!

Como morreu quen foi amar
quen lhe nunca quis ben fazer,
e de quen lhe fez Deus veer
de que foi morto con pesar:
     ai mia senhor, assí moir'eu!

Com'home que ensandeceu,
senhor, con gran pesar que viu,
e non foi ledo nen dormiu
depois, mia senhor, e morreu:
     ai mia senhor, assí moir'eu!

Como morreu quen amou tal
dona que lhe nunca fez ben,
e quen a viu levar a quen
a non valía, nen a val:
     ai mia senhor, assí moir'eu!

Como morreu quem nunca amar
se faz pela coisa que mais amou,
e quanto dela receou
sofreu, morrendo de pesar,
ai, minha senhora, assim morro eu.

Como morreu quem foi amar
quem nunca bem lhe quis fazer,
e de quem Deus lhe fez saber
que a morte havia de alcançar,
ai, minha senhora, assim morro eu.

Igual ao homem que endoideceu
com a grande mágoa que sentiu,
senhora, e nunca mais dormiu,
perdeu a paz, depois morreu,
ai, minha senhora, assim morro eu.

Como morreu quem amou tal
mulher que nunca lhe quis bem
e a viu levada por alguém
que a não valia nem a vale,
ai, minha senhora, assim morro eu.

TAVEIRÓS, Paio Soares de. “Cantiga de amor”. In: CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores. 2. ed. Lisboa, Editorial Estampa, 1978. p. 56-7.
Fonte: Livro- Português – Série – Novo Ensino Médio – Vol. único. Ed. Ática – 2000- p. 102-3.

Entendendo a poesia:
01 – Que tipo de sentimento é exteriorizado nos versos “Como morreu quen nunca bem / houve da ren que máis amou”?
      Amor não correspondido.

02 – Que expressão de tratamento demonstra a posição de vassalagem (submissão) do trovador em relação à mulher amada?
      “Minha senhora”.

03 – Na terceira estrofe, o poeta assinala as consequências de um amor não correspondido. Quais são elas?
      A loucura, a grande mágoa, a insônia, a perda da paz e a morte.

04 – Em cada uma das estrofes o trovador descreve fatos que levaram quatro homens à morte. Que fatos antecederam a morte de cada um deles?
      O primeiro não se faz amar pela coisa que mais amou; o segundo amou quem não lhe queria bem; o terceiro enlouqueceu com a grande mágoa que sentiu; o quarto viu sua amada ser levada por alguém que não a merecia.