quinta-feira, 26 de outubro de 2023

CONTO: IDEIAS DO CANÁRIO - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

 Conto: Ideias do Canário

             Machado de Assis

        Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a alguns amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns chegam a supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5jPIAX1h6_H5q4ER0vd9c3FPvR1UM7QX8DocMACx9bXcPk27QooCgM9_mKHzg5IVgJfaoB3nUqUS96JajkkVjXLWQV_v27RHhxV8pBT2hO60GI3FhDiY7qeiBiPXJsiCs4ctmmgv2a6zosKzXX4Ah_kiLlUSzgBf4aSRUB5OPfwgqsqkRpuRfh13ZsBI/s1600/CAN%C3%81RIO.png


        No princípio do mês passado, — disse ele, — indo por uma rua, sucedeu que um tílburi à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de urna loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa cadeira de abrir. Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça enfiada em um gorro esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não se adivinhava nele nenhuma história, como podiam ter alguns dos objetos que vendia, nem se lhe sentia a tristeza austera e desenganada das vidas que foram vidas.

        A loja era escura, atualhada das cousas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante. Panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, chapéus de palha e de pelo, caixilhos, binóculos, meias casacas, um florete, um cão empalhado, um par de chinelas, luvas, vasos sem nome, dragonas, uma bolsa de veludo, dois cabides, um bodoque, um termômetro, cadeiras, um retrato litografado pelo finado Sisson, um gamão, duas máscaras de arame para o carnaval que há de vir, tudo isso e o mais que não vi ou não me ficou de memória, enchia a loja nas imediações da porta, encostado, pendurado ou exposto em caixas de vidro, igualmente velhas. Lá para dentro, havia outras cousas mais e muitas, e do mesmo aspecto, dominando os objetos grandes, cômodas, cadeiras, camas, uns por cima dos outros, perdidos na escuridão.

        Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada da porta. Tão velha como o resto, para ter o mesmo aspecto da desolação geral, faltava-lhe estar vazia. Não estava vazia. Dentro pulava um canário. A cor, a animação e a graça do passarinho davam àquele amontoado de destroços uma nota de vida e de mocidade. Era o último passageiro de algum naufrágio, que ali foi parar íntegro e alegre como dantes. Logo que olhei para ele, entrou a saltar mais abaixo e acima, de poleiro em poleiro, como se quisesse dizer que no meio daquele cemitério brincava um raio de sol. Não atribuo essa imagem ao canário, senão porque falo a gente retórica; em verdade, ele não pensou em cemitério nem sol, segundo me disse depois. Eu, de envolta com o prazer que me trouxe aquela vista, senti-me indignado do destino do pássaro, e murmurei baixinho palavras de azedume.

        — Quem seria o dono execrável deste bichinho, que teve ânimo de se desfazer dele por alguns pares de níqueis? Ou que mão indiferente, não querendo guardar esse companheiro de dono defunto, o deu de graça a algum pequeno, que o vendeu para ir jogar uma quiniela?

        E o canário, quedando-se em cima do poleiro, trilou isto:

        — Quem quer que sejas tu, certamente não estás em teu juízo.  Não tive dono execrável, nem fui dado a nenhum menino que me vendesse. São imaginações de pessoa doente; vai-te curar, amigo...

        — Como — interrompi eu, sem ter tempo de ficar espantado. Então o teu dono não te vendeu a esta casa? Não foi a miséria ou a ociosidade que te trouxe a este cemitério, como um raio de sol?

        — Não sei que seja sol nem cemitério. Se os canários que tens visto usam do primeiro desses nomes, tanto melhor, porque é bonito, mas estou que confundes.

        — Perdão, mas tu não vieste para aqui à toa, sem ninguém, salvo se o teu dono foi sempre aquele homem que ali está sentado.

        — Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida todos os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os serviços, não seria com pouco; mas os canários não pagam criados. Em verdade, se o mundo é propriedade dos canários, seria extravagante que eles pagassem o que está no mundo.

        Pasmado das respostas, não sabia que mais admirar, se a linguagem, se as ideias. A linguagem, posto me entrasse pelo ouvido como de gente, saía do bicho em trilos engraçados. Olhei em volta de mim, para verificar se estava acordado; a rua era a mesma, a loja era a mesma loja escura, triste e úmida. O canário, movendo a um lado e outro, esperava que eu lhe falasse. Perguntei-lhe então se tinha saudades do espaço azul e infinito...

        — Mas, caro homem, trilou o canário, que quer dizer espaço azul e infinito?

        — Mas, perdão, que pensas deste mundo? Que cousa é o mundo?

        — O mundo, redarguiu o canário com certo ar de professor, o mundo é uma loja de belchior, com uma pequena gaiola de taquara, quadrilonga, pendente de um prego; o canário é senhor da gaiola que habita e da loja que o cerca. Fora daí, tudo é ilusão e mentira.

        Nisto acordou o velho, e veio a mim arrastando os pés. Perguntou-me se queria comprar o canário. Indaguei se o adquirira, como o resto dos objetos que vendia, e soube que sim, que o comprara a um barbeiro, acompanhado de uma coleção de navalhas.

        — As navalhas estão em muito bom uso, concluiu ele.

        — Quero só o canário.

        Paguei-lhe o preço, mandei comprar uma gaiola vasta, circular, de madeira e arame, pintada de branco, e ordenei que a pusessem na varanda da minha casa, donde o passarinho podia ver o jardim, o repuxo e um pouco do céu azul.

        Era meu intuito fazer um longo estudo do fenômeno, sem dizer nada a ninguém, até poder assombrar o século com a minha extraordinária descoberta. Comecei por alfabeto a língua do canário, por estudar-lhe a estrutura, as relações com a música, os sentimentos estéticos do bicho, as suas ideias e reminiscências. Feita essa análise filológica e psicológica, entrei propriamente na história dos canários, na origem deles, primeiros séculos, geologia e flora das ilhas Canárias, se ele tinha conhecimento da navegação, etc. Conversávamos longas horas, eu escrevendo as notas, ele esperando, saltando, trilando.

        Não tendo mais família que dois criados, ordenava-lhes que não me interrompessem, ainda por motivo de alguma carta ou telegrama urgente, ou visita de importância. Sabendo ambos das minhas ocupações científicas, acharam natural a ordem, e não suspeitaram que o canário e eu nos entendíamos.

        Não é mister dizer que dormia pouco, acordava duas e três vezes por noite, passeava à toa, sentia-me com febre. Afinal tornava ao trabalho, para reler, acrescentar, emendar. Retifiquei mais de uma observação, — ou por havê-la entendido mal, ou porque ele não a tivesse expresso claramente. A definição do mundo foi uma delas. Três semanas depois da entrada do canário em minha casa, pedi-lhe que me repetisse a definição do mundo.

        — O mundo, respondeu ele, é um jardim assaz largo com repuxo no meio, flores e arbustos, alguma grama, ar claro e um pouco de azul por cima; o canário, dono do mundo, habita uma gaiola vasta, branca e circular, donde mira o resto. Tudo o mais é ilusão e mentira.

        Também a linguagem sofreu algumas retificações, e certas conclusões, que me tinham parecido simples, vi que eram temerárias. Não podia ainda escrever a memória que havia de mandar ao Museu Nacional, ao Instituto Histórico e às universidades alemãs, não porque faltasse matéria, mas para acumular primeiro todas as observações e ratificá-las. Nos últimos dias, não saía de casa, não respondia a cartas, não quis saber de amigos nem parentes. Todo eu era canário. De manhã, um dos criados tinha a seu cargo limpar a gaiola e pôr lhe água e comida. O passarinho não lhe dizia nada, como se soubesse que a esse homem faltava qualquer preparo científico. Também o serviço era o mais sumário do mundo; o criado não era amador de pássaros.

        Um sábado amanheci enfermo, a cabeça e a espinha doíam-me. O médico ordenou absoluto repouso; era excesso de estudo, não devia ler nem pensar, não devia saber sequer o que se passava na cidade e no mundo. Assim fiquei cinco dias; no sexto levantei-me, e só então soube que o canário, estando o criado a tratar dele, fugira da gaiola. O meu primeiro gesto foi para esganar o criado; a indignação sufocou-me, caí na cadeira, sem voz, tonto. O culpado defendeu-se, jurou que tivera cuidado, o passarinho é que fugira por astuto...

        — Mas não o procuraram?

        — Procuramos, sim, senhor; a princípio trepou ao telhado, trepei também, ele fugiu, foi para uma árvore, depois escondeu-se não sei onde. Tenho indagado desde ontem, perguntei aos vizinhos, aos chacareiros, ninguém sabe nada.

        Padeci muito; felizmente, a fadiga estava passada, e com algumas horas pude sair à varanda e ao jardim. Nem sombra de canário. Indaguei, corri, anunciei, e nada. Tinha já recolhido as notas para compor a memória, ainda que truncada e incompleta, quando me sucedeu visitar um amigo, que ocupa uma das mais belas e grandes chácaras dos arrabaldes. Passeávamos nela antes de jantar, quando ouvi trilar esta pergunta:

        — Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu?

        Era o canário; estava no galho de uma árvore. Imaginem como fiquei, e o que lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse dou do; mas que me importavam cuidados de amigos? Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que viesse continuar a conversação, naquele nosso mundo composto de um jardim e repuxo, varanda e gaiola branca e circular...

        — Que jardim? que repuxo?

        — O mundo, meu querido.

        — Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor.

        O mundo, concluiu solenemente, é um espaço infinito e azul, com o sol por cima.

        Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já fora uma loja de belchior...

        — De belchior? trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo lojas de belchior?

Machado de Assis.

Entendendo o conto:

01 – Qual é o nome do protagonista do conto?

      O protagonista do conto é Macedo.

02 – Onde Macedo se refugia após quase ser atropelado por um tílburi?

      Macedo se refugia em uma loja de belchior.

03 – Como é descrito o dono da loja de belchior?

      O dono da loja de belchior é descrito como um homem franzino, de barba cor de palha suja, usando um gorro esfarrapado.

04 – Qual objeto chama a atenção de Macedo na loja?

      Uma gaiola com um canário dentro chama a atenção de Macedo na loja.

05 – O que Macedo murmura ao ver o canário na gaiola?

      Macedo murmura palavras de azedume, expressando sua indignação pelo destino do pássaro.

06 – Como o canário responde a Macedo quando este o questiona sobre seu passado?

      O canário nega ter sido vendido por um dono execrável ou dado a um menino, afirmando que tais ideias são fruto da imaginação de uma pessoa doente.

07 – Como o canário descreve o mundo?

      O canário descreve o mundo como um jardim espaçoso com um repuxo no meio, flores, arbustos, grama, ar claro e um pouco de azul por cima. Ele afirma que o canário é o dono desse mundo.

08 – O que acontece com o canário na narrativa?

      O canário foge de sua gaiola na casa de Macedo.

09 – Como o canário responde quando Macedo tenta convencê-lo de que o mundo é mais do que ele descreve?

      O canário trila que o mundo é um espaço infinito e azul com o sol por cima, rejeitando a descrição de Macedo sobre o mundo.

 

 

CONTO: NAS ASAS DO CONDOR - MILTON HATOUM - COM GABARITO

 Conto: Nas asas do condor

            Milton Hatoum

        Quase morri de medo nas asas do Condor. Voei, voei muito alto, mas a verdade é que renasci...

        -- Quando?

        Faz muito tempo, mas me lembro do dia, mês e ano: 7 de setembro de 1958. Lembro-me também do lugar, pois há lugares da infância que ficam bem guardados na memória. Naquela época, na manhã do dia da Independência, eu estava na beira do rio Xapuri, lá no Acre, brincando com meus amigos... Nós cavávamos buracos na areia a fim de encontrar ovos de tracajá. Em cada buraco havia dezenas de ovos que as nossas mãos transformavam em pequenas pirâmides e colinas brancas... Suávamos sob o calor inclemente, e, de vez em quando, a gente mergulhava no rio, nadava e voltava para a praia à procura de ovos... Quando terminei de construir a terceira pirâmide, tive minha primeira crise de asma. Senti falta de ar, e abri a boca para tentar respirar...

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8vlV3A8umUmFar7z6fmX5eJW-8aWGnGQKz4ROlYCuDq_DbzpSx6iN30I5cYf3R-7JfWVMQVD9Xny10aJlM9TAONHzN4eTBHfvRVd-OwEtMdMmEJc2bcsOnCWC5LG7SoFPbSxN7wJAwl1jVh3aS5UBUXlzn2dQDph0RvoBYudBg1n0ANUTKTUCyiYXeLc/s1600/ASAS%20DO%20CONDOR.jpg


        Não há nada pior do que sentir falta de ar, porque, sem ar, eu, você e o mundo inteiro não podemos viver. Meus amigos, assustados, correram à minha casa e viram minha tia Leila limpando um peixe na varanda. Apontaram para a beira do rio e um deles disse que meu rosto estava estufado e vermelho. Tia Leila, a mais dramática de minhas tias, pensou que eu tinha me afogado no rio e correu para avisar a minha mãe, que correu para o rio e entrou nas águas do Xapuri. Estava tão nervosa que não me viu na beira do rio e, é claro, não me veria nas águas do rio. Quando voltou para a praia, seu vestido azul colado no corpo e seus cabelos longos escorridos lhe davam um ar engraçado. Assim, vi minha mãe e tive vontade de rir, mas, se eu mal conseguia respirar, imagine se podia rir.
Minha mãe, atônita, correu para avisar a meu pai e, no meio do caminho, ela se lembrou de que meu pai não estava em casa, nem na cidade. Meu pai estava viajando num barco. Ele descia e subia o rio Acre, vendendo tecidos e roupas ou trocando tecidos e roupas por pelas de borracha e sacos de castanha. Nossa casa ficava na praça Plácido de Castro, a menos de cem metros da prefeitura da cidade.
Minha mãe se lembrou de que havia um médico em Xapuri, o doutor Monte, um médico de Rio Branco que a cada dois meses visitava a cidade. Mas o doutor Monte tinha ido atender a um doente em Brasiléia, lá na fronteira com a Bolívia. Então, apavorada, ela se dirigiu à prefeitura, pois o prefeito era primo de meu pai. O prefeito correu para a praia e me viu estendido na areia, cercado por pirâmides e colinas de ovos de tracajá. Meu rosto devia estar vermelho que nem melancia, porque o prefeito olhou para mim e disse:

        -- Por Deus, o menino tá sufocado!

        Ele olhou para o céu e disse para minha mãe e tia Leila:

        -- Fiquem aqui, eu vou cuidar desse menino.

        Ele me pegou pelos braços. Carregou-me como se eu fosse um boneco de pano e me levou até o carro dele, um Ford velho e enferrujado que nunca saía da cidade, porque não havia estrada de Xapuri a nenhum lugar, nem de nenhum lugar a Xapuri.
Mas havia uma estrada de barro que cortava a floresta e terminava numa pista de cascalho que devia ter uns duzentos metros.
Não sabia para onde o prefeito me levava. Então eu ouvi a voz dele:

        -- Lá está ele, lá está o bonitão!

        E quem era ele, o bonitão?

        O Condor...

        Nos braços do prefeito eu entrei no Condor. Era um avião verde e prateado, um bimotor alemão que passava por Xapuri a cada quinze dias e fazia uma viagem impressionante para São Paulo.
O Condor escalava em seis cidades (duas da Bolívia e quatro do Brasil) antes de aterrizar na capital paulista. O prefeito, que sabia pilotar, disse ao dono do Condor que ia dar uma volta comigo. Além da falta de ar, comecei a sentir medo. Nunca viajara de avião, e agora estava numa aviãozinho que parecia um sapo metálico. Tremia de medo, e, com medo e falta de ar, sentado na cabina, percebi que o avião corria na pista de cascalho. Fechei os olhos...

        Minha primeira aventura: voar com falta de ar aos 10 anos de idade. Quando abri os olhos, a cidade parecia uma maquete, uma cidade de brinquedo. Vi os dois rios, o Acre e o Xapuri, como se fossem duas cobras amarelas. O Condor ainda chacoalhava, o barulho dos motores era infernal e o vento que entrava pela janelinha da cabina tinha a força de um furacão. Aos poucos, fui me acostumando com aquela ideia louca de voar. Estava nervoso, mas no ar. Era um milagre... e também uma alegria, pois navegando no espaço, não sei por que comecei a respirar melhor...
Já não sentia a angústia de estar perdendo o fôlego, de abocanhar em vão um punhado de ar.

        Voltava a ser como você, que respira pelo nariz, normalmente, sem ânsia, sem sufoco. O prefeito-piloto, ao notar minha melhora, sorriu. Logo depois ele riu e disse:

        -- Agora vamos conhecer as nuvens.

        Ele puxou um pouquinho o manche, o Condor começou a subir, subir... E subimos tanto que entramos nas nuvens, essas nuvens que lá de baixo parecem enormes blocos de mármore, que nem esculturas aéreas flutuando no céu azul da Amazônia.
Nuvens de todos os tamanhos e formas: nuvem-dragão, nuvem-serpente, nuvem-tartaruga, nuvens que são formas do céu da minha infância. Depois começamos a baixar, e sobrevoamos o rio Acre, sinuoso, barrento, como uma cobra-d'água sem fim. Vi um barquinho navegando perto de uma vila, imaginei que podia ser o barco de meu pai e dei um adeus na janelinha da cabina. Depois o Condor baixou ainda mais. O piloto apontou para uma árvore e disse: uma sumaumeira. Outras árvores: a castanheira, a seringueira, árvores enormes que eu via do alto. No meio da floresta, vi uma cortina esverdeada, com tons de amarelo. O piloto me disse que era um bambuzal.

        Vi o barracão de um seringal, o Soledad, e canoas que pareciam de papel pardo, pequeninas e frágeis. Em 20 de voo vi coisas que só podia imaginar.

        Hoje, quase 40 anos depois desse voo, penso que escrever uma história se parece com isso: voar, ver o que nunca vimos... imaginar.

        Aterrissamos na pista de cascalho. No galpãozinho à beira da pista, minha mãe e tia Leila estavam ao lado do dono do avião.
Minha mãe xingou o prefeito-piloto de louco e irresponsável; tia Leila, de cara emburrada, mal falou com ele. Mas, quando me viram são e salvo, respirando como uma criança sadia, ficaram aliviadas.

        Olhei para o avião na pista, e me despedi daquele sapo metálico que me havia curado. Enfim, agradeci aos céus, mas nunca perdi o medo de voar. Anos depois, iria voar muito, e em aviões ainda menores que o Condor. Mas aquele voo foi inesquecível.

        Até hoje me lembro daquela manhã em que voei no Condor e vi lá do alto o mundo da minha infância.

Fonte: Era uma vez um conto. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002.

Entendendo o conto:

01 – Qual foi a data em que o protagonista teve sua primeira experiência de voar no Condor?

      A primeira experiência de voar no Condor ocorreu em 7 de setembro de 1958.

02 – Onde o protagonista estava quando teve sua primeira crise de asma?

      O protagonista estava na beira do rio Xapuri, no Acre, brincando com seus amigos.

03 – Como o prefeito de Xapuri reagiu quando viu o protagonista com falta de ar na praia?

      O prefeito ficou preocupado e disse: "Por Deus, o menino tá sufocado!"

04 – Por que o protagonista foi levado para o avião Condor?

      O prefeito, que sabia pilotar o avião, decidiu dar uma volta com o protagonista para ajudá-lo a respirar melhor.

05 – Como o protagonista se sentiu durante sua primeira experiência de voo no Condor?

      Inicialmente, o protagonista sentiu medo e falta de ar, mas gradualmente se acostumou com a ideia de voar e começou a respirar melhor.

06 – O que o prefeito-piloto disse ao protagonista quando o avião entrou nas nuvens?

      O piloto disse: "Agora vamos conhecer as nuvens."

07 – O que o protagonista viu quando sobrevoou a floresta na aeronave Condor?

      O protagonista viu várias árvores, incluindo sumaumeira, castanheira, seringueira e um bambuzal.

08 – Como o protagonista descreve a sensação de escrever uma história no final do conto?

      O protagonista compara a sensação de escrever uma história a voar e ver coisas que nunca viu, a uma experiência de imaginação.

09 – Como a mãe do protagonista reagiu quando o viu a salvo após o voo?

      A mãe do protagonista xingou o prefeito-piloto de louco e irresponsável, mas ficou aliviada ao ver o protagonista são e salvo.

10 – O que o protagonista agradeceu no final do conto?

      O protagonista agradeceu aos céus pela experiência de voar no Condor que o havia curado, mas ele nunca perdeu o medo de voar.

 

ARTIGO DE OPINIÃO: NA TRASEIRA DO CAMINHÃO - DRAUZIO VARELLA - COM GABARITO

 Artigo: NA TRASEIRA DO CAMINHÃO

          Drauzio Varella

        Na minha infância era moda na minha rua chocar caminhão: pendurar-se na traseira do veículo e saltar na virada da esquina. Veja artigo do dr. Drauzio.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6e3oDYVQRqVK0UG__yyQysviVteIl2brff5XWzRM4yDn-oDentm4VDsLu1WM8efi3_tN0TV2-ty_hXGG6ICt7LTSCQ0lIO2VPnZsC7Zs-KnqWHrOjTq-6pM_zdVmufP2ZRb2MAy2P44yrzIFUbHYt71ccaaHKRRvZkIvyZUjBZFY_uLgrDfiI2tVPOuU/s1600/TRASEIRA.jpg


        Quando eu tinha 7, 8 anos, virou moda na minha rua chocar caminhão: pendurar-se na traseira do veículo e saltar na virada da esquina. Uma vez, choquei o caminhão de lixo e quando pulei na frente de casa, meu pai, que chegava do trabalho, estava parado no portão com cara de quem não gostou da gracinha. Recebi o mais detestável dos castigos: domingo inteiro de pijama na cama.

        Cabeça-dura, repeti a façanha outras vezes, até que decidi chocar a caminhonete do seu Germano, o alemão da fábrica em frente, só para me exibir para os meninos, que morriam de medo dele. Sentei na calçada ao lado da caminhonete. Dois operários puseram umas caixas na carroceria. Seu Germano, saindo para o almoço, deu a partida. Eu pendurado atrás. Infelizmente, na esquina, em vez de diminuir a velocidade ele acelerou, e me faltou coragem para pular.

        Fomos na direção do largo Santo Antônio, cada vez mais depressa, eu com os ossos batendo na lataria, morto de medo de cair. Ao chegar no largo, duas senhoras me viram naquela velocidade e gritaram para parar. Seu Germano nem ouviu. Com os braços cansados, fiz um esforço para saltar para dentro da carroceria, mas a caminhonete pulava feito cavalo bravo nos paralelepípedos da rua e eu não consegui. Tentei de novo e não deu. Mais uma vez, pior ainda. Então, fiquei apavorado. Achei que ia morrer e que meu pai ia ficar muito triste, porque ele sempre dizia: “Deus me livre, perder um de vocês”.

        Talvez o medo da morte tenha me dado força na quarta tentativa: esfolei a canela inteira, mas consegui passar a perna e impulsionar o corpo para dentro. Caí no meio das caixas, com o coração disparado, e chorei. Quando a caminhonete parou na porta do seu Germano, achei melhor ficar quietinho entre as caixas, até ele voltar para a fábrica depois do almoço. Também não deu certo: ele resolveu descarregar a caminhonete e me encontrou escondido. Tomou um susto tão grande que até pulou para trás:

        — Menino dos infernos! Como veio parar aqui?

        No caminho, ele me deu conselhos e me contou do pai. Achei que os castigos do pai dele eram muito piores. O meu nunca tinha me trancado no guarda-roupa a noite inteira.

        Expliquei que só queria chocar até a esquina, mas a velocidade tinha sido tanta… Ele ficou enfezado e disse que ia contar para o meu pai. Pedi para não fazer isso porque eu ia apanhar, mas ele não se importou, falou que era merecido até. Mostrei as pernas esfoladas, ele não se comoveu. Por fim, contei dos domingos de castigo na cama. Nesse momento, brilhou um instante de compaixão no olhar dele:

        — Seu pai deixa você de pijama, deitado o domingo inteiro?

        — Só quando eu desobedeço muito.

        — Está louco! Teu pai é severo como o meu, na Alemanha. Entre na caminhonete que eu te levo de volta.

        No caminho, ele me deu conselhos e me contou do pai. Achei que os castigos do pai dele eram muito piores. O meu nunca tinha me trancado no guarda-roupa a noite inteira. Seu Germano concordou em manter segredo, desde que eu prometesse nunca mais chocar veículo nenhum. Desde então, apesar do jeito bravo, ele ficou meu amigo. Quando me encontrava, às vezes dizia:

        — Não vá esquecer: menino que cumpre a palavra merece respeito.

Drauzio Varella. 16 de maio de 2011. Revisado em 6 de março de 2018.

Entendendo o artigo:

01 – O que o autor fazia na sua infância que era moda na sua rua?

      Na sua infância, o autor costumava pendurar-se na traseira de caminhões e saltar na virada da esquina.

02 – Qual foi a reação do pai do autor quando ele chocou o caminhão de lixo?

      O pai do autor não gostou da gracinha e o castigou com um domingo inteiro de pijama na cama.

03 – Por que o autor decidiu chocar a caminhonete de seu Germano?

      O autor decidiu chocar a caminhonete de seu Germano para se exibir para os meninos que tinham medo dele.

04 – O que aconteceu quando o autor tentou pular da caminhonete do seu Germano na esquina?

      Na tentativa de pular da caminhonete do seu Germano na esquina, o autor não conseguiu devido à velocidade do veículo e ao medo de cair.

05 – Por que o autor ficou apavorado durante essa experiência?

      O autor ficou apavorado porque pensou que poderia morrer e que seu pai ficaria triste, já que costumava dizer: "Deus me livre, perder um de vocês".

06 – Qual foi a reação de seu Germano ao encontrar o autor na caminhonete?

      Seu Germano ficou surpreso e chocado ao encontrar o autor na caminhonete e afirmou: "Menino dos infernos! Como veio parar aqui?"

07 – Como a relação entre o autor e seu Germano mudou após esse incidente?

      Apesar do susto inicial, seu Germano concordou em manter segredo e se tornou amigo do autor, aconselhando-o a cumprir sua palavra e a não chocar mais veículos.

 

 

CONTO: O BARBA-AZUL - CHARLES PERRAULT - COM GABARITO

 Conto: O Barba-Azul

           Charles Perrault

        Era uma vez um homem que tinha belas casas na cidade e no campo, baixela de ouro e prata, móveis trabalhados e carruagens douradas; mas, por desventura, esse homem tinha a barba azul: isto o fazia tão feio e tão terrível que não havia mulher nem moça que não fugisse ao vê-lo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihhVyZT7GbEc9K-4xeWoufP9dmKag8NvwL_zJw4WPtedHAPROExLHe4yhf3ga1GZkhBJq4ifhgAjwiPkU3nh-otfbBA1tcNYpVpkW1fkn78Vrg-tWnVkfeaXGF_zWq2BVmsgXR_4SKQm0byCZwBDecKuBqbqSdfQ7oxnPQc0E5F8abxp1MVLaMqMMvLjQ/s1600/barba-azul-300x200.jpg


        Uma das suas vizinhas, dama de alta linhagem, tinha duas filhas absolutamente belas. Ele pediu-lhe uma delas em casamento, deixando a escolha à vontade materna. Nenhuma das duas o queria, e cada uma o passava à outra, pois nenhuma podia decidir-se a aceitar um homem de barba azul. Aborrecia-as também a circunstância de ele já ter desposado várias mulheres sem que ninguém soubesse o que era feito delas.

        Para travar relações com as moças, Barba-Azul levou-as, juntamente com a mãe e as três ou quatro melhores amigas, e algumas jovens da vizinhança, a uma das suas casas de campo, onde passaram nada menos de oito dias. E eram só passeios, caçadas e pescarias, danças e festins e merendas: ninguém dormia, levavam a noite a pregar partidas uns aos outros; afinal, tudo correu às mil maravilhas, e a mais nova das meninas começou a achar que o dono da casa não tinha a barba tão azul, e que era homem muito digno. E, logo que tornaram à cidade, realizou-se o casamento.

        Ao cabo de um mês, Barba-Azul disse à mulher que tinha de fazer uma viagem à província, de seis semanas, no mínimo, para um negócio de importância; que lhe pedia se divertisse à vontade durante a ausência dele – mandasse buscar suas boas amigas, levasse-as ao campo, se quisesse, comesse do bom e do melhor.

        – Aqui estão – disse-lhe – as chaves dos dois grandes guarda-móveis; aqui as da baixela de ouro e de prata que só se usa nos grandes dias; aqui as dos meus cofres, onde está o meu ouro e a minha prata, as dos cofres de minhas joias e aqui a chave de todas as dependências da casa. Esta chavezinha é a chave do gabinete que fica no extremo da grande galeria da cave: pode abrir tudo, pode ir aonde quiser, mas neste pequeno gabinete eu proíbo-a de entrar, e proíbo de tal maneira que, se acontecer abri-lo, não há nada que não possa esperar da minha cólera.

        Ela prometeu cumprir à risca tudo quanto acabava de ser ordenado: e ele, depois de beijá-la, tomou sua carruagem e partiu.

        As vizinhas e as boas amigas não esperaram, para ir à residência da jovem esposa, que as mandassem buscar, tão sôfregas estavam de ver-lhe todas as riquezas da casa, não havendo ousado ir lá enquanto o marido se achava por causa da sua barba azul, que lhes fazia medo. E ei-las, sem perda de tempo, a percorrer os quartos, gabinetes, vestiários, cada um mais belo que os outros. Subiram depois aos guarda-móveis, onde não se cansavam de admirar o número e a beleza das tapeçarias, dos leitos, dos sofás, dos guarda-roupas, dos veladores, das mesas e dos espelhos, nos quais a gente se via da cabeça aos pés, e cujos ornatos, uns de vidro, outros de prata, ou de prata dourada, eram os mais belos e magníficos que já se poderiam ter visto. Não cessavam de exagerar e invejar a felicidade da amiga, a quem, no entanto, não alegravam todas essas riquezas, ansiosa que estava de abrir o gabinete da cave.

        Sentiu-se tão premida pela curiosidade que, sem refletir que era uma indelicadeza deixar sozinhas as visitas, desceu até lá por uma escadinha oculta, e com tamanha precipitação que por duas ou três vezes pensou em quebrar o pescoço. Chegando à porta do gabinete, aí se deteve algum tempo, lembrando-se da proibição que o marido lhe fizera e considerando que lhe poderia acontecer uma desgraça por haver sido desobediente; mas a tentação era tão forte que ela não a pôde vencer: tomou da chavezinha e abriu, tremula, a porta do gabinete.

        A princípio não viu coisa alguma, porque as janelas se achavam fechadas; momentos depois começou a notar que o soalho estava todo coberto de sangue coalhado, no qual se espelhavam os corpos de várias mulheres mortas, presas ao longo das paredes (eram todas mulheres que Barba-Azul desposara e que havia estrangulado). Cuidou morrer de susto, e a chave do gabinete que acabava de retirar da fechadura, caiu-lhe da mão. Após haver recobrado um pouco o ânimo, apanhou a chave, fechou a porta e subiu ao quarto para refazer-se; não o conseguia, porém, devido à sua grande perturbação.

        Tendo notado que a chave do gabinete estava manchada de sangue, limpou-a duas ou três vezes, mas o sangue não desaparecia; lavou-a, esfregou-a com sabão e pedra-pomes; debalde: o sangue ficava sempre, pois a chave era fada, e não havia meio de limpá-la inteiramente: quando se tirava o sangue de um lado, ele voltava do outro.

        Barba-Azul regressou da sua viagem logo nessa noite, e disse haver recebido, no caminho, notícias de que o negócio que o levara a partir acabara de realizar-se com vantagem para ele. A mulher fez quanto pôde para se mostrar encantada com esse breve retorno.

        No dia seguinte ele pediu-lhe as chaves, e ela as entregou, porém a mão tremia tanto que Barba-Azul adivinhou sem esforço todo o ocorrido.

        – Por que é – perguntou-lhe -– que a chave do gabinete não está junto com as outras?

        – Devo tê-las deixado lá em cima, sobre a minha mesa.

        – Quero a chave aqui, já!

        Depois de várias delongas, a mulher teve que levá-la. Barba-Azul examinou-a e disse:

        – Por que há sangue nesta chave?

        – Não sei nada disso – respondeu a pobre criatura, mais pálida que a morte.

        – Você não sabe nada – continuou ele – mas eu sei muito bem; você quis entrar no meu gabinete! Está certo, senhora, lá entrará e irá ter o seu lugar ao lado das que lá encontrou.

        Ela se atirou aos pés do marido, chorando e pedindo-lhe perdão, com todos os sinais de um arrependimento sincero de não haver sido obediente. Bela e aflita como estava, seria capaz de enternecer um rochedo; mas Barba-Azul tinha o coração mais duro que um rochedo:

        – Tem de morrer, senhora, e imediatamente.

        – Visto que tenho que morrer – respondeu ela, fitando-o com os olhos banhados de lágrimas – dê-me um pouco de tempo para rezar a Deus.

        – Dou-lhe meio quarto de hora – replicou Barba-Azul – e nem um momento a mais.

        Quando ela se viu sozinha, chamou a irmã e disse-lhe:

        – Minha irmã, sobe ao alto da torre, eu te suplico, para ver se meus irmãos não vêm; eles me prometeram que me viriam ver hoje, e, se os vires, faz-lhes sinal para que se apressem.

        A irmã subiu ao alto da torre, e a pobre aflita gritava-lhe de vez em quando:

        – Ana, minha irmã, não vês ninguém?

        E a irmã respondia:

        – Não vejo nada a não ser o Sol que brilha e a erva que verdeja.

        Entrementes, Barba-Azul, com um grande cutelo na mão, gritava para a esposa com toda a força:

        – Desce depressa, ou eu subirei aí.

        – Mais um momento, por favor –, respondia-lhe a mulher. E logo, baixinho:

        – Ana, minha irmã, não vês ninguém?

        E a irmã Ana respondia:

        – Não vejo nada a não ser o Sol que brilha e a erva que verdeja.

        – Desce depressa – bradava Barba-Azul –, ou eu subirei aí.

        – Já vou – respondeu a mulher. E depois:

        – Ana, minha irmã, não vês ninguém?

        – Só vejo – respondeu a irmã Ana –- uma grossa poeira que vem desta banda.

        – São meus irmãos?

        – Infelizmente não, minha irmã; é um rebanho de carneiros.

        – Não queres descer? – bradava Barba-Azul.

        – Mais um momento – respondia a mulher.

        E depois:

        – Ana, minha irmã, não vês ninguém?

        – Vejo – respondeu ela – dois cavaleiros que vêm deste lado, mas ainda estão muito longe… Louvado seja Deus! – exclamou um instante depois. – São meus irmãos; estou lhes fazendo sinal, tanto quanto me é possível, para que se apressem.

        Barba-Azul pôs-se a gritar tão alto que a casa estremeceu. A pobre mulher desceu e atirou-se-lhe aos pés, desgrenhada e em prantos.

        – Isto não adianta nada – disse Barba Azul. – Tens de morrer.

        Em seguida, segurando-a com uma das mãos pelos cabelos e erguendo-a com a outra o cutelo no ar, ia cortar-lhe a cabeça. A pobre mulher, voltando-se para ele, rogou-lhe que lhe concedesse um breve momento para se recolher.

        – Não, não – disse ele –, e encomenda bem tua alma a Deus.

        E erguendo o braço… Neste momento bateram à porta com tanta força que Barba-Azul se deteve instantaneamente. Abriram e logo se viu entrar dois cavaleiros que, sacando da espada, correram direitos a Barba-Azul.

        Ele reconheceu que eram os irmãos da esposa, um deles dragão e o outro mosqueteiro, e fugiu sem demora para salvar-se; mas os dois irmãos perseguiram-no tão de perto que o alcançaram antes que ele pudesse atingir a escada externa. Atravessaram-no a fio de espada, e deixaram-no morto. A pobre dama estava quase tão morta quanto o marido, nem lhe restavam forças para beijar os irmãos.

        Verificou-se que Barba-Azul não tinha herdeiros, razão por que sua mulher se tornou dona de todos os seus bens. Empregou parte deles no casamento da sua irmã Ana com um jovem fidalgo, que a amava desde muito tempo; outra parte na compra do posto de capitão para seus dois irmãos, e o resto no casamento dela própria com um homem muito distinto, que lhe fez esquecer o mau tempo que passara com Barba-Azul.

Charles Perrault. Retirado de O Conselheiro Acácio.

Entendendo o conto:

01 – Quais eram as características físicas que tornavam o homem do conto tão terrível e assustador?

      O homem tinha uma barba azul, que o tornava feio e terrível.

02 – Por que as duas filhas da dama de alta linhagem não queriam se casar com o homem de barba azul?

      Elas não queriam se casar com ele por causa de sua barba azul e porque ele já havia desposado várias mulheres sem que ninguém soubesse o que acontecera com elas.

03 – Para onde Barba-Azul levou a jovem esposa e suas amigas durante oito dias?

      Barba-Azul levou a jovem esposa e suas amigas a uma de suas casas de campo, onde passaram oito dias realizando diversas atividades, como passeios, caçadas e festins.

04 – O que aconteceu quando a jovem esposa desobedeceu à proibição do marido e entrou no gabinete da cave?

      Ela descobriu que o gabinete estava cheio de sangue coagulado e corpos de mulheres que Barba-Azul havia estrangulado.

05 – Como a jovem esposa tentou limpar a chave do gabinete?

      Ela tentou lavar a chave, esfregou-a com sabão e pedra-pomes, mas o sangue não desaparecia, porque a chave era encantada.

06 – O que Barba-Azul fez quando descobriu que a chave estava manchada de sangue?

      Ele confrontou a esposa e acusou-a de ter entrado no gabinete. Em seguida, ameaçou matá-la.

07 – O que a jovem esposa pediu a sua irmã quando Barba-Azul a ameaçou de morte?

      Ela pediu a sua irmã para subir à torre e verificar se seus irmãos estavam chegando, para pedir ajuda.

08 – O que aconteceu quando os irmãos da esposa chegaram à casa de Barba-Azul?

      Os irmãos da esposa confrontaram Barba-Azul, perseguiram-no e o mataram.

09 – Como o conto termina para a jovem esposa?

      A jovem esposa herda os bens de Barba-Azul, casa sua irmã com um jovem fidalgo, compra cargos de capitão para seus dois irmãos e casa-se com um homem distinto que a faz esquecer os maus tempos que passou com Barba-Azul.

10 – Por que Barba-Azul não tinha herdeiros?

      Barba-Azul não tinha herdeiros porque foi morto por seus irmãos na tentativa de matar sua esposa, e ela se tornou a única herdeira de seus bens.

 

 

domingo, 22 de outubro de 2023

ATIVIDADES COM A MÚSICA: RETRATO DA VIDA - DJAVAN - COM GABARITO

 ATIVIDADES COM A Música: Retrato da Vida

         Djavan

Esse matagal sem fim
Essa estrada, esse rio seco
Essa dor que mora em mim
Não descansa e nem dorme cedo

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxJZ0ldcDEy9QrnuSUu1m9IGStBAH7RXoekd1POCkxMiHZbU7perLesfn5wcm7PHEvDrCbKiE7_jVAiXr38Uyaz5DvpuOcY-MY_teruY9pwpKw2i9hXAt7LKSvfi2YfTugKctf96eDiMvuUL-l06wudTYch2242Z14HLgdNgQfMF2IJAgHMUjZm0kPbVk/w222-h142/RETRATO.jpg


O retrato da minha vida
É amar em segredo
Não quer saber de mim
E eu vivendo da tua vida
Deus no céu e você aqui
A esperança é quem me abriga
Esses campos não tardam em florir
Já se espera uma boa colheita
E tudo parece seguir
Fazendo a vida tão direita
Mas e você o que faz
Que não repara no chão
Por onde tem que passar
E pisa em meu coração?
O teu beijo em meu destino
Era tudo o que eu queria
Ser teu homem, teu menino
O ser amado de todo dia.

Composição: Djavan / Dominguinhos.

Entendendo a canção:

01 – O que a letra da canção descreve como "esse matagal sem fim"?

      O "matagal sem fim" na canção representa desafios e obstáculos na vida do cantor.

02 – O que o cantor diz sobre a dor que ele sente?

      Ele menciona que a dor que ele sente não descansa e nem dorme cedo.

03 – Qual é o retrato da vida do cantor?

      O retrato da vida do cantor é amar em segredo, pois a pessoa amada não demonstra interesse nele.

04 – Quem é a pessoa que o cantor deseja ter em sua vida?

      O cantor deseja ter a pessoa amada, que aparentemente não corresponde ao seu amor.

05 – O que a esperança representa na canção?

      A esperança representa a força que o cantor encontra para continuar vivendo e acreditando que as coisas podem melhorar.

06 – Qual é a metáfora usada para descrever a atitude insensível da pessoa amada?

      O cantor usa a metáfora de "pisar em meu coração" para descrever como a pessoa amada o magoa.

07 – O que o cantor deseja ser para a pessoa amada?

      O cantor deseja ser o homem e o menino da pessoa amada, ou seja, o ser amado de todos os dias.

 

 

ATIVIDADES COM A MÚSICA: SIRI RECHEADO E O CACETE - JOÃO BOSCO/ALDIR BLANC - COM GABARITO

 Música(ATIVIDADES): Siri Recheado e o Cacete

           João Bosco/Aldir Blanc

Saí com a patroa pra pescar
No Canal da Barra, uns siris pra rechear
Siri, como ela encheu de me avisar
Era o prato predileto do meu compadre Anescar

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiafUdGi21X4-YjlS43evI5yUw1jUnny8pl_JgEXbDrTn5kH4_iJFc04fh8a0lBxIWbGbRMDw3-0WsQJe2aUQYoRqpb4escZik_4ph4FIwcLNff49ubN-_1wFGtEm28FKIdg114pl_cwRXPCFi7ayQF1HYeWnBxWRb7TF1FSoiT9No3nngw8OspGKbwRlg/s320/SIRI.jpg


Levei arrastão e três puçás
Um de cabo, outros dois de jogar
De isca, um sebo da véspera, e pra completar, Cachaça Iemanjá
Birita que dá garantia de ter maré cheia
Choveu siri do patola, manteiga, azulão, um camaleão,
No tapa a minha patroa espantou três sereias.

Na volta, ônibus cheio, o balde derramou
Em pleno coletivo, um gato se encrespou
O velho trocador até gritou: - não bebo mais!
- Siri passando em roleta, mesmo pra mim é demais!
De medo o motorista perdeu a direção
Fez um golpe de vista, raspou num caminhão
Pegou um pipoqueiro, um padre entrou num butiquim
O português da gerência quase voltou pra Almerim...

Quiseram autuar nossos siris
Mas minha patroa subornou a guarnição
Então os cana-dura mais gentis
Levaram a gente e os siris pra casa na Abolição
Depois do "te logo", "um abração"
Fui botar os siris pra ferver
Dentro da lata de banha
Era um tal de chiar, pagava pra ver
Tranquilo, o compadre Anescar colocando o azeite
Foi um trabalho de cão, mas valeu o suor
Croquete, bobó, panqueca, siri recheado, fritada e o cacete.

O Anescar chegou com uma do alambique
Me perguntou se eu era Mendonça ou dinamite
Abri uma lourinha, trouxe um prato de croquete
O Anescar mordeu um, feito quem come gilete
Baixou minha patroa: Anescar, o quê que há?
O Anescar gemeu: dieta de lascar!
O médico mandou que eu coma tudo que pintar
Até cerveja e cachaça
Menos os frutos do mar.

Composição: Aldir Blanc / João Bosco.

Entendendo a canção:

01 – Qual é o motivo da saída do narrador com sua esposa no início da música?

      O narrador sai com sua esposa para pescar siris no Canal da Barra.

02 – O que a esposa do narrador gosta de fazer com os siris?

      A esposa do narrador gosta de rechear os siris.

03 – Quais são os itens que o narrador leva para a pescaria?

      O narrador leva um arrastão, três puçás, isca de sebo, e cachaça Iemanjá.

04 – O que acontece durante a pescaria que faz com que a esposa do narrador espante três sereias?

      Durante a pescaria, a esposa do narrador espanta três sereias com um tapa.

05 – O que ocorre no ônibus durante o retorno da pescaria?

      No ônibus, o balde de siris derrama, e um gato se enfurece, causando tumulto.

06 – Como a esposa do narrador evita que eles sejam autuados pela polícia?

      A esposa do narrador suborna a guarnição policial para evitar serem autuados.

07 – Qual é a recomendação médica mencionada na música em relação à alimentação do narrador?

      O médico recomenda que o narrador coma de tudo, exceto frutos do mar, incluindo cerveja e cachaça.