sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

CRÔNICA: O CELULAR - LUCY CARVALHAR - COM GABARITO

 Crônica: O Celular

               Lucy Carvalhar

1990. Eu estava assistindo ao telejornal e vi uma reportagem sobre o telefone do próximo milênio, um aparelho de telefone chamado “celular”.

“Celu, o quê?” – pensei.

 - Celular – repetiu a jornalista.

Fui dormir pensando no assunto. Aprendi, em biologia celular, que as células são as menores unidades dos seres vivos, com formas e funções definidas. Então, por que celular? Será que ele também é composto por células? Será que está surgindo uma nova organização celular no planeta?

Como naquele tempo, eu não tinha internet, perguntei para alguns colegas de classe se eles sabiam do que era feito um celular, e o porquê deste nome. Mas eles também não sabiam, e não conseguindo encontrar a resposta, resolvi cuidar da minha vida e de coisas mais importantes.

1993. No banheiro da faculdade, vi minha amiga Susana segurando o tal celular. Quando ela me viu, disse que havia acabado de descarregar a sua caixa postal. Então, pensei que ela estivesse se referindo às suas necessidades fisiológicas, e perguntei se ela estava passando bem. Susana, sem entender a minha pergunta, respondeu que estava bem, e que na caixa postal não havia recados de seu noivo. Fiquei sem graça e, naquele momento, entendi que a caixa postal se tratava da caixa de mensagens do estranho aparelho chamado “celular”. “Que vergonha!” – pensei, mas não falei nada. Fiquei apenas observando aquele objeto, que estava nas mãos da minha amiga e que recebia ligações.

Procurei uma desculpa para me livrar da vexatória situação.

- Susana, já volto. Vou até o orelhão, preciso falar com minha mãe. Susana, muito solícita, entregou-me o seu celular, para que eu não precisasse ficar na fila do telefone público. Eu aceitei e fiquei alguns minutos com aquele objeto no meu ouvido, até que ela perguntou: - Você não vai apertar as teclas para ligar para sua mãe? - Não tem linha...está mudo – respondi.

A moça não aguentou, deu uma gargalhada, e disse:

- Você só tem que apertar as teclas com o número do telefone da sua mãe!

“Mais uma vergonha com o tal aparelho”, pensei, com o rosto enrubescido.

Então, apertei as teclas do tal aparelho e falei com a minha mãe, dizendo-lhe que estava usando um celular. Claro, que ela não entendeu nada e, mesmo assim, continuei a falar.

Os anos passaram. Um novo século chegou. A tecnologia evoluiu e, com ela, surgiram redes sociais, inúmeros aplicativos de mensagens.

Hoje, convivemos fiel e obsessivamente com a presença desse aparelho, que tem sua caixa postal sendo descarregada não somente nos banheiros, mas em todos os lugares.

Não pesquisei a origem do nome “celular”, mas sei que, atualmente, ele se tornou a unidade fundamental para o convívio de todos os seres humanos da nossa sociedade tecnológica.

 Viva o CELULAR!

Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1192085.Adaptado. Acesso em: 30 jun. 2020.

Fonte: SP FAZ ESCOLA-Caderno do Professor - Língua Portuguesa - Ensino Fundamental - 6º Ano - Vol. 4 - p. 21-24.

Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fgartic.com.br%2Fkamillalovatic%2Fdesenho-livre%2Fcelular&psig=AOvVaw1QcIrtsMsCRfTfVPG8uzPd&ust=1608413825612000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCOC398y-2O0CFQAAAAAdAAAAABAD

1 – Você acabou de ler uma crônica. Vamos ver as suas características? Observe o quadro a seguir:

Relata fatos do cotidiano das pessoas, situações que presenciamos e até prevemos o desenrolar dos fatos.

Pode conter elementos descritivos.

Mescla a tipologia narrativa com trechos reflexivos e, em alguns casos, argumentativos.

A crônica também se utiliza da ironia, humor e, às vezes, do sarcasmo.

 Possui marcadores espaciais e temporais.

 O foco narrativo pode ser em primeira ou terceira pessoa.

 O tempo é cronológico.

Pode haver o uso do discurso direto, discurso indireto ou discurso indireto livre.

 (Elaborado por Lucifrance Elias Carvalhar especialmente para esse material.)

2 - O texto “O celular” é uma crônica porque

a) possui clímax.

b) relata situações do cotidiano.

c) apresenta um conflito.

d) nenhuma das alternativas anteriores.

3 – O texto “O celular” retrata uma situação vivida pela personagem. O foco narrativo está em:

( x ) primeira pessoa

( ) terceira pessoa

Explique. A personagem relata uma situação que foi vivenciada por ela e utiliza o pronome “eu”.

4 - Se a crônica “O celular” tivesse sido narrada em 3ª. pessoa e o narrador não soubesse sobre os sentimentos das personagens, ele seria chamado de narrador-  observador.

 

5 – A protagonista ficou esperando o celular dar linha. A que ela o associou?

Ela associou o celular ao telefone fixo, que possui linha.

6 – No texto, em cinco momentos, aparecem discursos indiretos: três, na fala da protagonista e dois, na fala de Susana. Grife e passe-os para o discurso direto. Lembre-se de utilizar o travessão, os dois-pontos e o ponto final.

Discurso indireto (protagonista): Perguntei para alguns colegas de classe se eles sabiam do que era feito um celular, e o porquê deste nome.

Discurso direto (protagonista): Perguntei para alguns colegas de classe: - Vocês sabem do que é feito um celular e por que ele recebe este nome?

Discurso indireto (protagonista): “Perguntei se ela estava passando bem.”

Discurso direto (protagonista): Perguntei para Susana: - Você está passando bem?

Discurso indireto (protagonista): “Falei com a minha mãe, dizendo-lhe que estava usando um celular.

Discurso direto (protagonista): Falei para minha mãe: - Estou usando um celular.

Discurso indireto (Susana): “Susana disse que havia acabado de descarregar a sua caixa postal.”

Discurso direto: Susana disse: - Acabei de descarregar a minha caixa postal.

Discurso indireto (Susana): “Susana, sem entender a minha pergunta, respondeu que estava bem, e que na caixa postal não havia recados de seu noivo.”

Discurso direto (Susana): Susana respondeu: - Não entendi a sua pergunta, mas estou bem! Na caixa postal não tem recados do meu noivo.

7 – No quarto parágrafo há três frases com ponto de interrogação. De acordo com o texto, por que a autora utilizou este ponto?

A autora utilizou o ponto de interrogação porque desconhecia o que era um celular.

8 – Na frase “Que vergonha!”, foi utilizado o ponto de exclamação. Por quê?

O ponto de exclamação foi utilizado porque a protagonista expressou-se de forma vexatória diante do fato, sentindo-se envergonhada por não saber o que era a caixa postal de um celular.

9 – Observe: “- Não tem linha...está mudo.” Nessa frase houve o emprego das reticências, marcando uma suspensão da frase. Essa suspensão na frase aconteceu porque:

a) a personagem estava com dúvidas sobre como teclar no celular. b) a personagem estava esperando a linha do celular para teclar os números.

c) a personagem estava com vergonha de falar que não sabia usar o celular.

d) a personagem estava cansada de segurar o celular.

POEMA: MANHÃ CAMPESTRE - HILDA CAMPIOTTI DA SILVA - COM GABARITO

 POEMA: MANHÃ CAMPESTRE

                            Hilda Campiotti da Silva


Acorde, menina! Tenha o olhar atento!

Desperte e veja que esperta é a madrugada.

Risonha brinca a luz entrecortada,

Pelos galhos do ipê sonolento.

 

A boiada geme no vasto gramado,

Longas queixas do inverno friorento,

Mas o sol, em brasa, já se vê chegado,

Coloridas flores chacoalha o vento.

 

Veja, menina, no riacho, os peixes

Distraídos entre as pedras tortas.

Há gravetos tantos para formarem feixes,

Lá no bosque, entre as folhas mortas.

 

 Já estala o milho sobre as labaredas,

 E exala um cheiro de manhã campestre.

 Menina, venha provar as frutas azedas,

Que rebenta gorda no galho silvestre.

Fonte: SP FAZ ESCOLA - Caderno do professor-Língua Portuguesa - Ensino Fundamental - 6º Ano - Vol.4 - p.32-37.


Entendendo o poema

1 – Você sabe o significado de todas as palavras que estão escritas no poema? Conforme aprendeu, conhecer o significado das palavras é fundamental para a compreensão da mensagem. Para isso, retome o poema, grife as palavras que você desconhece e procure seu significado no dicionário, anotando-as no caderno. Antes, observe se com o contexto dá para antecipar o significado da palavra, e se não souber, busque o seu significado no dicionário.

Resposta pessoal.

Agora que você já compreendeu o significado das palavras que desconhecia, vamos analisar o poema:

 2 – Qual é o assunto abordado no poema que você acabou de ler? A descrição da natureza em uma manhã no campo.

3 – Por que o título do poema é “Manhã campestre”?

Porque o poema retrata uma manhã no campo.

4 – No poema, na última estrofe, o eu lírico faz um pedido à menina. Qual é?

Ele pede para a menina provar as frutas azedas que rebenta gorda nos galhos silvestres.

5 – Observe os versos a seguir:

 “A boiada geme no vasto gramado,

 Longas queixas do inverno friorento.”

 Neste trecho há um verso em que está presente a conotação, que é a forma de uso e manifestação da linguagem em seu sentido figurado. Grife-o.

6 – No verso “A boiada geme no pasto” aparece uma figura de linguagem chamada:

 (x ) personificação ( ) metáfora

 Explique:. É personificação porque está atribuindo uma característica humana à boiada.

7– Ao ler o poema, você percebeu que o tempo verbal predominante nele é o:

 ( x ) Presente

(  ) Pretérito

(  ) Futuro

8 - Você já ouviu falar em figuras de som? O que você imagina ser essa expressão?” No verso “A boiada geme no vasto gramado”, o som que mais aparece é da vogal____. a Dessa forma, temos uma figura de som chamada assonância.

E neste verso “Distraídos entre as pedras tortas” que som se repete? Podemos dizer que é som da consoante____. s Neste caso, há uma figura de som chamada aliteração.

9 – No verso “Acorde, menina! Tenha o olhar atento!” há dois verbos: acorde e tenha. De acordo com o que você aprendeu, eles pertencem a que modo verbal?

 Ao modo imperativo afirmativo.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

MÚSICA(ATIVIDADES): O AMOR - GAL COSTA - COM GABARITO

MÚSICA: O AMOR

                  GAL COSTA

Talvez

Quem sabe
Um dia
Por uma alameda
Do zoológico
Ela também chegará
Ela que também
Amava os animais
Entrará sorridente
Assim como está
Na foto sobre a mesa

Ela é tão bonita
Ela é tão bonita
Que na certa
Eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias

Agora vamos alcançar
Tudo o que não
Podemos amar na vida
Com o estrelar
Das noites inumeráveis

Ressuscita-me
Ainda
Que mais não seja
Porque sou poeta
E ansiava o futuro

Ressuscita-me
Lutando
Contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso

Ressuscita-me
Quero acabar de viver
O que me cabe
Minha vida
Para que não mais
Existam amores servis

Ressuscita-me
Para que ninguém mais
Tenha de sacrificar-se
Por uma casa
Um buraco

Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme

E o pai
Seja pelo menos
O Universo
E a mãe
Seja no mínimo
A Terra
A Terra
A Terra


                                       Compositor: Caetano Veloso

Entendendo a canção:

01 – Que palavra o eu lírico usa para expressar a sua incerteza da volta de sua amada?

      A palavra “talvez”, um advérbio de dúvida.

02 – De que trata essa canção?

      O eu lírico clama pela sua ressurreição, após voltar do exílio.

03 – Nos versos:

        “O coração destroçado

         Pelas mesquinharias”. Na expressão sublinhada há que figura de linguagem?

      A figura é gradação (apresentação de ideias em progressão ascendente/descendente), nesse caso gradação descendente.

04 – Cite os versos em que o eu lírico faz um desabafo, pois a vida estava chata. O que ele pede?

      “Ressuscita-me
       Quero acabar de viver
       O que me cabe
       Minha vida
       Para que não mais
       Existam amores servis.”

 

      



 

 

 

 

 

POEMA EM LINHA RETA - FERNANDO PESSOA - COM GABARITO

 POEMA EM LINHA RETA

           Fernando Pessoa


 Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

               Apud: Antologia poética de Fernando Pessoa. Introdução e seleção de Walmir Ayala. Rio de Janeiro, Tecnoprint, s/d. p. 122.

               Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 189-191.

Fonte da imagem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fcursoderedacao.net%2Fpoema-em-linha-reta-fernando-pessoa%2F&psig=AOvVaw2urcYB_8fUhwgn9CHOXX8e&ust=1608335906496000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCKC986Wc1u0CFQAAAAAdAAAAABAD

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Reles: desprezível, insignificante.

·        Infâmia: comportamento sem ética, sem moral, desonra.

·        Vil: que tem pouco valor, infame.

·        Cobardia: covardia.

·        Parasita: aquele que vive à custa dos outros.

·        Ideal: a perfeição.

·        Absurdo: sem sentido, contrário à razão e à lógica.

·        Oiço: ouço.

·        Grotesco: ridículo.

·        Titubear: vacilar, hesitar.

·        Mesquinho: pobre, mísero.

·        Literalmente: ao pé da letra, no exato sentido da palavra.

·        Enxovalhos: Injúrias, insultos.

·        Vileza: baixeza.

·        Moços de fretes: carregadores de malas.

02 – Copie a alternativa correta. Nos dois versos iniciais, o eu lírico:

a)   Realmente só tem conhecimentos que são campeões em tudo.

b)   Está ironizando; na verdade, os conhecimentos apenas contam vantagens.

c)   Assim como seus conhecimentos, só conhece, até hoje, vitórias.

03 – Por que o poeta fala de conhecidos e não de amigos?

      Porque a falta de sinceridade dessas pessoas o afasta delas. Pode-se inferir que ele não tem amigos.

04 – Como se apresenta o eu poético?

      Apresenta-se como um covarde, vil, sujo, um ser ridículo.

05 – Como você entendeu o verso: “Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo”?

      O poeta julga-se o único ser errado do mundo.

06 – Explique: “Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil.”?

      Todos calam sobre seus erros e só falam das suas virtudes e vitórias.

07 – Na verdade, o eu poético faz uma denúncia. Qual?

      Denuncia a hipocrisia e a falsidade das pessoas.

08 – Retire do poema um verso que demonstre ser dos outros e não do eu poético as afirmações negativas sobre sua personalidade (atente para a concordância verbal).

      “Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?”

09 – Como você explicaria o título: Poema em linha reta?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: As pessoas que vivem “disfarçando” suas verdades têm um comportamento sinuoso, e o poeta, ao declarar suas fraquezas, demonstra-se honesto, reto.

10 – Você acredita que este poema transmite uma verdade?

      Resposta pessoal do aluno.

11 – Como o eu poético está se sentindo? Copie a alternativa correta:

a)   Irritado por ter tantas fraquezas de caráter.

b)   Revoltado pelas injustiças que sofre.

c)   Desconsolado porque ninguém tem condições de entende-lo.

d)   Desconsolado por obter só derrotas, enquanto outros conseguem muitas vitórias.

CONTO: UMA AVENTURA NA SELVA (FRAGMENTO) - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

 Conto: Uma aventura na selva (Fragmento)


     Fernando Sabino

        [...]

        Enquanto os demais escoteiros cumpriam cada um sua missão armando o acampamento, a patrulha do Lobo, chefiada pelo Toninho, foi encarregada de catar galhos secos na mata, que servissem de lenha para cozinhar e para o Fogo do Conselho, depois do jantar. Fui com os oito escoteiros, pois ficara mais ou menos agregado a eles, adotado por aquela patrulha como uma espécie de mascote.

        Usando suas machadinhas e facões, os escoteiros se espalharam entre as árvores, cortando galhos aqui e ali. Também eu levava, com orgulho, dependurada ao cinto, a minha faca de campanha. Mas não precisei de usá-la, pois, de acordo com as instruções do comandante da patrulha, minha missão se limitava a recolher do chão todo graveto que encontrasse.

        Distraído com a tarefa, não reparei que me distanciava dos outros, embrenhando-me cada vez mais no meio do mato. Quando percebi que já não mais os via, nem mesmo ouvia suas vozes, procurei regressar, mas não sabia por onde, tantas eram as voltas que havia dado. O mato era denso ao redor, impedindo que eu visse qualquer coisa à distância de uns poucos metros. Mesmo a luz do dia mal chegava onde eu tinha ido parar, impedida pela copa das árvores que se fechavam como um telhado sobre minha cabeça. E o pior é que já começava a anoitecer.

        Procurei prestar atenção, aguçando os ouvidos, para ver se escutava alguma coisa. Realmente deu para captar, ao longe, uns farrapos de conversas e risadas cada vez mais fracas, à medida que se afastavam, eu não conseguia distinguir em que direção. Gritei, gritei, mas não deviam ter me ouvido, pois fiquei esperando um tempão e ninguém apareceu. Senti vontade de chorar, mas resisti: um escoteiro não chora.

        Dava para perceber em que lado o sol se afundava no horizonte, pois seus últimos raios conseguiam varar a parede de árvores, deixando no ar uma cortina de luz. Eu sabia me orientar pelo sol. Bastava virar à esquerda para o poente, e tinha à minha frente o norte, às costas o sul e â direita o leste. Mas de que adiantava? Eu não sabia se o nosso acampamento estava na direção do norte, do sul, do leste ou do oeste. Distraído em olhar o chão à procura de gravetos, eu não havia prestado atenção a nada, e muito menos por onde ia. O que era imperdoável num escoteiro, que deve estar sempre alerta.

        Agora eu descobria que estava completamente perdido, e em breve seria noite. Sabia que tinha ido parar bem longe do acampamento. Devia ter me afastado dos outros uma longa distância, andando sem rumo pela floresta. Era inútil tentar voltar. Eu ia acabar me perdendo de vez, e quando viessem à minha procura, jamais me achariam.

        [...].

      Fernando Sabino. O menino no espelho. Rio de Janeiro: Record, 1986.

                       Fonte: Português – Palavra Aberta – 5ª série – Isabel Cabral – Atual Editora – São Paulo, 1995. p. 02-05.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fpatrulha-lobo23rn.blogspot.com%2F2011%2F01%2Fpatrulha-lobo.html&psig=AOvVaw3jiQYVFp__HoTEBAj0W5FS&ust=1608335567636000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCJiw2ZKb1u0CFQAAAAAdAAAAABAP

Entendendo o conto:

01 – Vamos observar os elementos dessa narrativa.

a)   Quais são as personagens dessa história?

O menino e o grupo de escoteiros.

b)   O narrador é uma personagem?

Sim.

c)   Onde acontece a história?

No meio da mata.

d)   Quando acontece a história?

Quando os escoteiros cumpriam suas missões.

02 – Vamos relembrar o que acontece nessa história:

a)   Em primeiro lugar, vamos dividi-la em quatro partes, destacando os fatos principais. Os primeiros fatos já foram destacados. Observe:

1 – Em um acampamento de escoteiros, um grupo de meninos é encarregado de recolher galhos secos na mata.

2 – Um dos meninos, considerado como mascote, distrai-se recolhendo gravetos e distancia-se dos demais.

Escreva o que aconteceu de importante nas outras duas partes.

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: 3 – O menino percebe que está sozinho e grita pelos companheiros. 4 – Quase noite, completamente só, permanece quieto, esperando que o busquem no meio do mato.

b)   Agora, reconte a história em forma de desenho. Em seu caderno, faça quatro quadrinhos e desenhe em cada um deles uma parte importante da história. Dê um título para cada quadrinho.

Resposta pessoal do aluno.

03 – Você deve ter notado que quem conta essa história é a personagem menino. Em um momento do texto, o menino diz o seguinte: “Também eu levava, com orgulho, dependurada ao cinto, a minha faca de campanha”.

a)   Para que os escoteiros usavam facas, machadinhas e facões?

Para cortar os galhos secos das árvores.

b)   Por que o menino tinha orgulho de carregar uma faca?

Possuir uma faca significava já ser um escoteiro, ser grande.

c)   Ele usou a faca? Por quê?

Não. O comandante da patrulha deu-lhe como missão apenas recolher os gravetos que já estavam no chão. Tudo indica que era pequeno para usar uma faca.

04 – “Eu sabia me orientar pelo sol. Bastava virar à esquerda para o poente, e tinha à minha frente o norte, às costas o sul e à direita o leste.”. Você também sabe se orientar pelo sol? Descubra onde estão norte, sul, leste e oeste em sua classe.

      Resposta pessoal do aluno.

05 – Podemos afirmar que o menino teve medo? Procure no texto e escreva em seu caderno um trecho que comprove a sua resposta.

      Provavelmente, sim. “Senti vontade de chorar.”

06 – Como você se sentiria se estivesse no lugar do menino? O que você faria?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – O que você acha que aconteceu ao menino, durante a noite, sozinho, perdido na mata? Imagine que você é o escoteiro perdido e escreva um final para a história.

      Resposta pessoal do aluno.

 

CRÔNICA: UM CÃO, APENAS - CECÍLIA MEIRELES - COM GABARITO

 Crônica: Um Cão, Apenas   

                   Cecília Meireles

        Subidos, de ânimo leve e descansado passo, os quarenta degraus do jardim — plantas em flor, de cada lado; borboletas incertas; salpicos de luz no granito —, eis-me no patamar. E a meus pés, no áspero capacho de coco, à frescura da cal do pórtico, um cãozinho triste interrompe o seu sono, levanta a cabeça e fita-me. E um triste cãozinho doente, com todo o corpo ferido; gastas, as mechas brancas do pêlo; o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito idosas. Com um grande esforço, acaba de levantar-se. Eu não lhe digo nada; não faço nenhum gesto. Envergonha-me haver interrompido o seu sono. Se ele estava feliz ali, eu não devia ter chegado. Já que lhe faltavam tantas coisas, que ao menos dormisse: também os animais devem esquecer, enquanto dormem...

        Ele, porém, levantava-se e olhava-me. Levantava-se com a dificuldade dos enfermos graves: acomodando as patas da frente, o resto do corpo, sempre com os olhos em mim, como à espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu não o queria vexar nem oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe que o examinasse, que receitasse, encaminhá-lo para um tratamento... Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha frente, inábil, como envergonhado de se achar tão sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de súplica.

        Até o fim da vida guardarei seu olhar no meu coração. Até o fim da vida sentirei esta humana infelicidade de nem sempre poder socorrer, neste complexo mundo dos homens.

        Então, o triste cãozinho reuniu todas as suas forças, atravessou o patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se fosse um visitante habitual, e começou a descer as escadas e as suas rampas, com as plantas em flor de cada lado, as borboletas incertas, salpicos de luz no granito, até o limiar da entrada. Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo, desapareceu.

        Ele ia descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem firmeza e sem destino. Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura deste mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance, talvez tivesse fome e sede: e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil, sem qualquer expressão concreta. Deixei-o partir, assim, humilhado, e tão digno, no entanto; como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era o seu.

        Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa e a escada que descemos, e a dignidade final da solidão.

 Inéditos – crônicas. Rio de Janeiro, Bloch, 1967. p. 19-20.

          Fonte: Português – Linguagem & Participação, 8ª Série – MESQUITA, Roberto Melo / Martos, Cloder Rivas – 2ª edição – 1999 – Ed. Saraiva, p. 208-210.

Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.petz.com.br%2Fblog%2Ffilhotes%2Fdicas-boa-adaptacao-filhote%2F&psig=AOvVaw1wf1w-BK_8MwH_GeB7uNQr&ust=1608335178709000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNCc782Z1u0CFQAAAAAdAAAAABAJ

Entendendo a crônica:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Salpicos: manchas, pingos.

·        Inábil: sem habilidade.

·        Dorido: que sente dor, dolorido.

·        Súplica: pedido.

·        Lustro: brilho.

·        Complexo: complicado, intrincado.

·        Vexar: incomodar, afligir.

·        Limiar: entrada, início.

·        Oprimir: causar opressão, humilhação.

·        Andrajoso: vestido de trapos, esfarrapado.

02 – Onde se dá o encontro da narradora com o cãozinho?

      Em um patamar, provavelmente diante da porta de alguma casa.

03 – Por que o cãozinho se levanta ao ver a narradora?

      Acostumado a ser enxotado, ele se levanta já esperando isso.

04 – Em que frase a narradora dá dimensão humana ao sofrimento do cão?

      “... o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito idosas”.

05 – O texto permite inferir algumas características pessoais da narradora. Quais?

      Sensibilidade, compreensão do outro, piedade.

06 – Segundo a narradora, existe uma expectativa do cãozinho. Qual seria?

      Ele fica à espera de uma palavra ou de um gesto, olha-a de modo suplicante.

07 – Qual o verdadeiro sentido de: “Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar”?

      Auxiliar os outros é muito difícil, e é preciso continuar a nossa vida, sempre cheia de compromissos.

08 – De que a narradora se ressente?

      De não poder ajudar todos aqueles que precisam de ajuda. Na verdade, ela procura apenas justificar-se.

09 – Existe um contraste entre a descrição do cãozinho e a descrição do jardim por onde ele passa para retirar-se. Que contraste é esse?

      Os degraus do jardim, ladeados por flores, contrastam com o cãozinho que está velho, sujo, etc.

10 – Por que a narradora afirma: “... amei-o, apenas, com uma caridade inútil...”?

      Porque ela se compadece do cãozinho, mas nada faz de concreto para ajudá-lo.

11 – Sobre o cãozinho, a impressão mais forte que fica no leitor é a de sua:

a)   Humildade.

b)   Fraqueza.

c)   Dignidade.

d)   Determinação.

12 – O texto “Um cão, apenas” nos mostra:

a)   A impossibilidade de uma pessoa ajudar um cãozinho.

b)   Que a velhice e a solidão são inevitáveis para todos os seres.

c)   Que é possível ser digno mesmo nos momentos mais deprimentes.

d)   Que nem sempre se deve fazer o que se tem vontade.