terça-feira, 8 de janeiro de 2019

CRÔNICA: RIMAS - LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: RIMAS
                      

  O homem chegou em casa assustado:
        -- Está por toda a cidade, é uma sina: todo mundo falando em rima.
        -- O quê? - perguntou a mulher.
        -- Uma compulsão, um vírus, algo no ar. Não diz mais nada sem rimar.
        -- Que absurdo - disse a mulher - um vírus da rima, ninguém é obrigado a falar o que não quer, seja homem ou mulher. Nenhuma lei... meu Deus, peguei!
        -- É na rua, é em casa, é em todo lugar. Não se fala sem rimar.
        -- Mas é uma barbaridade, ser poeta contra a vontade!

        -- Concordo, é um absurdo. Mas o que fazer?   Estou confuso.
        -- Só há um jeito de se rebelar, resistir e não rimar...
        -- Como?
        -- Não falar.
        -- Mas como nos comunicaremos, se não com as vozes que temos?
        -- Escrevendo, por que não? Ninguém manda em nossa mão.
        -- Sei não, será que muda? E se eu escrever como o Neruda?
        -- Não é hora pra chilique. Pegue um papel, e olha a Bic.
       O homem experimenta escrever uma frase no papel. Depois recua, horrorizado.
        -- Estou quase tendo um ataque. Escrevi como o Bilac!
        -- Será uma coisa generalizada, que atingiu até à empregada?
        -- Vamos ver se e' ou não e'. Chame a Nazaré'.
        A mulher chama a empregada.
        -- Nazaré, vem aqui um minutinho?
        -- Já vou indo um instantinho. Estou fazendo ensopadinho.
        O homem e a mulher se abraçam. É uma epidemia. A rima tomou conta do país. Mas por quê? O homem tenta racionalizar.
        -- Tem que haver uma razão, um motivo, uma explicação.
        -- Será que, de repente, tem a ver com o presidente?
        -- Você quer dizer o Maravilhoso...
        -- Quê?
        --... Fernando Henrique Cardoso?
        -- O Cardoso, Maravilhoso? Me admira você, que votou no PT!
        -- Você não está entendendo? Eu não sei o que estou dizendo!
        -- Calma, não se apoquente. Fale outra vez, pausadamente.
        O homem faz um esforço, mas não consegue.
        -- Maravilhoso. Fernando. Henrique. Cardoso.
        -- Tente outra rima, com urgência critica. Quem sabe 'horroroso', por uma questão de coerência política?
        -- Não consigo, não vê? Tente você!
        -- O...
        -- Sim?
        -- Esplendoroso...
        -- Não!
        -- Fernando Henrique Cardoso.
        -- Já vi, é uma perfídia. Tudo culpa da mídia. Nós não estamos enfeitiçados, estamos é condicionados.
        -- Há uma rima oficial no país. Ninguém mais controla o que diz.
        -- Quem variar é exótico, até impatriótico.
        -- Paciência, relaxemos. Isso passa, esperemos...
        -- Eu até diria assim: rima melhor quem rima no fim.
        Aparece a Nazaré na porta da cozinha.
        -- A senhora chamou? Aqui estou.
        -- Nada, nada, Nazaré. O ensopadinho, de que é?
        -- De vitela cortadinha. Batata, vagem e cebolinha.
        -- Parece uma beleza, pode botar na mesa.
                                                              Luís Fernando Veríssimo
Entendendo a crônica:
01 – O texto que você leu foi escrito em prosa, isto é, dividido em parágrafos. Nele há personagens que dialogam. Quem são eles?
     Os principais e únicos personagens que aparece no texto é o homem, sua esposa e a empregada da casa chamada Nazaré.

02 – O homem chega em casa muito aflito. Qual o motivo de tanta preocupação?
      Porque segundo o mesmo está tendo uma epidemia no país onde todas as pessoas só conseguem falar rimando e que isso está se espalhando como um tipo de vírus pelo ar.

03 – Olavo Bilac foi um grande poeta brasileiro que se preocupava em fazer poemas belos, com muita rima e perfeição. Por que o homem se compara a Bilac?
      Porque o mesmo além de falar rimando também escreve dessa maneira, por isso a comparação.

04 – Segundo o texto, apenas aquela família estava sofrendo a epidemia de rima? Copie um trecho que comprove sua resposta.
      Não, não é só aquela família que estava sofrendo com isso. Podemos perceber nessa citação: " – Está por toda a cidade, é uma sina: todo mundo falando em rima." que é algo geral.

05 – Por que a palavra Bic foi escrita com letra maiúscula?
     Porque Bic é um substantivo próprio já que está se referindo ao nome da marca/empresa da caneta esferográfica.

06 – Localize, no texto, 10 pares de palavras que rimam.
      Cortadinha – Cebolinha; Exótico – Impatriótico; Relaxemos – Esperemos; Apoquente – Pausadamente; Enfeitiçados – Condicionados; Minutinho – Instantinho; Generalizada – Empregada; De repente – Presidente.


                       
       

Um comentário:

  1. c. O que revela o texto ser um tanto antigo? Explique
    a. Justifique / explique o título dado à crônica

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