Poema: Tu
não verás, Marília, cem cativos
Tomás Antônio Gonzaga
Tu não verás Marília, cem cativos
tirarem o cascalho e a rica terra,
ou dos cercos dos rios caudalosos,
ou da mina serra.
Não verás separar ao hábil negro
do pesado esmeril a grossa areia;
e já brilharem os granetes de ouro
no fundo da bateia.
Não verás derrubar os virgens matos,
queimar as capoeiras inda novas,
servir de adubo à terra a fértil cinza,
lançar os grãos nas covas.
Não verás enrolar negros pacotes
das secas folhas do cheiroso fumo:
nem espremer entre as dentadas rodas
da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa mesa
altos volumes de enredados feitos;
ver-me-ás folhear os grandes livros,
e decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus Consultos,
tu me farás gostosa companhia,
lendo os fastos da sábia, mestra História,
e os cantos da Poesia.
Lerás em alta voz, a imagem bela;
eu vendo que lhe dás o justo apreço,
gostoso tornarei a ler de novo
o cansado processo.
Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
que tens quem leve à mais remota idade
a tua formosura.
tirarem o cascalho e a rica terra,
ou dos cercos dos rios caudalosos,
ou da mina serra.
Não verás separar ao hábil negro
do pesado esmeril a grossa areia;
e já brilharem os granetes de ouro
no fundo da bateia.
Não verás derrubar os virgens matos,
queimar as capoeiras inda novas,
servir de adubo à terra a fértil cinza,
lançar os grãos nas covas.
Não verás enrolar negros pacotes
das secas folhas do cheiroso fumo:
nem espremer entre as dentadas rodas
da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa mesa
altos volumes de enredados feitos;
ver-me-ás folhear os grandes livros,
e decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus Consultos,
tu me farás gostosa companhia,
lendo os fastos da sábia, mestra História,
e os cantos da Poesia.
Lerás em alta voz, a imagem bela;
eu vendo que lhe dás o justo apreço,
gostoso tornarei a ler de novo
o cansado processo.
Se encontrares louvada uma beleza,
Marília, não lhe invejes a ventura,
que tens quem leve à mais remota idade
a tua formosura.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
Entendendo o poema:
01 – Por meio do poema já se
nota algum “abrasileiramento”, na poesia de Gonzaga? Justifique.
Sim. Nos versos
iniciais Gonzaga descreve, com realismo moderado, as atividades econômicas da
Colônia (mineração – v. 5/8, agricultura fumageira e canavieira – v. 13/16). Há
uma palavra brasileira: “bateia” (v. 8).
02 – O autor contrapõe
atividades profissionais distintas. Quais? É possível determinar pelo texto a
profissão de Dirceu?
É contraposto o
trabalho braçal (v. 1 a 16) ao trabalho intelectual (v. 17 a 32), e o autor,
orgulhando-se da condição de trabalhador intelectual, deprecia os que tiram o
cascalho nos garimpos, derrubam os matos etc. As expressões do texto: “Feitos” (= processos), “decidir os pleitos” (= decidir os
processos), “consultos” (= obras
jurídicas) e “processo” permitem
identificar a profissão de magistrado (juiz).
03 – Há tentativa de
autovalorização? Justifique.
Sim. Além da
expressão envaidecida da condição “superior” de intelectual, há, na última
estrofe, a consciência da importância do poeta, capaz de levar a beleza de
Marília à mais remota idade. E Gonzaga, sem dúvida, conseguiu-o.
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