sábado, 12 de janeiro de 2019

TEXTO: BADEN, QUE JÁ FOI RAIMUNDO - MARCOS REY - COM QUESTÕES GABARITADAS

Texto: BADEN, que já foi Raimundo
      
                                  Marcos Rey

        Baden pegou uma vela e levou-a para o depósito. Precisava escrever uma carta; há meses que não mandava uma linha para Salvador. Nos dois anos de Rio, só três cartas. Sua mãe nem ficou sabendo que ele estivera no instituto e que dissera lá que era sozinho no mundo. Mentira: tinha mãe, tia e até uma avó já sem memória de nada. Viver com três mulheres, sempre lhe cobrando trabalho e seriedade, fora demais. Um dia pegou o violão, colou um recado no espelho e fugiu para o Rio, querendo ser artista. Chegando, participou de programas de calouros, ficou semanas nas salas de espera de emissoras de televisão, pediu oportunidades em gravadoras de discos, mas não conseguiu nem promessa. Sem um cruzeiro no bolso, não querendo e não podendo voltar par a Bahia, começou a roubar. Preso algumas vezes, como era menor de idade foi para o reformatório. Lá conheceu rapazes muito mais espertos, que lhe ensinaram certo jogo de cintura para sobreviver. Um deles, o Nariz, tornou-se o companheiro das fugas e dos roubos. Achava que o amigo ia longe, um dia seria alguém, e grudou-se nele.
        Com uma esferográfica, escreveu:
        Mãe.
        Sou eu, o Raimundo. Como está a senhora, a tia e a avó? Eu vou bem, de saúde e do resto. Andei penando, sem dinheiro, mas aprendi a me virar. Moro um dia aqui, outro ali, comendo sempre. Ganho os meus com o violão, em festinhas, nas churrascarias e nos bailes de subúrbio. Me chamam de Baden, um cara muito conhecido que toca violão, grava e viaja. Acho que um dia chego lá. Ainda não deu pra mandar grana pra vocês, mas está perto. Me prometeram uma montanha de dinheiro por uns espetáculos. Reze, mãe, fale com quem manda aí nos terreiros, porque se a coisa colar, se tudo sair certinho, irei visitar vocês. Acho que até vai dar pra comprar uma casa. A senhora sempre quis uma, não? É só isso, por hoje, e me puxe que já estou indo.
                                                                           Seu filho Raimundo.

         REY, Marcos. Bem-vindos ao Rio. São Paulo, Ática, 1986. p. 62-3.
Entendendo o texto:
01 – Quais as palavras e expressões usadas por Baden que pertencem à gíria?
      “Grana”; “se a coisa colar”; “me puxe que já estou indo”.

02 – Substitua as palavras e expressões da gíria que você encontrou no texto por termos da linguagem culta.
      Dinheiro; se der certo; até logo.

03 – O que significa “certo jogo de cintura para sobreviver”?
      Significa uma resposta rápida ao desafio de sobrevivência que a vida impõe.

04 – Observe como, na primeira parte do texto, em que o autor fala da vida de Baden, a linguagem é mais cuidada, não havendo necessidade de recorrer às gírias ou expressões coloquiais, porque não é o personagem que fala. As regras de pontuação, de concordância e de colocação pronominal são respeitadas. Dizemos, então, que, nessa parte, o autor utilizou uma linguagem formal.
Procure, na primeira parte do texto, exemplos de como o autor utiliza formalmente:

a)   A pontuação: “Um deles, o Nariz, tornou-se o companheiro das fugas e dos roubos”.

b)   Os tempos verbais: “Sua mãe nem ficou sabendo que ele estivera no instituto e que dissera...” (O mais-que-perfeito simples não é usado na linguagem coloquial).

c)   A colocação dos pronomes: “... levou-a para o depósito”.

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