Texto: Por mares nunca dantes
navegados
Orçado
em R$ 2 mi, "Os Lusíadas", baseado no clássico de Camões, inaugura
Estação das Artes em São Paulo
VALMIR SANTOS
Depois de enfrentar rajadas que a
impediram de ancorar na praia dos 500 anos do Descobrimento, em 2000 (para ter
uma ideia, houve três substituições de diretores), a epopeia musical "Os
Lusíadas" finalmente aporta amanhã em São Paulo, para convidados, e a partir
de sábado, para o público.
A superprodução de R$ 2 milhões é um
projeto da empresária Ruth Escobar, que trocou a realização de mais uma edição
do Festival Internacional de Artes Cênicas (FIAC) pela encenação da epopeia
musical.
O espetáculo inaugura a Estação das
Artes, espaço conjugado à Estação Júlio Prestes, na região central de São
Paulo, que servirá como palco de outras realizações da Secretaria Estadual de
Cultura, em parceria com a Companhia Paulista de Trens Urbanos.
Quem assina a adaptação do clássico do
poeta português Luís Vaz de Camões (1524-1580) é o dramaturgo José Rubens
Siqueira, que promete não perder o "prazer lúdico" do texto original.
Publicado pela primeira vez em 1572, em
Lisboa, ""Os Lusíadas" é o poema dos descobrimentos, do
desvendamento dos mares e das terras, da afirmação do poder do homem sobre os
elementos, mas também da afirmação dos valores cavalheirescos
caracteristicamente medievais", afirma a pesquisadora Cleonice
Berardinelli em "Estudos Camonianos" (editora Nova Fronteira).
São dez cantos poéticos que narram, à
altura do grego Homero ("Ilíada" e "Odisseia") e do latino
Virgílio ("Eneida"), a viagem do navegador Vasco da Gama, que em 1498
descobriu um novo caminho para as Índias. Navegadores, soldados, colonizadores,
reis, enfim, são muitos os personagens que surgem na narração do próprio Vasco
da Gama. Ao mesmo tempo que faz uma retrospectiva histórica de Portugal,
inclusive sobre os primórdios míticos do país, ele lança profecias.
Camões estruturou seu épico a partir da
metade do trajeto, quando a tripulação chega à cidade africana de Melinde. Ao
final, a caravela alcança a Ilha dos Prazeres, o paraíso prometido por Vênus a
seus protegidos que retornam à pátria. Nessa instância, deuses e homens se
amam.
Encenador de óperas como "Il
Guarany", de Carlos Gomes, o diretor Iacov Hillel define o espetáculo como
um épico musical, que apoia-se com frequência no universo erudito, sobretudo no
canto lírico. "Há cenas de canto e representação, mas fujo do realismo
psicológico em favor da projeção simbólica do poema de Camões", diz
Hillel, 51. São 53 atores, cantores ou dançarinos, mais 30 profissionais atrás
da coxia.
Na Estação das Artes, uma concepção do
arquiteto Ruy Ohtake, o público senta em cadeiras dispostas lateralmente no
corredor de 50 m de comprimento e 16 m de largura. "Os espectadores ficam
de frente um para o outro, como testemunhas da história", diz Hillel. Um
dos destaques da cenografia, de Renato Theobaldo, é a caravela de 4,40 m de
altura, feita com tramas de ferro.
SANTOS,
Valmir. In: Folha de São Paulo, p. 1, 22 mar. 2001, Folha Ilustrada.
Entendendo o texto:
01 – Qual é a finalidade de
um texto como esse? Para responder a essa questão, considere a referência do
texto.
Orientar o leitor do jornal quanto a um
espetáculo que está em cartaz.
02 – A que se refere o
título do texto?
O título é a
transcrição de um verso da epopeia de Camões, Os Lusíadas.
03 – O que o título sugere
sobre o espetáculo em questão?
Sugere que o
espetáculo é grandioso, único, constitui uma “travessia” inédita.
04 – É possível saber do que
trata a obra de Camões através do texto? Explique.
Sim. Porque os
parágrafos 5,6,7 e 8 referem-se ao conteúdo de Os Lusíadas.
05 – Uma epopeia é uma
narrativa em versos. O que se narra em Os Lusíadas, de Camões?
A viagem de Vasco da Gama, que, em 1498,
descobriu um novo caminho marítimo para a Índia.
06 – Releia o primeiro
parágrafo e observe o campo semântico utilizado para caracterizar o espetáculo.
a)
O que foi levado em conta na escolha das
palavras e expressões desse primeiro parágrafo?
O assunto da epopeia: a viagem, por mar, feita por Vasco da Gama.
b)
Como poderiam ser substituídas as expressões
metafóricas abaixo, sem prejuízo para o sentido global do trecho?
·
“Enfrentar rajadas que a impediam de ancorar
na praia”.
Enfrentar dificuldades que a impediam de apresentar o espetáculo.
·
“Desfruta de vento em popa e aporta amanhã”.
Desfruta de circunstância favoráveis e se apresenta amanhã.
07 – Identifique no texto
duas marcas linguísticas que sugerem ao espetáculo um caráter grandioso.
Copie-as abaixo.
“A superprodução de 2 milhões” / “São 53
atores, cantores ou dançarinos, mais de 30 profissionais atrás da coxia” / “Um
dos destaques da cenografia é a caravela de 4,40 m de altura”.
08 – O texto constitui,
enfim, uma resenha ou uma notícia?
O texto em questão possui mais
características da notícia: limita-se a informar sobre o espetáculo, sem fazer
apreciações críticas, pois, afinal, a estreia estava para acontecer quando o
texto foi publicado.
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