terça-feira, 22 de janeiro de 2019

CONTO: ESPERANÇA(FRAGMENTO)-GISELDA LAPORTA NICOLELIS - COM GABARITO

Conto: Esperança (fragmento)
                            Giselda Laporta Nicolelis

        -- Criança? – Marcelo deu um salto e saiu correndo pra atender o telefone.
        -- É o Marcelo?
        -- Sou sim. Como é seu nome? Você quer o Buscapé?
        -- Espere um pouco. Eu me chamo Wanderlei mas quem vai falar com você é o Claudinei, o meu irmão.
        -- Oi, Marcelo.
        -- Oi, Claudinei. Quantos anos você tem?
        -- Treze.
        -- Ah, que bom! Você quer o Buscapé?
        -- Quero – disse o menino. – Eu preciso muito de um cachorro. Quando a minha mãe leu a notícia pra mim no jornal eu pensei: “Agora eu resolvo tudo”.
        -- Resolve o quê? Por que você não leu sozinho?
        -- Sabe, eu sou cego. Preciso de um cão guia. Mas sou pobre, não posso comprar um cachorro de raça. Será que o Buscapé consegue fazer isso?
        -- É muito difícil? – quis saber o Marcelo.
        -- Não é fácil, não. O cão precisa parar antes de atravessar a rua, antes de um buraco, qualquer coisa perigosa. Andar sempre na minha frente para me avisar. Com ele eu podia sair sozinho, ser livre.
        -- E se eu treinasse o Buscapé pra você? – ofereceu o Marcelo, num impulso. – Sabe, ele só obedece a mim, quando obedece. Nós tínhamos que nos encontrar pra ele ir acostumando com você.
        -- Puxa, ia ser bom! – animou-se o Claudinei. – Por que você não vem até a minha casa? Pra você é mais fácil.
        -- Dê seu endereço e telefone – pediu o menino.
        -- Telefone eu não tenho. Estou falando do orelhão da esquina. Tome nota do endereço.
        -- Clau, Claudinei, amanhã sem falta eu vou aí na sua casa.
        [...]
        Tocaram a campainha da casa e veio atender um menino mais ou menos do tamanho do Marcelo, moreno de cabelos crespos.
        -- Por favor, o Claudinei está?
        -- Sou eu.
        -- Eu sou o Marcelo.
        -- Oi, Marcelo – o menino sorriu –, você trouxe o Buscapé?
        -- Trouxe sim e a dona Fátima, minha professora, veio junto.
        -- Como vai, Claudinei? – perguntou a professora.
        -- Muito bem, e a senhora? Vamos entrar?
        Na sala, o Buscapé se enfiou embaixo da cadeira do Marcelo.
        -- Se você não tivesse contado eu nem ia perceber que você não enxergava – disse o Marcelo.
        -- Ah, por aqui eu ando muito bem. Mas meu sonho é sair por aí, em liberdade, atravessar avenidas, levar uma vida normal, entende? Mamãe é medrosa, com o Buscapé aposto que ela deixa eu ir.
        -- Você vai à escola? – quis saber dona Fátima.
        -- Vou, claro, só que os meus livros são todos em braile. Eu estou na quinta série e vou ser advogado.
        -- Braile? – estranhou o Marcelo. – Que é isso?
        -- É uma escrita especial para ser lida com os dedos – explicou a professora. – Você encontra facilmente os livros, Claudinei?
        -- Que nada, às vezes, é difícil, não existem. O meu irmão então copia os livros em braile pra mim. Ele está na mesma classe.
        -- Na mesma classe?
        -- Ele é mais novo dois anos, eu estou um pouco atrasado. Nós conseguimos uma licença especial para ficar na mesma classe para ele me ajudar nas provas. Eu faço as provas em braile e ele passa para a linguagem comum.
        -- Puxa, ele tem de ser honesto pra burro, hein? – falou o Marcelo. – É difícil aprender braile?
        -- Um pouco. Mas foi o único jeito de eu poder frequentar a escola.
        -- Muito bem pensado – aplaudiu a professora. – Tenho certeza que você e o Buscapé serão grandes amigos. Afinal vocês precisam um do outro.
        -- Tomara. Vamos treinar ele, Marcelo?
        -- Mãos à obra. A senhora espera, dona Fátima?
        -- Mamãe saiu mas já volta – avisou o Claudinei.
        -- Não se preocupem comigo. Vão treinar e boa sorte.
        [...]
        Mas tarde na hora da saída, foi aquele rebuliço.
        -- Segura o Buscapé – gritou o Marcelo para o Claudinei.
        -- Tô segurando – falou o menino, usando todas as suas forças para conter o cachorro que esperneava.
        -- Depressa, Marcelo – pediu o Claudinei, abrindo só um pouco o portão para a professora e o menino passarem.
        Nessa altura, o Buscapé deu um arranco e livrou-se do Vanderlei. Mas fecharam o portão bem no focinho dele. Mesmo assim ficou latindo e uivando, como um condenado, até o carro sumir de vista.

   NICOLELIS, Giselda Laporta. Um dono para Buscapé.
São Paulo, Moderna, 1983. p. 21-7.
Entendendo o conto:
01 – Pelo texto dá para perceber algumas funções de um cão guia. Quais são elas?
      Ele precisa parar antes de atravessar a rua, antes de um buraco, ficar atento a coisas perigosas.

02 – O que Marcelo propôs ao Claudinei?
      Treinar o cão Buscapé para guia-lo.

03 – Que tipo de cão normalmente é utilizado nessas tarefas?
      Cão de raça.

04 – Como é Claudinei fisicamente?
      Moreno de cabelos crespos.

05 – Qual é o sonho de Claudinei? O que ele quer ser?
      Seu sonho é andar livremente. Quando crescer quer ser advogado.

06 – Por que foi difícil encontrar uma escola que aceitasse o Claudinei?
      Porque geralmente as escolas convencionais não possuem uma infraestrutura adequada ao ensino de deficientes físicos.

07 – Como reagiu o Buscapé na saída de Marcelo? Por que ele reagiu assim?
      Ficou latindo e uivando, porque não queria se separar de Marcelo.



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