Conto: A
pobre menina rica
Marcos Rey
A dona da pensão, que se chamava
Noêmia, conduziu Pimpa a um pequeno quarto. Móveis velhos, mas tudo muito
limpo. O pagamento incluía café da manhã e duas refeições. Outra coisa: a porta
da rua fechava às onze. Não aceitava em casa pensionistas que chegassem tarde.
Esse procedimento garantia o bom nome do pensionato.
-- A senhora tem muitas pensionistas?
-- Nunca há vagas durante o ano letivo,
mas no momento só temos a Marina. Pobrezinha, passa as férias conosco. Seus
pais são divorciados.
Quando dona Noêmia saiu do quarto,
Pimpa fechou a porta e atirou-se à cama sem tirar a roupa. A aventura no
shopping center doía-lhe nos músculos. Pela primeira vez se esqueceu de Lila,
que continuou na sacola.
Ao meio-dia e meia bateram à porta. Era
uma empregada do pensionato; a comida estava na mesa.
Marina, a pensionista que não saíra nas
férias, esperava a recém-chegada na sala de refeições. Para Pimpa foi vê-la e
gostar. Era uma gorduchinha muito simpática, que devia ser o que dona Berenice,
a mãe de Noel, fora na mocidade.
-- Você é a Marina, não? Meu nome é
Maria Paula, mas me chame de Pimpa. É como todos me chamam.
-- Dona Noêmia me falou de você. Disse
que sua mãe morreu no ônibus quando vinham para cá. Que coisa triste! Vamos,
sente-se. Eu a sirvo. A cozinheira da pensão é excelente. Mas você tem um tio,
não?
-- Chamo de “tio” Leonel, mas é um
parente de meu pai. Preciso encontra-lo.
-- Tem ideia de onde ele está?
-- Não, Marina, e o pior de tudo é que
não lembro seu sobrenome. Nem tenho retrato dele. Eu o vi apenas uma vez,
quando garotinha.
Marina, demonstrando com o garfo por
que era tão gorducha, interessou-se pelo problema da colega.
-- Por que não põe anúncio no jornal?
-- Anúncio no jornal?
-- Ele sabe seu nome, não?
-- Deve saber.
-- É o que basta.
-- Mas como faria esse anúncio?
-- A gente podia estudar uma redação –
disse Marina. – Qualquer coisa assim: “SOBRINHA PROCURA TIO” ou “TIO LEONEL,
POR FAVOR, ME TELEFONE”. O título é que é o importante.
-- Não havia pensado nisso.
-- Dona Noêmia disse também que você
perdeu a mala.
-- É verdade, estou só com a roupa do
corpo.
-- Pena que sou muito mais gorda que
você. Vestidos tenho de sobra. Mas aqui perto há uma loja em liquidação. Posso
leva-la, se quiser.
-- Obrigada, Marina.
Depois do almoço a gorducha convidou
Pimpa para conhecer seu quarto. Era o maior do pensionato, e havia de tudo ali:
aparelho de som, com rádio e gravador, televisão em cores, além duma estante
lotada de livros.
-- Não lhe falta nada! – exclamou
Pimpa.
-- Meus pais me dão tudo que eu peço,
assim ficam com a consciência tranquila.
-- Eles não moram em São Paulo?
Marina tirou duma gaveta um maço de
cartões-postais.
-- Minha mãe foi para um lado, meu pai
para outro. Veja de onde vêm os cartões: Paris, Roma, Londres, Viena, Atenas...
-- Eles visitam você?
-- Raramente – respondeu Marina. – E
nunca me levam para casa. Vivo aqui, no pensionato. Isto nas férias é o fim.
Por isso fiquei contente ao saber que tinha chegado outra pensionista.
A amizade entre Pimpa e Marina
consolidou-se logo no primeiro dia. À tarde foram visitar a loja em liquidação,
onde compraram roupas. Depois, fizeram um longo passeio pelo bairro, que a
gorducha interrompeu ao ver uma lanchonete. Apesar do pratão do almoço, ainda
tinha fome.
REY,
Marcos. Sozinha no mundo. São Paulo, Ática, 1984. p. 60-2.
Entendendo o conto:
01 – Por que Marina vivia
passando as férias no pensionato?
Porque seus pais
eram divorciados e viviam viajando.
02 – Como era Marina?
Era uma gorduchinha muito simpática.
03 – Que impressão Marina
causou em Pimpa?
Pimpa gostou de
Marina logo que viu.
04 – Quem era Leonel?
Leonel era um parente do pai de Pimpa, a
quem ela chamava de “tio”.
05 – Que ideia Marina deu a
Pimpa para encontrar seu tio Leonel?
Pôr um anúncio no
jornal.
06 – Por que Marina ficou
contente com a chegada de Pimpa ao pensionato?
Porque ela ficava
sozinha durante as férias.
07 – Por que os pais de
Marina lhe davam tudo o que ela queria?
Para ficarem com
a consciência tranquila, segundo Marina.
08 – Baseando-se no assunto
do texto, explique o título “A pobre menina rica”.
Apesar de possuir
bens materiais, Marina não tinha o afeto dos pais, vivia solitária.
09 – Você concorda com
Marina que num anúncio o título é o mais importante? Por quê?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão:
Porque o título é que chama a atenção dos leitores.
Que e a "pobre menina rica"
ResponderExcluirMarina
ExcluirEsse texto é literário ou um texto não literário?
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