sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

CONTO: A POBRE MENINA RICA - MARCOS REY - COM QUESTÕES GABARITADAS

Conto: A pobre menina rica
                                    Marcos Rey

        A dona da pensão, que se chamava Noêmia, conduziu Pimpa a um pequeno quarto. Móveis velhos, mas tudo muito limpo. O pagamento incluía café da manhã e duas refeições. Outra coisa: a porta da rua fechava às onze. Não aceitava em casa pensionistas que chegassem tarde. Esse procedimento garantia o bom nome do pensionato.
        -- A senhora tem muitas pensionistas?
        -- Nunca há vagas durante o ano letivo, mas no momento só temos a Marina. Pobrezinha, passa as férias conosco. Seus pais são divorciados.
        Quando dona Noêmia saiu do quarto, Pimpa fechou a porta e atirou-se à cama sem tirar a roupa. A aventura no shopping center doía-lhe nos músculos. Pela primeira vez se esqueceu de Lila, que continuou na sacola.
        Ao meio-dia e meia bateram à porta. Era uma empregada do pensionato; a comida estava na mesa.
        Marina, a pensionista que não saíra nas férias, esperava a recém-chegada na sala de refeições. Para Pimpa foi vê-la e gostar. Era uma gorduchinha muito simpática, que devia ser o que dona Berenice, a mãe de Noel, fora na mocidade.
        -- Você é a Marina, não? Meu nome é Maria Paula, mas me chame de Pimpa. É como todos me chamam.
        -- Dona Noêmia me falou de você. Disse que sua mãe morreu no ônibus quando vinham para cá. Que coisa triste! Vamos, sente-se. Eu a sirvo. A cozinheira da pensão é excelente. Mas você tem um tio, não?
        -- Chamo de “tio” Leonel, mas é um parente de meu pai. Preciso encontra-lo.
        -- Tem ideia de onde ele está?
        -- Não, Marina, e o pior de tudo é que não lembro seu sobrenome. Nem tenho retrato dele. Eu o vi apenas uma vez, quando garotinha.
        Marina, demonstrando com o garfo por que era tão gorducha, interessou-se pelo problema da colega.
        -- Por que não põe anúncio no jornal?
        -- Anúncio no jornal?
        -- Ele sabe seu nome, não?
        -- Deve saber.
        -- É o que basta.
        -- Mas como faria esse anúncio?
        -- A gente podia estudar uma redação – disse Marina. – Qualquer coisa assim: “SOBRINHA PROCURA TIO” ou “TIO LEONEL, POR FAVOR, ME TELEFONE”. O título é que é o importante.
        -- Não havia pensado nisso.
        -- Dona Noêmia disse também que você perdeu a mala.
        -- É verdade, estou só com a roupa do corpo.
        -- Pena que sou muito mais gorda que você. Vestidos tenho de sobra. Mas aqui perto há uma loja em liquidação. Posso leva-la, se quiser.
        -- Obrigada, Marina.
        Depois do almoço a gorducha convidou Pimpa para conhecer seu quarto. Era o maior do pensionato, e havia de tudo ali: aparelho de som, com rádio e gravador, televisão em cores, além duma estante lotada de livros.
        -- Não lhe falta nada! – exclamou Pimpa.
        -- Meus pais me dão tudo que eu peço, assim ficam com a consciência tranquila.
        -- Eles não moram em São Paulo?
        Marina tirou duma gaveta um maço de cartões-postais.
        -- Minha mãe foi para um lado, meu pai para outro. Veja de onde vêm os cartões: Paris, Roma, Londres, Viena, Atenas...
        -- Eles visitam você?
        -- Raramente – respondeu Marina. – E nunca me levam para casa. Vivo aqui, no pensionato. Isto nas férias é o fim. Por isso fiquei contente ao saber que tinha chegado outra pensionista.
        A amizade entre Pimpa e Marina consolidou-se logo no primeiro dia. À tarde foram visitar a loja em liquidação, onde compraram roupas. Depois, fizeram um longo passeio pelo bairro, que a gorducha interrompeu ao ver uma lanchonete. Apesar do pratão do almoço, ainda tinha fome.

                     REY, Marcos. Sozinha no mundo. São Paulo, Ática, 1984. p. 60-2.
Entendendo o conto:
01 – Por que Marina vivia passando as férias no pensionato?
      Porque seus pais eram divorciados e viviam viajando.

02 – Como era Marina?
      Era uma gorduchinha muito simpática.

03 – Que impressão Marina causou em Pimpa?
      Pimpa gostou de Marina logo que viu.

04 – Quem era Leonel?
      Leonel era um parente do pai de Pimpa, a quem ela chamava de “tio”.

05 – Que ideia Marina deu a Pimpa para encontrar seu tio Leonel?
      Pôr um anúncio no jornal.

06 – Por que Marina ficou contente com a chegada de Pimpa ao pensionato?
      Porque ela ficava sozinha durante as férias.

07 – Por que os pais de Marina lhe davam tudo o que ela queria?
      Para ficarem com a consciência tranquila, segundo Marina.

08 – Baseando-se no assunto do texto, explique o título “A pobre menina rica”.
      Apesar de possuir bens materiais, Marina não tinha o afeto dos pais, vivia solitária.

09 – Você concorda com Marina que num anúncio o título é o mais importante? Por quê?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Porque o título é que chama a atenção dos leitores.



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