Crônica: A História Mais ou Menos
Luís Fernando Veríssimo
Negócio seguinte. Três reis magrinhos
ouviram um plá de que tinha nascido um Guri. Viram o cometa no Oriente e tal e
se flagraram que o Guri tinha pintado por lá. Os profetas, que não eram de dar
cascata, já tinham dicado o troço: em Belém da Judeia vai nascer o Salvador, e
tá falado. Os três magrinhos se mandaram. Mas deram o maior fora. Em vez de
irem direto para Belém, como mandava o catálogo, resolveram dar uma incerta no
velho Herodes, em Jerusalém. Pra quê! Chegaram lá de boca aberta e entregaram
toda a trama. Perguntaram: Onde está o rei que acaba de nascer? Vimos a sua
estrela no Oriente e viemos adorá-lo. Quer dizer, pegou mal. Muito mal. O velho
Herodes, que era um oligão, ficou grilado. Que rei era aquele? Ele é que era o
dono da praça. Mas comeu em boca e disse: Joia. Onde é que esse guri vai se
apresentar? Em que canal? Quem é o empresário? Tem baixo elétrico? Quero saber
tudo. Os magrinhos disseram que iam flagrar o Guri e na volta dicavam tudo para
o coroa.
Bom. Seguiram o cometa, chegaram numa
estrebaria e lá estava o Guri com a Mãe e o Pai. Sensacional. Parecia até
presépio vivo. Os magrinhos encheram o Guri de presente. Era Natal, pô. Mirra,
incenso, ouro, autorama. Tava na hora de darem no pé quando chega um telex. É
do céu. Um anjo avisando aos magrinhos que não, repito, não voltem à presença
de Herodes porque o coroa tá a fim de apagar o Guri. E, depois que os magrinhos
se mandaram, chega outro telex, desta vez para o velho do Guri. Te manda e leva
a família. O Herodes vem atrás de vocês e não é pra dar presente. O velho pegou
a mulher e o Guri e voou para o Egito. Na estrebaria as vacas ficaram se
entreolhando meio acanhadas, mas depois esqueceram tudo. Aliás, um dos
carneiros, mais tarde, quis vender a história toda para um jornal de Jerusalém,
mas não acertaram o tutu.
Bom, o Herodes, é claro, ficou chutando
as paredes quando soube da jogada dos magrinhos. Mandou que todo bebinski
nascido nas bocas fosse cancelado. Se tiver fralda, apaga. Foi chato. Muito
chato. Morreu neném que não foi fácil. Mas o Guri tava no Egito, vivão. Pouco
depois Deus achou que o Herodes tava se passando e cassou a licença dele. E
mandou passar outro telex para o velho do Guri: Pode voltar. Segue carta. Mas o
velho foi vivo e em vez de pintar na Judeia – onde o filho de Herodes, outro mauca,
reinava foi para a Galileia, para uma cidadezinha chamada Nazaré. Ali o Guri
cresceu legal. Acabou Rei mesmo, dando o maior Ibope. Aliás, os profetas já
tinham dito que o Guri seria chamado Nazareno. Naquela época, profeta não dava
uma fora! Se tivesse a Loteria Esportiva, já viu, né?
VERÍSSIMO, Luís
Fernando. A História, mais ou menos. In:
O nariz e outras
crônicas. São Paulo: Ática, 1994, p. 30-1. (Para gostar de ler).
Entendendo a crônica:
01 – Qual é o texto que
serviu de base para essa crônica de Luís Fernando Veríssimo?
O texto bíblico
que narra o nascimento de Jesus.
02 – A crônica possui um
narrador, cujas características podem ser facilmente deduzidas a partir de uma
análise das escolhas linguísticas feitas. Quais dos perfis abaixo se aproxima
do narrador representado no texto?
a)
Criança, com 8 ou 9 anos.
b)
Adolescente, com 13 a 17 anos.
c)
Adulto, executivo, pai.
03 – É possível classificar
o texto “A História, mais ou menos” como sendo uma paródia ou uma paráfrase?
Por quê?
É difícil
classificar o texto como sendo uma paródia ou uma paráfrase, porque, apesar de
não haver inversões em relação aos sentidos do enredo original, dá-se voz a um
narrador totalmente diferente do narrador bíblico, o que implica em um outro
texto, produzido com outra finalidade, para outros interlocutores, em outra
situação comunicativa.
04 – Apesar de usar muitas
gírias, o texto também possui algumas palavras inventadas, atitude essa própria
da criatividade jovem. A partir de semelhança com palavras que você conhece e
de análise do contexto linguístico, deduza o que significam as seguintes
palavras abaixo:
·
“Oligão” = é uma
referência à Oligarquia, forma de governo em que poucas pessoas governam.
·
“Mauca” = deduzindo-se
pelo contexto, pode significar “pessoa desprezível” ou “cruel”.
05 – Que palavras no texto
representam objetos que “atualizam” a história?
Telex, autorama,
baixo elétrico, fralda.
06- Observe as expressões a seguir: "ouviram um plá", "maior fora" e "dar uma incerta". Considerando o contexto apresentado nesse trecho da crônica, o que cada uma delas significa?
"ouviram um plá" = ficaram sabendo de algum acontecimento;
"maior fora" = cometer um erro;
"dar uma incerta" = verificar, sem avisar previamente.
07 - Qual é o tipo de linguagem utilizada no texto?
O texto apresenta linguagem informal.
08 - De acordo com a situação de uso, qual é o efeito de sentido produzido no texto com o uso dessas expressões?
O efeito é de tornar a história descontraída e bem-humorada, pois é uma forma não convencional de narrar uma história conhecida mundialmente.
06- Observe as expressões a seguir: "ouviram um plá", "maior fora" e "dar uma incerta". Considerando o contexto apresentado nesse trecho da crônica, o que cada uma delas significa?
"ouviram um plá" = ficaram sabendo de algum acontecimento;
"maior fora" = cometer um erro;
"dar uma incerta" = verificar, sem avisar previamente.
07 - Qual é o tipo de linguagem utilizada no texto?
O texto apresenta linguagem informal.
08 - De acordo com a situação de uso, qual é o efeito de sentido produzido no texto com o uso dessas expressões?
O efeito é de tornar a história descontraída e bem-humorada, pois é uma forma não convencional de narrar uma história conhecida mundialmente.
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