domingo, 6 de janeiro de 2019

CRÔNICA: CHEGAM OS SUPER-HERÓIS - WALCYR RODRIGUES CARRASCO - COM GABARITO

CRÔNICA: CHEGAM OS SUPER-HERÓIS     

Walcyr Rodrigues Carrasco

    O Super-Homem chegou à cidade!
  Não só ele, não! Um monte de super-heróis!
  Foi assim. A Heloísa estava lendo o jornal da mãe dela quando viu, na primeira página, o Super-homem. Correu a ler. E ficou sabendo que ele e mais uma porção de heróis americanos tinham feito um filme, chamado Legião de Super-Heróis contra os invasores do espaço. O filme ia começar a passar naqueles dias e todos os super-heróis estavam num grande hotel da cidade falando com repórteres e desfilando pelas ruas.
        – Que maravilha! – disse o Tomé quando soube.
        E só porque a Heloísa tinha visto no jornal, ele abriu o coração. Contou como tinha vontade de conhecer os super-heróis de perto, e ser um deles também. De voar, de ver mundos, de segurar trem com uma mão só! Ele pensou que a Heloísa ia rir. Mas não riu não.
        – Eu sempre achei que você era mesmo vidrado em super-herói! – disse ela.
        Então o Tomé viu que não tinha outro jeito.
        – É agora ou nunca! Heloísa, eu vou até o hotel em que eles estão.
        – Eu vou com você.
        Tomé não gostou muito da ideia.
        – Mas será que eles vão deixar os dois se transformarem em super-heróis?
        – Ué, por que não?
        – Mas fica feio... você é menina.
        – E daí? Tem mulher que é super-herói também, não tem?
        Tomé decidiu:
        – Tá, você vai. Mas, se só puder ser um, eu estou na frente. Tive a ideia primeiro!
        – Certo!
        Mas Tomé pensou uma coisa:
        – Heloísa! Nenhum Homem-Fogo, nenhum super-herói vai querer ajudar a gente assim sem mais nem menos, vai? Mas e se eu mostrar que sou um grande cientista? Vou levar minha barata!
        – E eu, minha bola! Vou mostrar meu chute!
        Heloísa correu a pegar a bola, Tomé vestiu a fantasia de Super-Tomé, que andava esquecida no fundo do armário, pegou a panela cheia de baratas. Se o antídoto ainda não tivesse funcionando, ele ia mostrar um baratão! Juntaram todo o dinheiro que tinham e foram até o centro da cidade. Pergunta daqui, pergunta dali encontrou o hotel. Que era, por sinal, enorme, com escadarias e um homem todo fardado, mais fardado que polícia, parado na porta.
        – Onde é que vocês vão?
        – Falar com o Super-Homem.
        – Não pode, ele tá muito ocupado! – riu o homem.
        Heloísa e Tomé se olharam. Nesse instante ia saindo um casal cheio de malas. O homem foi obrigado a abrir a porta. E os dois entraram correndo. O homem foi atrás, gritando:
        – Voltem aqui! Moleques!
        Tomé e Heloísa corriam no meio das pessoas com malas, e mais uma porção de homens e mulheres uniformizados. No meio da confusão, eles viram que estavam na frente do elevador vazio. Entraram e apertaram o último botão.
        Bem a tempo! O porteiro já estava chegando. Mas as portas se fecharam e ele começou a subir, subir tanto que até dava vertigem. Ainda mais porque o elevador era todo transparente, e dava pra ver até o chão!
        –- Tomé, como a gente vai fazer pra ir embora? O homem vai chamar a polícia.
        –- Depois que a gente virar super-herói, ninguém mais vai nos prender!
        Subiram, subiram.
        As portas do elevador se abriram para um salão maravilhoso, todo cheio de tapetes. E ali, com copos na mão, comendo empadinhas, sanduíches, croquetes, coxinhas, mil sanduichinhos que garçons serviam em bandejas, estavam ELES! Sim, os super-heróis, vestidos como nos filmes, conversando com jornalistas de pé que escreviam tudo o que eles diziam. 
        [...]
        Um fotógrafo que estavam perto começou a bater fotos. Alguns jornalistas se aproximaram, perguntaram o nome completo do Tomé e da Heloísa, em que colégio eles estudavam, quantos anos tinham. Aí, todos os super-heróis se reuniram em torno dos dois, falando sem parar numa língua esquisita, que devia ser inglês, e abriram a maior bocona no maior sorriso pra tirar fotos. Tomé estava emocionado. Nunca pensou que fosse ser tão bem recebido. Mas sabia que tinha alguma coisa a explicar:
        – Heloísa, eles não estão entendendo nada!
        – Eles pensam que a gente é fã!
        Foi ela quem teve a ideia primeiro.
        – Mostre pra eles, Tomé!
        – Mostrar o quê?
        – A tua barata poderosa! Assim eles vão ver que estão falando com um cientista de verdade!
        – É mesmo!
        Tomé estendeu a panela.
        O Homem-Aranha riu, entusiasmado:
        – What is this, popcorn?
        Estendeu a mão.
        Tomé abriu a panela! As baratas saíram voando em todas as direções ao mesmo tempo. E com elas foi um corre-corre, uma gritaria danada. Os super-heróis corriam como um bando de gansos assustados!
        – Help me, help me! – gritavam todos.
        O Super-Homem, que no cinema todo mundo pensa que é o máximo, subiu numa mesa, gritando e dando tapinhas numa baratona que estava pousada na capa. O Homem-Aranha correu pra trás da cortina. As super-heroínas saltaram em direção ao elevador. Os jornalistas foram para baixo das mesas. Os garçons derrubaram as bandejas.
        Ninguém voou, ninguém lançou raios, nada!
        Tomé e Heloísa não conseguiram entender. Que decepção!
        Se eles tinham poderes, por que não usavam? Ou só faziam truque de cinema?
        Que bobagem! E como eram medrosos! Tanto barulho por umas baratinhas de nada!
        Tomé jogou a panela num canto, Heloísa segurou a bola. Foram para o elevador.
        Nem conseguiram falar nada. Quando desceram, o porteiro gritou:
        – Ah! Achei! Fora daqui!
        Nem ligaram. Saíram de cabeça baixa.
        Que decepção!
        Como podia ser?
           CARRASCO, Walcyr Rodrigues. Cadê o super-herói?
6. ed. São Paulo, Global, 1988. (Título nosso).
Entendendo o texto:
01 – Quem viu primeiro a notícia de que os super-heróis chegariam à cidade?
      Foi Heloisa.

02 – O que o narrador quer dizer ao afirmar que Tomé “abriu o coração”?
      O narrador quer dizer que Tomé revelou um desejo muito íntimo, o qual ele não contava a ninguém por receio de parecer ridículo.

03 – Qual era o grande desejo de Tomé?
      Tornar-se um super-herói.

04 – Tomé tenta fazer Heloísa desistir de acompanha-lo ao hotel onde estão hospedados os super-heróis. Mas acaba consentindo com isso mediante uma condição. Qual a condição?
      A condição era que, se apenas um deles pudesse se transformar em super-herói, seria ele que se transformaria.

05 – Por que o menino se vestiu de Super-Tomé?
      Porque ele pensava que desse modo chamaria a atenção dos verdadeiros super-heróis.

06 – Como as crianças conseguiram fugir do porteiro e entrar no hotel?
      Aproveitaram a saída de um casal carregado de malas para entrar correndo.

07 – Por que Tomé e Heloísa ficaram incomodados com a ideia de parecerem fãs dos super-heróis?
      Porque eles não queriam simplesmente tirar fotos ou obter o autógrafo dos super-heróis. Eles queriam ser um deles também.

08 – Qual foi a grande decepção de Tomé e Heloísa?
      Foi ver que os super-heróis eram medrosos e não tinham superpoderes.

09 – O narrador conta a história como se fosse um menino falando, com expressões da linguagem informal do dia-a-dia. Cite dois exemplos dessa linguagem no texto, nas falas do narrador.
      “... um homem todo fardado, mais fardado que polícia...”; “... o elevador era todo transparente, e dava pra ver até o chão!”; etc.

10 – As expressões propositalmente exageradas do texto são um recurso que o autor usa para dar ao leitor a ideia do entusiasmo e ansiedade dos garotos por causa da chegada dos super-heróis.
Em vez de dizer, por exemplo, “vários super-heróis”, o autor escreve “Um monte de super-heróis”.
Encontre no texto as expressões que substituem os trechos destacados abaixo, reescrevendo as frases:

a)   As portas do elevador se abriram para um salão maravilhoso, com muitos tapetes.
As portas do elevador se abriram para um salão maravilhoso, todo cheio de tapetes.

b)   E ali, com copos na mão, comendo empadinhas, sanduíches, croquetes, coxinhas, vários sanduichinhos... estavam ELES!
E ali, com copos na mão, comendo empadinhas, sanduiches, croquetes, coxinhas, mil sanduichinhos... estavam ELES!

c)   Aí, todos os super-heróis se reuniram em torno dos dois, falando muito...
Aí, todos os super-heróis se reuniram em torno dos dois, falando sem parar.

d)   ... e abriram a boca num sorriso largo para tirar fotos.
... e abriram a maior bocona no maior sorriso pra tirar fotos

Um comentário:

  1. Obrigada por me ajudar sempre quando precisar novamente irei entrae em seu site

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