CRÔNICA: CHEGAM OS SUPER-HERÓIS
O Super-Homem chegou à cidade!
Não só ele, não! Um monte de
super-heróis!
Foi assim. A Heloísa estava lendo o
jornal da mãe dela quando viu, na primeira página, o Super-homem. Correu a ler.
E ficou sabendo que ele e mais uma porção de heróis americanos tinham feito um
filme, chamado Legião de Super-Heróis contra os invasores do espaço. O filme ia
começar a passar naqueles dias e todos os super-heróis estavam num grande hotel
da cidade falando com repórteres e desfilando pelas ruas.
– Que maravilha! – disse o Tomé quando
soube.
E só porque a Heloísa tinha visto no
jornal, ele abriu o coração. Contou como tinha vontade de conhecer os super-heróis
de perto, e ser um deles também. De voar, de ver mundos, de segurar trem com
uma mão só! Ele pensou que a Heloísa ia rir. Mas não riu não.
– Eu sempre achei que você era mesmo
vidrado em super-herói! – disse ela.
Então o Tomé viu que não tinha outro
jeito.
– É agora ou nunca! Heloísa, eu vou até
o hotel em que eles estão.
– Eu vou com você.
Tomé
não gostou muito da ideia.
– Mas será que eles vão deixar os dois
se transformarem em super-heróis?
–
Ué, por que não?
– Mas fica feio... você é menina.
– E daí? Tem mulher que é super-herói
também, não tem?
Tomé
decidiu:
– Tá, você vai. Mas, se só puder ser
um, eu estou na frente. Tive a ideia primeiro!
– Certo!
Mas Tomé pensou uma coisa:
– Heloísa! Nenhum Homem-Fogo, nenhum
super-herói vai querer ajudar a gente assim sem mais nem menos, vai? Mas e se
eu mostrar que sou um grande cientista? Vou levar minha barata!
– E eu, minha bola! Vou mostrar meu
chute!
Heloísa correu a pegar a bola, Tomé
vestiu a fantasia de Super-Tomé, que andava esquecida no fundo do armário,
pegou a panela cheia de baratas. Se o antídoto ainda não tivesse funcionando,
ele ia mostrar um baratão! Juntaram todo o dinheiro que tinham e foram até o
centro da cidade. Pergunta daqui, pergunta dali encontrou o hotel. Que era, por
sinal, enorme, com escadarias e um homem todo fardado, mais fardado que
polícia, parado na porta.
– Onde é que vocês vão?
– Falar com o Super-Homem.
– Não pode, ele tá muito ocupado! – riu
o homem.
Heloísa e Tomé se olharam. Nesse
instante ia saindo um casal cheio de malas. O homem foi obrigado a abrir a
porta. E os dois entraram correndo. O homem foi atrás, gritando:
– Voltem aqui! Moleques!
Tomé
e Heloísa corriam no meio das pessoas com malas, e mais uma porção de homens e mulheres
uniformizados. No meio da confusão, eles viram que estavam na frente do
elevador vazio. Entraram e apertaram o último botão.
Bem a tempo! O porteiro já estava
chegando. Mas as portas se fecharam e ele começou a subir, subir tanto que até
dava vertigem. Ainda mais porque o elevador era todo transparente, e dava pra
ver até o chão!
–- Tomé, como a gente vai fazer pra ir
embora? O homem vai chamar a polícia.
–- Depois que a gente virar
super-herói, ninguém mais vai nos prender!
Subiram, subiram.
As portas do elevador se abriram para
um salão maravilhoso, todo cheio de tapetes. E ali, com copos na mão, comendo
empadinhas, sanduíches, croquetes, coxinhas, mil sanduichinhos que garçons
serviam em bandejas, estavam ELES! Sim, os super-heróis, vestidos como nos
filmes, conversando com jornalistas de pé que escreviam tudo o que eles diziam.
[...]
Um fotógrafo que estavam perto começou
a bater fotos. Alguns jornalistas se aproximaram, perguntaram o nome completo
do Tomé e da Heloísa, em que colégio eles estudavam, quantos anos tinham. Aí,
todos os super-heróis se reuniram em torno dos dois, falando sem parar numa
língua esquisita, que devia ser inglês, e abriram a maior bocona no maior
sorriso pra tirar fotos. Tomé estava emocionado. Nunca pensou que fosse ser tão
bem recebido. Mas sabia que tinha alguma coisa a explicar:
–
Heloísa, eles não estão entendendo nada!
– Eles pensam que a gente é fã!
Foi ela quem teve a ideia primeiro.
– Mostre pra eles, Tomé!
– Mostrar o quê?
–
A tua barata poderosa! Assim eles vão ver que estão falando com um cientista de
verdade!
– É mesmo!
Tomé estendeu a panela.
O
Homem-Aranha riu, entusiasmado:
– What is this, popcorn?
Estendeu
a mão.
Tomé abriu a panela! As baratas saíram
voando em todas as direções ao mesmo tempo. E com elas foi um corre-corre, uma
gritaria danada. Os super-heróis corriam como um bando de gansos assustados!
– Help me, help me! – gritavam todos.
O Super-Homem, que no cinema todo mundo
pensa que é o máximo, subiu numa mesa, gritando e dando tapinhas numa baratona
que estava pousada na capa. O Homem-Aranha correu pra trás da cortina. As
super-heroínas saltaram em direção ao elevador. Os jornalistas foram para baixo
das mesas. Os garçons derrubaram as bandejas.
Ninguém voou, ninguém lançou raios,
nada!
Tomé e Heloísa não conseguiram
entender. Que decepção!
Se eles tinham poderes, por que não
usavam? Ou só faziam truque de cinema?
Que bobagem! E como eram medrosos!
Tanto barulho por umas baratinhas de nada!
Tomé jogou a panela num canto, Heloísa
segurou a bola. Foram para o elevador.
Nem conseguiram falar nada. Quando
desceram, o porteiro gritou:
– Ah! Achei! Fora daqui!
Nem ligaram. Saíram de cabeça baixa.
Que
decepção!
Como podia ser?
CARRASCO, Walcyr Rodrigues.
Cadê o super-herói?
6. ed. São Paulo,
Global, 1988. (Título nosso).
Entendendo o texto:
01 – Quem viu primeiro a
notícia de que os super-heróis chegariam à cidade?
Foi Heloisa.
02 – O que o narrador quer
dizer ao afirmar que Tomé “abriu o coração”?
O narrador quer
dizer que Tomé revelou um desejo muito íntimo, o qual ele não contava a ninguém
por receio de parecer ridículo.
03 – Qual era o grande
desejo de Tomé?
Tornar-se um
super-herói.
04 – Tomé tenta fazer
Heloísa desistir de acompanha-lo ao hotel onde estão hospedados os
super-heróis. Mas acaba consentindo com isso mediante uma condição. Qual a
condição?
A condição era
que, se apenas um deles pudesse se transformar em super-herói, seria ele que se
transformaria.
05 – Por que o menino se
vestiu de Super-Tomé?
Porque ele
pensava que desse modo chamaria a atenção dos verdadeiros super-heróis.
06 – Como as crianças
conseguiram fugir do porteiro e entrar no hotel?
Aproveitaram a saída de um casal
carregado de malas para entrar correndo.
07 – Por que Tomé e Heloísa
ficaram incomodados com a ideia de parecerem fãs dos super-heróis?
Porque eles não
queriam simplesmente tirar fotos ou obter o autógrafo dos super-heróis. Eles
queriam ser um deles também.
08 – Qual foi a grande
decepção de Tomé e Heloísa?
Foi ver que os
super-heróis eram medrosos e não tinham superpoderes.
09 – O narrador conta a
história como se fosse um menino falando, com expressões da linguagem informal
do dia-a-dia. Cite dois exemplos dessa linguagem no texto, nas falas do
narrador.
“... um homem todo fardado, mais fardado
que polícia...”; “... o elevador era todo transparente, e dava pra ver até o
chão!”; etc.
10 – As expressões
propositalmente exageradas do texto são um recurso que o autor usa para dar ao
leitor a ideia do entusiasmo e ansiedade dos garotos por causa da chegada dos
super-heróis.
Em vez de dizer, por
exemplo, “vários
super-heróis”, o autor escreve “Um
monte de super-heróis”.
Encontre no texto as
expressões que substituem os trechos destacados abaixo, reescrevendo as frases:
a)
As portas do elevador se abriram para um
salão maravilhoso, com muitos
tapetes.
As portas do elevador se abriram para um salão maravilhoso, todo
cheio de tapetes.
b)
E ali, com copos na mão, comendo empadinhas,
sanduíches, croquetes, coxinhas, vários
sanduichinhos... estavam ELES!
E ali, com copos na mão, comendo empadinhas, sanduiches, croquetes,
coxinhas, mil sanduichinhos... estavam ELES!
c)
Aí, todos os super-heróis se reuniram em
torno dos dois, falando muito...
Aí, todos os super-heróis se reuniram em torno dos dois, falando sem
parar.
d)
... e abriram a boca num sorriso largo para tirar fotos.
... e abriram a maior bocona no maior sorriso
pra tirar fotos
Obrigada por me ajudar sempre quando precisar novamente irei entrae em seu site
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