segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

CONTO: O PATINHO FEIO - (FRAGMENTO) - HANS CHRISTIAN ANDERSEN - COM GABARITO

 Conto: O Patinho Feio – Fragmento

            Hans Christian Andersen

        A mamãe pata tinha escolhido um lugar ideal para fazer seu ninho: um cantinho bem protegido, no meio da folhagem, perto do rio que contornava o velho castelo.

        Mais adiante estendiam-se o bosque e um lindo jardim florido.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_8-1XZEu8FskSaHUApwdJzJXZJMXVI1vUKW9QChZWgqfLSHPThRHsIuNJWwgDWh9Y2lFuie3T4Iqg558yIz18vhoppDF-7zTq1BSCm9w4H8V5LPgAXhnnGhNuQQRNpmmfHJHpDtU-Bg9_akpd582EpTiwVmu7gUReDRllY73dc7RHTgi2mHZu6NbRbX4/s1600/PATINHO.jpg


        Naquele lugar sossegado, a pata agora aquecia pacientemente seus ovos. Por fim, após a longa espera, os ovos se abriram um após o outro, e das cascas rompidas surgiram, engraçadinhos e miúdos, os patinhos amarelos que, imediatamente, saltaram do ninho.

        Porém um dos ovos ainda não se abrira; era um ovo grande, e a pata pensou que não o chocara o suficiente.

        Impaciente, deu umas bicadas no ovão e ele começou a se romper.

        No entanto, em vez de um patinho amarelinho saiu uma ave cinzenta e desajeitada. Nem parecia um patinho.

        Para ter certeza de que o recém-nascido era um patinho, e não outra ave, a mãe-pata foi com ele até o rio e o obrigou a mergulhar junto com os outros. Quando viu que ele nadava com naturalidade e satisfação, suspirou aliviada. Era só um patinho muito, muito feio.

        Tranquilizada, levou sua numerosa família para conhecer os outros animais que viviam nos jardins do castelo.

        Todos parabenizaram a pata: a sua ninhada era realmente bonita. Exceto um. O horroroso e desajeitado das penas cinzentas!

        — É grande e sem graça! — falou o peru.

        — Tem um ar abobalhado — comentaram as galinhas.

        O porquinho nada disse, mas grunhiu com ar de desaprovação.

        Nos dias que se seguiram, as coisas pioraram. Todos os bichos, inclusive os patinhos, perseguiam a criaturinha feia.

        A pata, que no princípio defendia aquela sua estranha cria, agora também sentia vergonha e não queria tê-lo em sua companhia.

        O pobre patinho crescia só, malcuidado e desprezado. Sofria. As galinhas o bicavam a todo instante, os perus o perseguiam com ar ameaçador e até a empregada, que diariamente levava comida aos bichos, só pensava em enxotá-lo.

        Um dia, desesperado, o patinho feio fugiu. Queria ficar longe de todos que o perseguiam.

        Caminhou, caminhou e chegou perto de um grande brejo, onde viviam alguns marrecos. Foi recebido com indiferença: ninguém ligou para ele. Mas não foi maltratado nem ridicularizado; para ele, que até agora só sofrera, isso já era o suficiente.

        [...] Novamente caminhou, caminhou, procurando um lugar onde não sofresse. Ao entardecer chegou a uma cabana. A porta estava entreaberta, e ele conseguiu entrar sem ser notado. Lá dentro, cansado e tremendo de frio, se encolheu num cantinho e logo dormiu.

        Na cabana morava uma velha, em companhia de um gato, especialista em caçar ratos, e de uma galinha, que todos os dias botava o seu ovinho.

        Na manhã seguinte, quando a dona da cabana viu o patinho dormindo no canto, ficou toda contente.

        — Talvez seja uma patinha. Se for, cedo ou tarde botará ovos, e eu poderei preparar cremes, pudins e tortas, pois terei mais ovos. Estou com muita sorte!

        Mas o tempo passava, e nenhum ovo aparecia. A velha começou a perder a paciência. A galinha e o gato, que desde o começo não viam com bons olhos recém-chegado, foram ficando agressivos e briguentos.

        Mais uma vez, o coitadinho preferiu deixar a segurança da cabana e se aventurar pelo mundo.

        Caminhou, caminhou e achou um lugar tranquilo perto de uma lagoa, onde parou. [...]

        Sozinho, triste e esfomeado, o patinho pensava, preocupado, no inverno que se aproximava.

        Num final de tarde, viu surgir entre os arbustos um bando de grandes e lindíssimas aves. Tinham as plumas alvas, as asas grandes e um longo pescoço, delicado e sinuoso: eram cisnes, emigrando na direção de regiões quentes. Lançando estranhos sons, bateram as asas e levantaram voo, bem alto.

        O patinho ficou encantado, olhando a revoada, até que ela desaparecesse no horizonte. Sentiu uma grande tristeza, como se tivesse perdido amigos muito queridos.

        Com o coração apertado, lançou-se na lagoa e nadou durante longo tempo.

        Não conseguia tirar o pensamento daquelas maravilhosas criaturas, graciosas e elegantes.

        Foi se sentindo mais feio, mais sozinho e mais infeliz do que nunca.

        Naquele ano, o inverno chegou cedo e foi muito rigoroso. [...]

        — Agora morrerei — pensou. — Assim, terá fim todo meu sofrimento.

        Fechou os olhos, e o último pensamento que teve antes de cair num sono parecido com a morte foi para as grandes aves brancas.

        Na manhã seguinte, bem cedo, um camponês que passava por aqueles lados viu o pobre patinho, já meio morto de frio.

        Quebrou o gelo com um pedaço de pau, libertou o pobrezinho e levou-o para sua casa.

        Lá o patinho foi alimentado e aquecido, recuperando um pouco de suas forças. Logo que deu sinais de vida, os filhos do camponês se animaram:

        — Vamos fazê-lo voar!

        — Vamos escondê-lo em algum lugar!

        E seguravam o patinho, apertavam-no, esfregavam-no. Os meninos não tinham más intenções; mas o patinho, acostumado a ser maltratado, atormentado e ofendido, se assustou e tentou fugir. Fuga atrapalhada!

        Caiu de cabeça num balde cheio de leite e, esperneando para sair, derrubou tudo. A mulher do camponês começou a gritar, e o pobre patinho se assustou ainda mais.

        Acabou se enfiando no balde da manteiga, engordurando-se até os olhos e, finalmente se enfiou num saco de farinha, levantando uma poeira sem fim. A cozinha parecia um campo de batalha. Fora de si, a mulher do camponês pegara a vassoura e procurava golpear o patinho. As crianças corriam atrás do coitadinho, divertindo-se muito.

        Meio cego pela farinha, molhado de leite e engordurado de manteiga, esbarrando aqui e ali, o pobrezinho por sorte conseguiu afinal encontrar a porta e fugir, escapando da curiosidade das crianças e da fúria da mulher. Ora esvoaçando, ora se arrastando na neve, ele se afastou da casa do camponês e somente parou quando lhe faltaram as forças.

        Nos meses seguintes, o patinho viveu num lago, se abrigando do gelo onde encontrava relva seca.

        Finalmente, a primavera derrotou o inverno. Lá no alto, voavam muitas aves. Um dia, observando-as, o patinho sentiu um inexplicável e incontrolável desejo de voar.

        [...] Voou. Voou. Voou longamente, até que avistou um imenso jardim repleto de flores e de árvores; do meio das árvores saíram três aves brancas. O patinho reconheceu as lindas aves que já vira antes, e se sentiu invadir por uma emoção estranha, como se fosse um grande amor por elas.

        — Quero me aproximar dessas esplêndidas criaturas — murmurou. — Talvez me humilhem e me matem a bicadas, mas não importa. É melhor morrer perto delas do que continuar vivendo atormentado por todos.

        Com um leve toque das asas, abaixou-se até o pequeno lago e pousou tranquilamente na água.

        — Podem matar-me, se quiserem — disse, resignado, o infeliz.

        E abaixou a cabeça, aguardando a morte. Ao fazer isso, viu a própria imagem refletida na água, e seu coração entristecido deu um pulo. O que via não era a criatura desengonçada, cinzenta e sem graça de outrora. Enxergava as penas brancas, as grandes asas e um pescoço longo e sinuoso.

        Ele era um cisne! Um cisne, como as aves que tanto admirava.

        — Bem-vindo entre nós! — disseram-lhe os três cisnes, curvando os pescoços, em sinal de saudação.

        Aquele que num tempo distante tinha sido um patinho feio, humilhado, desprezado e atormentado se sentia agora tão feliz que se perguntava se não era um sonho!

        Mas, não! Não estava sonhando. Nadava em companhia de outros, com o coração cheio de felicidade.

        Mais tarde, chegaram ao jardim três meninos, para dar comida aos cisnes. O menorzinho disse, surpreso:

        — Tem um cisne novo! E é o mais belo de todos! E correu para chamar os pais.

        — É mesmo uma esplêndida criatura! — disseram os pais.

        E jogaram pedacinhos de biscoito e de bolo. Tímido diante de tantos elogios, o cisne escondeu a cabeça embaixo da asa.

        Talvez um outro, em seu lugar, tivesse ficado envaidecido. Mas não ele. Seu coração era muito bom, e ele sofrera muito, antes de alcançar a sonhada felicidade.

Disponível em: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/roteiropedagogico/publicacao/8105_0_patinho_feio.pdf. Acesso em: 28 fev. 2022.

Fonte: Língua Portuguesa. Linguagens – Séries finais, caderno 1. 8º ano – Larissa G. Paris & Maria C. Pina – 1ª ed. 2ª impressão – FGV – MAXI – São Paulo, 2023. p. 60-62.

Entendendo o conto:

01 – Por que o patinho era considerado feio pelos outros animais?

      O patinho era considerado feio porque tinha uma aparência diferente dos outros animais da granja. Ele era maior, cinzento e desajeitado, enquanto os outros patinhos eram amarelos e graciosos.

02 – Como os outros animais tratavam o patinho feio?

      Os outros animais, como galinhas, perus e até mesmo os outros patinhos, zombavam e maltratavam o patinho feio. Ele era constantemente humilhado e rejeitado por sua aparência diferente.

03 – Por que a pata, mãe do patinho feio, acabou se envergonhando dele?

      Inicialmente, a pata defendia seu filho, mesmo ele sendo diferente. No entanto, diante da rejeição dos outros animais e da própria insegurança, ela também passou a sentir vergonha do patinho feio.

04 – Quais as dificuldades enfrentadas pelo patinho feio após fugir da granja?

      Após fugir da granja, o patinho feio enfrentou diversas dificuldades, como a rejeição dos outros animais, a solidão, o frio e a fome. Ele peregrinou por diversos lugares em busca de um lugar onde pudesse ser aceito.

05 – Qual a importância da descoberta do patinho sobre sua verdadeira identidade?

      A descoberta de que era um cisne foi um momento transformador para o patinho feio. Ele finalmente encontrou seu lugar no mundo e compreendeu que sua diferença não era um motivo para ser rejeitado, mas sim uma característica que o tornava especial.

06 – Qual a mensagem principal do conto "O Patinho Feio"?

      A mensagem principal do conto é que as aparências enganam e que a beleza está nos olhos de quem vê. O patinho feio nos ensina a aceitar nossas diferenças, a não nos deixarmos abater pelas críticas e a acreditar em nós mesmos, mesmo quando os outros não o fazem.

07 – Como o conto "O Patinho Feio" pode ser interpretado como uma alegoria?

      O conto pode ser interpretado como uma alegoria sobre a importância de sermos nós mesmos e de não nos conformarmos com os padrões estabelecidos pela sociedade. O patinho feio representa aqueles que são diferentes e que sofrem por causa disso, mas que, no final, encontram seu lugar no mundo e são valorizados por sua singularidade.

08 – Qual o papel da natureza na história do patinho feio?

      A natureza desempenha um papel fundamental na história do patinho feio. É na natureza que ele encontra abrigo, alimento e, finalmente, sua verdadeira identidade. A natureza representa um espaço de liberdade e de possibilidades, onde o patinho pode ser quem ele realmente é.

09 – Como a história do patinho feio pode ser relacionada com a vida real?

      A história do patinho feio pode ser relacionada com a vida real, pois muitas pessoas se sentem diferentes ou excluídas por alguma razão. O conto nos mostra que é importante sermos resilientes, buscarmos nosso próprio caminho e não nos deixarmos abater pelas críticas dos outros.

10 – Qual a importância de histórias como "O Patinho Feio" para a educação infantil?

      Histórias como "O Patinho Feio" são importantes para a educação infantil, pois ajudam as crianças a desenvolverem a autoestima, a empatia e a tolerância às diferenças. Ao se identificarem com o patinho feio, as crianças aprendem que é normal ser diferente e que cada um tem suas próprias qualidades.

 

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