Conto: Orfeu e Eurídice – Fragmento
Paulo Sérgio de Vasconcellos
Fugindo de um homem que a perseguia, a
ninfa Eurídice pisou numa serpente venenosa oculta na relva. O réptil a picou
no calcanhar, e ela desceu ao reino dos mortos, deixando inconsolável seu
marido. Orfeu, poeta, músico e cantor, sempre empunhando a lira ou a cítara,
era um artista insuperável. Com seu canto, os animais ferozes se tornavam
pacíficos e o seguiam, as rochas se moviam, as árvores inclinavam as copas em
sua direção, os homens se acalmavam. Mas a dor pela perda da esposa foi tal que
ele, fugindo do convívio humano, na solidão, só conseguia pensar em Eurídice.
Sua música, agora triste, só cantava o amor por Eurídice. Por fim, resolveu
descer ao sombrio Hades para tentar trazê-la de volta.
Em meio às sombras e deuses das regiões
subterrâneas, Orfeu fez ecoar a música de sua lira. [...] Cantando o amor a
Eurídice e a perda da esposa, comoveu a todos os habitantes do mundo infernal.
Até mesmo de Hades, que tinha um coração de ferro, arrancou lágrimas.
Hades e Perséfone, os deuses infernais,
concederam, então, que Orfeu levasse Eurídice de volta à vida, com uma
condição: na ida em direção à luz do dia, ele não deveria, de maneira nenhuma,
olhar para trás antes de deixar o mundo das sombras.
Eis que Eurídice acompanha silenciosa
Orfeu, rumo à superfície da terra. Vão regressando daquelas regiões escuras,
povoadas pelas sombras dos mortos. Percorrem um caminho abrupto, em meio a
trevas e uma névoa espessa. E a luz já se aproximava, quando, tomado de intenso
amor e esquecido da condição que lhe impuseram, Orfeu resolveu olhar para a sua
Eurídice... Ouve-se um estrondo espantoso, e Eurídice diz ao esposo:
— Que loucura foi essa que perdeu a mim
e a ti, Orfeu? Já de novo os destinos cruéis me chamam e o sono começa a cerrar
meus olhos. É hora de dizer-te adeus. A noite imensa me circunda e ergo em vão
para ti as minhas mãos enfraquecidas.
Disse isso e desapareceu como fumaça
nos ares. Orfeu ficou desesperado, pois sabia que sua música não poderia dobrar
os deuses infernais: eles jamais se abrandavam com as súplicas humanas. Era
impossível lutar contra suas duras leis.
Por todo o resto de seus dias, sem
descanso, sem trégua à dor, Orfeu cantou o amor por Eurídice, que perdera para
sempre num descuido fatal.
[...]
VASCONCELLOS, Paulo
Sérgio de. Mitos gregos. São Paulo: Objetivo, 1998. p. 14-16. Disponível em: www.filosofia.seed.pr.gov.br/arquivos/File/classicos_da_filosofia/mitos_gregos.pdf.
Acesso em: 10 jun. 2021.
Fonte: Maxi: Séries
Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas
de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 08-09.
Entendendo o conto:
01
– Qual foi a causa da morte de Eurídice e qual a reação de Orfeu diante desse
acontecimento?
A morte de
Eurídice foi causada por uma picada de serpente. Diante disso, Orfeu ficou
inconsolável e decidiu descer ao mundo dos mortos para tentar trazê-la de
volta.
02
– Qual o poder atribuído à música de Orfeu?
A música de Orfeu
possuía um poder extraordinário, capaz de pacificar animais selvagens, mover
rochas e até mesmo comover os deuses do submundo.
03
– Qual a condição imposta por Hades para que Orfeu pudesse levar Eurídice de
volta ao mundo dos vivos?
Hades exigiu que
Orfeu não olhasse para trás enquanto estivessem deixando o mundo dos mortos.
04
– Por que Orfeu não conseguiu cumprir a condição imposta por Hades?
Impulsionado pelo
amor e pela ansiedade de ter Eurídice de volta, Orfeu não conseguiu resistir à
tentação de olhar para trás, quebrando assim o acordo feito com Hades.
05
– Qual o significado da frase de Eurídice: "Que loucura foi essa que
perdeu a mim e a ti, Orfeu?"
A frase expressa
a tristeza e a frustração de Eurídice ao se despedir de Orfeu pela segunda vez,
desta vez de forma definitiva. Ela culpa a impulsividade de Orfeu pela perda de
ambos.
06
– Qual a lição que podemos extrair da história de Orfeu e Eurídice?
A história nos
ensina sobre a força do amor, a importância de controlar nossos impulsos e as
consequências de não respeitar acordos. Além disso, nos mostra a fragilidade da
vida e a impossibilidade de vencer a morte.
07
– Como a música de Orfeu é descrita no texto e qual o seu papel na narrativa?
A música de Orfeu
é descrita como um poder mágico capaz de transformar a natureza e comover os
corações. Ela é o elemento central da narrativa, unindo Orfeu e Eurídice e sendo
a força motriz de sua jornada ao mundo dos mortos.
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