Crônica: Somos gente – Fragmento
Lya Luft
Decretaram que pessoas com mais de
sessenta anos merecem alguns benefícios.
Há mais tempo decretaram que negro era
gente. Há menos tempo que isso decretaram que mulher também era gente, pois
podia votar.
Mas voltando aos com mais de sessenta:
decretaram coisas que deveriam ser naturais numa sociedade razoável. Não as
vejo como benefícios, mas como condições mínimas de dignidade e respeito.
Benefício tem jeito de concessão, caridade. Coisas como não lhes cobrarem mais
pelo seguro saúde porque estão mais velhos, na idade em que possivelmente vão
de verdade começar a precisar de médico, remédio, hospital, não deveriam ser
impostas por decreto.
Decretaram também que depois dos
sessenta as pessoas podem andar de graça no ônibus e pagar meia entrada no
cinema. Perceberam, pois, que após os sessenta as pessoas ainda se locomovem e
se divertem. Pensei que achassem que nessa altura a gente ficasse
inexoravelmente meio inválido e... invalidado.
Que sociedade esquisita esta nossa, em
que é preciso decretar que em qualquer idade a gente é gente.
[...]
LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro:
Record, 2005. p. 137. (Fragmento).
Fonte: Português –
Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas
Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 396-397.
Entendendo a crônica:
01
– Qual a principal crítica presente no texto?
A principal
crítica presente no texto é a necessidade de leis e decretos para garantir
direitos básicos à população, como saúde, transporte e lazer. A autora
questiona por que é preciso legislar para garantir que pessoas idosas sejam
consideradas cidadãos com os mesmos direitos que os demais.
02
– Qual a visão da autora sobre os "benefícios" para idosos?
A autora não vê
os "benefícios" para idosos como algo positivo, mas sim como uma
necessidade básica. Ela argumenta que esses direitos não deveriam ser
considerados como favores, mas como direitos fundamentais que garantem a
dignidade e o respeito à pessoa idosa.
03
– Qual a ironia presente no texto?
A ironia está
presente na necessidade de leis para garantir que as pessoas sejam consideradas
"gente". A autora questiona como uma sociedade pode chegar ao ponto
de precisar legislar para garantir direitos básicos como saúde e transporte
para todos os cidadãos, independentemente da idade.
04
– Qual a importância da idade na construção da argumentação da autora?
A idade é
utilizada como um exemplo para ilustrar a desigualdade e a discriminação que
ainda existem na sociedade. Ao destacar os desafios enfrentados pelas pessoas
com mais de 60 anos, a autora chama a atenção para a necessidade de garantir
direitos iguais para todos, independentemente da idade, raça ou gênero.
05
– Qual a mensagem principal do texto?
A mensagem
principal do texto é a necessidade de uma sociedade mais justa e igualitária,
onde os direitos básicos sejam garantidos para todos os cidadãos. A autora
defende a ideia de que a dignidade humana é um direito inalienável e que não
deve ser dependente de leis ou decretos.
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