Notícia: Não pude estar comparecendo – Fragmento
PASQUALE CIPRO NETO – Colunista da Folha
[...]
O fato é que de repente surgiu no
Brasil a esquisita mania de usar o verbo “estar” seguido de outro verbo no
gerúndio. Essa dupla na verdade é um trio, porque antes vem outro verbo. Algo
como “o economista vai estar realizando uma série de palestras.” O que na
verdade já poderia ser dito com apenas um verbo (realizará), ou com dois (vai
realizar), acaba se transformando numa perífrase (rodeio de palavras)
enfadonha.
O grande problema é que isso parece
chique, tem uma cara de coisa da língua formal, culta, mas não passa de uma
grande chatice.
Uma amiga telefonou para a central de
atendimento a clientes de um cartão de crédito. Depois de intermináveis "a
gente vai estar tentando resolver o seu problema", "a senhora vai
estar recebendo um extrato", "uma funcionária vai estar
verificando", "a gente vai estar mandando uma cópia para a
senhora", a funcionária perguntou: "A senhora pode estar enviando uma
cópia do último pagamento?".
Irônica, mordaz, minha amiga respondeu:
"Estar enviando eu não posso, mas enviar eu posso". Inútil. Pelo que
disse em seguida, parece que a funcionária não entendeu a ironia.
Há alguns dias, um jogador do Santos
deu entrevista à rádio Jovem Pan. Trata-se de rapaz letrado, bem falante, de
classe média alta, que estudou em bons colégios. Feliz com sua atuação, o jovem
atleta ofereceu os gols à mãe. "Mande-lhe uma mensagem", propôs o
radialista. O jogador declarou seu amor à genitora e disse: "Desculpe,
mãe. Seu aniversário foi ontem, mas eu não pude estar comparecendo à
festa".
"Não pude estar comparecendo"
é de lascar. Que tal "Não pude comparecer"? Simples e indolor, não?
É isso. Cuidado com modismos
linguísticos. Esse cacoete já passou da fala e já frequenta a língua escrita,
com ares de coisa boa. Fuja disso!
Folha de São Paulo, São
Paulo, 19 fev. 1998. Fragmento.
Fonte: Português –
Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas
Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 451-452.
Entendendo a notícia:
01
– Qual é a principal crítica do autor ao uso do gerúndio na construção
"estar + gerúndio"?
O autor critica o
uso excessivo e inadequado da construção "estar + gerúndio",
considerando-a uma "perífrase enfadonha" que torna a linguagem mais
complexa e menos clara do que o necessário. Ele argumenta que essa construção,
muitas vezes, é utilizada de forma artificial para dar um ar de formalidade à
linguagem, mas que acaba soando artificial e inadequada.
02
– Quais são os exemplos utilizados pelo autor para ilustrar o uso inadequado do
gerúndio?
O autor apresenta
diversos exemplos de uso inadequado do gerúndio, como em diálogos com atendentes
de telemarketing e em entrevistas com jogadores de futebol. Nesses exemplos, a
construção "estar + gerúndio" é utilizada de forma repetitiva e
desnecessária, tornando a comunicação mais difícil e menos eficaz.
03
– Qual é a principal consequência do uso excessivo dessa construção?
O uso excessivo
da construção "estar + gerúndio" pode levar a uma linguagem rebuscada
e artificial, dificultando a compreensão da mensagem. Além disso, essa
construção pode transmitir uma impressão de falta de espontaneidade e
naturalidade na comunicação.
04
– Qual é a alternativa sugerida pelo autor para evitar o uso inadequado do
gerúndio?
O autor sugere o
uso de construções mais simples e diretas, como a substituição da construção
"estar + gerúndio" por um verbo no infinitivo ou no futuro do
presente. Por exemplo, em vez de dizer "vou estar realizando",
pode-se dizer "vou realizar" ou "realizarei".
05
– Qual é a mensagem principal do texto?
A mensagem
principal do texto é um alerta sobre o uso inadequado do gerúndio na língua
portuguesa. O autor defende a importância de uma linguagem clara, objetiva e
natural, evitando construções complexas e artificiais que dificultam a
comunicação. Ele convida os leitores a refletirem sobre a importância da
escolha das palavras e a evitarem modismos linguísticos que podem prejudicar a
qualidade da comunicação.
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