Poema: Não Sei o que Ha de Vago
João de Deus
Não sei o que há de vago,
Incoercível, puro,
No voo em que divago
Á tua busca, amor!
No voo em que procuro
O balsamo, o aroma,
Que, se uma forma toma,
É de impalpável flor!
Oh como te eu aspiro
Na ventania agreste!
Oh como te eu admiro
Nas solidões do mar!
Quando o azul celeste
Descansa n'essas águas
Bem como n'estas magoas
Descansa o teu olhar!
Que plácida harmonia
Então a pouco e pouco
Me eleva a fantasia
A novas regiões!
Dando-me ao uivo rouco
Do mar, n'essas cavernas,
O timbre das mais ternas
E pias orações!
Parece todo o mundo
Só um imenso templo!
O mar já não tem fundo
E não tem fundo o céu!
E, em tudo, o que contemplo,
O que diviso em tudo,
És tu!... esse olhar mudo!...
O mundo... és tu... e eu!...
DEUS, João de. In: MOISÉS, Massaud. Presença da literatura portuguesa:
Romantismo-Realismo. 4. ed. São Paulo: Difel, 1974, v3, p. 127.
Fonte: Português –
Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas
Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 48.
Entendendo o poema:
01
– O que o eu lírico busca em seu "voo" e "divagação"?
A busca do eu
lírico parece ser por algo intangível, um estado de perfeição ou plenitude
emocional ligado à figura do amor. A busca por um "balsamo" e um
"aroma" sugere uma necessidade de cura e consolo.
02
– Qual a importância da natureza (ventania, mar, céu) para a expressão dos
sentimentos do poeta?
A natureza serve
como um espelho para os sentimentos do poeta. Os elementos naturais (vento,
mar, céu) ampliam e intensificam as emoções, funcionando como metáforas para as
turbulências e a imensidão dos sentimentos amorosos.
03
– Como o amor transforma a percepção do eu lírico sobre o mundo?
O amor transforma
o mundo em um templo, um lugar sagrado e infinito. A divisão entre céu e mar
desaparece, e tudo se unifica em uma experiência mística e transcendental. O
amor se torna o centro de tudo, a razão de ser de toda a existência.
04
– Qual o significado da expressão "olhar mudo" e sua repetição no
poema?
O "olhar
mudo" pode ser interpretado como a expressão mais pura e intensa do amor.
É um olhar que não precisa de palavras, que comunica tudo através de um simples
contato visual. A repetição enfatiza a importância desse olhar como ponto focal
do poema.
05
– Qual a relação entre o título "Não Sei o que Há de Vago" e o
conteúdo do poema?
O título sugere
uma busca por algo indefinível, algo que escapa à compreensão racional. Ao
longo do poema, o eu lírico tenta descrever essa experiência, mas as palavras
parecem insuficientes. A vaguidão do título reflete a natureza intangível e
sublime do amor.
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