Poema: O arranco da morte
Junqueira Freire
Pesa-me a vida já. Força de bronze
Os desmaiados braços me pendura.
Ah! já não pode o espírito cansado
Sustentar a matéria.
Eu morro, eu morro. A matutina brisa
Já não me arranca um riso. A rósea tarde
Já não me doura as descoradas faces
Que gélidas se encovam.
O noturno crepúsculo caindo
Só não me lembra o escurecido bosque,
Onde me espera, a meditar prazeres,
A bela que eu amava.
A meia-noite já não traz-me em sonhos
As formas dela – desejosa e lânguida –
Ao pé do leito, recostada em cheio
Sobre meus braços ávidos.
A cada instante o coração vencido
Diminui um palpite; o sangue, o sangue,
Que nas artérias férvido corria,
Arroxa-se e congela.
Ah! é chegada a minha hora extrema!
Vai meu corpo dissolver-se em cinza;
Já não podia sustentar mais tempo
O espírito tão puro.
É uma cena inteiramente nova.
Como será? – Como um prazer tão belo,
Estranho e peregrino, e raro e doce,
Vem assaltar-me todo!
E pelos imos ossos me refoge
Não sei que fio elétrico. Eis! sou livre!
O corpo que foi meu! que lodo impuro!
Caiu, uniu-se à terra.
FREIRE, Junqueira. Antologia. Rio de Janeiro: Agir, 1962. p. 71.
Fonte: Português –
Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas
Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 115.
Entendendo o poema:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Descoradas: pálidas.
·
Ávidos: desejosos.
·
Férvido: quente.
·
Imos: íntimos, profundos.
·
Meditar: imaginar.
·
Palpite: palpitação.
·
Peregrino: excepcional.
·
Refoge: escapa.
02 – Qual a principal temática abordada no poema?
A principal
temática do poema é a experiência da morte. Junqueira Freire descreve de forma
vívida e sensorial os momentos que antecedem a morte, expressando sentimentos
de aceitação, alívio e uma certa curiosidade em relação ao que virá após a
vida.
03
– Como o eu lírico descreve o processo de morrer?
O eu lírico
descreve o processo de morrer de forma gradual e detalhada. Ele sente o corpo
se desgastando, as forças se esvaindo, e a vida se apagando lentamente. A
descrição é marcada por imagens sensoriais, como a sensação de peso nos braços,
a palidez do rosto e o esfriamento do corpo.
04
– Quais os sentimentos do eu lírico em relação à morte?
O eu lírico
demonstra uma mistura de sentimentos em relação à morte. Há um senso de alívio,
pois a vida o pesa e o cansa. Ao mesmo tempo, há uma certa curiosidade e
expectativa em relação ao que virá após a morte. A descrição do momento da
morte como um "prazer tão belo, estranho e peregrino" revela uma
visão romantizada e idealizada da morte.
05
– Como a natureza é utilizada no poema?
A natureza é
utilizada como um reflexo do estado interior do eu lírico. A brisa matutina que
já não arranca um riso e a tarde que não doura mais seu rosto simbolizam a
perda de vitalidade e a aproximação da morte. A imagem do bosque onde o espera
a amada representa um desejo de paz e serenidade após a vida.
06
– Como este poema se encaixa no contexto do Romantismo?
"O arranco
da morte" é um poema tipicamente romântico, pois apresenta características
como:
Idealização da morte:
A morte é vista como uma libertação e um momento de paz.
Subjetividade: O
poeta expressa seus sentimentos de forma intensa e pessoal.
Valorização da natureza:
A natureza é utilizada como um reflexo do estado interior do poeta.
Linguagem rica em
metáforas: O poeta utiliza metáforas para expressar a complexidade da experiência
da morte.
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