segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

POEMA: O ARRANCO DA MORTE - JUNQUEIRA FREIRE - COM GABARITO

 Poema: O arranco da morte

             Junqueira Freire

Pesa-me a vida já. Força de bronze
Os desmaiados braços me pendura.
Ah! já não pode o espírito cansado
Sustentar a matéria.

Eu morro, eu morro. A matutina brisa
Já não me arranca um riso. A rósea tarde
Já não me doura as descoradas faces
Que gélidas se encovam.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQgDJvVaoWF96lZJS0SQpnvz-H48PQP9-26-HSZjPPwcyaAkfMop6sRRDqdDA-1c_4av75ZicMnqq0vpydnNVIOigNj6_IR9xHPT1cRNk86dk5yaXWaort26167SB-oLpVMNIs3Ea02pSUM-bsc4BrpvTkWoO-nNrmd4JO2RV-mjRtwn-PQ1Sqaud5oUw/s1600/NOITE.jpg



O noturno crepúsculo caindo
Só não me lembra o escurecido bosque,
Onde me espera, a meditar prazeres,
A bela que eu amava.

A meia-noite já não traz-me em sonhos
As formas dela – desejosa e lânguida –
Ao pé do leito, recostada em cheio
Sobre meus braços ávidos.

A cada instante o coração vencido
Diminui um palpite; o sangue, o sangue,
Que nas artérias férvido corria,
Arroxa-se e congela.

Ah! é chegada a minha hora extrema!
Vai meu corpo dissolver-se em cinza;
Já não podia sustentar mais tempo
O espírito tão puro.

É uma cena inteiramente nova.
Como será? – Como um prazer tão belo,
Estranho e peregrino, e raro e doce,
Vem assaltar-me todo!

E pelos imos ossos me refoge
Não sei que fio elétrico. Eis! sou livre!
O corpo que foi meu! que lodo impuro!
Caiu, uniu-se à terra.

FREIRE, Junqueira. Antologia. Rio de Janeiro: Agir, 1962. p. 71.

Fonte: Português – Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 115.

Entendendo o poema:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Descoradas: pálidas.

·        Ávidos: desejosos.

·        Férvido: quente.

·        Imos: íntimos, profundos.

·        Meditar: imaginar.

·        Palpite: palpitação.

·        Peregrino: excepcional.

·        Refoge: escapa.

02 – Qual a principal temática abordada no poema?

      A principal temática do poema é a experiência da morte. Junqueira Freire descreve de forma vívida e sensorial os momentos que antecedem a morte, expressando sentimentos de aceitação, alívio e uma certa curiosidade em relação ao que virá após a vida.

03 – Como o eu lírico descreve o processo de morrer?

      O eu lírico descreve o processo de morrer de forma gradual e detalhada. Ele sente o corpo se desgastando, as forças se esvaindo, e a vida se apagando lentamente. A descrição é marcada por imagens sensoriais, como a sensação de peso nos braços, a palidez do rosto e o esfriamento do corpo.

04 – Quais os sentimentos do eu lírico em relação à morte?

      O eu lírico demonstra uma mistura de sentimentos em relação à morte. Há um senso de alívio, pois a vida o pesa e o cansa. Ao mesmo tempo, há uma certa curiosidade e expectativa em relação ao que virá após a morte. A descrição do momento da morte como um "prazer tão belo, estranho e peregrino" revela uma visão romantizada e idealizada da morte.

05 – Como a natureza é utilizada no poema?

      A natureza é utilizada como um reflexo do estado interior do eu lírico. A brisa matutina que já não arranca um riso e a tarde que não doura mais seu rosto simbolizam a perda de vitalidade e a aproximação da morte. A imagem do bosque onde o espera a amada representa um desejo de paz e serenidade após a vida.

06 – Como este poema se encaixa no contexto do Romantismo?

      "O arranco da morte" é um poema tipicamente romântico, pois apresenta características como:

      Idealização da morte: A morte é vista como uma libertação e um momento de paz.

      Subjetividade: O poeta expressa seus sentimentos de forma intensa e pessoal.

      Valorização da natureza: A natureza é utilizada como um reflexo do estado interior do poeta.

      Linguagem rica em metáforas: O poeta utiliza metáforas para expressar a complexidade da experiência da morte.

 

 

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