Crônica: O casarão I – Fragmento
Luiz
Pagnossim
Eu estava moído, pois tinha acabado de
chegar tarde da noite, voltando para Taubaté depois de passar um tempo em
Sampa. A viagem tinha sido em um carro super-velho, cheirando à gasolina.
Deitei na cama e o celular tocou. Era o Dudu me ligando para cobrar a ida ao
casarão. Agora, mais essa! A ideia de visitar o artigo sítio me causava
mal-estar, mas era uma promessa que eu
tinha feito, a de visitar o lugar assim que eu chegasse de viagem,
tentando ganhar tempo, claro. Isso porque aquela ideia já estava me deixando
apavorado.
O tal casarão não era uma casa comum.
Diziam que ali aconteciam coisas estranhas e, por estar abandonada há tanto
tempo, acabou ganhando um aspecto aterrorizante. O lugar era de um senhor viúvo
e solitário, quase nunca visto na cidade. Contam que ele perdera o filho
afogado no lago da propriedade e passou a produzir brinquedos em madeira para
uma coleção particular. Sua sobrevivência se resumia ao que o sítio produzia e
às entregas semanais trazidas pelo mercado do centro. Depois, as compras foram
ficando acumuladas no portão e nunca mais se teve notícias do velho senhor. Isso
alimentava a imaginação do povo. Dizia-se até que ele teria morrido e que fora
enterrado ali. Na verdade, ninguém ousava entrar naquele sítio. Esperava-se que
os herdeiros aparecessem, porém, isso não acontecia. Assim, a propriedade ia
acumulando histórias.
Logo cedo, meu amigo já me esperava no
portão. O sítio ficava a uns três quilômetros de casa, meia hora de caminhada.
Sorrimos um para o outro, buscando esconder o temor que sentíamos, e seguimos
até o nosso destino.
Ao chegar, abrimos, com dificuldade, o
velho portão da propriedade. Senti medo. Olhei para Dudu, que parecia sentir o
mesmo, mas entramos. Pelo caminho, podia-se avistar a casa enorme e destruída
pelo tempo. Uma visão, realmente, apavorante.
O casarão era todo cercado por árvores
imensas, centenárias. À medida que nos aproximávamos, era possível ver galhos
podres sobre o telhado e janelas com vidros quebrados.
Caminhávamos lentamente pelo lugar, e
eu percebi que Dudu estava ficando cada vez mais apreensivo. Ele ia se
aproximando de mim, buscando segurar o meu braço. Isso fazia com que o meu
pavor crescesse, até que fiquei totalmente dominado pelo medo.
Paramos a uns cinquenta metros do
casarão. Em volta, o mato dominava tudo. Um pequeno lago de águas esverdeadas
estava coberto de plantas aquáticas. Foi então que começou a cair uma chuva
fina e um vento gelado soprava com força. Paramos por alguns segundos. Olhei
para Dudu e sugeri que devíamos ir embora, mas ele insistia em continuar.
Olhei na direção de uma das janelas do
andar de cima do casarão e me pareceu ver algo que se mexia. Era um vulto por
trás do vidro quebrado. Minhas pernas fraquejaram e subiu um calafrio pelas
minhas costas. Então, me virei para falar com Dudu, mas ele havia desaparecido.
[...]
Luiz Pagnossim.
Fonte: Língua
Portuguesa. Linguagens – Séries finais, caderno 1. 8º ano – Larissa G. Paris
& Maria C. Pina – 1ª ed. 2ª impressão – FGV – MAXI – São Paulo, 2023. p.
27-28.
Entendendo a crônica:
01
– Qual a atmosfera predominante no fragmento e como ela é criada?
A atmosfera
predominante é de suspense e terror. Ela é criada através de elementos como:
A descrição do casarão
abandonado e em ruínas;
As histórias misteriosas
sobre o antigo proprietário e seu filho;
Os sentimentos de medo e
apreensão dos personagens;
Os elementos naturais como a
chuva fina, o vento gelado e o lago esverdeado;
O acontecimento inexplicável
do desaparecimento de Dudu.
02
– Quais os principais medos e sentimentos dos personagens?
Luiz e Dudu
demonstram medo do desconhecido, do sobrenatural e do que possa estar escondido
no casarão. A ideia de entrar em um lugar com tantas histórias assustadoras os
deixa nervosos e apreensivos.
03
– Qual a importância do cenário (o casarão e seus arredores) para a história?
O casarão é o
centro das atenções e o principal gerador de suspense. Sua aparência
deteriorada, as histórias que o envolvem e os acontecimentos estranhos que
ocorrem ali o transformam em um lugar aterrorizante. Os arredores do casarão,
como o lago e a mata, contribuem para a atmosfera sombria e misteriosa.
04
– Como o autor constrói a tensão e o suspense no fragmento?
O autor constrói
a tensão e o suspense através de:
Descrição detalhada:
A descrição minuciosa do casarão e dos seus arredores cria uma imagem vívida e
assustadora na mente do leitor.
Diálogo: As conversas
entre Luiz e Dudu revelam os seus medos e expectativas, aumentando a tensão.
Acontecimentos estranhos: O desaparecimento de Dudu e a visão do
vulto na janela são elementos que surpreendem o leitor e aumentam o suspense.
Tempo e clima: A
chuva fina e o vento gelado contribuem para a atmosfera sombria e opressiva.
05
– Qual a sua expectativa para o desenrolar da história?
É difícil prever
com exatidão o desenrolar da história, mas podemos fazer algumas especulações
com base no fragmento:
Desvendando os mistérios:
Os personagens podem tentar desvendar os mistérios que envolvem o casarão e seu
antigo proprietário.
Confronto com o
desconhecido: Luiz e Dudu podem se confrontar com alguma força sobrenatural
ou com os seus próprios medos.
Revelações surpreendentes:
A história pode revelar fatos surpreendentes sobre o passado do casarão e seus
habitantes.
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