Conto: A máquina do tempo – Fragmento
H. G. Wells
Eram umas dez da manhã quando a
primeira Máquina do Tempo já construída fez sua estreia. Eu dei uns últimos
retoques, apertei mais alguns parafusos, coloquei umas gotas a mais de óleo na
engrenagem de quartzo e acomodei-me no assento. [...]
Eu peguei a alavanca de partida em uma
mão e a de freio na outra, empurrei a primeira e logo a segunda. Parecia que
estava oscilando; senti-me como se estivesse caindo em um pesadelo; e, olhando
à minha volta, vi o meu laboratório do mesmo jeito que antes. [...] Então notei
o relógio. Apenas um momento antes, ao que parecia, ele marcava uns poucos
minutos depois das dez; agora passava das três e meia.
Eu soltei um suspiro, trinquei meus
dentes, agarrei a alavanca de partida com ambas as mãos e empurrei-a com força.
O laboratório ficou nebuloso até ser tomado pela completa escuridão. A senhora
Watchett entrou e andou, aparentemente sem me ver, em direção à porta do
jardim. Acredito que ela levou um minuto para fazê-lo, mas, para mim, ela havia
cruzado o ambiente como um raio. Eu empurrei a alavanca até seu máximo. A noite
veio como um apagar de luzes, e logo surgiu a manhã. o laboratório começou a
esvanecer, ficando cada vez mais indistinto. A noite do dia seguinte logo
surgiu, e depois o dia, a noite, o dia de novo, cada vez mais rápido e mais
rápido. Um zumbido assombrou meus ouvidos, e uma confusão estranha e
entorpecedora tomou minha mente.
[...] O mero indício do meu laboratório
começou a passar por mim e vi o sol surgindo no céu, cruzando-o a cada minuto,
e cada minuto marcando um dia. Presumi que meu laboratório havia sido destruído
e que eu havia parado a céu aberto. Tive a mera impressão de construções ao meu
redor, mas eu já estava rápido demais para discernir alguma coisa. A lesma mais
lerda passava por mim rapidamente. A mudança entre escuridão e claridade
tornava-se dolorosa aos olhos. Então, da escuridão intermitente, vi a lua
girando ligeiramente em suas fases, de nova a cheia, além dos vislumbres das
estrelas circundantes. [...].
A verdade é que a completa estranheza
de tudo, o balançar e rodopiar da máquina, além da sensação interminável de
cair, haviam sobrecarregado meus nervos. Eu disse a mim mesmo que nunca pararia
, e, com certa petulância, decidi parar imediatamente. Como um tolo impaciente,
abaixei a alavanca e, sem demora, a coisa degringolou, e fui arremessado de
cabeça para baixo pelo ar.
[...] Creio ter ficado entorpecido por
um momento. Uma chuva impiedosa de granizo zunia ao meu redor e eu aterrissei
na relva macia em frente à máquina revirada. [...] Eu olhei á minha volta.
Estava no que parecia ser a relva de um jardim [...].
Eu me levantei e olhei ao redor. Uma
figura enorme esculpida em algum tipo de pedra branca surgia [...]. Então ouvi
vozes aproximando-se. Vindo pelos arbustos próximos à Esfinge Branca, vi
cabeças e ombros de alguns homens correndo. Um desses surgiu de uma passagem
que dava no pequeno gramado em que eu estava com minha máquina. [...] Outros
estavam a caminho, e imediatamente um pequeno grupo de talvez oito ou dez belas
criaturas me cercava. [...].
Vejam, eu sempre esperei que as pessoas
nos anos oitocentos e dois mil seriam inacreditavelmente mais avançadas do que
nós no conhecimento, nas artes, em tudo. Até que um deles, repentinamente, me
fez uma pergunta que mostrava que ele parecia ter o intelecto de uma criança de
seis anos: indagou-me se eu tinha vindo [...] do sol durante a tempestade de
trovões. [...] uma onda de decepção invadiu-me. Por um instante, senti que
havia construído a Máquina do Tempo em vão.
Wells, H. G. A máquina
do tempo. São Paulo: Pandorga, 2020. p. 25-33.
Fonte: Maxi: Séries
Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas
de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 77-78.
Entendendo o conto:
01
– Qual a sensação inicial do narrador ao utilizar a máquina do tempo?
A sensação
inicial do narrador é de desorientação e de que o tempo está se movendo de
forma acelerada. Ele descreve a experiência como um "pesadelo" e um
"zumbido assombroso nos ouvidos".
02
– Qual a reação do narrador ao perceber que a máquina o transportou para um
futuro distante?
Inicialmente, o
narrador sente uma grande euforia e expectativa em relação ao futuro que está
explorando. No entanto, essa euforia logo se transforma em decepção ao perceber
que a humanidade não evoluiu tanto quanto ele esperava.
03
– Como o narrador descreve o futuro que ele encontra?
O narrador
descreve o futuro como um lugar estranho e paradoxal. Ele encontra uma
sociedade dividida em duas raças: os Eloi, criaturas frágeis e infantis, e os Morlocks,
seres subterrâneos e predadores.
04
– Qual a importância da figura da Esfinge Branca na narrativa?
A Esfinge Branca
representa a conexão entre o passado e o futuro. Ela é um marco histórico que o
narrador reconhece, mas que está inserida em um contexto completamente
diferente.
05
– Qual a principal decepção do narrador ao chegar no futuro?
A principal
decepção do narrador é perceber que a humanidade não evoluiu tanto
intelectualmente quanto ele imaginava. Ele esperava encontrar uma sociedade
mais avançada e desenvolvida, mas se depara com seres que, em alguns aspectos,
parecem mais primitivos.
06
– Qual a sensação de estranhamento sentida pelo narrador ao interagir com as
pessoas do futuro?
O narrador sente
um profundo estranhamento ao interagir com os Eloi, pois suas perguntas e
comportamentos são muito diferentes do que ele esperava. Ele se sente como um
alienígena em seu próprio planeta.
07
– Qual o impacto da viagem no tempo na visão de mundo do narrador?
A viagem no tempo
transforma a visão de mundo do narrador. Ele passa a ter uma perspectiva mais
ampla sobre a história da humanidade e a compreender a relatividade do tempo. A
experiência o faz questionar as suas próprias crenças e expectativas sobre o
futuro.
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