terça-feira, 31 de dezembro de 2024

CONTO: A MÁQUINA DO TEMPO - (FRAGMENTO) - H.G.WELLS - COM GABARITO

 Conto: A máquina do tempo – Fragmento

           H. G. Wells

        Eram umas dez da manhã quando a primeira Máquina do Tempo já construída fez sua estreia. Eu dei uns últimos retoques, apertei mais alguns parafusos, coloquei umas gotas a mais de óleo na engrenagem de quartzo e acomodei-me no assento. [...]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYPqPGjfJSRA1rjrkwYmm50419-VEG3PJbvWAO94X-X81LW2YFtmg5Dxog3R4tIvzHf3H9_hE6aie5oPtG1bM_KLrcfPYrVTNuqWuEJUUsq7ji-jfTGZ_hTC3tGdgK9JkiS0XMEADiONdMwFXjDTYMmQ_a3ROTL4nsPzW6ZBUQKKlyLtbfLtvYMaN_s0E/s320/MAQUINA.jpg


        Eu peguei a alavanca de partida em uma mão e a de freio na outra, empurrei a primeira e logo a segunda. Parecia que estava oscilando; senti-me como se estivesse caindo em um pesadelo; e, olhando à minha volta, vi o meu laboratório do mesmo jeito que antes. [...] Então notei o relógio. Apenas um momento antes, ao que parecia, ele marcava uns poucos minutos depois das dez; agora passava das três e meia.

        Eu soltei um suspiro, trinquei meus dentes, agarrei a alavanca de partida com ambas as mãos e empurrei-a com força. O laboratório ficou nebuloso até ser tomado pela completa escuridão. A senhora Watchett entrou e andou, aparentemente sem me ver, em direção à porta do jardim. Acredito que ela levou um minuto para fazê-lo, mas, para mim, ela havia cruzado o ambiente como um raio. Eu empurrei a alavanca até seu máximo. A noite veio como um apagar de luzes, e logo surgiu a manhã. o laboratório começou a esvanecer, ficando cada vez mais indistinto. A noite do dia seguinte logo surgiu, e depois o dia, a noite, o dia de novo, cada vez mais rápido e mais rápido. Um zumbido assombrou meus ouvidos, e uma confusão estranha e entorpecedora tomou minha mente.

        [...] O mero indício do meu laboratório começou a passar por mim e vi o sol surgindo no céu, cruzando-o a cada minuto, e cada minuto marcando um dia. Presumi que meu laboratório havia sido destruído e que eu havia parado a céu aberto. Tive a mera impressão de construções ao meu redor, mas eu já estava rápido demais para discernir alguma coisa. A lesma mais lerda passava por mim rapidamente. A mudança entre escuridão e claridade tornava-se dolorosa aos olhos. Então, da escuridão intermitente, vi a lua girando ligeiramente em suas fases, de nova a cheia, além dos vislumbres das estrelas circundantes. [...].

        A verdade é que a completa estranheza de tudo, o balançar e rodopiar da máquina, além da sensação interminável de cair, haviam sobrecarregado meus nervos. Eu disse a mim mesmo que nunca pararia , e, com certa petulância, decidi parar imediatamente. Como um tolo impaciente, abaixei a alavanca e, sem demora, a coisa degringolou, e fui arremessado de cabeça para baixo pelo ar.

        [...] Creio ter ficado entorpecido por um momento. Uma chuva impiedosa de granizo zunia ao meu redor e eu aterrissei na relva macia em frente à máquina revirada. [...] Eu olhei á minha volta. Estava no que parecia ser a relva de um jardim [...].

        Eu me levantei e olhei ao redor. Uma figura enorme esculpida em algum tipo de pedra branca surgia [...]. Então ouvi vozes aproximando-se. Vindo pelos arbustos próximos à Esfinge Branca, vi cabeças e ombros de alguns homens correndo. Um desses surgiu de uma passagem que dava no pequeno gramado em que eu estava com minha máquina. [...] Outros estavam a caminho, e imediatamente um pequeno grupo de talvez oito ou dez belas criaturas me cercava. [...].

        Vejam, eu sempre esperei que as pessoas nos anos oitocentos e dois mil seriam inacreditavelmente mais avançadas do que nós no conhecimento, nas artes, em tudo. Até que um deles, repentinamente, me fez uma pergunta que mostrava que ele parecia ter o intelecto de uma criança de seis anos: indagou-me se eu tinha vindo [...] do sol durante a tempestade de trovões. [...] uma onda de decepção invadiu-me. Por um instante, senti que havia construído a Máquina do Tempo em vão.

Wells, H. G. A máquina do tempo. São Paulo: Pandorga, 2020. p. 25-33.

Fonte: Maxi: Séries Finais. Caderno 1. Língua Portuguesa – 7º ano. 1.ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2021. Ensino Fundamental 2. p. 77-78.

Entendendo o conto:

01 – Qual a sensação inicial do narrador ao utilizar a máquina do tempo?

      A sensação inicial do narrador é de desorientação e de que o tempo está se movendo de forma acelerada. Ele descreve a experiência como um "pesadelo" e um "zumbido assombroso nos ouvidos".

02 – Qual a reação do narrador ao perceber que a máquina o transportou para um futuro distante?

      Inicialmente, o narrador sente uma grande euforia e expectativa em relação ao futuro que está explorando. No entanto, essa euforia logo se transforma em decepção ao perceber que a humanidade não evoluiu tanto quanto ele esperava.

03 – Como o narrador descreve o futuro que ele encontra?

      O narrador descreve o futuro como um lugar estranho e paradoxal. Ele encontra uma sociedade dividida em duas raças: os Eloi, criaturas frágeis e infantis, e os Morlocks, seres subterrâneos e predadores.

04 – Qual a importância da figura da Esfinge Branca na narrativa?

      A Esfinge Branca representa a conexão entre o passado e o futuro. Ela é um marco histórico que o narrador reconhece, mas que está inserida em um contexto completamente diferente.

05 – Qual a principal decepção do narrador ao chegar no futuro?

      A principal decepção do narrador é perceber que a humanidade não evoluiu tanto intelectualmente quanto ele imaginava. Ele esperava encontrar uma sociedade mais avançada e desenvolvida, mas se depara com seres que, em alguns aspectos, parecem mais primitivos.

06 – Qual a sensação de estranhamento sentida pelo narrador ao interagir com as pessoas do futuro?

      O narrador sente um profundo estranhamento ao interagir com os Eloi, pois suas perguntas e comportamentos são muito diferentes do que ele esperava. Ele se sente como um alienígena em seu próprio planeta.

07 – Qual o impacto da viagem no tempo na visão de mundo do narrador?

      A viagem no tempo transforma a visão de mundo do narrador. Ele passa a ter uma perspectiva mais ampla sobre a história da humanidade e a compreender a relatividade do tempo. A experiência o faz questionar as suas próprias crenças e expectativas sobre o futuro.

 

 

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