Poesia: O poeta moribundo – Fragmento
Álvares
de Azevedo
[...]
Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia.
Coração, por que tremes? Vejo a morte,
Ali vem lazarenta e desdentada...
Que noiva!... E devo então dormir com ela?
Se ela ao menos dormisse mascarada!
[...]
AZEVEDO, Álvares de.
In: BUENO, Alexei (Org.). Álvares de Azevedo: obra completa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2000. p. 236. (Fragmento).
Fonte: Português –
Literatura, Gramática e Produção de texto – Leila Lauar Sarmento & Douglas
Tufano – vol. 2 – Moderna – 1ª edição – São Paulo, 2010, p. 109.
Entendendo a poesia:
01
– Qual a principal metáfora utilizada por Álvares de Azevedo para descrever a
própria morte e qual o efeito que ela causa no poema?
A principal metáfora
utilizada é a comparação da própria morte à de um marreco piando nas mãos da
cozinheira e ao cisne de outrora que morre cantando hinos de amor. Essa comparação
cria um efeito de grande dramaticidade e ironia. A imagem do marreco piando
transmite a ideia de uma morte ignominiosa e sem dignidade, enquanto a imagem
do cisne cantando hinos de amor contrasta com a dor da morte, criando um clima
de melancolia e saudosismo. Essa dualidade revela a complexidade dos
sentimentos do poeta diante da morte: medo, ironia e resignação.
02
– Que sentimentos o poeta expressa em relação à morte?
O poeta expressa
uma gama de sentimentos complexos em relação à morte. Ele demonstra medo
("Coração, por que tremes?"), ironia ("Que noiva!... E devo
então dormir com ela?"), e ao mesmo tempo, uma certa resignação diante do
inevitável. A figura da morte é vista como algo temido e repulsivo, mas também
como uma libertação do sofrimento. Essa ambivalência de sentimentos é
característica do Romantismo, que valoriza a intensidade das emoções e a
exacerbação dos sentimentos.
03
– Como a figura da morte é representada no poema?
A figura da morte
é representada de forma dual e contraditória. Por um lado, é personificada como
uma noiva "lazarenta e desdentada", ou seja, como uma figura
repulsiva e assustadora. Por outro lado, a morte também é vista como um alívio
para o sofrimento, como demonstra a imagem do cisne que morre cantando. Essa
dualidade reflete a complexidade da relação do homem com a morte, que ao mesmo
tempo fascina e aterroriza.
04
– Qual a importância da metáfora do cisne no contexto do poema?
A metáfora do cisne é fundamental para o poema, pois
representa a beleza e a poesia diante da morte. O cisne, símbolo da elegância e
da beleza, morre cantando hinos de amor, representando a capacidade do poeta de
transformar a dor da morte em arte. Essa imagem contrasta com a imagem do
marreco, enfatizando a dualidade da experiência da morte e a busca por
significado mesmo diante da finitude.
05
– Como este poema se encaixa no contexto do Romantismo?
Este poema é um
exemplo clássico do Romantismo, pois apresenta características típicas desse
movimento literário, como:
Valorização da emoção:
O poeta expressa seus sentimentos de forma intensa e subjetiva, explorando a
angústia e o medo da morte.
Individualismo: O poeta se coloca como centro do
universo, explorando suas próprias experiências e sentimentos.
Idealização da morte:
A morte é idealizada como uma fuga do sofrimento e uma busca por um mundo
ideal.
Linguagem rica em
metáforas: O uso de metáforas e comparações cria imagens vívidas e
poéticas, como a comparação da morte com um marreco e um cisne.
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