Crônica: O casarão II – Fragmento
Luiz Pagnossim
[...]
Chamei pelo meu amigo várias vezes. Por
instinto, olhei para a janela, na qual havia visto o vulto. Nada além do vidro
quebrado. Aquilo estava me deixando preocupado. Pensei em fugir. Mas não podia,
afinal, tinha que encontrar o Dudu. O que teria acontecido com ele? Por que
teria sumido? E aquele vulto na janela? Será que tinha alguma relação com
aquele sumiço?
A chuva deu uma trégua, mas o vento
forte continuava. Desesperadamente, corria por todos os cantos em torno do
casarão, no meio do mato crescido e molhado pela chuva recente, mas nem sinal
do meu amigo.
Decidi sair daquele lugar e chamar alguém
que pudesse me ajudar, contar para as pessoas o que havia acontecido. Foi
quando senti a presença de alguém atrás de mim. Gritei, mas a voz saiu falha,
esganiçada.
Aquela presença tocou em meu ombro.
Senti meu corpo gelar e parecia que ia perder os sentidos, porém, sua voz pedia,
estranhamente, que eu não ficasse com medo:
-- Não tenha medo. Eu sei onde está seu
amigo. Ele caiu em um pequeno buraco perto do lago, ao sair correndo. Deve ter
se assustado, ao me ver na janela. Sei que dizem que morri. Como pode ver,
estou aqui e vivo. Venha, vamos buscar o seu amigo.
Não consegui dizer sequer uma palavra.
Eu acompanhava aquele homem com seus passos lentos. Ao chegarmos, lá estava o
Dudu, tremendo e com frio. Retiramos meu amigo do buraco e expliquei que aquele
era o dono da propriedade e que, de fato, estava vivo.
O senhor voltou a pedir que não
tivéssemos medo e que o acompanhássemos. Ao nos aproximarmos da porta de
entrada da casa, ele nos convidou a entrar. A casa por dentro tinha o mesmo
aspecto sombrio, mas não aterrorizante como o lado de fora. No que parecia ser
a sala, havia um velho sofá rasgado e uma grande mesa sobre a qual se viam
pedaços de madeira e instrumentos de entalhe. Em toda volta, prateleiras cheias
de brinquedos de madeira feitos por ele. o senhor foi até uma delas e retirou
dois brinquedos, dois cavalos entalhados, e estendeu-os em nossa direção.
Depois, pediu que não contássemos a ninguém o que havia se passado no sítio e
nem que ele estava vivo. Sorrimos e concordamos com o seu pedido.
Voltamos ao sítio, eu e meu amigo,
algumas vezes, depois dessa visita. O velho pouco sorria, no entanto, parecia
amável, mesmo assim. Tempos depois, ele morreu, dessa vez, de verdade. E o
portão do sítio foi fechado para sempre.
Luiz Pagnossim.
Fonte: Língua
Portuguesa. Linguagens – Séries finais, caderno 1. 8º ano – Larissa G. Paris
& Maria C. Pina – 1ª ed. 2ª impressão – FGV – MAXI – São Paulo, 2023. p.
29-30.
Entendendo a crônica:
01
– O que levou o narrador a procurar seu amigo Dudu no casarão?
a)
A curiosidade em explorar um lugar desconhecido.
b)
A necessidade de compartilhar uma aventura com o amigo.
c) A preocupação com o desaparecimento do amigo.
d)
A vontade de desvendar o mistério do casarão.
02
– Qual a reação do narrador ao encontrar o velho dono do casarão?
a)
Alegria por ter encontrado o amigo.
b) Medo e desespero diante da figura misteriosa.
c)
Curiosidade sobre a história do lugar.
d)
Raiva por ter sido enganado sobre a morte do velho.
03
– O que simbolizam os cavalinhos de madeira oferecidos pelo velho aos meninos?
a) A amizade e a conexão entre os personagens.
b)
A infância e a inocência perdidas.
c)
A promessa de segredo entre os três.
d)
A esperança de um futuro melhor.
04
– Qual o significado do fechamento do portão do casarão após a morte do velho?
a)
O fim de uma era e o início de outra.
b) A tentativa de esconder os segredos do lugar.
c)
A tristeza pela perda do amigo.
d)
O desejo de esquecer o que aconteceu.
05
– Qual a principal emoção transmitida pelo narrador ao longo da história?
a)
Alegria.
b)
Tristeza.
c) Medo.
d)
Indiferença.
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