domingo, 29 de dezembro de 2024

CONTO: A DANÇA DOS OSSOS CAP. III - (FRAGMENTO) - BERNARDO GUIMARÃES - COM GABARITO

 Conto: A dança dos ossos cap. III – Fragmento

            Bernardo Guimarães

        [...]

        -- Eu te conto um caso que me aconteceu.

        Eu ia viajando sozinho — por onde não importa — de noite, por um caminho estreito, em cerradão fechado, e vejo ir, andando a alguma distância diante de mim, qualquer coisa, que na escuridão não pude distinguir. Aperto um pouco o passo para reconhecer o que era, e vi clara e perfeitamente dois pretos carregando um defunto dentro de uma rede.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN-XFLdVaphCl9E5oBILewR3HJAAmlhKDcBpjxhfjfjGMSuGQp5CeWIOtgy_YUBA2b4PZwlFxVI77tLNxy2JkV3wbfJSORuRQm0NkToJ6WlNVeSvdHKBdh93ycJ8u2yBBVc-GQsBclsNVHPdQ17MQHxfGM2JFBUYhGDYZOcxYUcJtTqwOllz0n_nQwaPM/s320/DAN%C3%87A.jpg


        Bem poderia ser também qualquer criatura viva, que estivesse doente ou mesmo em perfeita saúde; mas, nessas ocasiões, a imaginação, não sei por quê, não nos representa senão defuntos. Uma aparição daquelas, em lugar tão ermo e longe de povoação, não deixou de me causar terror.

        Contudo o caso não era extraordinário; carregar um cadáver em rede, para ir sepultá-lo em algum cemitério vizinho, é coisa que se vê muito nesses sertões, ainda que àquelas horas o negócio não deixasse de tornar bastante suspeito.

        Piquei o cavalo para passar adiante daquela sinistra visão que me estava incomodando o espirito, mas os condutores da rede também apressaram o passo, e se conservavam sempre na mesma distância.

        Pus o cavalo a trote; os pretos começaram também a correr com a rede. O negócio ia-se tornando mais feio. Retardei o passo para deixá-los adiantarem-se: também foram indo mais devagar. Parei; também pararam. De novo marchei para eles; também se puseram a caminho.

        Assim andei por mais de meia hora, cada vez mais aterrado, tendo sempre diante dos olhos aquela sinistra aparição que parecia apostada em não me querer deixar, até que, exasperado, gritei-lhes que me deixassem passar ou ficar atrás, que eu não estava disposto a fazer-lhes companhia. Nada de resposta!... o meu terror subiu de ponto, e confesso que estive por um nada a dar de rédea para trás a bom fugir.

        Mas negócios urgentes me chamavam para diante: revesti-me de um pouco de coragem que ainda me restava, cravei as esporas no cavalo e investi para o sinistro vulto a todo galope. Em poucos instantes o alcancei de perto e vi... adivinhem o que era?... nem que deem volta ao miolo um ano inteiro, não são capazes de atinar com o que era. Pois era uma vaca!...

        — Uma vaca!... como!...

        — Sim, senhores, uma vaca malhada, que tinha a barriga toda branca — era a rede, — e os quartos traseiros e dianteiros inteiramente pretos; era os dois negros que a carregavam. Pilhada por mim naquela caminho estreito, sem poder desviar nem para uma banda nem para outra, porque o mato era um cerradão tapado o pobre animal ia fugindo diante de mim, se eu parava, também parava, porque não tinha necessidade de viajar; se eu apertava o passo lá ia ela também para diante, fugindo de mim. Entretanto se eu não fosse reconhecer de perto o que era aquilo, ainda hoje havia de jurar que tinha visto naquela noite dois pretos carregando um defunto em uma rede, tão completa era a ilusão. E depois se quisesse indagar mais do negócio, como era natural, sabendo que nenhum cadáver se tinha enterrado em toda aquela redondeza, havia de ficar acreditando de duas uma: ou que aquilo era coisa do outro mundo, ou, o que era mais natural, que algum assassinato horrível e misterioso tinha sido cometido por aquelas criaturas. [...]

GUIMARÃESS, Bernardo. A dança dos ossos. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000038.pdf. Acesso em: 31 jan. 2022.

Fonte: Língua Portuguesa. Linguagens – Séries finais, caderno 1. 8º ano – Larissa G. Paris & Maria C. Pina – 1ª ed. 2ª impressão – FGV – MAXI – São Paulo, 2023. p. 43-44.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal sensação do narrador ao encontrar a "coisa" no caminho?

a) Curiosidade.

b) Terror.

c) Alegria.

d) Indiferença.

02 – O que o narrador imagina que a "coisa" seja inicialmente?

a) Dois viajantes.

b) Dois animais.

c) Dois ladrões.

d) Dois homens carregando um defunto.

03 – Por que a imaginação do narrador o leva a pensar em um defunto?

a) Por causa do local ermo e da hora da noite.

b) Porque ele já havia tido experiências sobrenaturais antes.

c) Porque ele tinha medo de ser assaltado.

d) Porque ele era uma pessoa muito supersticiosa.

04 – Qual a reação dos "carregadores" da rede quando o narrador tenta ultrapassá-los?

a) Aceleram o passo.

b) Param e o atacam.

c) Desaparecem misteriosamente.

d) Mantêm a mesma velocidade.

05 – O que o narrador descobre que a "coisa" realmente era?

a) Uma carroça.

b) Uma vaca.

c) Um grupo de pessoas.

d) Um monstro.

06 – Qual a lição que o narrador aprende com essa experiência?

a) Que não se deve viajar sozinho à noite.

b) Que a imaginação pode nos pregar peças.

c) Que é importante ter fé em Deus.

d) Que os animais são perigosos.

07 – Qual o gênero literário ao qual pertence o conto "A Dança dos Ossos"?

a) Romance histórico.

b) Crônica.

c) Conto de terror.

d) Fábula.

 

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