quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

CRÔNICA: AMEU AMIGO, O PIRACICABA - LOURENÇO DIAFÉRIA - COM GABARITO

 Crônica: A meu amigo, o Piracicaba.

           Lourenço Diaféria

 

        Xará, a gente não deve nunca cuspir num rio, por menor que seja esse rio, porque ninguém pode dizer dessa água não beberei. Um rio tem curvas e voltas. O rio é como a vida: mistérios, sombras, grotas, reflexos de prata, remansos e correntezas. O rio, por menor que seja, é uma lição de descobertas. Na escola as professoras mandam decorar que um rio é um curso de água que corre para o mar. Mas um rio é muito mais que isso. Um rio está acima das noções de Geografia; é mais que um traço trêmulo no mapa, é mais mistério que um artefato hidráulico. 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLZBr6dcKK3SoW3c3eC2pp4ftTwU3GobxhWiQlx8RyIW9fMvoMHrKswly77qprp3ipGM1m-2WrGyQrbcF6WCMxB8TCfukk_ZryZlhdcJlkbkQ8VZxcCBRfuV0QGzf8W75pj8Rmfhu_YrUIEX9wn4MC7w9LnYDYpTNS3E5m7wxTS-CxIAkKoT5aD-zeKAs/s320/RIO.jpg


Um rio são os pedregulhos, a barranca, os chorões, os galhos debruçados sobre o espelho, anteriores às pontes de concreto. Um rio são os olhos insones dos peixes irrequietos, o lodo frio, a loca dos cascudos, o remoinho, a corredeira, o réquiem dos defuntos afogados, a urina dos moleques, o olor da pele das mulheres, o agachar das lavadeiras, o itinerário dos barcos e o silêncio dos pescadores.

         O rio é o patrimônio das pessoas simples, das cabritas e dos pássaros.

         O rio é o grande monumento da cidade.

         Xará, dize-me que rio tens, te direi quem és.

         Teu rio é o horóscopo do teu futuro: claro, pardo ou escuro.

         Teu rio mostra o que pensas das pessoas, o que fazes com as pessoas e às pessoas; se és um homem livre, bom, sensato, feliz ou se é apenas um homem que não tem sequer a alegria de um rio.

         O cheiro do rio é teu atestado de antecedentes.

         Xará, um rio pode ser o riso líquido das crianças ou as lágrimas secas dos velhos.

         O rio é a fração ideal de teus sonhos; o brinquedo que restou à humanidade salva do incêndio, que a espada de fogo ateou no paraíso perdido entre o Tigre e o Eufrates. Xará, o rio é tua carteira de identidade, teu certificado de sanidade, teu comprovante de civilidade, teu erregê; registro de gente. Um rio é feito para ser amado, para correr e saltitar, para beijar as margens com volúpia. Um rio é feito para ser prestigiado, namorado, para ser mostrado aos turistas e aos de casa, com orgulho, assim:

         _ Olhe, veja como cuidamos deste tesouro, deste símbolo, destas raízes, desta cortina de névoa que à noite se levanta, deste véu de noiva que escorre da colina, desta fonte de luz e graça, desta benção.

         Veja como somos amigos do rio, como abrimos uma avenida na cidade para recebê-lo com alegria. E veja como o rio percorre, tranquilo e terno, as doces horas das núpcias com a cidade.

         Há grandes rios.

         Há rios tão grandes que as pessoas devaneiam o outro lado do horizonte líquido.

         Nesses rios grandes as crianças nascem botos e as mulheres engravidam em canoas de remos.

         Esses rios disputam com o oceano; são restos do dilúvio.

         Navegando nesses rios, o rei da terra não passa de traíra.

         Mas os rios modestos, mesmo os riozinhos, também são importantes, e também nesses não se deve cuspir, xará.

         Um ribeiro, um regato, um riacho, um ribeirão, um córrego, todos eles fazem o mar, onde ninguém distingue o grande do pequeno.

         E essa igualdade é, talvez, a maior lição que os rios dão.

          Não foi à toa, xará, e sim por sabedoria das coisas, que a Independência foi proclamada às margens de um rio (tão pequeno e raso que quase morre, por cuspirem nele).

(Lourenço Diaféria)

Entendendo o texto

 

01.Substitua as palavras negritadas, no texto-discurso, por outras com o mesmo sentido.

Substituições:

  • Cuspir: espirrar, jogar saliva, poluir
  • Remansos: águas paradas, poças
  • Chorões: árvores que se inclinam sobre a água
  • Loca: esconderijo, abrigo
  • Cascudos: tipo de peixe
  • Réquiem: canto fúnebre
  • Itinerário: caminho, rota

02- Assinale (V) para aquilo que julgar pertinente ao texto e (F) para o que não julgar pertinente:

a-( F ) Pode-se notar o discurso de referência à vida futura das pessoas a partir da atenção dada, atualmente, aos rios;

b-( F  ) Pode-se notar o discurso de que as águas não têm nada a ver com a vida;

c-( V  ) Pode-se notar o discurso de que muitos conteúdos vistos, em sala de aula, são meras definições técnicas sem qualquer relação com a vida;

d-( V ) Pode-se notar o discurso de que algumas pessoas não demonstram prudência com os córregos, ribeirões e rios;

e-(  V ) Pode-se notar o discurso de que a natureza fomenta a igualdade entre os seres;

f-(  V  ) Pode-se notar o discurso de que o tratamento dispensado às águas evidencia o grau de civilidade de seus habitantes;

g-(  V   ) Pode-se notar o discurso de preservação das águas;

h-( F ) Pode-se notar o discurso de que a água é um recurso inesgotável;

i-(  V  ) Pode-se notar o discurso de que as águas e a pessoa humana estão interligadas;

j-( V ) Pode-se notar o discurso de que as pessoas não dão importância às águas dos rios, córregos e ribeirões que banham as cidades;

03-No enunciado Xará, a gente não deve nunca cuspir num rio”, o vocativo sublinhado aponta:

    a- uma proximidade com o leitor/leitora, convidando-o/a para desenvolver hábitos de cuidado com as águas;

    b- uma gíria descontraída para interpelar o leitor/leitora, frente aos cuidados com as águas;

    c- um estilo próprio de chamar o leitor/leitora do texto-discurso a conhecer o rio de sua cidade;

    d- um modo de dizer que ele (o autor) tinha o mesmo nome que o leitor.

04-O enunciado ”Ninguém pode dizer dessa água não beberei...” sugere que:

    a- ninguém pode afirmar que não dependerá das águas bem ou mal cuidadas de um rio;

    b- as pessoas, em geral, não bebem tanta água e não a valorizam;

    c- o zelo ou os maus tratos às águas jamais incidirão sobre a vida das pessoas;

    d- a atenção com as águas refletirá, parcialmente, no dia a dia das pessoas.

05-O argumento “...O cheiro do rio é teu atestado de antecedentes...” defende, possivelmente, que:

    a- a condição das águas não se relaciona ao tempo atual ou passado das pessoas;

    b- a situação das águas revela a atenção que as pessoas dispensaram-lhes, no passado;

    c- o estado das águas não exprime as atitudes positivas das pessoas para com elas;

    d- a condição das águas não comprovam a conduta negativa das pessoas para com elas.

06-O argumento ” Teu rio é o horóscopo do teu futuroaponta:

     a- uma clara explicação de como será promissor o futuro das pessoas a partir do que estas fazem, hoje, aos rios;

     b- uma personificação/prosopopeia em que atribui-se uma atitude humana a um ser inanimado;

     c- uma metonímia para ilustrar que o rio é somente uma parte das águas do país;

     d- uma metáfora que mostra a vida futura das pessoas baseada no tratamento dado ao rio, no tempo presente.

07- Assinale a opção que substitui apropriadamente o termo destacado, no enunciado A gente não deve nunca cuspir num rio...”, pelo pronome nós:

    a- Nós não deveremos nunca cuspir num rio;

    b- Nós não deveríamos nunca cuspir num rio;

    c- Nós não devemos nunca cuspir num rio;

    d- Nós não devêramos nunca cuspir num rio.  

08- No enunciado A gente não deve nunca cuspir num rio...”, o termo sublinhado é uma variante da norma:

     a- padrão;

     b- coloquial;

     c- científica;

     d- técnica.

09- No enunciado ”Um ribeiro, um regato, um riacho, um ribeirão, um córrego, todos eles fazem o mar, onde ninguém distingue o grande do pequeno”, qual ou quais palavras ditas anteriormente que o pronome todos resume?

 

10- No título: “A meu amigo, o Piracicaba, o termo destacado indica:

     a- um jeito engraçado que o narrador utilizou para chamar seu amigo;

     b- uma explicação sobre a qual amigo o narrador faz referência;

     c- uma maneira que o narrador usou para desqualificar o amigo;

     d- um modo de qualificar, positivamente, o amigo.

11- No argumento ”Um rio é feito para ser prestigiado, namorado, para ser mostrado aos turistas e aos de casa, com orgulho, assim...”, a locução adverbial pode ser substituída, sem alteração do sentido, por:

     a- engraçadamente;

     b- tranquilamente;

     c- francamente; 

     d-  orgulhosamente.

12- Produza um texto-discurso, discutindo sobre a importância de preservação de nossos rios e nascentes.

Texto Dissertativo: A Importância da Preservação de Nossos Rios e Nascentes

O texto de Lourenço Diaféria nos convida a uma profunda reflexão sobre a importância dos rios em nossas vidas e a necessidade de preservá-los. O autor, com maestria, tece uma rica metáfora, comparando os rios à vida humana, revelando a intrínseca relação entre ambos.

Os rios são muito mais do que simples cursos d'água. Eles são a própria essência da vida, fornecendo água para consumo humano e animal, irrigando plantações, gerando energia e moldando paisagens. Além disso, os rios possuem um valor cultural e histórico incalculável, sendo palco de inúmeras histórias e tradições.

Infelizmente, a ação humana tem causado danos irreparáveis aos nossos rios. A poluição industrial, o desmatamento, o assoreamento e a ocupação irregular das margens são alguns dos principais problemas que enfrentamos. Essas ações não apenas degradam a qualidade da água, mas também afetam a biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos.

A preservação dos rios é fundamental para garantir a qualidade de vida das presentes e futuras gerações. É preciso que todos nós, enquanto cidadãos, nos conscientizemos da importância da água e adotemos práticas mais sustentáveis. Algumas medidas podem ser tomadas, como:

  • Redução do consumo de água: Pequenas atitudes no dia a dia, como fechar a torneira enquanto escova os dentes e optar por banhos mais curtos, podem fazer grande diferença.
  • Tratamento adequado do esgoto: O tratamento adequado do esgoto é fundamental para evitar a contaminação dos rios e garantir a qualidade da água.
  • Preservação das matas ciliares: As matas ciliares desempenham um papel fundamental na proteção dos rios, evitando a erosão do solo e a contaminação da água.
  • Conscientização da população: É preciso investir em educação ambiental para que as pessoas compreendam a importância da água e a necessidade de preservá-la.

Ao cuidar dos nossos rios, estamos cuidando de nós mesmos e do planeta. A água é um bem precioso e finito, e devemos tratá-la com o respeito que ela merece. Que possamos seguir o exemplo do autor e construir um futuro mais sustentável para todos.

 

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