domingo, 21 de janeiro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: QUEREMOS A INFÂNCIA PARA NÓS - ROSELY SAYÃO - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: Queremos a infância para nós
                                         Rosely Sayão

  O mundo anda bem atrapalhado: de um lado, temos crianças que se comportam, se vestem, falam e são tratadas como adultos. Do outro, adultos que se comportam, se vestem, falam e são tratados como crianças. Pelo jeito, infância e vida adulta têm hoje pouco a ver com idade cronológica.
        Não é preciso muito para observar sinais dessa troca: basta olhar as pessoas no espaço público. É corriqueiro vermos meninas vestidas com roupas de adultos, inclusive sensuais: blusas e saias curtas, calças apertadas, meia-calça e sapatos de salto. E pensar que elas precisam é de roupa folgada para deixar o corpo explodir em movimentos que devem ser experimentados... Mas sempre há um traço que trai a idade: um brinquedo pendurado, um exagero de enfeites, um excesso de maquiagem etc.
        Se olharmos as adultas, vestidas com o mesmo tipo de roupa das meninas descritas acima, vemos também brinquedos, carregados como enfeites ou amuletos: nos chaveiros, nas bolsas, nos telefones celulares, nos carros. Isso sem falar nas mesas de trabalho, enfeitadas com ícones do mundo infantil.
        Criança pequena adora ter amigo imaginário, mas essa maravilhosa possibilidade tem sido destruída, pouco a pouco, pelo massacre da realidade do mundo adulto, que tem colaborado muito para desfazer a fantasia e o faz-de-conta. Mas os legítimos representantes desse mundo, por sua vez, não hesitam em ter o seu. Ultimamente, ele tem sido comum e ganhou o nome de deus. Não me refiro ao Deus das religiões e alvo da fé. A ideia de deus foi privatizada, e cada um tem o seu, à sua imagem e semelhança, mesmo sem professar religião nenhuma. O amigo imaginário dos adultos chamado de deus é aquele com quem eles conversam animadamente, a quem chamam nos momentos de estresse, a quem recorrem sempre que enfrentam dificuldades, precisam tomar uma decisão ou anseiam por algo e, principalmente, para contornar a solidão. Nada como ter um amigo invisível, já que ele não exige lealdade, dedicação nem cobra nada, não é?
        E o que dizer, então, das brincadeiras infantis que muitos adultos são obrigados a enfrentar quando fazem cursos, frequentam seminários ou assistem a aulas? É um tal de assoprar bexigas, abraçar quem está ao lado, acender fósforo para expressar uma ideia, carregar uma pedra para ter a palavra no grupo, escolher um bicho como imagem de identificação, usar canetas coloridas para fazer trabalhos etc.
        Mas, se existe uma manifestação comum a crianças e adultos para expressar alegria, contentamento, comemoração e afins, ela tem sido o grito. Que as crianças gritem porque ainda não descobriram outras maneiras de expressar emoções, dá para entender. Aliás, é bom lembrar que os educadores não têm colaborado para que elas aprendam a desenvolver outros tipos de expressão. Mas os adultos gritarem desesperada e estridentemente para manifestar emoção é constrangedor. Com tamanha confusão, fica a impressão de que roubamos a infância das crianças porque a queremos para nós, não?


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

Entendendo o texto:

01 – O texto argumentativo tem por objetivo expor uma opinião a respeito de determinado tema e defendê-la com argumentos. Qual é a opinião exposta pela autora?
      As crianças tem comportamento de adultos e os adultos de crianças, além de ser contra isso.

02 – Um texto como esse, publicado em revistas ou jornais e assinado por alguém que defende sua opinião sobre um tema, é chamado de artigo opinativo, artigo de opinião, ou simplesmente artigo. Um artigo de opinião em geral apresenta 3 partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. A introdução, que costuma vir no primeiro parágrafo, normalmente apresenta o tema a ser discutido. Qual é o tema desse artigo de opinião?
      A relação entre infância e a vida adulta nos dias de hoje.

03 – O desenvolvimento representa a maior parte do artigo: em geral, começa no segundo parágrafo e estende-se até o penúltimo. No desenvolvimento, os autores apresentam argumentos que justificam seu ponto de vista, ou seja, explicam por que pensam daquela maneira. Uma das formas de argumentar é apresentar exemplos. No segundo e terceiros parágrafos, Sayão explica por que acha que as crianças estão se comportando como adultos, e os adultos como crianças. Quais são os argumentos apresentados para embasar sua opinião?
      As crianças hoje estão usando roupas e acessórios de adultos; enquanto que adultos estão usando acessórios de crianças.

04 – Há várias maneiras de se escrever à conclusão de um artigo de opinião. É possível resumir tudo o que foi dito; apresentar um argumento mais forte para terminar de convencer o leitor; deixar uma sugestão de reflexão; propor uma ação concreta para a solução do problema, etc. Qual(is) desse(s) recurso(s) Rosely Sayão usou para concluir seu artigo?

      Ela apresentou um argumento mais forte que os outros e uma sugestão de reflexão para o leitor.

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