domingo, 14 de janeiro de 2018

TEXTO: INUNDAÇÃO - MIA COUTO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Texto: INUNDAÇÃO

     Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente. Acredito, sim, por educação. Mas não creio. Minhas lembranças são aves. A haver inundação é de céu, repleção de nuvem. Vos guio por essa nuvem, minha lembrança.

           A casa, aquela casa nossa, era morada mais da noite do que dia. Estranho, dirão. Noite e dia não são metades, folha e versos? Como podiam o claro e o escuro repartir-se em desigual? Explico. Bastava que a voz de minha mãe em canto se escutasse para que, no mais lúcido meio-dia, se fechasse a noite. Lá fora, a chuva sonhava, tamborileira. E nós éramos meninos para sempre.
           Certa vez, porém, de nossa mãe escutámos o pranto. Era um choro delgadinho, um fio de água, um chilrear de morcego. Mão em mão, ficámos à porta do quarto dela. Nossos olhos boquiabertos. Ela só suspirou:
           --- Vosso pai já não é meu. [...]

            COUTO, Mia. O fio das missangas: contos.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009. P 25. (Fragmento).

Entendendo o texto:

01 – Que tipo de linguagem se observa no texto? Justifique sua resposta.
        A linguagem é subjetiva ou figurada, carregada de lirismo. Há o emprego da 1ª pessoa, de metáforas, antíteses e personificação de elementos como “a chuva sonhava, tamborileira”.

02 – Segundo o narrador, ele “acredita” por educação, mas não “crê”.
       Explique a diferença de sentido entre esses verbos no contexto.
       Crer expressa uma ação mais firme e tem, no texto, conotação religiosa:  exige maior convicção do que simplesmente a de acreditar.

03 – As lembranças eram aves para o narrador, e não peixes, como afirmavam alguns. Por quê? O que representavam as nuvens?
        Suas lembranças não eram barradas por nenhuma corrente, nem   desapareciam com a inundação de um rio. Eram livres como as aves, podiam voar pelo céu, onde cada nuvem representava uma lembrança.

04 – A partir do segundo parágrafo, o que se pode concluir quanto ao relacionamento entre mãe e filhos? Esclareça sua resposta.
       A mãe deveria ser muito severa, pois os filhos a obedeciam de imediato, quando apenas ouviam sua voz. Por isso, o dia parecia tornar-se noite, o   que acontecia com frequência. Restava-lhes, escutar o barulho da chuva e, levados pela imaginação, ser crianças de novo.

05 – No último parágrafo, em vez da “voz em canto”, os filhos ouviram o choro da mãe Explique a reação deles diante desse fato.
       A mãe representava para eles, até então, a imagem de uma mulher forte, autoritária, a quem não se podia refutar. O choro dela mostrou-lhes seu lado humano, frágil, e isso os assustou.

06 – No terceiro parágrafo, observe o acento gráfico na 1ª pessoa do plural do pretérito prefeito do indicativo das formas verbais: escutámos e ficámos.
       Nesse caso, de que maneira elas são pronunciadas?
       Pronunciam-se as vogais acentuadas de forma aberta.

07 – Copie no caderno o sentido dos adjetivos nestas frases:
       - “Era um choro delgadinho”.     
       - “Nossos olhos boquiabertos”.
       Na 1ª frase, um choro manso, baixo; na 2ª, olhos arregalados.

08 – Explique por que foram empregadas as palavras destacadas nas frases a seguir e que sentido elas expressam.
       - “...a voz de minha mãe”.            - “Mão em mão ...”
       - Vivo num rio sem fundo.            - ...me preparo para ir...
       Essas palavras têm a função de ligar uma palavra a outra. De determina de quem é a voz. Em indica o modo como as mãos estavam. Sem expressa falta de um fundo. Para indica a finalidade da preparação.

09 – Às vezes, esse tipo de palavras pode ter outra função. Explique qual é essa função e que sentido essas palavras apresentam nestas frases.
        - “Vos guio por essa nuvem, minha lembrança”.
        - “Como podiam o claro e o escuro repartir-se em desigual?”.
        As palavras por e em ligam termos que completam o sentido das formas    verbais guio e repartir-se, respectivamente. Por expressa direção ou lugar; em, o modo.


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