domingo, 7 de janeiro de 2018

OS SERTÕES - FRAGMENTOS - EUCLIDES DA CUNHA- COM GABARITO


OS SERTÕES - FRAGMENTOS
Euclides da Cunha

Texto I

        Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.
        Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas.
        Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante . . .

Texto II

        O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
[...]
        Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento, em todos os pormenores da vida sertaneja -- caracterizado sempre pela intercadência impressionadora entre extremos impulsos e apatias longas.

Texto III

        Decididamente era indispensável que a campanha de canudos tivesse objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma propaganda tenaz, continua e persistente, visando trazer para o nosso tempo e incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários. [...]
          Canudos não se rendeu.
          Fechemos este livro.
        Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.

 Fragmentos da obra Os Sertões de Euclides da Cunha, São Paulo: Círculo do Livro, 1975.
                        Na Internet: http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/sertoes.html

01 – De acordo o texto I, como é a natureza no lugar onde vive o sertanejo? Ela se mostra acolhedora ao homem?
                   A natureza NÃO mostra acolhedora.
              Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante . . .

02 – O texto II, ao descrever o sertanejo, apresenta como contraditória certos aspectos de sua constituição física e seu comportamento. Comente essa contradição.
      O sertanejo embora seja magro e franzino, ao mesmo tempo se torna um homem forte e trabalhador.

03 – No 1º parágrafo do texto III, o autor crítica a guerra em si e afirma que outra “guerra mais demorada e digna” deveria ser travada. Qual é essa guerra?
      A guerra de combate à seca da região nordeste.

04 – Identifique no texto II um trecho que comprove a influência de teorias raciais existente no começo do século XX.
     Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
 


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