terça-feira, 30 de janeiro de 2018

ARTIGO DE OPINIÃO: A FADIGA DA INFORMAÇÃO - GILBERTO DIMENSTEIN - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: A FADIGA DA INFORMAÇÃO
                                         Gilberto Dimenstein

        Há uma nova doença no mundo: a fadiga da informação. Antes mesmo da internet, o problema já era sério, tantos e tão velozes eram os meios de informação existentes, trafegando nas asas da eletrônica, da informática, dos satélites. A internet levou o processo ao apogeu, criando a nova espécie dos internautas e estourando os limites da capacidade humana de assimilar os conhecimentos e os acontecimentos deste mundo. Pois os instrumentos de comunicação se multiplicaram, mas o potencial de captação do homem – do ponto de vista físico, mental e psicológico – continua restrito. Então, diante do bombardeiro crescente de informações, a reação de muitos tende a tornar-se doentia: ficam estressados, perturbam-se e perdem em eficiência no trabalho.
        Já não se trata de imaginar que esse fenômeno possa ocorrer. Na verdade, a síndrome da fadiga da informação está em plena evidência, conforme pesquisa que acaba de ser feita, nos Estados Unidos, na Inglaterra e em outros países, junto a 1.300 executivos. Entre os sintomas da doença apontam-se a paralisia da capacidade analítica, o aumento das ansiedades e das dúvidas, a inclinação para decisões equivocadas e até levianas.
        Nada avançou tanto no mundo como as comunicações. Pouco durou, historicamente, para que saíssemos do isolamento para a informação globalizada e instantânea. Essa revolução teria inegavelmente de gerar, ao lado dos efeitos mágicos e benfazejos, aqueles que provocam respostas de perplexidade no ânimo público e das pessoas em particular. Choques comportamentais e culturais surgem como subprodutos menos estimáveis desse impacto modernizador, talvez por excessiva celeridade no desenrolar de sua evolução.
        Curiosamente, a sobrecarga de informações pode redundar em desinformação. Recebíamos antes a notícia do dia e podíamos ruminá-la durante horas. Hoje temos a notícia renovada e modificada a cada segundo, acompanhando em tempo real o desdobramento dos fatos e das decisões, o que rapidamente envelhece a informação transmitida e nos deixa sem saber, afinal, qual a versão mais próxima da realidade no momento. As agências noticiosas não dispõem de tempo para maturar o seu material, há que lança-lo logo ao consumo – mesmo sob o risco de uma divulgação incompleta ou deformada, avizinhada do boato.
        Há 30 anos, o então estreante Caetano Veloso perguntava numa das estrofes de sua famosa canção Alegria, alegria: “Quem lê tanta notícia?”. Presentemente a oferta de informações, só nas bancas de jornais, deixaria ainda muito mais intrigado o poeta do tropicalismo. Além da televisão aberta, a TV por assinatura põe o telespectador diante da opção de centenas de canais. Há emissoras nacionais e estrangeiras, de rádio e de TV, dedicadas exclusivamente a transmitir notícias. O CD-ROM ampliou consideravelmente a dimensão multimídia do computador. O fax e o correio eletrônico deixaram para trás o telefone, o telegrama e todos os meios de comunicação postal.
        A massa de informações gerais ou especializadas contida na imprensa diária exigiria um super-homem para absorvê-la. E, a cada dia, jornais e revistas se enriquecem de suplementos e de encartes pedagógicos e culturais.
        É claro que esse processo não vai estancar e muito menos regredir. A informação não poderia estar à margem do mercado competitivo. Não há dúvida, porém, de que precisamos aprender a filtrá-la, a ajustá-la ao nosso metabolismo de público-alvo. A eletrônica e a informática estão a nosso serviço, mas não substituem as limitações orgânicas, cerebrais e emocionais do homem. A informação nos faz sentir as dores do mundo, onde quer que ocorram sob a forma de calamidades, tragédias, adversidades coletivas ou individuais. Ou buscamos um equilibrado “modus vivendi” com as pressões da prodigiosa tecnologia da comunicação, ou o feitiço vira contra o feiticeiro. O oxigênio da informação, sem o qual no passado recente não conseguiríamos respirar, terá de ser bem inalado para não nos ameaçar com a asfixia, o estresse, as neuroses e, quem sabe, o infarto.
                                 
                 Revista da Comunicação, ano 12, n. 46, p. 20. nov. 1996.
MARZAGÃO, Augusto. In: DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do futuro: cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Editora Ática, 1999.

Entendendo o texto:

01 – Quais são as causas da chamada fadiga da informação? Como ela se manifesta nas pessoas?
       As causas da fadiga da informação: principalmente o desenvolvimento dos meios de informação eletrônicos, informáticos, por satélites. A internet, em especial.
       As pessoas com fadiga da informação tendem a ficar estressadas, perturbam-se e perdem em eficiência no trabalho. Pesquisas feitas em vários países mostram que entre os sintomas da doença estão a paralisia da capacidade analítica, o aumento das ansiedades e das dúvidas, a inclinação para decisões equivocadas e até levianas.

02 – Por que a sobrecarga de informações pode redundar em desinformação?
       4º parágrafo – A sobrecarga de informações leva à desinformação porque não temos mais tempo para ruminar as informações que recebemos em tempo real. A informação envelhece rapidamente e, com isso, ficamos sem saber a versão mais próxima da realidade do momento.

03 – O autor analisa os impactos da sobrecarga de informações no mundo moderno: aponta seus efeitos negativos, mas não deixa de ressaltar seus efeitos positivos. Localize afirmações do texto em que ele valoriza a disseminação da informação.
       Estão no 5º parágrafo as afirmações dele que valorizam a disseminação da informação permitida pelo desenvolvimento da tecnologia.

04 – Considerando que esse processo de disseminação acelerada das informações só tende a aumentar, como devemos proceder para que ele não nos asfixie?
       Precisamos aprender a filtrá-la, a ajustá-la ao nosso metabolismo de público-alvo.


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