ARTIGO DE OPINIÃO: A FADIGA DA INFORMAÇÃO
Gilberto Dimenstein
Há uma nova doença no mundo: a fadiga da informação. Antes mesmo da internet, o
problema já era sério, tantos e tão velozes eram os meios de informação
existentes, trafegando nas asas da eletrônica, da informática, dos
satélites. A internet levou o processo ao apogeu, criando a nova espécie dos
internautas e estourando os limites da capacidade humana de assimilar os
conhecimentos e os acontecimentos deste mundo. Pois os instrumentos de
comunicação se multiplicaram, mas o potencial de captação do homem – do ponto
de vista físico, mental e psicológico – continua restrito. Então, diante do
bombardeiro crescente de informações, a reação de muitos tende a tornar-se
doentia: ficam estressados, perturbam-se e perdem em eficiência no trabalho.
Já não se trata de imaginar que esse fenômeno possa ocorrer. Na verdade, a
síndrome da fadiga da informação está em plena evidência, conforme pesquisa que
acaba de ser feita, nos Estados Unidos, na Inglaterra e em outros países, junto
a 1.300 executivos. Entre os sintomas da doença apontam-se a paralisia da
capacidade analítica, o aumento das ansiedades e das dúvidas, a inclinação para
decisões equivocadas e até levianas.
Nada avançou tanto no mundo como as comunicações. Pouco durou, historicamente,
para que saíssemos do isolamento para a informação globalizada e instantânea.
Essa revolução teria inegavelmente de gerar, ao lado dos efeitos mágicos e
benfazejos, aqueles que provocam respostas de perplexidade no ânimo público e
das pessoas em particular. Choques comportamentais e culturais surgem como
subprodutos menos estimáveis desse impacto modernizador, talvez por excessiva
celeridade no desenrolar de sua evolução.
Curiosamente, a sobrecarga de informações pode redundar em desinformação.
Recebíamos antes a notícia do dia e podíamos ruminá-la durante horas. Hoje
temos a notícia renovada e modificada a cada segundo, acompanhando em tempo
real o desdobramento dos fatos e das decisões, o que rapidamente envelhece a
informação transmitida e nos deixa sem saber, afinal, qual a versão mais
próxima da realidade no momento. As agências noticiosas não dispõem de tempo
para maturar o seu material, há que lança-lo logo ao consumo – mesmo sob o
risco de uma divulgação incompleta ou deformada, avizinhada do boato.
Há 30 anos, o então estreante Caetano Veloso perguntava numa das estrofes de
sua famosa canção Alegria, alegria: “Quem lê tanta notícia?”. Presentemente a
oferta de informações, só nas bancas de jornais, deixaria ainda muito mais
intrigado o poeta do tropicalismo. Além da televisão aberta, a TV por
assinatura põe o telespectador diante da opção de centenas de canais. Há
emissoras nacionais e estrangeiras, de rádio e de TV, dedicadas exclusivamente
a transmitir notícias. O CD-ROM ampliou consideravelmente a dimensão multimídia
do computador. O fax e o correio eletrônico deixaram para trás o telefone, o
telegrama e todos os meios de comunicação postal.
A massa de informações gerais ou especializadas contida na imprensa diária
exigiria um super-homem para absorvê-la. E, a cada dia, jornais e revistas se
enriquecem de suplementos e de encartes pedagógicos e culturais.
É claro que esse processo não vai estancar e muito menos regredir. A informação
não poderia estar à margem do mercado competitivo. Não há dúvida, porém, de que
precisamos aprender a filtrá-la, a ajustá-la ao nosso metabolismo de
público-alvo. A eletrônica e a informática estão a nosso serviço, mas não
substituem as limitações orgânicas, cerebrais e emocionais do homem. A informação
nos faz sentir as dores do mundo, onde quer que ocorram sob a forma de
calamidades, tragédias, adversidades coletivas ou individuais. Ou buscamos um
equilibrado “modus vivendi” com as pressões da prodigiosa tecnologia da
comunicação, ou o feitiço vira contra o feiticeiro. O oxigênio da informação,
sem o qual no passado recente não conseguiríamos respirar, terá de ser bem
inalado para não nos ameaçar com a asfixia, o estresse, as neuroses e, quem
sabe, o infarto.
Revista da Comunicação, ano 12, n.
46, p. 20. nov. 1996.
MARZAGÃO, Augusto. In: DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do futuro: cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Editora Ática, 1999.
Entendendo
o texto:
01 –
Quais são as causas da chamada fadiga da informação? Como ela se manifesta nas
pessoas?
As causas da fadiga da informação: principalmente o desenvolvimento dos meios
de informação eletrônicos, informáticos, por satélites. A internet, em
especial.
As pessoas com fadiga da informação tendem a ficar estressadas, perturbam-se e
perdem em eficiência no trabalho. Pesquisas feitas em vários países mostram que
entre os sintomas da doença estão a paralisia da capacidade analítica, o
aumento das ansiedades e das dúvidas, a inclinação para decisões equivocadas e
até levianas.
02 – Por
que a sobrecarga de informações pode redundar em desinformação?
4º parágrafo – A sobrecarga de informações leva à desinformação porque não
temos mais tempo para ruminar as informações que recebemos em tempo real. A
informação envelhece rapidamente e, com isso, ficamos sem saber a versão mais
próxima da realidade do momento.
03 – O
autor analisa os impactos da sobrecarga de informações no mundo moderno: aponta
seus efeitos negativos, mas não deixa de ressaltar seus efeitos positivos.
Localize afirmações do texto em que ele valoriza a disseminação da informação.
Estão no 5º parágrafo as afirmações dele que valorizam a disseminação da
informação permitida pelo desenvolvimento da tecnologia.
04 –
Considerando que esse processo de disseminação acelerada das informações só
tende a aumentar, como devemos proceder para que ele não nos asfixie?
Precisamos
aprender a filtrá-la, a ajustá-la ao nosso metabolismo de público-alvo.
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