CRÔNICA: Espírito carnavalesco
Moacyr Scliar
Ensaios da escola de samba
Mocidade Alegre atrapalham sono de moradores da região. Cotidiano, 29.jan.2001.
Cansado,
ele dormia a sono solto, quando foi bruscamente despertado pela esposa, que o
sacudia violentamente. Que aconteceu, resmungou ele, ainda de olhos fechados.
-
Não posso dormir -queixou-se ela.
-
Não pode dormir? E por quê?
-
Por causa do barulho -ela, irritada: - Será possível que você não ouça?
Ele
prestou atenção: de fato, havia barulho. O barulho de uma escola de samba
ensaiando para o Carnaval: pandeiros, tamborins... Não escutara antes por causa
do sono pesado. O que não era o caso da mulher. Ela exigia providências.
-
Mas o que quer você que eu faça? -perguntou ele, agora também irritado.
-
Quero que você vá lá e mande eles pararem com esse barulho.
-
De jeito nenhum -disse ele. - Não sou fiscal, não sou polícia. Eu não vou lá.
Virou-se
para o lado, com o propósito de conciliar de novo o sono.
O
que a mulher não permitiria: logo estava a sacudi-lo de novo.
Ele
acendeu a luz, sentou na cama:
-
Escute, mulher. É Carnaval, esta gente sempre ensaia no Carnaval, e não vão
parar o ensaio porque você não consegue dormir. É melhor você colocar tampões
nos ouvidos e esquecer esta história.
Ela
começou a chorar. Você não me ama, dizia, entre soluços:
-
Se você me amasse, iria lá e acabaria com a farra.
Com
um suspiro, ele levantou-se da cama, vestiu-se e saiu, sem uma palavra.
Ela
ficou à espera, imaginando que em dez ou 15 minutos a batucada cessaria.
Mas
não cessava. Pior: o marido não voltava. Passou-se meia hora, passou-se uma
hora: nada. Nem sinal dele.
E
aí ela ficou nervosa. Será que tinha acontecido alguma coisa ao pobre homem?
Será que -por causa dela- ele tinha se metido numa briga? Teria sido assassinado?
Mas neste caso, por que continuava a batucada? Ou seria aquela gente tão
insensível que continuava a orgia carnavalesca mesmo depois de ter matado um
homem? Não aguentando mais, ela vestiu-se e foi até o terreiro da escola de
samba, ali perto.
Não,
o marido não tinha sido agredido e muito menos assassinado.
Continuava vivo, e bem vivo: no meio de
uma roda, ele sambava, animadíssimo.
Ela
deu meia volta e foi para casa. Convencida de que o espírito carnavalesco é
imbatível e fala mais alto do que qualquer coisa.
O imaginário cotidiano, de Moacyr
Scliar. 2. ed.
São
Paulo: Global, 2002.
Entendendo o texto:
01 – Qual era o nome da escola de samba, que
estava ensaiando?
Escola de samba Mocidade Alegre.
02 – De que maneira o homem, foi acordado pela
mulher? E por que motivo?
Ele foi despertado pela mulher que sacudia violentamente. Pelo motivo que
não conseguia dormir por causa do barulho.
03 – Qual foi a exigência da mulher?
Que ele
fosse lá e mandasse parar com o ensaio, ou seja, parasse com o barulho.
04 – O homem indignado com a exigência da
mulher, o que ele respondeu?
Que não iria, porque ele não era fiscal e nem polícia.
05 – No trecho: “Escute, mulher. É Carnaval,
esta gente sempre ensaia no Carnaval, e não vão parar o ensaio porque você não
consegue dormir. É melhor você colocar tampões nos ouvidos e esquecer esta
história.” Quem disse está frase? E qual foi a reação da mulher?
O marido
foi quem disse. Começou a chorar, e dizer que se ele a amasse iria lá e
acabaria com a farra.
06 – Já que a mulher não deixava-o dormir,
qual foi a reação do homem?
Ele
levantou-se da cama, vestiu-se e saiu, sem dizer nada.
07 – Por que a mulher achou que o marido,
podia ter sido machucado, ter se envolvido numa briga ou até mesmo ter sido
morto?
Porque
já tinha passado mais de uma hora, e ele não tinha voltado.
08 – Por causa da demora do marido, qual foi a
decisão da mulher?
Não
aguentando a demora, ela vestiu-se e foi até o terreiro da escola de samba.
09 – Qual foi a surpresa da mulher ao chegar
na escola de samba?
O marido
estava no meio de uma roda sambando, animadíssimo.
10 – Diante do que a mulher viu, qual foi a
decisão tomada por ela?
Ela deu meia volta e foi para casa.
Convencida de que o espírito carnavalesco é imbatível e fala mais alto do que
qualquer coisa.
11 – Se esta crônica, tivesse acontecido com
você, o que faria?
Resposta
pessoal do aluno.
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