terça-feira, 23 de janeiro de 2018

MÚSICA: GUARDANAPOS DE PAPEL - MILTON NASCIMENTO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Música: Guardanapos de Papel
                    Milton Nascimento (Carlos Sandroni)

Na minha cidade tem poetas, poetas
Que chegam sem tambores nem trombetas
Trombetas e sempre aparecem quando
Menos aguardados, guardados, guardados
Entre livros e sapatos, em baús empoeirados
Saem de recônditos lugares, nos ares, nos ares
Onde vivem com seus pares, seus pares
Seus pares e convivem com fantasmas
Multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras
E te pedem que não chores
Suas ilusões são repartidas, partidas
Partidas entre mortos e feridas, feridas
Feridas mas resistem com palavras
Confundidas, fundidas, fundidas
Ao seu triste passo lento
Pelas ruas e avenidas
Não desejam glorias nem medalhas, medalhas
Medalhas, se contentam
Com migalhas, migalhas, migalhas
De canções e brincadeiras com seus
Versos dispersos, dispersos
Obcecados pela busca de tesouros submersos
Fazem quatrocentos mil projetos
Projetos, projetos, que jamais são
Alcançados, cansados, cansados nada disso
Importa enquanto eles escrevem, escrevem
Escrevem o que sabem que não sabem
E o que dizem que não devem
Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas
Como se fossem cometas, cometas, cometas
Num estranho céu de estrelas idiotas
E outras e outras
Cujo brilho sem barulho
Veste suas caudas tortas
Na minha cidade tem canetas, canetas, canetas
Esvaindo-se em milhares, milhares, milhares
De palavras retrocedendo-se confusas, confusas
Confusas, em delgados guardanapos
Feito moscas inconclusas
Andam pelas ruas escrevendo e vendo e vendo
Que eles veem nos vão dizendo, dizendo
E sendo eles poetas de verdade
Enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar
Do que eles juram que não viram
Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e ao mundo inteiro
Inteiro, inteiro, fossem vendo pra
Depois voltar pro Rio de Janeiro.

Entendendo a canção:

01 – Que propõe o eu lírico na letra desta canção?
      Propõe-se a definir o que é ser poeta e a descrever qual seu papel social e sua importância.

02 – No verso: [Poetas] “... que chegam sem tambores nem trombetas”. Que interpretação podemos fazer?
      Poetas anônimos, discretos, que não fazem alarde. Ou também espécies de anjos (“trombetas”) que nos protegem da alienação.

03 – Que versos na canção os poetas se debruçam sobre questões existenciais, que refletem sobre a vida de forma mais abstrata, e se desgastam com isso, não conseguindo ser diferentes?
      “Convivem com fantasmas
       Multicores de cores, de cores
       Que te pintam as olheiras
       E te pedem que não chores.”

04 – Por que esta canção deveria ser tombada como hino dos poetas?
      Nela os poetas são mostrados como seres extremamente sensíveis, humildes, além de idealistas e sábios. Destaca a importância dos poetas como provocadores de uma percepção de mundo mais crítica e pela beleza plástica da letra e da melodia.

05 – O autor para driblar a proibição de falar sobre determinados temas usou algumas figuras de linguagens. Leia estes versos abaixo e cite-as:
a)    “Fazem quatrocentos mil projetos que jamais são alcançados, cansados. Nada disso importa enquanto eles escrevem”.
Hipérbole.

b)   “Se contentam com migalhas de canções, e brincadeiras com seus versos dispersos, obcecados pela busca de tesouros submersos.”
Metáfora.

c)   “Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas / Como se fossem cometas, cometas, cometas.”
Anáfora / Anáfora.

d)   “Não se cansam de falar /Do que eles juram que não viram.”
Antítese.

06 – Muitos poetas são vistos como loucos. Em que versos podemos perceber isto?
      Nos versos: “E sendo eles poetas de verdade
                           Enquanto espiam e piram e piram
                           Não se cansam de falar.”

07 – Que quis dizer o eu poético nos seguintes versos: “Como se fossem cometas num estranho céu de estrelas idiotas.”
      Que os poetas são uma fonte de inteligência e sensibilidade brilhando em meio a um contexto medíocre.

08 – Em que versos da canção nos mostra que os poetas são idealistas e convictos, não abrindo mão de sua atuação social através do poema?
      Nos seguintes versos:
      “Fazem quatrocentos mil projetos
       Projetos, projetos, que jamais são
       Alcançados, cansados, cansados nada disso
       Importa enquanto eles escrevem, escrevem.”

09 – Nos versos: “Escrevem o que sabem que não sabem
                             E o que dizem que não devem.”
      O que o eu poético nos fala sobre os poetas?
      Que os poetas escrevem sobre incertezas humanas também, e, muitas vezes, ousam dizer o que poucos têm coragem.

10 – Esta canção também pode ser considerada uma metáfora das pessoas que ao viver as suas vidas, fazem poesia. O que você pensa a respeito?
      Resposta pessoal do aluno.


     




Um comentário:

  1. Gostaria de saber se há informações sobre outras interpretações do significado da letra desta música. Se os autores da letra da música
    já disseram algo relativo ao contexto da letra. Grato

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